🝮︎︎︎︎︎︎︎ ℂ𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 𝔻𝗼𝗶𝘀 🝮︎︎︎︎︎︎︎
Chapter two: Primeiro dia de tentativas e descobertas
Quando recolhi os remédios, verifiquei os nomes, talvez não soubesse muito de farmacologia, mas reconhecia os medicamentos que levava; era um anti-psicótico e um antidepressivo, eu estremeci ao pensar que o garoto que estava me esperando no quarto precisava desse tipo de drogas.
Enquanto pegava um copo e o enchia com água pensava no incômodo que me colocava a situação, realmente me deixava arrepiada que não falasse, eu estava desesperada, mas a verdade, eu sabia que não deveria ser sua culpa por algum motivo estava em um lugar como este e tomava tais medicamentos.
Caminhei de volta ao seu quarto quando abri a porta o encontrei sentado em frente a mesa, tinha um caderno em frente a ele e pelo o que vi estava começando a traçar linhas nele.
- Hey começou sem mim. - Disse em modo de reprovação, mas o fiz para começar uma conversa com ele.
Ele só levantou o olhar do caderno, me olhou por uns segundos e voltou a abaixar o olhar. Estava realmente exasperada por sua atitude, mas tentava pensar de maneira racional.
Coloquei o copo com água na mesa e estendi as pílulas.
- Antes que continue, deve tomar isso surpresa pegou as pílulas e as tomou de uma para minha vez sem a necessidade de água e logo voltou a submergir-se no que fazia.
Ele estava muito concentrado em seus desenhos assim eu comecei a olhar o quarto. Não tinha muito o que ver, pelas regras do lugar não era permitida varias das coisas que ele tinha, mas supus que graças ao Dr. Beauchamp ele tinha certo tipo de liberdades. O que levava no quarto eram muitos cadernos nas estantes, sentia curiosidade em ver o que havia neles, mas não me atrevia, temia a reação de Joshua. Ainda que nesse momento estava realmente tranquilo não queria lhe irritar. O tempo passou muito lentamente, ele continuava ali desenhando sem prestar atenção em mim, estava certa de que podia ter uma explosão nuclear e ele não se daria conta.
Assim que deixei que meu lado curioso ganhou, peguei o primeiro caderno que estava em uma das prateleiras e comecei a folhear-la. Minha primeira impressão: incompreensão. Nesse caderno, não havia nada mais do que rabiscos. Páginas inteiras manchadas, tornando-as escuras com pequenos espaços em branco. Este caderno estava completamente preenchido com rabiscos, eu não encontrei nenhum sentido, por isso o coloquei no lugar. Então tomei o próximo livro da prateleira. Segunda impressão: maravilha. Nele haviam esboços, desenhos incompletos de um rosto. Não sabia identificar quem era, só podia ver a silhueta do nariz e dos olhos. O caderno estava no meio, o resto estava em branco.
E assim fui vendo os cadernos, um por um, e para minha surpresa em todos havia desenhos da linda boneca de porcelana que estava na mesa. Não havia desenhos de outra coisa que não fosse dela.
Joshua: É Elizabeth. - A voz me tirou dos meus pensamentos. Nesse momento me dei conta de que ele que falava, era Joshua. Sua voz parecia muito segura era forte, mas ao mesmo tempo era um som lindo, não entendi o que havia dito.
- Desculpe, o que disse? - Perguntei esperando que ele continuasse falando.
Joshua: A dos desenhos. É Elizabeth.- Respondeu sem me olhar. Ainda concentrado no que estava desenhando.
A compreensão me golpeou. O nome da boneca era Elizabeth.
- Seus desenhos são lindos, quem te ensinou a desenhar? - Segui a conversa no melhor que pude, queria que se desse conta que podia falar comigo, se estava ali era para ajuda-lo e para fazer alguma companhia. Ele suspirou pesadamente antes de me responder.
Joshua: Elizabeth me ensinou. - Sua resposta me deixou fria. Ele pensava que a boneca o havia ensinado a desenhar? Oh! Meu Deus me ajude, pensei nesse momento, estava assustada, mas não devia deixar que Joshua se desse conta do meu estado.- Não vai dizer que estou louco? - Perguntou com desdém ainda sem levantar o olhar de seu caderno.
Engoli saliva tentando controlar-me para que minha voz soasse tranquila.
- Não. Deveria? - Tentei soar segura no que dizia.
Ele se virou para mim bruscamente, me olhando com surpresa nos seus olhos, mas assim voltou à sua posição original para continuar a desenhar.
Joshua: Bem, pelo menos, duas pessoas não acreditam que eu sou tão mal.- Disse mais para ele do que pra mim. Depois ele voltou a mergulhar no seu silêncio, mas pelo menos nós tivemos um avanço, conversamos um pouco. Esperava que com um pouco mais de tempo poderia ter uma conversa um pouco mais... normal, por assim dizer.
Passou uma hora em que houve um completo silencio no quarto, não escutava nada mais do que a respiração de ambos e ocasionalmente Joshua colocava o lápis na mesa ou fazia outro movimento. Todo esse tempo eu gastei perguntando-me que tipo de transtorno psiquiátrico teria Joshua, não era esquizofrenia, ou qualquer outro tipo de demência da que eu tivesse conhecimento, tão pouco era como se soubesse muito de psiquiatria, suspirei, talvez se lê-se o seu histórico médico poderia me dar um idéia, eu estava a ponto de pegar quando escutei o som da porta abrindo-se, quando fixei meus olhos pude ver ali o Dr. Beauchamp entrar.
Ron: Boa tarde. - Me cumprimentou cortesmente.
- Boa tarde. - Respondi.
Ron: Só vim ver como estava indo. - Disse enquanto olhava Joshua, que uma vez mais não dava importância a presença do doutor.
- Muito bem, Joshua é muito tranquilo.
Ron: Fico feliz que esteja bem, acho que é hora de você ir almoçar algo.
- Mas... - Gaguejei, não estava segura de deixar Joshua sozinho..
Ron: Não se preocupe, vou ficar aqui um pouco. - Sorriu e eu devolvi o sorriso. Não duvidava dele, gostava muito do seu sobrinho.
Saí do quarto e caminhei pelos corredores até estar de volta à ala principal, que ao contrário da manhã, estava muito ocupada. Médicos iam de um lado para outro, e as enfermeiras andando pelos corredores.
Louise: Aí está você.- Ouvi uma voz familiar. - Pensei que nunca sair. - Era a enfermeira que encontrei esta manhã, Louise.
- Olá.- A cumprimentei cordialmente, apesar do comentário que foi feito nas minhas costas.
Louise: Você vai almoçar?
- Sim, eu acho.
Louise: Você acha? - Respondeu-me de maneira irônica.
- Sim, bem, não tenho o que almoçar. - Disse lembrando que havia dado meus alimentos para Josh.
Louise: Vem, te darei do meu. - Me puxou até uma parte do hospital havia muitas mesas. - E como você foi?
- Bem, o senhor Beauchamp é muito tranquilo. - Tentei falar da maneira mais profissional possível.
Louise: Sério? - Perguntou com incredulidade em sua voz. - Não te assustou nem nada?
- Por que diz isso?
Louise: Bom, eu estive um tempo com ele e... é um pouco tétrico. E essa boneca... - Se estremeceu diante da lembrança. - É espantosa.
- Não acho. É muito bonita. - Lhe disse sorrindo.
Louise: Está louca ou o que?
- Não que eu saiba. - Respondi divertida.
Pude ver em seu rosto a contradição que sentia ao não ter as respostar esperadas de mim. Ela continuou interrogando-me, só se dedicou a comer, havia me dado uma parte de seu almoço, devia lembrar de um dia trazer algo pra ela, se não queria ser conhecida como a que tira almoços, tendo uma conta de "comunicativa" que era ela. Quando terminou disse que devia ir que tinha pendente uns papéis de mulheres e se foi.
Eu também devia voltar. Enquanto caminhava por partes do hospital que não conhecia, pude ver o olhar inquisitivo de varias enfermeiras inclusive alguns doutores. Só me perguntava por que.
Quando por fim cheguei ao quarto de Josh, pude escutá-lo conversando com Ron.
Joshua: Ela não pensa que estou louco. - Escutei a voz de Josh. - Tenta ser amável e boa comigo.
Ron: E isso te alegra.
Joshua: Muito, acho que é a primeira enfermeira que não me olha com desprezo ou temor. - Meu coração se apertou com suas palavras. Isso deu significado às palavras de Heyoon "já sofreu muito e não merece que as pessoas o maltratem". Fiquei ali em frente à porta.
Não escutei o que Ron respondeu. Eu estava muito absorta em meus próprios pensamentos, ele só queria não tivessem medo dele, que não o repudiassem. Era triste pensar que eu era a primeira que ele sentia que não o via dessa forma, uma pontada de culpa me atingiu: eu sim lhe temia.
O golpe que a porta me deu ao abrir-se me tirou dos meus pensamentos.
Ron: Desculpe-me! - Disse o doutor Beauchamp quando me viu caída no chão. - Não imaginei que estaria parada na frente da porta.- Riu enquanto segurava minha mão para me ajudar a levantar.
- Não se preocupe, foi minha culpa. - Disse completamente envergonhada. Quando subi o olhar pude ver seus olhos faiscantes de felicidade..
Ron: Gostaria de falar com você antes que entre com Josh. - Me limitei a assentir e a segui-lo.
Uma vez em seu escritório, me ofereceu assento.
- As horas do almoço eu tomo para ir conversar com ele. É parte de sua terapia.- Disse enquanto ele se sentava.
Ron: Não gosta muito de falar comigo, mas felizmente falou mais do que o normal. Me contou que tem sido muito amável com ele. - Disse com um sorriso.
- Fiz o possível para que se sinta confortável. - Era a verdade, estava ali para assegurar seu bem estar.
Ron: E realmente em alegro com isso, leu sua história clinica?
- Não. - Disse muito envergonhada, devia ser o primeiro que devia ter revisado.
Ron: Josh foi diagnosticado com Dissociação da Realidade. Ele chegou a um ponto onde a realidade e as coisas em sua mente se misturam, a tal ponto que não sabe qual é qual. E em seu caso vive mais na sua realidade. - Tomou um tempo para explicar sua condicão bem.- Sabe quem é Elizabeth?
- A boneca? - Perguntei confusa.
Ron: Para ele, ela é Elizabeth, mas não. - Ele virou um retrato duplo.
De um lado havia uma foto dele, uma mulher um pouco mais jovem com um lindo cabelo loiro e olhar sonhador, ela carregava um bebê. Do outro lado estava uma bela dama; sim, dama, não havia outra palavra para descrever a elegância da mulher que eu via era muito bonita o cabelo vermelho e olhos azuis, ela seguravam em suas pernas um belo rapaz de olhos azuis e cabelo cor loiro.
Ron: Ela é minha querida Elizabeth. - Disse apontando a mulher e o menino. - Minha amada irmã mais nova e a mãe de Josh.
- É muito bonita. - Disse o único que veio a minha mente, mas fiquei olhando o pequeno Josh, tinha um grande sorriso e seus olhinhos azuis transbordavam alegria. Calculei que na foto tinha uns três ou quatro anos, mas pude reconhecer os traços do jovem que eu conhecia escondidas nesse pequeno menino.
Ron: Acho que agora pode entender um pouco sobre o carinho de Edward para essa boneca. Não tenha medo, lhe custara muito poder ter uma relação social com você, mas tenha certeza que vai tentar.
- Não se preocupe doutor, tenha certeza de que farei o possível para que Josh esteja bem.
Ron: Isso é tudo o que peço.
Quando sai do seu escritório, tinha mais duvidas do que respostas.
Agora entendi um pouco, sim. Josh de uma maneira distorcida associava a boneca com sua mãe. Mas isso me explicava o porquê, porque ele estava preso aqui. Eu tinha muitas dúvidas, mas não tinha coragem de perguntar a Ron. Mas eu estava muito certa de que era algo muito ruim, porque ao se referir a "sua amada Elizabeth" o fez com nostalgia e dor em sua voz. Era como se não queria falar dela, mas deveria.
Uma parte de mim estava feliz, pelo modo que falou sabia que não tinha contado a ninguém mais o motivo para Josh estar assim, ele confiou em mim e não desperdiçaria essa confiança.
Caminhei de volta para o quarto de Josh, quando entrei ele estava sentado na cama com o caderno em mãos.
Ele me viu entrar e se levantou. Ele me deu o caderno e sentou-se novamente.
Eu podia ver o que estava desenhado, mais uma vez era Elizabeth, a boneca. Era um desenho verdadeiramente requintado, digno de estar em um museu. Josh tinha talento. Era muito realista, muito delicado e cuidadoso em cada um dos traços.
- Elizabeth ficou muito bonita. - Elogiei seu trabalho. Esperei que reagisse de alguma forma, mas não fez nada.
Fechei o caderno e coloquei no seu lugar da estante.
Joshua: Obrigado. - Sussurrou, virei para vê-lo. Olhava para o chão, mas estava certa do que havia escutado.
- Por nada. - Respondi, enquanto buscava novamente os horários que me haviam dado.
Comeu seu almoço com muita dificuldade, sabia que não gostava dessa comida horrível. Mas para o dia seguinte traria algo melhor.
A tarde passou devagar, mas sem qualquer problema. Joshua o passou em silêncio, que até agora não me incomodou.
Quando a noite caiu, eu percebi que Josh estava se mexendo na cama.
Era quase hora de ir. Devia ser oito da noite, mas antes eu tinha que dar um último remédio. Um sonífero. Eu não entendia do porque dar-lhe isso, mas eu não podia discutir com as ordens que tinha o médico para ele.
Quando voltei ao quarto Josh tinha trocado de roupa, para uma espécie de pijama. Joshua não precisava de mim, era independente, normal, talvez até poderia viver fora deste lugar por conta própria.
Dei-lhe o remédio e mais uma vez o tomou de uma vez. Ele estava deitado na cama, eu supus que a espera do sonífero fazer efeito.
Aproximei-me da cama para me despedir dele.
- Josh foi um prazer estar com você hoje. - Disse a ele em um sussurro.
Joshua: Eu também gostei de ter você aqui. - Disse ele, enquanto seus olhos se fechavam.
Sorri para a sua resposta. Saí do quarto, trancando como o doutor havia me dito.
Ao sair entreguei as chaves para Heyoon que me esperava.
Quando, finalmente, eu estava na rua, suspirei. Foi apenas meu primeiro dia no trabalho e eu já gostei dele, o que pude entender de sua condição me fez sentir um pouco de ternura para com ele, alguma necessidade de protegê-lo. De alguma forma eu queria que estivesse bem, que ele se sentisse feliz. E isso era o que faria no tempo que me permitisse trabalhar com ele.
Peguei um táxi para chegar ao meu apartamento.
Quando entrei, verifique as mensagens de correio de voz. Havia apenas uma, da minha mãe. Ela queria saber como eu fui no meu primeiro dia.
Gostaria de marcar, mas já era tarde demais para isso. O que fazer em seguida.
Troquei de roupa para deitar e descansar. Mas eu me lembrei do histórico de Josh. Eu tinha trazido comigo, o busquei na minha bolsa.
Foi algo pesado, era muito grossa.
Comecei a lê-lo com curiosidade. O primeiro era uma informação geral, o seu nome e idade, Joshua tinha 22 anos, era um ano mais novo do que eu.
Quando eu li a idade com que o haviam internado, eu me senti muito mal por ele. Ele havia sido hospitalizado na idade de doze anos, por um tal de Dr. Leclerc.
Eu continuei lendo até a parte de diagnóstico, em poucas palavras foi o que Ron me disse, a Dissociação da Realidade. Havia algo que me chamou a atenção: Repressão de memórias, "tem memórias reprimidas, a falta deles o confundem e compensa usando a boneca como uma fuga, acredita-se que, inconscientemente está sendo protegido de memórias traumáticas, mas de igual maneira o afeta a nível subconscientemente originando-lhe pesadelos muito vividos." Reli esse parágrafo, mas eu não conseguia entender muito bem.
O resto era nada mais do que avanços ou no caso a falta desses nas terapias, ao menos até cinco anos atrás, quando o nome do doutor mudou para o de Ron Beauchamp.
Mas não dizia nada do que tinha acontecido. Nesse ponto eu me repreendi, sabia que não devia importar-me motivos, só tinha que cuidar dele.
Fechei o arquivo e coloquei-o sobre a cômoda, quando eu fiz isso uma imagem saiu do meio das páginas e caiu no chão.
Levantei-me para pegá-la, e quando eu vi um sorriso desenhou em meu rosto. Era uma foto de Josh, recente. Seus olhos não eram os mesmos da criança, não havia nenhum sinal de alegria neles. Mas eu tentaria mudar isso. Tentaria fazê-lo sorrir.
Spoiler do capítulo 3
Joshua: Você está triste. Você nunca está triste. Algo está errado, e tudo bem que não me diga. Mas eu odeio ver você chorar.- Disse acariciando meu rosto.
Um sentimento estranho se formou no meu peito diante sua demonstração de carinho? Poderia dizer que foi um sinal de afeto logo por ter sido uma desconhecida para ele por tanto tempo? Eu olhei nos olhos dele, descobrindo que neles se formavam lágrimas.
- Querido, porque você está chorando?
Joshua: Eu te disse, eu odeio ver você chorar. Por favor, não o faça. - Suas palavras fizeram meu coração bater mais rápido.
- Ok, não choro, mas você também não. - Disse tentando parar as minhas lágrimas, mas na minha cabeça havia muitas coisas que não me faziam parar.
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