00. choke
S I N K
Into the storm again
Cold and disconnected
(?old and ? conne?ted)
Col? a d dis?? nected
We've opened
every door.
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00.
O mundo despencava em forma de chuva fora de época. São Paulo era lavada e nunca limpa de fato.
Como todo paulista que só de olhar para o céu sabe identificar chuva que vem, tiro o guarda-chuva da bolsa e o abro ao sair da marquise que servia de abrigo.
O objeto serve como véu que me permite nadar no mar de gente e de pingos. A mata de concreto que geralmente sufoca, agora permite que cada transeunte vague com a certeza de se mesclar ao ambiente.
Parte de um grande organismo, não mais únicos em si próprios.
Farol que abre, farol que fecha, chego em meu destino. Um prédio tão alto e tão velho quanto qualquer outro do centro da cidade, a sede secreta da S.H.I.E.L.D.
Lanço um aceno ao segurança, que esconde muito mais do que um simples cidadão comum poderia imaginar.
O homem saca do bolso interno do paletó um cartão que usa para destravar o elevador de serviço na entrada lateral do edifício. Adentro o cubículo e seleciono o andar desejado, em seguida pressionando o polegar sobre uma pequena tela para verificação biométrica.
Ainda que com aparência decadente, o elevador engana e sobe as dezenas de andares em questão de segundos. Não muito mais tarde, atinge o penúltimo e abre as portas.
A visão é de outro mundo. O local que se revela é totalmente destoante da fachada: esbanja a claridade de um consultório clínico e a tecnologia de um laboratório de ponta. Por mais que tente, é impossível não se impressionar com as tantas bugigangas que eles têm.
Deixo os pensamentos de lado e torno a atenção à mensagem que recebi pela manhã.
O que diabos dizia mesmo? Franzo a testa e começo a tatear o interior da bolsa em busca do celular.
— Agente D'Avila! – é Bianca, uma ruivinha engraçada que diz — O diretor a aguarda, creio que tenha recebido o meu recado.
Ela equilibrava várias pastas entre os braços finos e ao mesmo tempo tenta ajeitar os óculos numa postura profissional. Só então me recordo que a mensagem havia vindo dela.
— Claro. Aquela com o título "EMERGÊNCIA" e mais sete pontos de exclamação, certo? – ergo uma sobrancelha.
— Essa mesmo! – ela sorriu amarelo e continuou ajeitando os arquivos que levava – Este aqui... – caçou dentre eles um único e o apontou para mim – ... é seu. Leve-o com você até o diretor.
Mal o segurei e a moça já havia iniciado caminho para algum outro canto.
— Sim, senhora. – ergui o arquivo e falei ao vento graças a rapidez dela.
Quando a pequena interação acaba, sou capaz de perceber o que acontece no restante da sala ampla.
Divisórias de vidro delimitam inúmeros escritórios que isolam precariamente os ruídos de cada um. Uma quantia até que pequena de agentes para o andar gigante circulava apressada de um canto para o outro.
Finalmente erguendo os saltos e rumando à sala do diretor, ouço uma das várias televisões chiando pelo meio do caminho. Paro por um segundo a título de curiosidade.
A tela mostrava o telejornal local que exibia uma transmissão ao vivo de um lugar não tão longe dali.
"... a suspeita é de que hajam... mas os envolvidos..."
O som está baixo demais. Procurando pelo controle remoto, o encontro nas mãos de outro agente que, como eu, encontra-se concentrado nas imagens.
Sem preliminares, tomo o objeto de suas mãos e ignoro o seu olhar feio. Aumento o volume imediatamente.
Helicópteros circundavam o Teatro Municipal, um edifício histórico e imponente. Em sua entrada, um homem segura uma mala e conversa a metros de distância com um único policial.
Enquanto isso, é possível observar que o cerco estabelecido pelos policiais tem um raio considerável, e que uma evacuação de civis estava sendo feita às pressas. Será que... ?
"É quase certo. O terrorista alega ter consigo explosivos dentro da mala."
Telefones explodem atrás de mim. O teatro está a pouco mais de dois quilômetros daqui.
Vozes sussurram, exclamam e discutem sem parar. Aumento ainda mais o volume da televisão.
"... dentre os reféns mantidos no edifício encontram-se o governador e sua família. Acredita-se que o atentado é uma medida para impedir a sua reeleição."
De uma das únicas salas com paredes saem agentes fortemente armados em disparada.
— D'AVILA! – uma voz masculina brada com impaciência.
Viro em meus calcanhares e vejo Artur Braga, o diretor da divisão brasileira da S.H.I.E.L.D. Ele aguarda no batente do mesmo cômodo do qual os homens saíram.
Quando teve a certeza de que eu o ouvi, não esperou e adentrou novamente a sala sem se importar em esperar.
Na breve corrida até a porta, esbarro em outras pessoas que circulam e peço desculpas sem olhá-las.
Ao fim do percurso, fecho a porta atrás de mim e me viro para Braga.
— Senhor. – assumo a postura de continência.
— Descansar, agente. – meneia com a mão apressado e sem dar grande importância para as formalidades.
Os papéis que começavam a formar pilhas em cima de sua mesa parecem incomodá-lo. Num gesto brusco, pega grande parte deles e os joga em uma lata de lixo, enfim tendo sua mesa limpa.
— Sente-se, temos muito o que conversar. – aponta a cadeira em frente à si e esfrega a testa com a palma livre.
— Soube do novo incidente. – é claro que eu sabia, difícil seria não perceber – O assunto que quer tratar tem algo a ver com isso?
— Não, não... – levou uma mão ao queixo e adotou um ar pensativo – Bom, de certo modo, sim.
Sentei-me desleixada na cadeira que ele indicou e coloquei o arquivo que Bianca havia me entregado à nossa frente.
Braga o ignorou a princípio e retornou a falar.
— As coisas estão cada vez piores em Manhattan. Fury convocou uma reunião para que relatássemos as atividades dessa nova... onda terrorista. – franziu o cenho enquanto tentava manter a calma na voz – E também não é só em São Paulo ou no Rio. As sedes da Itália e da Espanha estão nessa situação a ainda mais tempo do que nós.
Suspirou pesado e colocou as mãos sobre a mesa.
— Há indícios também na China e na Austrália. E convenhamos, o que esses perturbados querem com a Austrália? Bombardear cangurus? – ele elevou a voz denunciando raiva, ergueu os braços e afundou na cadeira .
Tentei reprimir o riso sem sucesso.
— Nada melhor do que um pouco de humor negro para animar o fim do mundo. – dito isso, tirei o sorriso do rosto e me inclinei para o arquivo – E isso é?
— Claro, claro. – o diretor retomou a postura e apoiou os cotovelos na mesa enquanto olhava fixamente em minha direção – Não vou perder tempo tentando manter protocolo. Só um idiota não perceberia quem está por trás de tudo isso.
— "Boa" e velha HYDRA. Fury deve estar com os cabelos da careca em pé. – me apoio sobre um dos braços da cadeira.
Braga abriu um sorriso largo. Só Deus sabia o quanto ele não suportava o homem.
— E como a "boa" aberração que é, as cabeças deles mantém comunicação direta. Os sujeitos que você e sua operação perseguiram no mês passado foram avistados nos arredores no Nova York. Ao que parece, estão sob o comando de um lunático russo com um braço biônico.
— Não sei se me irrita mais ter que vê-los soltos ou perdê-los para outra jurisdição. – me remexo no assento em leve irritação.
O diretor novamente abre um sorriso sacana.
— Sei a pequena peste que você é, D'Avila; a peste perfeita para dar um chute na bunda desses cretinos.
Ele tomou o arquivo de mim e o abriu.
— Mirián Santiago, Enrico Piola e Ágatha D'Avila.
Ele puxou da pasta três blocos espessos. Eram fichas, e numa delas a minha carinha bonita.
Pego as folhas e começo a percorrer os olhos sobre elas.
— Santiago... medalha de honra ao mérito do governo espanhol – passo para o próximo – e Piola, ex-tenente da marinha italiana.
Ergo a cabeça para Artur em interrogação, mas ele permanece fixo nos arquivos.
De repente, entendo o que quis dizer. Três bons oficiais, reconhecidos por seus países e subitamente afastados de seus cargos invejáveis.
Agentes da S.H.I.E.L.D.
Ele agora olha diretamente para mim.
— Essa é a sua nova missão, D'Avila. Agentes Santiago e Piola estarão aguardando no porta-aviões de Manhattan.
N/A:
O que achou, chuchu?
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