Capítulo 3
Kovu caminhava com passos pesados, sua mente um turbilhão de emoções conflitantes. Ele sabia que sua explosão com Kiara fora motivada pelo medo, mas não conseguia afastar o pensamento de que tudo aquilo poderia ter terminado de uma forma muito pior. O simples vislumbre de perder Kiara e seu filhote fazia seu coração se apertar de maneira sufocante.
O som de passos firmes se aproximando o tirou de seus devaneios. Ele olhou para trás e viu Simba caminhando em sua direção, seu olhar sério, mas não acusador. O rei se deteve ao lado dele e, por um momento, ambos apenas contemplaram a vasta savana iluminada pela luz das estrelas.
— Você está bem? — perguntou Simba, quebrando o silêncio.
Kovu soltou uma risada amarga.
— Eu deveria perguntar isso para Kiara. Mas sim, eu estou bem. Só... frustrado. Eu disse para Kiara tomar cuidado, mas ela simplesmente ignorou. E agora... quase a perdemos. — Ele abaixou as orelhas e passou uma pata pelo rosto, suspirando. — Eu quase os perdi.
Simba se sentou ao lado dele, observando a lua no alto do céu antes de responder.
— Eu entendo seu medo. Acredite, já passei por isso.
Kovu virou-se para ele, intrigado. — Já?
O rei soltou um longo suspiro, seu olhar distante. — Sim. E uma das vezes mais difíceis foi antes de Kiara nascer. Nala estava grávida... de outro filhote. Um que não sobreviveu. — Sua voz ficou levemente embargada, mas ele respirou fundo e prosseguiu. — Estávamos enfrentando um período difícil, com invasores ameaçando nossas terras. Eu achava que conseguiríamos lidar com isso juntos, mas Nala... ela saiu sozinha para procurar ajuda. Sem me avisar.
Kovu franziu a testa, surpreso. — Ela fez isso sozinha?
Simba assentiu. — Foi atrás de Rafiki, acreditando que ele poderia guiá-la para encontrar aliadas. Mas quando voltou... os invasores atacaram. Ela não hesitou. Lutou bravamente para proteger minha mãe, as leoas e até mesmo a mim. — Ele fez uma pausa, sua expressão carregada de lembranças dolorosas. — Se não fosse por ela, eu teria sido atingido.
— Na época, eu fiquei furioso. Queria que ela tivesse esperado, que tivéssemos feito um plano juntos. Por mim, aquilo teria sido elaborado com estratégia, com nós dois pensando juntos ao invés de ela agir sozinha. — Ele olhou diretamente para Kovu.
Kovu continuou olhando para seu sogro com atenção. Simba voltou a olhar para o céu com diversas lembranças vindo à tona.
Simba suspirou, seu olhar perdido nas memórias. — Por sorte, não perdemos nosso filhote naquele dia. Mas, mais tarde, a vida o levou de outra forma. Ele cresceu sendo um filhote curioso... e acabou entrando em terras proibidas. — O tom do rei se tornou sombrio. — Zira o encontrou. E ela o atacou.
Kovu sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir o nome de sua mãe adotiva.
— O quê...? — sua voz saiu num sussurro.
— Nala estava grávida de Kiara quando isso aconteceu. Ela se colocou em risco para tentar salvá-lo. — Simba fechou os olhos, contendo a dor antiga. — Mas nem ela, nem eu, nem minha mãe conseguimos chegar a tempo. Ele... — Sua voz falhou por um instante. — Ele não sobreviveu.
Kovu desviou o olhar, absorvendo as palavras do sogro. Ele então abaixou a cabeça por um momento, refletindo sobre tudo que havia acabado de ouvir. A história de Simba explicava muita coisa—coisas que ele nunca entendera completamente até agora. Então, depois de um breve silêncio, ele ergueu o olhar para o rei, sua voz carregada de compreensão.
— Por isso você sempre reagiu daquela forma desde que conheci Kiara? — perguntou, sua expressão suavizando. — Seu instinto protetor em dobro foi por conta disso?
Simba manteve-se em silêncio por um instante, seu olhar distante. Então, com um leve suspiro, ele apenas assentiu.
— E além de todos esses... sustos, quando Nala estava grávida de Kiara, ela também se arriscou em uma caçada. As presas estavam escassas, e ela decidiu sair junto com as leoas, mesmo sabendo que poderia ser perigoso. Eu tentei impedi-la, mas ela insistiu. Durante a caçada, um antílope virou-se contra ela e a atacou. Por sorte, eu cheguei a tempo para ajudá-la. Mas sabe o que ela me disse depois? — Simba riu baixinho, balançando a cabeça. — "Se você não tivesse vindo, eu teria dado um jeito sozinha".
Kovu esboçou um sorriso leve, reconhecendo a personalidade forte de Nala refletida em Kiara.
— Minha mãe também não fica de fora dessa lista — continuou Simba. — Sempre foi tão forte quanto Nala e Kiara. Acho que é algo que corre na linhagem das leoas da nossa família. E Kiara... ela não seria diferente.
Kovu não precisou de mais palavras. Ele entendia agora.
— E como você lidou com isso? — ele perguntou, sua voz carregada de exaustão.
Simba sorriu levemente, como se estivesse relembrando aqueles dias com carinho misturado à preocupação.
— Com dificuldade. Mas depois de tantos sustos, percebi que eu não poderia mudar quem ela era. Nala sempre foi forte e determinada. Assim como minha filha. Mas eu aprendi algo importante: Nala não queria ser protegida como se fosse frágil. Ela queria ser respeitada. Queria que eu entendesse seus sentimentos, em vez de apenas dizer o que era melhor para ela. — Ele olhou diretamente nos olhos de Kovu. — Kiara é forte, Kovu. Você sabe disso. Mas às vezes, força também significa aceitar limitações, aprender a confiar nos outros. Assim como você precisa aprender a confiar nela.
Kovu abaixou a cabeça, refletindo sobre as palavras de Simba. Ele sabia que Kiara não era frágil, nem imprudente por natureza. Ela só queria provar a si mesma que ainda era capaz, que não estava sendo deixada para trás. Mas o medo que ele sentia o impedia de ver isso claramente.
— Eu só... — Ele suspirou pesadamente. — Eu só não quero perdê-la.
O rei assentiu com compreensão.
— Então mostre isso a ela. Mas não através da raiva ou da frustração. Mostre através do apoio, da paciência. Kiara não precisa de um guardião, Kovu. Ela precisa de um parceiro.
As palavras atingiram Kovu como um raio. Ele percebeu que, no meio de sua preocupação, havia deixado sua própria insegurança falar mais alto.
Respirando fundo, ele assentiu.
— Obrigado, Simba. Eu... Eu vou falar com ela.
Simba sorriu, satisfeito com a resposta. Então, deu um último olhar para o céu e se ergueu.
— Vamos voltar. Já é tarde, e Kiara precisa descansar. E você também.
Kovu concordou e os dois começaram a caminhar de volta para a Pedra do Rei. Cada passo parecia mais leve do que antes, como se o peso da sua frustração estivesse finalmente se dissipando.
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Oioi pessoal, desculpem a demora para postar o capítulo e me perdoem por qualquer erro que vocês encontrarem!
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