Capítulo Um | Left To Moths
E se você tivesse tudo
Mas ninguém para ligar?
Talvez então você me conheceria
Porque eu já tive de tudo
Mas ninguém está me ouvindo
E isso é solitário pra caralho
Lonely | Justin Bieber ( feat. Benny Blanco)
━ JOSH BEAUCHAMP
EUA · Califórnia · Los Angeles
Rotina.
Minha rotina é sempre a mesma, sem mudanças, sem emoções, sem ninguém. Eu costumo dizer que a solidão é minha única companhia como forma de me consolar.
As pessoas costumam ter pena de mim, isso quando não sentem repulsa. Eu não entendia até olhar por horas meu reflexo no espelho de teto de um hotel. Eu comecei a sentir pena e repulsa de mim mesmo. E quando se sente assim é porque você está no fundo do poço, ainda que seja bem-sucedido financeiramente.
Até porque uma coisa não tem nada a ver com a outra, não é?
A vida possui áreas e eu sou um fodido em todas, exceto pela financeira.
Eu nasci em uma família de posses bilionária, mas cresci também em uma família pobre de afeto. Uma família miserável, completamente fútil e mesquinha.
Eu pensei que quando crescesse e pudesse voar com minhas próprias asas as coisas seriam diferentes, pensei que poderia finalmente viver feliz. Eu estava errado.
Entrei em relacionamentos que não passavam de semanas. Cada uma delas foi como um tiro no meu ego, pois fui rejeitado e traído em todos eles. Esmagaram meu coração e o partiram sem dó.
"Você é um bom homem, mas você não é bom o suficiente."
"Você não tem beleza e nem charme, mas o seu dinheiro serviu para manter as coisas por mais tempo do que pensei, foi bom enquanto durou."
"Você deveria ter um pouco mais de atitude, as coisas não funcionam bem do jeito que você é."
"Homens bons raramente encontram mulheres boas."
"Você deveria mudar um pouco aqui e ali, assim eu não precisaria te trocar por outro."
Eu ouvi cada uma dessas frases de mulheres que eu pensei que amava.
A realidade é que meu conceito de amor é abaixo de raso. Eu não sei o que é o amor, porque eu nunca o tive de verdade.
Eu era um homem deprimente que não é bom o suficiente para manter qualquer mulher. Então desisti de correr atrás delas, esperaria que a mulher que realmente gostasse de mim vinhesse por vontade própria.
Cansei de ser como um cachorro que corre em círculos e a acaba por morder o próprio rabo.
Uma hora você cansa da própria vida e essa hora chegou para mim.
Eu enchi um copo com uísque até a quase transbordar e tomei tudo sem pausa para respirar. Engoli e a bebida desceu queimando pela garganta.
- Sr. Beauchamp, você tem uma reunião agora. - minha secretária entrou em minha sala e me avisou sobre meu compromisso.
- Obrigada, Srta. Fernández. - eu agradeci deixando o copo vazio de lado. Eu peguei meu blazer e meu MacBook para seguir a caminho da sala de reuniões.
Foram quarenta minutos de reunião que pareciam intermináveis. Eu apenas queria voltar para minha casa e me afogar com uma garrafa de uísque e toda minha amargura.
- O senhor está bem? - minha secretária perguntou assim que voltei para minha sala e ela parou na porta.
- Por que não estaria? - eu sorri. A mulher morena pareceu me analisar por alguns segundos.
- Nada. - ela balançou a cabeça.
- Já são seis horas, o que temos para o resto do expediente? - questionei ligando meu notebook.
- Você precisa assinar esses papéis e responder ao e-mail do Sr. Urrea. - ela passou as informações.
- Ótimo, você já pode ir se já tiver terminado tudo. - eu falei abrindo meu g-mail.
- Então eu já vou, só irei fazer um relatório sobre a reunião que acabou de acontecer e vou partir. - ela disse e eu acenei.
- Srta. Fernández. - a chamei antes que ela batesse a porta da minha sala.
- Eu pareço muito mal assim? - eu questionei esperando sinceridade dela.
- O senhor apenas parece cansado demais.
- E estou. Agora me responda com sinceridade, no que acha que eu devo melhorar em minha aparência ou comportamento? - perguntei olhando para os papéis em cima da mesa.
- Falta autoconfiança e uns cuidados básicos com a aparência, como cuidado com a pele e um corte de cabelo. - ela falou parecendo sincera. - E ah, aparar a barba. - ela disse antes de partir.
- Falta isso e todo o resto, não é? - eu murmurei já sozinho em minha sala.
Eu voltei ao trabalho, li e assinei os papéis apresentados a mim e respondi ao convite para um jantar de Noah Urrea para essa noite.
Eu rejeitei, porque eu realmente estava cansado e não queria uma companhia que jogaria na minha cara o merda que eu estou.
Já se passava das sete e meia quando resolvi que não deveria mais adiantar trabalho algum. Eu deixei a empresa e segui para casa com meu Aston Martin.
Eu peguei um elevador para minha cobertura, após ter deixado o carro no estacionamento no térreo. Assim que adentrei minha cobertura tive a surpresa desagradável de encontrar minha mãe e Noah me esperando no sofá da sala de estar.
- O que vocês estão fazendo aqui? - eu questionei, largando minha maleta de trabalho em cima da poltrona.
- Você é meu filho e eu tenho o direito de ver o filho que eu carreguei por nove meses. - minha mãe falou fazendo seu típico drama, como se eu a afastasse de mim, quando é ela quem sempre manteve distância.
Eu revirei os olhos.
- E você Noah? - eu franzi o cenho esperando por sua resposta.
Noah é um primo distante que tenho, quase não nos vemos porque temos estilos de vida muito diferentes e nossa afinidade nunca foi a das melhores.
- Eu queria ver você e como você rejeitou eu pedi uma ajudinha especial a minha tia linda. - ele disse abraçando minha mãe por cima dos ombros.
- Com qual objetivo? - eu estava desconfiado. Nada de bom pode vir deles.
- Eu vim trazer Noah, já estou de saída. - minha mãe disse se levantando e ajeitando a bolsa no ombro.
- Claro que está. - eu sorri ironicamente. Úrsula beijou meu rosto.
- Você está precisando ir a um salão, moleque. Está péssimo. - ela disse mexendo em meu cabelo.
- Tchau Úrsula. - eu falei a levando até a porta. Assim que ela passou eu voltei para Noah. - Diga logo o quanto você quer agora?
- Ei calma, irmão. - ele disse erguendo as mãos na defensiva. - Você está muito estressado, tem que relaxar.
- Eu não sou seu irmão e sim preciso relaxar, mas com você fora daqui. - grunhi e ele suspirou profundo.
- Eu tive um problema com um traficante. - ele contou de uma vez.
- O que? - eu estava incrédulo. - Não é possível! Você quer que eu pague um traficante?
- Sim, você é muito esperto, Beauchamp. - ele disse com um sorriso amarelo.
- Que merda você fez? Voltou a cheirar seu merda? - eu gritei exausto e puto da vida.
- Preciso de vinte mil apenas, meu pai bloqueou meu cartão e eu não tenho como pagar. - ele explicou.
Eu passei as mãos pelos meus fios de cabelo.
- E não é droga, eu acabei exagerando com as prostitutas. - ele disse e eu o encarei sem reação.
- Prostituta?
- Sim, eu levei uns amigos para uma boate e acabou que as prostitutas eram de luxo, caríssimas, e quando eu fui passar o cartão deu ruim. - ele disse mordendo o lábio. - Eu prometi que levaria esse dinheiro ainda hoje e se eu não levar eles me matam.
- Eu deveria deixar você morrer. - vociferei.
- Me ajuda, primo, por favor. - ele se jogou no chão, de joelhos.
Eu fechei os olhos e respirei fundo.
- Eu vou te ajudar, mas vai ser a última vez, da próxima eu mesmo te mato. - eu falei apontando o dedo para ele.
Ele assentiu e abraçou minhas pernas.
- Obrigado, irmão. - ele disse com a voz cheia de emoção.
Eu peguei meu talão de cheque e puxei Urrea, no meu carro nós seguimos para o puteiro de onde Noah arrumou as prostitutas.
Assim que adentramos o lugar eu fiz uma careta observando as pessoas ao redor. Prostitutas dançando, outras conversando e bebendo com os clientes, algumas até chupando o pau de outros.
Mulheres quase nuas se aproximaram de nós dois. Duas loiras siliconadas e com sorrisos enormes.
- Olá senhores, sejam bem-vindos a Las Novias. - uma delas passou a mão pelo meu peito. A afastei de imediato.
- Queremos falar com o dono. - eu falei desconfortável com a proximidade das putas.
- O Sr. Matteo está por ali. - a que estava sorrindo para Noah apontou. Noah como um descarado deixou um beijo na boca da menina.
Eu arregalei os olhos com a ousadia.
Eu o empurrei para o bar. Chegamos próximo ao dono e o homem se virou para nós com um sorriso sombrio.
- Urrea. - ele assobiou. - Trouxe o que me deve? - questionou.
- Josh. - Noah me cutucou. Eu puxei o cheque que assinei. - A transferência será feita amanhã de manhã.
Noah falou.
- Ótimo. - o homem puxou o cheque o colocando no bolso do terno. - Sente-se aí, rapazes. Deinert traga bebidas para eles.
O homem dizia sorridente, enquanto bebia sabe Deus o que.
- Temos que ir. - eu murmurei.
Noah se virou fazendo uma careta para mim.
- Vamos ficar só para admirar a vista. - Noah disse piscando para uma prostituta com os peitos de fora. - Olha que belezura temos aqui.
- Eu não quero ficar aqui, esse lugar não me agrada. - eu sussurrei querendo matar ele.
- Mas me agrada muito. - ele disse pegando a bebida das mãos da loira.
Noah começou a puxar papo com a tal Deinert e depois sumiu por um corredor com ela.
Filho da puta!
Eu me sentei em uma das banquetas de costas para o show de horrores. Eu fiquei bebendo o uísque com gelo até sentir uma mão deslizar por meu ombro.
Um cheiro doce foi inalado por mim, me embriagando. Não me mexi.
- Por que está tão solitário, senhor? - a voz soou e as mãos em meus ombros começaram a apertar, massageando meu corpo rígido.
- Eu gosto da solidão. - eu murmurei rouco sem querer e dei um gole no uísque.
- Eu também gosto, assim não tenho que dar satisfação de nada para ninguém. - ela murmura e eu sinto os pelos da nuca se arrepiarem.
- E é possível ser solitária aqui? - eu questionei curioso.
- Com certeza não. - ela sussurrou melancólica. - Mas eu me escondo no fundo dos meus pensamentos e vivo na minha terra da imaginação, só nela posso estar só de uma maneira mágica. - contou como se fosse um segredo.
Eu dei mais um gole terminando com o líquido no copo. Me virei na banqueta encontrando uma mulher belíssima.
Cabelos sedosos, corpo cheio de curvas pelo qual muitos se aventuram, rosto em formato de coração, uma boca carnuda muito pecaminosa, nariz arrebitado e olhos castanhos lindos, mas sem vida.
A roupa brilhosa mal cobria seu corpo fantástico.
- O senhor quer uma companhia hoje? - ela perguntou sedutora. Meus olhos focaram nos lábios pintados de vermelho.
- Seria errado. - eu murmurei.
- Você é casado? - ela perguntou abaixando o olhar para minha mão a procura de uma aliança.
- Quem me dera. - ri com escárnio.
- Então por que seria errado, senhor? - sua voz em um tom mais sensual desperta vida em meu pau que a muito tempo não se anima.
- Porque vai contra meus princípios. - eu falei coçando a cabeça envergonhado.
Ela deu um sorriso, triste?
- Podemos ir para um quarto e apenas conversar. - deslizou as mãos para meu peitoral. Ajeitou a lapela do meu terno de três peças.
- E gastar mais dinheiro? Não.
- Você parece ter o suficiente. - ela balançou o ombro.
Eu suspirei fechando os olhos por breves segundos.
Já tenho uma vida fodida, ir para um quarto com uma puta não pode piorar as coisas.
Eu pulei para fora da banqueta. Ela sorriu como uma vitoriosa e pegou minha mão, me puxando em direção ao mesmo corredor que o Noah tinha sumido a alguns minutos atrás.
To be continued???
Noah eu não sei se te odeio por ser um vagabundo ou se te amo por fazer eles se conhecerem indiretamente.
Roupa da Any:
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