✘ Único
✘ New York City
POV NARRADORA
Mais uma semana se iniciou para Any, uma que ela queria que fosse tão rápida quanto a anterior. Cada dia que se passa a vida parece mais exaustiva e as vezes a vontade de jogar tudo para o céu e fugir martela em sua cabeça com ainda mais força. Cada dia mais ela tem se empenhado para conseguir alcançar suas ambições, mesmo quando tudo o que ela quer fazer é desistir.
O peso do seu pequeno mundo está sobre seus ombros e mesmo cansada ela se ergue, suportando tudo.
A realidade é que a vida nunca foi gentil com ela ainda que ela fosse uma alma bondosa. Mas tudo mudou com o passar dos anos e sua fuga.
Ela encarou o próprio reflexo e o ar se esvaiu dos pulmões para voltar em um inspirar profundo. O rosto lavado, o batom vermelho sangue passado nos lábios e ela seguiu para o seu canto.
— Bom dia, Srta. Soares. — Lia, uma sócia junior do escritório B&W, a cumprimentou com a mesma simpatia e educação de sempre.
Any ergueu a cabeça e sorriu para a bela mulher de quase quarenta.
Lia é uma mulher de negócios muito respeitada em sua área. Ela é uma inspiração para Any, pois mesmo sendo a esposa do sócio-gerente ela nunca largou sua posição e nem sua independência, ela sempre batalhou por mais.
— Bom dia, Sra. Weaver. — Any acenou e sentou em sua cadeira.
A jovem mulher organizou suas coisas e começou mais um dia de trabalho com goladas de café como um incentivo a mais.
Não demorou muito tempo para ser interrompida pelo seu terrível chefe.
— Soares quero você na minha sala. — ele a chamou através da chamada telefônica com a voz mais rouca que o comum.
— Pois não, senhor. No que posso ajudar? — Any adentrou a sala após alguns segundos que correu até a sala amassando uma pasta em seu aperto.
Any levou o indicador até o óculos para o ajeitar no rosto. Ela mordeu levemente o lábio inferior pelo silêncio que foi mantido pela parte dele por alguns longos segundos.
Ele ergueu os olhos para ela a observando parada a poucos metros com um sua mania terrível de morder os lábios.
Sua mandíbula contraiu e ele acenou para que ela se aproximasse. Ela deu alguns passos ficando mais próxima.
— Sente-se. — ele ordenou com frieza.
Ela negou, preferindo ficar de pé para que pudesse voltar para sua mesa assim que possível.
— Eu não pedi, Soares, eu mandei. — ele disse com sua petulância que não é uma novidade.
Ela sentiu uma tremenda vontade de revirar os olhos, da maneira que sentia todos as vezes que ele era tão arrogante.
— Eu estou bem assim. — ela disse e forçou um sorriso. — O que o senhor deseja?
Ele travou o maxilar e inspirou profundamente para não sair de sua calmaria rotineira.
— Quero saber o porquê da sua falta ao compromisso que tínhamos ontem. — ele falou em seu tom calmo e expressão neutra. — Espero que sejam bons os seus motivos, porque sei o quanto quer crescer aqui, mas sua falta me faz questionar esse desejo.
Any engoliu em seco.
Ela queria que aquilo fosse esquecido, por mais que fosse impossível quando era um evento importantíssimo que poderia alavancar sua carreira como advogada, ainda que recém-formada.
— Eu... — ela levou a mão ao peito.
Outra mania que Josh reconheceu. Sempre que ela estava em seu estado nervoso, ou ansioso, fincava as unhas cumpridas no peito sobre o tecido de sua blusa.
— Você? — ele franziu o cenho.
— Eu estive doente, tive febre e... Hum, diarréia, durante toda a tarde e noite. — ela falou apreensiva.
Josh a analisou. A leu, porque, para Josh, ela é tão transparente e fácil de ler em seus modos. Mas, infelizmente, não em tudo.
— Você tem um atestado para comprovar? — ele questionou alisando o queixo, querendo saber até que nível suas mentiras chegariam.
— Não, eu estava só, não tive forças para ir sozinha, fiquei fraca demais.
— Você poderia ter ligado, eu poderia ter feito algo. — ele disse. Ela suspirou.
— Sr. Beauchamp, eu não poderia incomodá-lo quando o senhor estava tendo um momento importante. — tentou justificar.
O canto dos lábios dele se curvou. Josh se levantou e deu a volta na mesa. Ela se virou e eles ficaram a centímetros de distância.
— Mentiras e mais mentiras. — ele diz em reprovação. Sua voz mais profunda a fez sentir as pernas fraquejarem.
— Não sou mentirosa. — ela guinchou, com raiva pela a acusação, mesmo sendo verdade.
— Você está fugindo, sua mentirosa. — ele disse com um sorriso arrogante. — Uma pequena mentirosa.
Ele murmura se agachando para ter seu rosto bem próximo ao dela.
Ela sentiu tremores ao ter os olhos oceânicos de seu chefe tão fixos nela. Eles estão em um tom de azul tão escuro quanto a noite.
Josh segurou um lado do óculos dela e o puxou para fora do rosto da morena.
Ela se colocou nas pontas dos pés e tentou puxar uma parte de sua camuflagem.
— Por quanto tempo você pensou que poderia me enganar, Any Gabrielly? — ele perguntou em um fio de voz grave. Tão perto que ela teve que apoiar as mãos sobre a mesa para não cair sobre ela.
— Eu não...
— Não minta para mim! — ele disse friamente contra o rosto dela.
Ela fechou os olhos e inalou seu cheiro de colônia masculina importada.
— Por que você tem se escondido e se mantido por baixo dessa fachada deplorável? — ele segurou o queixo dela a forçando a manter os olhos nele, quando ela desviou.
— Você está delirando, senhor. — ela tomou uma dose de coragem para falar sem falhar.
— Como é? — ele ergueu uma sobrancelha para ela, apertando mais seu aperto no queixo da morena.
— Eu não estou mentindo sobre nada, eu jamais mentiria. — ela falou olhando diretamente nos olhos dele.
Ambos irradiando faíscas de uma mistura explosiva de emoções e sentimentos acumulados ao longo das semanas.
Ele riu com escárnio e umideceu os lábios.
— Você é tão mentirosa quanto traiçoeira. — ele disse com a mandíbula marcada por tudo o que ele contêm de suas emoções.
— O senhor deve ter esquecido dos remédios, não foi? — ela ousou e ele riu mais uma vez. — Eu sei que estava me perseguindo, quando me encontrou perto daquele bar. Sei que o senhor é tão mentiroso quanto eu, porque escondeu que está obcecado depois da minha rejeição.
Ela ergueu o queixo ainda mais no aperto dele. O peito estupefato e a respiração quase vacilante.
Ele sorriu abertamente.
— Então já que é tão esperta e sabe tudo me conte o porquê de estar fugindo. — ele disse soltando o queixo dela.
Ele se afastou por alguns segundos só para trancar a porta. Any ficou tensa com esse detalhe. A última vez que ficou trancada com seu chefe a fez se arrepender.
— Me diga, Soares. Do que você tem tanto medo? — ele puxou a cadeira na frente dela e se sentou.
Any se manteve encostada na mesa, agora com os braços cruzados abaixo dos seios.
Ela respirou frustrada, pois sabia que por mais que tentasse esconder ele arrancaria a verdade nua e crua sem ser piedoso dessa vez.
— Eu te pergunto, por que eu deveria ceder para você? — questionou apertando as mãos nos braços cruzados. — Eu sei do que aconteceu com a última mulher que cedeu a suas vontades sombrias, Sr. Beauchamp. — ela se moveu para mais perto dele.
Any apoiou as mãos nos braços da cadeira em que ele está assentado.
Josh a fitou esperando ouvir mais. Por dentro seu sangue fervilha em ódio e seus pensamentos rastejam para quem foi o mensageiro que contou a ela sobre uma parte oculta de seu passado.
— E sabe de uma coisa? Ainda que meu corpo anseie pelo seu toque, eu jamais vou me render, pois eu não quero acabar morta como a outra. Eu tenho sonhos e um futuro, você não vai arruína-los, eu não vou permitir. — ela disse firme e determinada.
— Muito bom. — ele disse batendo palmas. — Eu não poderia esperar mais de você. Me surpreende que se escondeu por tanto tempo na fachada de moça tímida e frouxa. — ele disse presunçoso. — Agora me diga suas fontes. — exigiu.
— Não. — ela disse firme. Ele se levantou de abrupto e agarrou o rosto dela com uma única mão.
— Eu vou dizer uma coisa, pequena mentirosa, não costumo tolerar tanta insolência, mas estou sendo paciente.
— Por que? Você acha que pode me conquistar com isso? Sua paciência não ameniza o perigo que é. Você é uma bomba-relógio que está sempre prestes a explodir, foi por isso que Marie morreu.
Ela sentiu uma pontada no peito.
— Não repita isso. — ele falou entredentes.
— Que você matou uma mulher porque é um doente?
— Você não sabe de nada, porra. — ele disse apertando o rosto dela.
— Você está me machucando. — ela o empurrou. Ele deu um passo para trás e passou a mão pelos fios de cabelo. — Eu sei muito bem, por sorte abriram meus olhos antes de qualquer merda que eu poderia ter feito.
Memórias disparam na mente de ambos. Quando Josh agrediu um homem depois de um jantar de negócios em que Any o acompanhou, o homem a assediou e ele reagiu de maneira explosiva.
Ela não sabia como reagir a violência dele, mas quando ficou sabendo que por ciúmes sua última mulher tinha sido morta, toda e quaisquer chance dela ceder ao desejo que sente por ele esvaiu.
Any recordou a vez que ficaram presos no almoxarifado e eles quase acabaram transando, depois de um dia em que ele a viu tão frágil.
— Você não pode ter nada de mim, Beauchamp. Se quiser me demitir não precisa mais fazer, porque eu é quem me demito. — ela disse antes de passar batendo ombro a ombro.
E a memória de onde tudo começou, um encontro em um hotel, ela acompanhada de um homem e ele saindo com uma mulher. Uma troca de olhares e meses depois um reencontro.
Aquela noite tinha sido tão desastrosa tanto para ele quanto para ela.
Ambos sentiram algo com um olhar e com os dias juntos se tornou uma tensão sexual palpável. Mas os fantasmas existem e eles não os deixam em paz.
Ele a correu e a agarrou por trás antes que ela destrancasse a porta. Ele tapou a boca dela antes que ela tivesse a chance de gritar.
Ela esperneou nos braços dele, mas ele é muito mais forte e grande do que ela. No momento ela se sentiu atemorizar com flashbacks de seu passado.
Ela tenta gritar, mas o som é abafado pela mão dele.
— Shhh, fique quieta, eu não vou te fazer mal, Any. — ele pediu com tranquilidade apesar do turbilhão. — Não vou solta-la até que de aquiete.
Ela parou e ele a soltou após uma hesitação.
Ela estava prestes a correr para a porta de novo.
— Eu não matei Marie, Any. — ele disse. — Mas eu sei quem você matou.
Ela travou naquele momento, com a mão na chave.
Ele voltou a se aproximar.
— Eu sei que não foi por maldade. — ele sussurrou próximo ao ouvido dela.
Um arrepio percorreu sua espinha.
— Eu sei que ele ele foi um merda que acabou com sua vida, assim como Marie tentou acabar com a minha, mas eu não a matei como você pensa. — ele disse calmamente, a virando para ele. — Me escute, é só isso que te peço.
Ele murmurou e ela assentiu após alguns segundos.
— Eu tenho sim problemas quando se trata dos meus ciúmes, eu posso ser possessivo e isso me torna como um louco. — ele coçou a nuca. — E isso se tornou pior com meu relacionamento com Marie. Nós estávamos juntos por conveniência e ela era uma puta manipuladora. Eu gostava dela e ela achava que podia me controlar por isso, mas quando viu que não era capaz começou a me provocar de todas as formas possíveis. Ela me traía e não escondia, ela fazia de tudo para que eu explodisse.
Any o olhou com uma certa incredulidade, pois parece irreal alguém ser tão doentio a esse ponto.
— Ela dizia que gostava da minha versão violenta, apesar de eu nunca ter levantado a mão para ela. Mas eu ainda era bruto no sexo depois das nossas brigas. Eu batia em seus amantes até quase os matar e ela gostava de ver isso. — ele deu continuidade a sua história. — Se tornou um ciclo até a noite em que eu cansei da toxicidade, ela estava em uma boate transando com um cara em um local público, eu vi e não reagi. Terminei com ela enquanto o cara corria, ela ficou furiosa. Eu retornei para casa naquela noite e ela me perseguiu com seu carro. Marie bateu contra meu carro uma vez e na segunda ela perdeu o freio e bateu contra um caminhão. A família dela quem espalhou o boato de que eu fui o culpado, porque para eles isso é melhor do que aceitar que a filha deles era uma doente mental.
Ele finalizou e Any estava em choque com tudo o que ouvira.
— Você simplesmente aceitou que te acusassem de algo que você não fez?
— Não, eu provei que foi ela a culpada da própria morte. Eu encontrei gravações de câmeras de segurança da boate e das ruas pelo qual percorremos naquela noite. — contou. — Ficou comprovado que eu não fui o culpado, mas tem quem queira que tudo isso seja uma mentira inventada.
— Isso é loucura. — ela disse balançando a cabeça. — Sinto muito pelo o que você teve que passar com essa mulher horrível.
— Eu sinto mais pelo o que você passou com Paul. — ele disse e Any deu um meio sorriso.
Falar do passado nunca é fácil quando ele é o responsável pelas feridas que ainda não cicatrizaram. A história de Any é longa e dolorosa. Ela passou por anos o que muitas mulheres passam. O relacionamento abusivo, onde a mulher é sufocada até não conseguir ouvir mais a própria voz.
Foram sete anos deprimentes, mas hoje ela pode se orgulhar de ter lutado bravamente para fugir da realidade cruel que muitas mulheres não conseguem até acabarem mortas por seus próprios parceiros.
— Eu o matei na noite em que nos vimos pela primeira vez. — ela contou. Ele segurou as mãos dela e a puxou para o sofá no canto da sala.
— Você não precisa contar agora. — ele tentou confortá-la.
— Eu quero falar. — ela sussurrou. — Eu nunca consegui falar disso com ninguém. — fez uma pausa. — Paul e eu estávamos juntos a sete anos e ele me levou para jantar em comemoração, eu me arrumei toda e nós jantamos fora, mas tudo deu errado.
Ela mordeu o canto interno da bochecha.
— Ele costumava surtar por ciúmes, então naquela noite ele ficou puto, porque achava que eu estava me insinuando para um garçom. Ele me levou para o hotel que era uma surpresa da noite, eu não queria fazer nada, porque ele estava alterado e tínhamos brigado, mas ele insistiu e acabamos brigando no quarto de hotel. Ele me agrediu e me tomou contra minha vontade, eu acabei lutando contra ele. O acertei com um uma escultura de ferro decorativa e ele desmaiou e bateu a cabeça na quina de um móvel quando caiu para trás. Foi terrível. Eu não tive reação alguma na hora, simplesmente desmaiei e quando despertei a polícia estava no quarto e o corpo já tinha sido levado.
— Consegui confirmar que foi em legítima defesa com o exame de corpo de delito e testemunho dos hóspedes do hotel que testemunharam os meus gritos naquela noite. Acabaram também por encontrarem queixas antigas, Paul já teve problemas por ter agredido outras mulheres e tudo isso aconteceu em dois meses. Foram meus momentos mais frustrantes, pois pensei que a justiça falharia, como falhou com muitas mulheres, mas eu não descansei até conseguir me inocentar.
— Você é tão forte pra caralho. — ele falou tocando as mãos dela.
— Nos precipitamos sobre muitas coisas, Kyle. — ela murmurou cabisbaixa.
— Eu sei, mas eu não me precipitei quando disse a você que queria fazê-la minha. — falou, sincero como sempre fez questão de ser. — Sei que sou o homem menos favorável, devido ao meu histórico, mas você não sabe o quanto eu tenho tentado, Any. Eu malditamente fui dominado por toda a sua suavidade, porra.
Ele disse com um meio sorriso se formando.
— Eu sei tudo isso, Sr. Beauchamp. — ela sussurrou. — Mas sejamos cautelosos.
— Eu vou fazer tudo para conseguir você, Any. Porra, tudo mesmo. — ele apertou as mãos dela.
Os dois se encararam. As nuances cintilantes e os corações disparados.
— Foda-se. — ela se atirou nos braços dele. — Você me faz queimar toda minha razão.
Ela agarrou ele pelas lapelas do paletó e juntou os lábios que tanto ansiaram um pelo outro. Josh sentiu-os se encaixar como se tivessem sido feitos um para o outro e então não pode conter toda a sede, a fome, a vontade que lutou contra por tanto tempo.
— Então agora você será inteiramente minha?! — ele sussurou após puxar o lábio dela entre os dentes dele.
— E você será apenas meu?
— Com certeza!
2 ANOS DEPOIS.
— Eu vos declaro marido e mulher. — o padre anunciou. — Pode beijar a noiva! — Josh abriu um sorriso cafajeste e puxou Any pela cintura com firmeza.
— Agora você nunca mais fugirá de mim. — ele sussurrou.
— Eu não quero mais fugir. — ela o segurou pela nuca e tomou os lábios de seu marido.
Após um ano e meio de de namoro e cinco meses de noivado, depois de uma manhã de declarações no escritório da B&W, finalmente, eles consumaram a união. O que um dia foram apenas provocações e fugas se tornou um amor sólido e memorável.
Eles deram mais um passo para unidos ficarem até que a morte os separe.
Foram anos de muito aprendizado e Crescimento. Agora Josh é um sócio-sênior e Any uma advogada junior, a mais nova e procurada entre seus colegas.
Os dois aprenderam, com muita terapia, a importância do diálogo e aprenderem que eles não são os responsáveis pela felicidade um do outro, mas juntos vivem na missão de um ajudar ao outro em sua própria jornada para encontrar seus próprios caminhos de felicidade.
FIM!
Mais uma one shot aleatória!
Acho que vou adaptar um livro que tem essa vibe de escritório e advocacia... apoiam?
Espero que tenham gostado <3
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