Único
ANY GABRIELLY
"ele diz
desculpe por eu não ser uma pessoa fácil
eu olho pra ele surpresa
quem disse que eu queria fácil
eu não gosto de fácil
gosto de difícil pra caralho"
Suspiro alto encarando o teto após fechar o livro.
Eu estou em plenas férias olhando para teto sem qualquer plano de sair, porém com o maior tédio existente. Sou do tipo de que gosta de sair e curtir uma boa noite tomando um sorvete, indo ao cinema, ou simplesmente indo ao parque em frente a minha casa. Mas também sou o tipo preguiçosa de que só pensar em ter que me arrumar para sair desisto.
Mas eu me obriguei a levantar da cama e a tomar um banho rápido e gelado para despertar meu corpo mole.
Eu queria pelo menos um homem difícil do tipo suportável para lidar, mas eu estou completamente só e sem qualquer esperança de encontrar alguém que queira viver uma relação sincera comigo.
Estou tentando suportar isso, após o término de um relacionamento de seis anos. Eu já sonhava com nosso casamento, enquanto ele estava fodendo a minha prima no que um dia seria nosso apartamento.
A solidão é terrível.
Para ele eu tentei ser a melhor, me tornei sua submissa. Mas hoje eu entendo que tudo o que ele me dizia e fazia eram abusos a minha mentalidade que eu deixei por muito tempo ele moldar. Achava que ele era o homem perfeito e para tudo me calava.
Finalmente após seis anos eu passei a entender que eu não era realmente amada, era apenas um objeto que servia para o descontamento das mazelas alheias.
Eu recebia e engolia sem abrir a boca para contradizer. Eu achava que era amor.
Mas como diz Rupi: "há uma diferença entre alguém dizer que te ama e de fato te amar".
Se ele me amasse de verdade me ouviria, se ele me amasse me faria sentir especial, se ele me amasse cuidaria de mim nas vezes que me viu machucada.
Mas eu me lembro que foi ele quem me calou, ele quem fazia eu me sentir imprestável, foi ele quem sempre me machucou da maneira mais dolorosa.
Decidida eu me arrumei com uma roupa simples, não pensando em ir tão longe e nem num lugar sofisticado. Um vestido preto tendo da cintura para cima um tecido mais grosso e que dá uma valorizada no meu busto, e da cintura para baixo uma saia soltinha que vai até o meio das coxas.
Uma bolsa da channel que ganhei combinou bem assim como meu tênis jordan.
Eu sai de casa e peguei um táxi até o píer, afim de aproveitar o parque de diversões e a praia que tem por lá. Após pagar pela corrida fui comprar o ingresso para os brinquedos.
Fui em uns cinco brinquedos diferentes e resolvi fazer uma pausa para comer. Eu comprei um hot dog com mostarda e fui com ele caminhando até a areia da praia.
Sem me importar em sujar meu vestido de areia me sentei não tão distante e nem tão perto do mar.
Eu fiquei por um bom tempo encarando o céu estrelado, mas também intercalando entre as ondas do mar e areia sob meus pés, até que um homem surgiu ao meu lado.
- Oi. - ele disse e eu o encarei.
Eu suspirei apreciando a vista. O homem é lindo 'pra cacete, tipo lindo demais.
- Oi. - eu falei meio envergonhada. Ele colocou em meu colo um buquê cheio de rosas, peônias e até lírios, contrastando entre o rosa claro e o branco.
- O que é isso? - eu perguntei confusa.
- Um buquê. - ele disse irônico e eu revirei os olhos.
- Por que está me dando isso? - questionei com a testa franzida.
- Porque eu quero te dar. - ele disse balançando os ombros e encarando o mar.
- Isso soou... - eu mordi meus lábios contendo o riso.
- Desculpa. - agora ele ficou envergonhado. - Eu comprei esse buquê para dar para alguém especial.
- Eu sou especial? - entortei a cabeça.
- Claro. - ele sorriu de lado.
Um sorriso lindo pra caralho.
- Não sei não. - falei desconfiada. - Não conheço você.
- Não precisa me conhecer, só aceite.
- Com que objetivo você comprou esse buquê? - perguntei curiosa enquanto lambo um dedo sujo de mostarda.
- Eu queria presentear alguém bonito com as flores que eu considero as mais lindas antes de partir, porque essas coisas se deve dar a alguém que ainda está vivo e logo eu não estarei. - ele disse como se não fosse nada demais.
- Como assim vai morrer? Não poderia ter dado as flores para alguém que conhece? - eu estava meio desconcertada e afobada.
- Vou morrer porque é o meu destino, e, bem, eu não conheço ninguém tão bonita quanto você que mereça essas flores. - ele falou e eu sorri minimamente.
- Não são respostas que me convençam. - falei sincera.
- Tá. - o homem de empurrou os dedos entre os cabelos loiros. - Hum, eu tenho uma doença e não posso continuar com o tratamento dela, então eu decidi que quero morrer de vez.
Eu fiquei sem fala.
O silêncio pairou.
- Essas flores seriam as que eu gostaria de colocar no meu túmulo, mas eu não as quero num lugar tão mórbido, então quis presentear uma pessoa bonita com flores bonitas, apenas isso. - ele finalizou.
- Ok. - eu falei ainda sem saber bem o que falar. - Porque não pode continuar com o tratamento?
- Meu dinheiro não é o suficiente, eu já estou cansado de ir de hospital em hospital. - ele me respondeu e eu assenti em compreensão.
- Quanto tempo tem?
- Alguns dias, ou semanas. - respondeu balançando os ombros.
- Não tem ninguém que te ajude? - olhei para dentro dos olhos azuis.
- Eu perdi todo mundo que eu poderia confiar, tenho apenas um amigo, mas ele já começou a se conformar. Não tem jeito. - ele dizia tão calmo e leve.
- O que pretende fazer enquanto não morrer? - perguntei e ele suspirou pensativo.
- Quero fazer coisas simples que os dias em hospitais não me possibilitou.
- Como? - perguntei sorrindo torto.
- Você é muito curiosa. - falou sorrindo e eu ri.
- Só um pouquinho. - fiz beicinho.
- Quero jantar em restaurantes bons, tomar muito sorvete, ler um bom livro, pular de paraquedas, visitar um museu, assistir alguns clássicos e transar muito. - ele disse olhando para o céu com um sorriso no rosto.
Eu tive que rir com a última parte.
- Tem namorada?
- Não. - ele me olhou com um sorriso de lado. - Por que a pergunta?
- Só pra saber se tem alguém com quem transar muito. - eu falei descarada.
- Está interessada é? - questionou com um sorriso ladino.
- Por que não estaria? - ele riu.
- Como se chama?
- Any Gabrielly. - respondi e ele sorriu.
- Extraordinário como a dona. - falou sorrindo bobo. - Sou Josh Beauchamp.
- Então Josh Beauchamp, será que me aceita como sua boceta amiga até o dia em que partir? - perguntei e ele gargalhou alto caindo deitado na areia.
- É um pedido tentador... que eu não recuso. - ficamos nos olhando por um longo tempo.
Eu deixei minha bolsa, o buquê e embalagem do hot dog de lado e avancei no desconhecido o beijando. Loucura que a alguns meses eu não faria.
E eu tô foda-se para os meus pensamentos sobre ele poder ser um estuprador, assassino, ladrão e qualquer coisa que infringi as leis e a minha consciência.
- Podemos ir para o meu apartamento. - eu sugeri após beijar ele até perder o ar.
- Agora. - ele se levantou quando sai de cima dele. Peguei minhas coisas e juntos nós pegamos um táxi para o meu apartamento.
❥ NARRADORA
As semanas passaram e eles permaneceram juntos daquele dia em diante aproveitando cada instante, cada emoção, cada sensação, cada momento que se tornariam memórias.
Um conheceu a história do outro, vice versa, e isso os aproximou muito mais sentimentalmente do que eles esperavam. Não eram apenas encontros para o prazer sexual, eram memórias que estavam criando para que um dia quando a Any tivesse a família dela, pudesse contar sua loucura de ter se envolvido com um estranho para realizar os últimos desejos antes que ele morresse.
Quando Josh teve uma recaída de sua doença ele declarou todo o carinho que havia criado pela mulher mais extraordinária que ele já havia conhecido. Disse que ela deveria ser feliz e esquecer o infeliz do ex namorado.
Mas mal sabia Josh que ele era o único que ocupava a mente de Any a maior parte do tempo.
Ela estava apaixonada por um homem que ela não poderia ter.
Os dias que viveram juntos foram os mais incríveis de suas vidas. Desde os passeios, as brincadeiras e até o sexo entre eles era diferente, era único.
E Any sentia que nunca mais poderia encontrar alguém como ele.
Não existia ninguém como Josh Beauchamp. Ela conheceu quem ele era em poucos dias como ninguém se interessou em conhecer por toda a vida dele.
Antes do seu último suspiro ele a encarou com os olhos meigos, mas cansados de lutar pela vida, e sussurrou:
- "Você pode não ter sido meu primeiro amor, mas foi o amor que tornou todos os outros irrelevantes."
Era a frase de um dos livros de poema preferidos da Any que eles leram juntos.
- Eu amo você. - ela sussurrou de volta e os olhos dele se fecharam ao ponto de nunca mais voltarem a abrir.
Ele finalmente tinha descansado após anos lutando contra um tumor.
Ela não chorou naquele dia. Simplesmente deixou o hospital após dar um último beijo nele e seguiu o caminho de casa com um sorriso no rosto sentindo que tinha dado seu melhor por ele.
Mas ela não o completou.
Naquela mesma noite o táxi em que ela estava bateu contra um caminhão de carga e ela perdeu também a vida terrena, para ganhar a eternidade.
Em algum lugar, talvez em outra realidade eles poderiam ficar juntos depois de uma vida solitária e sofrida. Diferente do doutor estranho, personagem que Josh era fã, pelo menos ele poderia amar e viver com a mulher de sua vida em todos os universos.
THE END!!!
Esse final doeu né ?!
Tem um olho na minha lágrima🥲
Eu estava com saudades das oneshots então fiz essa para vocês. Espero que tenham gostado!
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