Capítulo Oito
"sou tudo aquilo que não dizem de mim"
ANY GABRIELLY
EUA · Califórnia · Los Angeles
Sábado chegou e tudo o que eu queria era aproveitar o sono que tenho dormindo por horas sem preocupações. Mas fui despertada pelas batidas incessantes em minha porta as oito da manhã. Preguiçosamente, eu me levantei zonza de sono e abri a porta pronta para xingar quem quer que fosse o infeliz que estava me acordando cedo.
- Já se passaram dois meses. - o síndico anunciou. Eu cocei meus olhos contendo a vontade de xinga-lo até a sua quinta geração.
- Eu sei, mas ainda não encontrei um emprego, será que pode me dar mais uma semana, senhor. - eu pedi, com o tom mais doce possível.
Ele me analisou do alto da minha cabeça a baixo. Sorri meio desconfortável.
- Não encontrou porque não quis. - ele disse grosseiro. - Eu preciso do dinheiro, não posso mais esperar. Sua dívida só está se acumulando mais e mais.
Suspirei frustrada.
- Tenho noção disso, mas como eu posso fazer se o senhor ao menos aceita cartão?
- Se vire. - ele disse rude. Travei a mandíbula sentindo a raiva reverberar pelo meu corpo. - Ou então... - ele coçou a barba branca.
- Então o que? - o questionei segurando a porta para que não bata.
- Passa em minha casa às cinco horas. - falou ao pensar por alguns segundos.
- Não posso... - fui interrompida.
- Quer ser despejada? - me perguntou com uma certa fúria. Eu quase me encolhi com o olhar gélido e sombrio.
Porém, mantive a postura.
- Eu darei um jeito. - falei a contragosto.
- Ótimo. - ele sorriu de maneira hostil e foi embora.
Eu bati a porta do apartamento e suspirei pesado pensando no que ele queria.
Eu poderia pedir dinheiro emprestado, mas meu orgulho me impede. Eu fiz tudo sozinha desde a partida de minha mãe e agora eu não queria depender de qualquer pessoa.
Voltei para o quarto e ouvi meu celular tocar.
Eu atendi impaciente, sem nem olhar quem era.
- Alô, quem está falando? - meu tom saiu raivoso.
- É assim que se fala com seu pai? - ouvi a voz que me tráz desgosto.
- O que você quer, papai? - falei com sarcasmo.
- Soube que se reencontrou com Lamar, sei que ele está noivo, mas também sei que ele ainda te ama. - ele começou a falar e eu revirei os olhos.
- Me ligou para falar dele? Se importa mais com esse imbecil do que com o bem estar da sua única filha? - minha voz se elevou.
Eu demonstrava minha indignação.
- Claro que penso em seu bem estar, sou seu pai, por isso conversei com Lamar e ele pode te aceitar de volta. As coisas no noivado dele não estão indo bem, então... - o interrompi.
- Eu não quero saber de Lamar, foi ele quem estragou tudo entre nós, não tem mais volta. Ele me enganou, pisou no meu coração e feriu meu orgulho, eu não o amo mais. - berrei ao telefone já cansada de toda a insistência de meu pai em me prender ao traidor.
- Any Gabrielly...
- Estou cansada de você querer me empurrar para esse mentiroso, você nunca se importou comigo de verdade. Você liga apenas para os benefícios que uma relação entre mim e ele pode te proporcionar. Quer saber de uma coisa? Esqueça que eu existo, estou muito melhor sozinha! - gritei no auge do estresse.
Desliguei o telefone e o bloqueei.
Ofegante eu joguei o celular na cama e me escorreguei por ela até ficar sentada no chão. Com a respiração cada vez mais ofegante, o nó se formando em minha garganta e as lágrimas formadas, transbordando, senti a crise começando.
Fazia tempo que eu não sentia essa sensação de desespero interno.
Só Deus sabe o quanto eu lutei para vencer isso e agora aqui estou eu novamente.
Por muito tempo eu me humilhei para manter uma boa relação, uma relação saudável, com meu pai (além de Lamar). Mas tudo vai por água abaixo quando não se tem reciprocidade.
Uma filha não deveria ter que implorar ao pai por um relacionamento.
Comecei a coçar minha garganta, como se isso fosse me ajudar. Mas o resultado foram apenas arranhões avermelhados.
Fiquei na mesma posição por pouco mais de meia hora até me reerguer já melhor.
Fui ao banheiro e lavei meu rosto. Encarei meu reflexo deprimente no pequeno espelho. As lágrimas voltaram a transbordar a medida em que as memórias que eu tenho de minha mãe vem em minha mente.
Tento imaginar que agora ela está em um lugar melhor, sem sofrer pelas manipulações de meu pai e o dor que ela carregou por um tempo.
Eu queria tanto ter ido junto dela.
Lavei meu rosto novamente. Inspirei e expirei, três vezes, até ficar bem de verdade.
Como não conseguiria voltar a dormir, resolvi montar as próximas aulas dos meus alunos particulares e estudei um pouco sobre alguns assuntos pendentes.
As horas se passaram e eu não almocei mais uma vez.
Quando fui ver já era cinco horas e eu estava atrasada para encontrar o síndico. Tomei um banho e me troquei rápido.
Sua casa era perto, então em cinco minutos cheguei e toquei a campainha.
Nervosa, eu apertei minha bolsa contra meu corpo enquanto espero ser atendida.
Não demorou muito e ele apareceu com aquele sorriso horrível.
- Entre. - ele disse e eu hesitei antes de faze-lo.
- Dona Anna está? - perguntei analisando a casa a procura de sua mulher.
- Ela foi pra ginástica. - contou e eu o senti atrás de mim, perto demais.
- Então, como posso fazer para quitar a dívida? - me virei e fiquei cara a cara com o velho, a poucos centímetros de seu rosto.
Dei um passo para trás.
- Anna está precisando de ajuda com a limpeza, você poderia vir aos finais de semana até conseguir quitar a dívida. - ele sugeriu.
Eu analisei a proposta.
- Isso daria em quanto tempo?
- Até você arranjar um emprego. - ele disse e eu fiquei pensativa.
- Não vejo outra opção. - murmurei e o sorriso dele se tornou maior.
- Venha no próximo sábado, às dez da manhã. - ele disse e foi abrir a porta novamente.
Fui embora sem falar mais nada.
Passei na padaria próximo ao prédio e comi algo rápido antes de voltar para casa, afim de me arrumar para a festa que Sina me convocou.
Com muito esforço, mesmo sem força de vontade, pranchei meu cabelo e passei o babyliss que Sina me emprestou. Vesti a peça que ganhei da loira, um vestido preto curto de mangas bufantes caídas .
Às sete e meia ela me ligou avisando que estava a minha espera. Me apressei e fui ao seu encontro. No carro elogiei seu vestido azul de seda, que caiu super bem no corpo de modelo dela.
No caminho ela me contou um pouco sobre a mulher que vem rodeando seu tio nos últimos dias, segundo ela, quer me manter em alerta. Contou também sobre estar conversando com Noah por mensagens e que está cada vez mais perto de fisga-lo.
Nós chegamos em frente ao salão suntuoso.
Os Deinert são absurdamente ricos e exagerados.
Nós entramos juntas, ela cumprimentou seus parentes e logo avistei Josh do outro lado do salão, estava conversando com o Noah.
- Encontrei sua paixão. - falei para Sina indicando com a cabeça.
- E eu o que te causa tesão. - eu a reprovei, ela gargalhou e me puxou até a mesa de seu tio.
- Boa noite, senhores. - cumprimentei Noah com um aperto de mão. Josh foi mais ousado quando tentei fazer o mesmo com ele. O loiro segurou em minha cintura e depositou um beijo discreto no canto da minha boca.
Também sussurrou: - Você está uma loucura de linda, mas sinto falta dos cachinhos.
- É bom mudar as vezes. - eu sussurrei de volta.
- Contanto que não tire sua identidade e te agrade, não sou totalmente contra. - ele disse e me soltou.
Sorri para ele.
Um garçom passou, eu e Sina pegamos drinks e começamos a conversar com os dois homens mais velhos sobre a família deles. Descobri que homens podem ser mais fofoqueiros do que imaginamos.
Josh nos contou histórias terríveis sobre a família que nem Sina sabia. O assunto ficou só entre nós quatro.
A playlist da festa estava deprimente e eu não estava com ânimo algum para dançar, mas ai tocou Bruno Mars e eu não resisti.
- Vamos dançar? - sugeri para qualquer um dos três. Josh se levantou e esticou sua mão para mim.
- Você sabe dançar? - perguntei a ele.
- Sou o melhor. - falou confiante.
- Então me mostre. - dei minha mão a ele e me levantei. Caminhamos até a pista livre.
Ao som de Locked Out Of Heaven, nós começamos uma coreografia aleatória.
- Porque você me faz sentir como
Se eu estivesse impedido de entrar no céu... - cantarolei encarando os olhos azuis dilatados.
- ...Por um longo tempo. - ele cantou em meu ouvido.
- Posso apenas ficar aqui?
Passar o resto dos meus dias aqui? - cantei mais um trecho hipnotizada por seu olhar.
Josh tem suas mãos em meu quadril e me encara fixamente.
- Porque você me faz sentir como
Se eu estivesse impedido de entrar no céu... Por um longo tempo... Por um longo tempo. - ele vai finalizando a música enquanto nos movemos.
A música terminou e eu o sorri genuinamente para ele, que retribuiu.
Antes que voltássemos para a mesa fomos parados por um casal de senhores.
- Trouxe uma acompanhante, Josh? - o senhor perguntou com um sorriso discreto.
- Você não é a amiga de Sina? - a senhora perguntou para mim antes que Josh pudesse responder a pergunta anterior.
- Sou sim. - falei sorrindo educada.
- Oh, prazer. Sou Elizabeth, a vó de Sina e esse é o meu marido, Charles. - ela apresentou a si e ao marido.
- Ela não é minha acompanhante, veio com Sina. Any é próxima a nós, agora que estou cuidando da Sina. - Josh explicou.
- Uma pena, vocês pareciam encantados dançando. - a mulher falou com um brilho nos olhos.
Fiquei envergonhada.
Josh me olhou de soslaio e eu forcei um sorriso.
- Somos apenas conhecidos. - eu disse. - Ele é um querido.
- Ele é um galanteador, como o pai, cuidado com ele. - Charles falou brincalhão.
- Meu marido tem razão.
- Não digam bobagens. - Josh disse sorrindo de lado. - Any pensará que estou a seduzindo.
- Não está? - a mais velha questionou com a testa franzida.
- Ele com certeza está. - eu sussurrei para ela entrando na brincadeira.
- Ei! - ele exclamou negando com a cabeça.
- Não vamos mais interrompe-los, nos vemos por aí. - Charles se despediu.
Nós voltamos para a mesa, Sina e Noah já não estavam, pelo visto foram se divertir sozinhos. Como eu imaginei que aconteceria.
- Ela me abandonou. - resmunguei fazendo drama. Josh riu de leve.
- Minha sobrinha deve está tentando algo com Urrea, já disse que não é uma boa ideia. - ele disse ciumento.
- Por que não? Só por que ela é uns dez anos mais nova? - questionei a ele com os olhos semicerrados.
- Noah é um homem muito avançado, gosta de mulheres maduras. Não confio nele para ficar com Sina, ela é ingênua para algumas coisas. - falou em seu modo protetor.
- Entendo que pense assim, está com ciúmes. Você e Noah são amigos a quanto tempo?
- A vinte anos, o conheço como ninguém, por isso não confio. - explicou. - E não estou com ciúmes, só estou protegendo ela.
- Queria que alguém me protegesse assim, é bonito de se ver quando não chega a ser tóxico. - comentei. - Mas então, temos sete de diferença e ainda assim ficou comigo.
- É um caso a parte.
- Não acho.
- Vejo que você é uma mulher madura, não te conheço muito, mas sou bom em ler as pessoas e você eu consigo ler bem, até certo ponto.
- Humm. - apoiei a mão sobre o queixo. - Então consegue ler o que quero agora?
Perguntei mordendo meu lábio inferior.
- Posso. - ele disse e sorriu provocador.
- O que eu quero?
Ele aproximou a cadeira da minha e colocou a mão sobre minha perna desnuda.
- Que eu te foda até o amanhecer. - contou em meu ouvido com a voz grave.
- Xeque-mate. - falei tocando a mão dele sobre minha perna.
To be continued???
Primeiro, odeio esse síndico.
Segundo, odeio o pai dela.
Terceiro, ranço do Lamar.
Quarto, Esses dois tem que ficar logo juntos como um casal que eles tem capacidade de ser.
O vestido da Any
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