Capítulo 2
Noah Soares era apaixonado por minha irmã e não tive dúvidas disso, Sina - nas poucas vezes que conversou comigo nos últimos tempos - já tinha me mostrado algumas fotos dele. Um cara alguns meses mais novo do que eu, cabelos castanhos ondulados, olhos verdes, pele vermelha de quem tinha ficado muito tempo no Sol e sempre um sorriso bobo quando olhava para sua noiva, o que ficava mais evidente pessoalmente.
Os dois pareciam ter uma bolha própria quando estavam juntos, mas a energia deles também conseguia ser contagiante e me senti muito feliz por ver que ela estava feliz ao lado dele. Torcia para ser um casamento longo e que eles fossem ainda mais felizes.
No jantar, na pequena casa da mãe e do padrasto de Noah, fomos servidos com hambúrgueres caseiros e comi feliz da vida. A comida era ótima e as pessoas não me olhavam com julgamento como achei que aconteceria, realmente acreditei que estariam prontos para me trucidar por estar fora da vida de Sina por todo aquele tempo.
Priscila, a mãe de Noah, tinha olhos verdes e uma risada escandalosa, mas que me fez rir de volta algumas vezes. Ela era cabeleireira, seu marido se chamava Carlos e era treinador de beisebol na escola de ensino médio da cidade.
Eu sabia que Noah tinha uma irmã gêmea, Any, mas a garota não estava no jantar, segundo seu irmão e mãe, tinha combinado de ir, mas deveria ter perdido a noção do tempo por aí. Ainda assim, conheci Sofya, filha de Carlos - a cara do pai, só que bem baixinha - e que era como outra irmã para o noivo de Sina, além de ser melhor amiga da minha irmã.
Sofya e Sina eram idênticas, não fisicamente, mas pareciam dividir o mesmo cérebro. Agitadas, sorridentes, completavam as frases uma da outra, por alguns segundos até me senti um intruso achando que Sofya deveria ser irmã de Sina e não eu.
Priscila: Any! - Exclamou quando a porta da frente da casa se abriu, não tinha corredor algum separando a sala da entrada, automaticamente virei a cabeça e vi a irmã de Noah entrando.
Gabrielly, ou Any como já tinham dito que ela preferia ser chamada, era parecida com a mãe, uma versão mais nova de Priscila só que de olhos castanhos. Naquela noite usava um short jeans curto, sandália nos pés e uma regata branca marcando o que parecia ser a parte de cima de um biquíni colorido. Os cabelos dela, longos e castanhos, estavam visivelmente molhados. O rosto corado se encheu de culpa, mas sorriu e se desculpou.
Any: Foi mal, perdi a hora na praia. - Os olhos dela pararam sobre mim e acenou, mas sua expressão não era a de alguém contente a me ver, pelo contrário, parecia raivosa. - Você deve ser o irmão da Sina.
Noah: Josh, essa atrasada é Any. - Falou, e a garota levantou a mão e mostrou o dedo do meio para seu irmão.
Priscila: Any, modos - Pediu. - Vá pegar algo para comer. - Ordenou.
Any concordou e foi até à cozinha, voltando com dois hambúrgueres para si e uma latinha de Coca-Cola. Ela sentou no lugar vago junto da mãe, enquanto ouvíamos Sofya, que era enfermeira, terminar de contar a história sobre um paciente que tinha lhe pedido em casamento naquele dia depois de uma cirurgia.
Any: Então - Começou a falar depois que Sofya terminou. - É bom finalmente te conhecer, Josh. - E lá estava na voz dela o óbvio tom de julgamento por eu não ser presente na vida da Sina. - Algumas...
Noah: Josh! - Cortou a fala dela. - Precisa passar no café que trabalho amanhã, vai gostar do lugar.
Assenti, sabia que ele trabalhava como barista num café da cidade e em algum momento iria mesmo lá me entupir de cafeína. Sina também já tinha contado que Noah era um pintor, mas não conseguia dar tanta atenção para sua arte quanto gostaria.
Priscila: Conta histórias vergonhosas de quando a Josh era criança. - Pediu e minha irmã riu para a sogra, ainda que Sina estivesse com um olhar sério desde a fala de Sina. Estava revoltada com sua cunhada? Ou comigo?
- Hum, ela sempre aprontava. - Murmurei, olhando para baixo, incomodado com tantos olhares em mim, especialmente o castanho analítico de Any.
Sina: Teve uma vez que fiz Josh acreditar que tinha um ET em casa. - Falou e lembrar daquilo me fez gargalhar.
Minutos depois Sofya precisou ir para o apartamento, tinha que descansar após seu último plantão. Sina me levou de volta para o hotel, depois de Priscila me entupir com comida para viagem.
- Ela é legal? - Perguntei já no banco do carona da minha irmã.
Sina: Quem? - Perguntou sem entender.
- Any.
Sina: Ela é maravilhosa, depois da Sofya é minha melhor amiga.
- Não pareceu gostar de mim. - Sussurrei.
Sina: Ela nem te conhece, só está sendo protetiva porque sabe que... - Respirou fundo. - Você e eu não nos falamos muito nos últimos anos. Vão se dar bem quando se conhecerem melhor, espero por isso. - Paramos em um sinal vermelho e Sina olhou para mim. - Você é minha família. - Afagou meu rosto. - E eu serei oficialmente da família dela em alguns dias, quero que todo mundo se dê bem.
- Ok.
Sina: Ela trabalha no hotel, irá vê-la amanhã.
••••
Quando desci do meu quarto no hotel para tomar café-da-manhã, antes de Sina me buscar para irmos até à praia, vi Any na recepção, vestida com um uniforme amarelo. Mexia no computador e cantarolava uma canção que não reconheci, quando me viu, parou de cantar e pigarreou.
Any: Oi, tudo certo com o quarto?
- Tudo, o lugar é ótimo. - Respondi e me aproximei do balcão. - Sina vem me buscar para ir à praia...
Any: Você trouxe filtro solar? É bem branco. - Provocou e isso me fez rir, o que até me pegou de surpresa, ela deu um sorrisinho. Apertou uma mão na outra, parecendo nervosa e disse. - Acho que fui um pouco mal-educada com você ontem, desculpa por isso. - Pediu. - É que gosto muito da sua irmã e você nunca veio visitá-la. - Mordeu seu lábio inferior. - Só desculpa por ontem, tá? Nossos irmãos vão casar e é bom a gente manter tudo tranquilo para não criar problemas para os dois.
- Claro, também não quero criar problemas para ninguém.
Any: Evita o bacon no buffett - Cochichou. - É horrível.
- Valeu, vou evitar. Até mais, Any.
Any: Tchau!
Fui para o pequeno restaurante do hotel, comi rapidamente e tinha terminado quando Sina mandou mensagem falando que estava esperando no estacionamento. Ao passar pela recepção de novo somente acenei para Any, ela estava ocupada atendendo outros hóspedes.
- Como esse lugar é quente. - Comentei entrando no carro de Sina.
Sina: É maravilhoso. Pronto para a praia?
- Sim. - Dei de ombros.
A praia estava cheia, o que era de se esperar por ser verão. Sina estendeu uma toalha na areia e sentamos ali lado a lado, evitava olhar para a prótese dela, preferindo encarar o mar. Ainda estava olhando para crianças pulando ondas quando ela perguntou:
Sina: Como Úrsula está?
Um nó se formou em minha garganta, mas consegui responder.
- Bem.
Sina: Sinto falta dela. - Disse em um tom de voz baixo, o que me fez olhar para ela, seus olhos estavam fixos no mar, vi que também molhados por lágrimas.
Nós nos afastamos, mas ainda conversamos durante aqueles anos por mensagens e ligações, mesmo que não muito, entretanto sabia que ela tinha cortado todo tipo de contato com nossa mãe.
Sina: Só não quero ela aqui, tá? Esse lugar é meu recomeço, Josh, encontrei a paz aqui depois de toda a merda que passei.
Eu era um idiota, estava pelos cantos choramingando por minha vida triste, porém tudo que tinha ocorrido à Sina era cem vezes pior. O acidente que ela sofreu com meu pai por culpa de uma motorista bêbada, estar ao lado dele enquanto o homem dava seu último suspiro, a amputação que ela precisou fazer, ter de abrir mão da carreira promissora no balé, nossa mãe dizendo claramente que Sina tinha virado um peso morto e ter se afastado da família que lhe restava.
- Como será seu vestido? - Perguntei, precisando mudar de assunto.
Não passamos muito tempo na praia, Sina não queria entrar na água aquele dia e eu muito menos. Voltamos para seu carro e minha irmã dirigiu até o café que Noah trabalhava, o Soares abriu um sorriso gigantesco quando a viu, nem se importou em beijá-la na frente de todos, sobre o balcão os dividindo.
Sina: Amor, o de sempre. - Ela pediu. - Vou ao banheiro rapidinho. - Se afastou e me deixou ali com seu futuro marido.
Noah: Como foi na praia? - Perguntou preparando as bebidas depois que também decidi o que iria querer.
- Estava muito cheia, mas foi bom - Respondi.
Noah: Sua irmã está muito feliz com você aqui - falou. - Vem passar o natal com a gente? É o feriado favorito da Sina e sei que ela sente muito sua falta na data.
Eu não poderia, passaria o natal com minha mãe. Sina tinha Noah, a família dele e os amigos de Santa Cruz, quanto a Úrsula Beauchamp só tinha a mim e como se pudesse sentir o que estava rolando, a bailarina me mandou uma mensagem.
Mãe: Tudo bem em Miami? Ainda acho que deveria ter ficado na cidade, aproveito os dias de folga para que eu lhe ensaiasse.
Noah: Aqui! — Serviu as bebidas. — E aí, natal em Santa Cruz?
- Não vai rolar, foi mal.
••••
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