Capítulo 5
Any morava em um minúsculo apartamento, num prédio afastado do centro da cidade. Sina eu fomos até lá na terça-feira buscar as lembrancinhas que a irmã de Noah tinha feito para o casamento, aparentemente ela era boa com trabalhos artesanais.
Sina bateu na porta e Any abriu rapidamente, com uma gata preta em mãos e outra laranja aos seus pés. Eu sorri, ela já tinha me contado sobre as gatinhas, a em seu colo se chamava Sophie - inspirada no nome da protagonista do livro favorito de Any, Um Perfeito Cavalheiro da Julia Quinn e a outra Lucy - como uma das personagens de Across the Universe e outra canção dos Beatles, Lucy In The Sky With Diamonds.
Any: Oi, podem entrar. - Falou, minha irmã foi logo entrando, mas parei e me agachei junto da gatinha laranja para afagar o espaço entre suas orelhas, logo Lucy estava se esfregando em mim e não me importei que minhas roupas fossem ficar cheias de pelo. - Olha só, ela gostou de você logo de cara.
Olhei para cima, pronto para falar qualquer coisa sobre a gata, mas fiquei distraído por ver Any de baixo. Pernas torneadas, um short de moletom cinza, solto e um cropped que deixava sua barriga aparecendo. Os cabelos estavam presos em um coque bagunçado, nada de maquiagem, mas os lábios dela eram por si só rosados e os cílios compridos.
Ela era linda, já sabia disso e meu corpo já se encontrava atraído pelo dela há alguns dias, mas naquela manhã a vontade de colocar meus braços ao redor de Any e beijar seus lábios, sentir sua pele em meus dedos e seus seios contra meu peito foi avassaladora. Engoli em seco, querendo engolir também todo desejo que estava sentindo e fiquei de pé, agradecendo que não tinha ficado duro.
Any: Tudo bem? - Pareceu notar que eu tinha ficado tenso de uma hora para outra.
- Sim. - Lucy tentou sair do apartamento, mas rapidamente voltei a me abaixar e peguei ela no colo. Entrei na casa de Any e a morena fechou a porta, minha irmã estava distraída olhando para as lembrancinhas dentro de uma grande caixa de papelão, mas se virou para a gente e seu olhar foi longo e preocupado, antes de limpar a garganta, sorrir e falar:
- Ficou tudo lindo, Any!- Evitei olhar para o seu rosto e ver qual expressão ela tinha estampada ali durante aquela olhadela de Sina. Estava atraído, mas não queria delirar e achar que ela também estivesse, provavelmente nem tinha notado nada referente a mim, ou ao jeito que minha irmã nos olhou.
A cunhada da minha irmã se aproximou dela, deixando Sophie no chão. A gatinha preta não parecia muito interessada em mim, pulando na cama de sua dona.
O apartamento era mesmo pequeno, além da porta de saída/entrada, a única outra que tinha ali era para o banheiro. Nada de sala de estar ou cozinha hiper equipadas, lá apenas uma mesinha de dois lugares, um microondas, um fogão de duas bocas e uma geladeira e pia, não vi lava-louças, nem forno.
Any e Sina mexiam na caixa que estava sobre uma poltrona rosa no tom mais vibrante existente, a gatinha preta continuava deitada na cama de casal, a coberta tinha estampas de rosas e passarinhos, ao lado uma pequena mesa com um abajur de lua, o tapete felpudo era branco sob um sofá cinza de dois lugares e no teto um ventilador. Uma TV pequena na parede, alguns quadros - com assinatura de Noah - e pôsteres de filmes e livros também, uma escrivaninha com um notebook rosa e uma estante do chão ao teto lotada de livros.
Me vi andando até lá, sendo praticamente puxado por uma força maior do que eu para olhar os títulos mais de perto. A maioria era de romance, mas também vi livros policiais, fantasia e alguns de terror.
Por um segundo fantasiei contar para Any sobre meu livro, ela iria gostar? Ou seria outra pessoa falando mal dele como Penny?
As duas tinham outra preferência em comum, o livro da Julia Quinn que nomeava uma das gatas de Any a também era o favorito de Penny. Eu nunca tinha lido, mas tinha curiosidade, afinal para a dona do Instagram literário aquele era um livro bom, enquanto o meu não passava de algo superficial.
Any possuía três exemplares do livro, um de capa dura, um de capa comum e uma edição em francês, a garota tinha contado que estudava a língua sozinha pela internet. Talvez ela pudesse me emprestar um dos exemplares em inglês já que eu não sabia muito de francês, assim finalmente conheceria a história favorita de Penny.
Any; Josh, café? - Indagou, me levando de volta à realidade.
- Sim, por favor. - Continuava com Lucy em meus braços, mas a deixei ir para o chão e a gatinha correu para se deitar ao lado de Sophie.
Any foi em direção à sua cozinha e me aproximei de Sina, que me lançou mais um olhar de quem parecia já ter sacado tudo. Peguei uma lembrancinha em mãos, eram velas, colocadas dentro de potinhos personalizados com o nome dos noivos, a data do grande dia e nome da cidade.
A tampa era coberta por um tecido que remetia à tule, mas parecia mais barato e o cheiro das velas, como senti ao abrir uma, era de lavanda. Sorri, era a fragrância favorita de Sina.
- Você que fez as velas? - Perguntei para Any.
Any: Sim, gostou? - Perguntou de volta enquanto fazia o café.
- Gostei, você manda bem.
Sina beliscou meu braço e sufoquei um palavrão para reclamar sobre o que ela tinha feito, minha irmã não estava nada contente comigo, mas não disse nada durante o tempo que continuamos no apartamento de Any.
Tomamos o café preparado pela recepcionista, depois Sina perguntou o que naquele momento parecia ser apenas por educação - se Any queria sair conosco, mas a mulher recusou alegando que queria descansar um pouco, então fomos embora comigo carregando a caixa cheia de velas e colocando no banco de trás do carro da ruiva que estava furiosa comigo.
Sina: Você não pode ficar com a Any! - Declarou quando entrei no carro e sentei ao seu lado.
- Sina...
Ela segurava com força o volante, mas ainda não estava dirigindo.
Sina: Eu amo você, mas também amo a Any, é minha amiga e cunhada, tá legal? Vai ficar com ela e depois?
- Não quero ficar com ela. - Menti, eu queria, mas sabia que isso poderia acarretar problemas e deixar Sina mais furiosa.
Sina: Quer sim, vi como você estava todo tenso ao redor dela, também teve aquele dia na praia de vocês juntos e no karaokê. Olha pra ela com desejo, tá interessado. E ela parece estar também. Mas você vai voltar para New York e esquecer dela? Ou vai levá-la e apresentá-la para a narcisista da nossa mãe? - Lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela, minha irmã me encarou. - O Noah e a família dele não são ricos, você já deve ter percebido isso. Todos eles trabalham pra caramba para conseguirem uma vida confortável ao máximo, Any e Noah perderam o pai deles quando eram mais novos do que você e eu quando perdemos o papai e não tiveram uma herança de avós para receber, o que herdaram foi uma dívida quilométrica de custos pelo tratamento do pai que até hoje precisam pagar. Eles não foram para a faculdade, não conseguiram bolsas e não queriam se afogar em créditos estudantis e ter mais dívidas. Então, não, você não pode ficar com a Any e colocá-la no caminho da Úrsula, essa mulher comeria minha amiga viva. Consigo ouvir ela falando: Josh, essa mulher não é a ideal para você. Josh, você deveria se casar com uma bailarina. Josh, essa garota sequer tem um diploma.
— Sina.... - Tentei falar de novo, mas ela se calou tirando seu cinto e me abraçando com força.
Sina: Eu amaria vocês dois juntos. - Sussurrou contra meu peito. - Ela é uma garota incrível e você também é maravilhoso, mas não quero Any perto de Úrsula e por consequência não quero Noah perto daquela mulher. Ele é o amor da minha vida.
- Eu sei. - Afaguei seus cabelos.
Sina: Não fode tudo pra mim. - Implorou. - Finalmente estou feliz, não me faz perder a paz que alcancei aqui.
••••
Eu me afastei de Any o máximo que consegui, quando a vi trabalhando na recepção no outro dia, cumprimentei educadamente, mas não puxei papo. Sina estava certa, eu acabaria trazendo Any, Noah e todos ao redor deles para o tornado destruidor que era Úrsula e se não conseguia me livrar dela, eles não precisariam ser arrastados para lá.
Na quinta-feira, estava no atelier responsável pelo vestido de noiva de Sina, com Sofya, Priscila e Joalin. Era a última prova do vestido e ela me queria lá, Any aparentemente tinha sido convidada, mas precisou ir resolver algo de última hora.
Por um lado isso era bom, me manteria afastado dela para reorganizar minha cabeça, já que sonhava com a morena há duas noites e pensava nela constantemente ao longo do dia. Só que, isso também me deixava livre para pensar em um monte de coisa sufocante, como a ideia de que minha mãe deveria estar ali acompanhando cada passo dos preparativos do casamento de sua filha, ou que nosso pai choraria por horas ao vê-la vestida de noiva.
Também pensei que parecia um atelier muito caro, claramente algo de luxo na região. Minha irmã estava gastando uma nota com aquele casamento, duvidei de que com apenas o salário dela de professora e o de Noah como barista pudesse pagar tudo, dinheiro que deveria estar saindo da parte que ela tinha recebido da herança dos nossos avós maternos e a do nosso pai.
Isso me preocupou, ela precisava de acompanhamento médico, de terapia ocupacional, fisioterapia e psicológico por conta da amputação e tudo isso custava muito, não queria que ela ficasse sem esse suporte, como também não queria que Sina não tivesse seu casamento dos sonhos.
Todos os pensamentos se dissiparam quando minha irmã saiu do provador, ela estava linda. O vestido poderia ser caro, mas parecia valer cada dólar. Longo, com um decote em V, alças finas deixando seus braços aparecendo, rendado no busto, mas com forro. A renda descia até o meio das suas coxas, com o forro acompanhando, o corte era justo na cintura, mas abria no quadril, o resto do vestido era todo rendado, com uma longa cauda e uma fenda do lado direito, o sua prótese a vista. que deixava
Minha irmã não queria se esconder, isso era louvável. Ela era forte, corajosa, completamente diferente de mim e de toda minha covardia.
As mulheres se levantaram, andando ao redor de Sina destacando como o vestido era perfeito e como ela estava linda, minha irmã agradeceu e quando me olhou eu também fiquei de pé. Com cuidado, sem querer causar dano algum ao vestido, lhe abracei.
- Você está linda.
Ela me apertou contra si e começou a chorar.
- Não, Sina.
Sina: Queria que o papai estivesse aqui. - Sussurrou.
- Sei bem disso, também queria que ele estivesse aqui. - Segurei a cabeça dela e olhei para seu rosto. - Falaria quanto está feliz em te ver feliz. - Ela sorriu em meio às lágrimas.
Mais tarde naquele dia, enquanto estávamos no apartamento dela e do noivo - que era maior do que o de Any, mas muito menor do que o que dividimos em New York, quando Sina morava comigo lá esperando Noah chegar para jantarmos, perguntei:
- Você precisa de alguma ajuda financeira para custear o casamento?
Sina: O quê? Não! - Respondeu parando de mexer o molho de tomate no fogão. - Estou bem de dinheiro!
- Só fico preocupado. – Murmurei. – Não quero que te falte nada.
Sina: Josh, a única coisa que estava faltando era minha família, mas você está aqui agora.
- Vai me deixar corado. - Brinquei e ela riu.
Sina: Levanta e vem cozinhar comigo.
- Sim, senhora!
••••
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen2U.Com