Truyen2U.Net quay lại rồi đây! Các bạn truy cập Truyen2U.Com. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 13







Já havia escurecido completamente. A noite tinha chegado e o dia finalmente tinha terminado, mas as dúvidas da Stone sequer tinham chegado próximas ao fim.

A noite apenas não era mais escura e sombria do que o comum, pois tochas e lanternas haviam sido acesas e ligadas, logo se tornando responsáveis por iluminar a sombria escuridão noturna. O carnaval de cores das luzes brancas e laranjas eram o suficiente para que ainda fosse capaz de ver o rosto de seu meio irmão juntamente com Alison, Trevor, Bratt e os outros dois desconhecidos, que também ali estavam presentes.

O céu estava completamente limpo, sem nuvens ou sequer sinal de poluição humana. Era uma bela noite com diversas estrelas de todos os tamanhos brilhando no céu noturno. Talvez Grover, se estivesse ali, poderia gostar desse lugar limpo e harmonioso, isso se as pessoas que frequentavam esse lugar não fossem tão desagradáveis e motivo para despertar da fúria interior de Octavia.

Mas no fundo, ela estava dividida entre a fúria avassaladora e uma parte que estava prestes a entrar em certo tipo de colapso por diversas dúvidas e questões que rondavam sua mente, sem sequer alguma resposta.

Como Edward sabia aquelas coisas sobre sua mãe? Desde as pinturas misteriosas, ao relacionamento passageiro que Helena teve com Apolo na adolescência.

Tudo bem que fosse algo natural Barba Negra saber algumas coisas sobre sua família.

Os Whittemore, durante os anos de ouro da pirataria no passado, foram responsáveis por caçar e prender os piratas que invadiam as colônias na América e as saqueavam constantemente, gerando terror e caos por onde passavam. Não era surpreendente ele saber que ela era uma Marquesa e sobre o histórico de sua família. Mas ainda sim, por sete anos, conseguiu se manter como um fantasma, um segredo, fazendo com que todos acreditarem que tinha morrido em um incêndio na antiga mansão Whittemore, o qual havia sido provocado por ela mesma para lhe ajudar a forjar sua morte. E, de repente, descobrem que Octavia Stone não só estava viva, como também tem um longo histórico de confusões e brigas com os próprios Deuses.

Como Barba Negra a descobriu?

Como sequer ele conseguiu fazer uma boa emboscada e a capturar?

Por sete longos anos foi alguém que somente espreitava pelas sombras e agora, ela está diante de mais um dos bastardos de seu pai que provavelmente quer provocar uma guerra e está tentando fazê-la se juntar a ele.

Edward Teach sabia de muitas coisas para alguém que viveu grande parte da vida como um mísero roedor de estimação e, isso era quase que repugnante de se aceitar.

Nesses sete anos precisou se manter escondida e se esforçar para manter seus irmãos em segurança, pois Octavia de alguma forma sabia que as pessoas que assassinaram sua mãe e seus avós, um dia iriam vir atrás dela e de seus irmãos para terminar o trabalho inacabado. E quando isso acontecesse, ela deveria estar pronta para enfrentá-los e proteger seus irmãos.

A filha de Ares precisava de tempo, tempo para se tornar mais forte e capaz de defender cada um de seus irmãos e, por isso, precisou ficar escondida com as amazonas que outrora já foram muito devotas de Ares, seu pai e marido da primeira rainha das amazonas: Otrera, mãe de Hipólita. Se ela estava em busca de melhorar suas habilidades de combate e semideusa, ninguém melhor do que a própria Hylla, filha de Belona, e as amazonas para lhe ensinar. Como esperado, através de uma obsessão gigante por ficar mais forte e uma arrogante determinação, as quais a impediam de desistir, a Stone conseguiu se tornar o que tanto almejava: alguém capaz de proteger sua família.

No entanto, naquele exato momento, absolutamente nada saía da cabeça de Octavia, que poderia ter sido traída por um alguém próximo.

Era muita coincidência justamente a Stone, que sempre foi muito cuidadosa e detalhista, cair em uma emboscada quando ela e os irmãos se aproximavam do Acampamento Meio Sangue. Quando eles estavam mais expostos e vulneráveis. Até aquele instante, acreditava que ninguém sabia que estava viva ou muito menos a caminho de Long Island, a não ser: Reyna, Hylla, Calypso, Dakota e suas irmãs amazonas. Só com o pensamento de uma possível traição vinda de algumas pessoas que considerava como amigo, a fazia se sentir completamente enjoada e também insegura.

Sempre teve problemas para confiar nas pessoas e saber que um do pequeno grupo, o qual considerava poucos próximos de si, poderia ter lhe enfiado uma faca em suas costas, não era algo muito reconfortante ou alegre de se dizer ou até mesmo reconhecer.

Só por meio de uma traição por alguém próximo, Barba Negra pôde ser capaz de não só captura-la, como também saber sobre coisas íntimas sobre sua vida conturbada de fuga da ira dos Deuses e confronto com cada um dos Olimpianos, quando buscava uma forma de evitar o destino cruel que as Parcas previram sob sua família. Claro, sem mencionar sobre a forma irritante que Edward falava de sua mãe, como se realmente tivesse a conhecido ou soubesse sobre coisas em relação à Helena, que sequer Octavia sabia.

Bom, talvez ele soubesse e isso só contribuía para deixá-la mais nervosa. Edward realmente parecia saber mais do que aparentava e saber mais coisas do que Octavia poderia sequer ter o conhecimento, o que de fato era frustrante até mesmo para si própria. Ficar em um jogo onde você não possa controlar ou dar os comandos; pode ser bastante perigoso.

Como odiava se sentir totalmente impotente ou ter algo em suas mãos que não estivesse sob seu controle ou que não pudesse ser resolvido de imediato. Isso sim era uma tortura pior do que qualquer outro castigo do Tártaro.

Alison, por exemplo, era considerada uma "amiga" e armou para Hazel, Frank e provavelmente para Will para que os três fossem capturados. O que a impedia de pensar que Reyna, Hylla, Calypso ou mais alguém que conhecia não seria capaz de fazer isso? Às vezes nunca conhecemos as pessoas que estão ao nosso lado, até que elas revelam sua verdadeira natureza.

Instantaneamente a história da fábula do escorpião e do sapo, nunca lhe pareceu tão conveniente quanto agora.

A fábula conta a história sobre um escorpião que pede a um sapo que o leve através de um rio, no entanto sapo tem medo de ser picado durante a viagem, mas o escorpião argumenta que se picar o sapo, o sapo iria afundar e o escorpião iria se afogar. O sapo concorda e começa a carregar o escorpião, mas, no meio do caminho, o escorpião acaba por ferroar o sapo, condenando ambos à morte. Quando perguntado pelo sapo por que havia lhe picado, o escorpião responde que esta é a sua natureza e que nada poderia ser feito para mudar o destino.

E se essa fosse à verdadeira natureza das pessoas que um dia chamou de amigas? Mas nunca percebeu? Era quase estúpido pensar que as pessoas que a ajudaram quando mais precisou no passado, poderiam ser aquelas que também lhe traíram no futuro, entretanto em tempos de dúvida, todos se tornam suspeitos, até mesmo os amigos próximos ou familiares.

— Eu conheço esse olhar. Essa mesma expressão. — Edward começa atraindo completamente a atenção e o olhar de Octavia para si, despertando-a de seu conflito interno. — Tão típica dos Whittemore no passado, mas agora a vejo claramente em você. — Comenta. — Está em dúvida, provavelmente pensando e supondo quem poderia ter lhe traído de forma tão covarde... — Quando ele termina de dizer, todos ali presentes começam a rir com desprezo, ao mesmo tempo em que seus olhares recaem sob a Stone raivosa.

Se eles soubessem qual era o tamanho da vontade dela em acertar um soco em cada um daqueles rostos debochados e prepotentes, cheios de si, de cada um deles cinco... Certamente eles pensariam cuidadosamente três vezes antes de tentarem irritá-la.

— Algo me diz que você sabe quem foi... — Diz com um tom áspero e carregado de veneno, tentando ignorar as risadas irritantes dos outros. Algo que não funciona muito bem, pois assim como os presentes, Edward ri por um breve momento e o som de sua risada não agrada nenhum pouco Octavia.

— Você tem razão. — Suspira, brincando com os anéis dourados em seus dedos, sem encará-la dessa vez. — Você foi traída por alguém, sim. Mas não é quem você suspeita ou pensa. — Então começa a andar lentamente de um lado para o outro, na horizontal. — É verdade sobre o que dizem que os mortos não contam histórias, mas a parte que ninguém menciona é: os mortos também podem trair os vivos.

A Stone o encara ceticamente.

— Está querendo dizer que fui traída por alguém que está morto? — Debocha, sem acreditar. — Isso é impossível!

— Da mesma forma que é impossível transformar um semideus em um mortal temporariamente? — Barba Negra devolve parando de andar nesse momento e encarando os olhos de Octavia, com a sobrancelha, grossa arqueada.

Touché.

Infelizmente, ela não tinha uma boa resposta para aquilo. E tampouco sabia o que estava acontecendo de fato. Ainda estava confusa e com as ideias foras de ordem, mas ao mesmo tempo tentava se esforçar para se manter autoconfiante e segura, não poderia deixar transparecer o que de fato estava acontecendo dentro de si.

Se você deixa uma fraqueza exposta na frente do inimigo, ele irá explorá-la até lhe destruir.

Uma toxina capaz de tornar um semideus mortal temporariamente? E agora, receber a notícia que provavelmente foi traída por alguém que está morto? Isso era loucura demais até mesmo para o Sr. D ser capaz de curar, no entanto, para a infelicidade de Octavia, aquilo realmente parecia ser as duas únicas verdades que tinha diante de seus olhos.

Sequer conseguia usar suas habilidades de meio-sangue, sem mencionar que ela tentou sim, diversas vezes usar sua força bruta, invocar alguma arma, moldar o metal e outras coisas que nem ao menos conseguiu realmente fazer. Outra coisa que lhe parecia fantasiosa era o fato de ser traída por alguém que já está morto, mas se analisar bem, a filha de Ares também pensava que no passado, os titãs ou até mesmo os gigantes jamais poderiam ser despertados e agora está ela diante do meio-irmão com mais de trezentos anos, o qual provavelmente está planejando algo de tamanho imensurável.

Ela estava confusa. Em dúvida. E ainda estava em um grande conflito consigo mesma.

Sua única opção foi ficar em silêncio, mas com a cabeça erguida.

— Vejo que não tem uma resposta para minha pergunta, Marquesa. — Diz com certo divertimento em sua voz e a Stone faz uma careta desgostosa ao ser chamada pelo título nobre. — Mas ainda sim, acredito que possamos nos ajudar mutuamente. Você se junta à nossa causa e em troca lhe dou o que você mais quer no mundo inteiro.

— A cabeça de Ares e de Afrodite em uma bandeja? — É quase impossível esconder sua raiva ou ódio quando as palavras deixam seus lábios.

— Não. — Edward diz tão rápido, surpreendendo-a pela tranquilidade e segurança em sua voz. — Você não quer vingança. Pode tentar convencer sua mente sobre isso ser algo que realmente queira, mas o que seu coração almeja com todas as forças é outra coisa.

— Que seria? — Pergunta com um tom de desprezo e deboche, totalmente descrente e cética pela resposta que receberia.

Isso era tão irritante.

Era tão enjoativa a forma que o pirata falava, como se ele a conhecesse de verdade, o que não era algo real. Edward Teach e quase ninguém a conhecia realmente, mas ver alguém que se achasse capaz de saber ou dizer quem ela era, de fato, era bem irritante.

Odiava coisas previsíveis, o suficiente para desejar que nunca fosse desse jeito e ser algo assim — tão previsível —, na frente de um possível inimigo era quase como pedir para ser morta. E se ela se tornou previsível para Barba Negra, era certo que seu irmão, já sabia muito bem o que se passava pela sua mente e até mesmo em seu coração, por mais que não gostasse da ideia.

— Uma segunda chance com sua mãe. Com a sua família. — Edward diz com tranquilidade, fazendo-a arregalar os olhos surpresa. — Posso trazê-los de volta se quiser, mas terá que fazer o que nós mandarmos primeiro... — E de certa forma, por mais que fosse desprezível o ser que tenha falado aquilo, ouvir essas palavras, aqueceu algo dentro do peito de Octavia. Algo que não sentia por muito tempo: esperança.





***





Não muito longe da ágora, um par de olhos verdes encarava fixamente Barba Negra, Alison, Bratt, Trevor, Pietra, Jacob e por fim Octavia Stone. Analisando minuciosamente cada movimento e cada expressão da filha de Ares recém-capturada por eles durante uma emboscada bem sucedida feita e orquestrada por si mesma.

Fazia três anos que não a via, mas mesmo encarando-a de longe, seu estômago se revirava de nojo e repulsa. Ainda não conseguia acreditar que tinha realmente se envolvido com a Stone no passado, porém, sua mãe tinha lhe pedido para não só conquistar o coração da garota, como logo em seguida destroça-lo cruelmente. O que não era uma tarefa complicada para algum filho de Afrodite, especialista nesse requisito.

Uma palavra para definir Octavia Stone? Patética. Ela poderia até ter aquela pose de durona ou de alguma assassina sanguinária, mas conhecia quem realmente era a filha de Ares, uma garotinha assustada, facilmente manipulável e burra. Burra o suficiente para acreditar em qualquer um que lhe dê um pouquinho de atenção. Ela era um cachorrinho ferido que ao receber um osso ou alguma migalha, já estaria lhe dizendo diversas declarações de amor patéticas e fuleiras.

— Isso não chega quase ser poético, JJ? — A voz irritante de Sam a faz querer vomitar, ao mesmo tempo em que não tenta esconder sua careta desagradável por estar na presença daquele inseto. — Seu atual namorado Jacob diante de sua antiga paixão, Octavia Stone.

Jessie revira os olhos e começa a encarar despreocupadamente suas unhas afiadas e pintadas de vermelho sangue, sem se dar o trabalho de responder Sam ou até mesmo direcionar seu olhar para aquele inseto imundo, o qual ela poderia facilmente esmagar com seu salto pontiagudo de quinze centímetros da Dior.

Octavia Stone nunca foi sua paixão, ela apenas foi um meio que utilizou para chegar ao seu objetivo. No entanto, tinha que dizer que sentia ainda mais repulsa por saber que não tinha se livrado dela no passado, junto com o irmão irritante e pestinha chamado César. Era mais do que certo que na próxima vez que encontrasse com o pirralho o mandaria com uma passagem só de ida para o submundo, juntamente com os outros parasitas que ele chama de irmãos.

Durante um ano teve que fingir ser uma órfã qualquer e inofensiva para poder se juntar as Amazonas e conseguir pegar o que Barba Negra tinha lhe pedido e cumprir a tarefa que sua mãe tinha lhe dado. E ela conseguiu com êxito executar suas tarefas, mas infelizmente não conseguiu se livrar de Hylla, Octavia e os Stones, porém, por outro lado conseguiu forjar muito bem sua morte.

No final, não era apenas Octavia que era boa em forjar mortes, ela também era. Se Octavia acreditasse que tinha lhe matado, a filha de Ares era ainda mais estupida do que se recordava.

Céus, como foi insuportável aturar aqueles pestinhas que a filha de Ares chamava de irmãos. Um era pior do que o outro. Talvez se eles tivessem todos sido mortos junto com a mãe, tudo poderia estar mais tranquilo no mundo, mas para sua infelicidade, os Stones eram um tipo de praga que não se é facilmente eliminável. Eles eram como baratas nojentas, quanto mais você tenta os matar, mais eles persistem em viver. Entretanto, assim como sua ex, ela não era facilmente eliminável.

Jessie Jones não é algum tipo de pessoa que pode ser morta com facilidade.

— Acha que ela vai se juntar a nós? — Sam insiste em conversar consigo, mantendo os olhos azuis na direção da ágora, que era iluminada por tochas e lanternas.

Eles estavam de pé em uma colina próxima, de onde podiam ver tudo que sucedia na ágora claramente, mas ambos estavam sendo completamente camuflados graças aos arbustos densos com galhos largos e a escuridão da noite. Aquele lugar só não era mais escuro, graças à lanterna que Sam carregava em sua mão com uma gritante cicatriz feita por algum monstro qualquer, do qual Jessie nunca se interessou em saber.

— Não. — Responde respirando fundo. — Ela não vai se juntar a nós. Mas não é para isso que precisamos dela. Octavia é uma isca, para atrair o resto dos irmãos irritantes e podermos finalmente terminar o sacrifício de sete anos atrás.

Sam ajeita o capuz em sua cabeça, antes de dar um sorriso cruel.

— Mas ele disse que ainda não está na hora de sacrificá-los. — Diz ainda sustentando o sorriso. — Ele quer testar o soro primeiro em Octavia, saber se ela vai sobreviver ao processo de mutação, como cada um de nós sobreviveu. — O moreno dobra os braços atrás da cabeça.

— Não importa o que ele pretende fazer com ela. — Disse com sinceridade. — Ajudei vocês a captura-la e ninguém conhece Octavia como eu. Fiz a minha parte, o resto não me importa.





***





O caminho de volta para a cela jamais tinha parecido tão longo ou tão perturbador.

Era como se a cada passo que Octavia dava, ela fosse acertada por um novo soco ou golpe bem no estômago.

Uma segunda chance.

Uma segunda chance com sua família.

Barba Negra realmente era capaz de fazer isso?

Seria realmente possível existir tal dádiva?

Por anos tentou se acostumar e se adaptar com o fato inevitável que realmente tinha perdido sua família, até que uma simples faísca de esperança fosse novamente acesa dentro de seu peito. No entanto, era cruel o fato de que realmente não poderia comprar essa ideia que Barba Negra acabou de lhe vender. Sua mãe e sua família se foram, ela não poderia fazer mais nada para mudar isso.

Quando ainda se recusava a aceitar a perda e ainda ter que correr contra o tempo para evitar a previsão das Parcas ou que a maldição de Afrodite ainda persistisse em continuar. Octavia desceu ao submundo em busca de tentar convencer Perséfone a retirar a maldição que deu a Deusa do amor e pedir para que Hades permitisse que sua família pudesse voltar para o mundo dos vivos. Tentar fazer como Orfeu fez no passado, talvez se demonstrasse sua grande tristeza ao senhor dos mortos, ele poderia lhe dar sua família de volta. Mas nada tinha dado certo.

Tinha encontrado um jeito de chegar mais rápido ao submundo ao invés de tentar ir pela gravadora MORTO AO CHEGAR em Los Angeles. Ela apenas precisava paralisar seu coração por algum tempo e depois ser reanimada. Era arriscado? Sim. Mas ela teria vinte e sete minutos exatos no submundo, antes de Victória reanimá-la com o desfibrilador que tinham roubado de um hospital qualquer, trazendo-a de volta para o mundo dos vivos. Octavia tinha visto isso dar certo em filmes antes e talvez poderia dar certo na vida real, mesmo que ainda sim, fosse muito arriscado.

Apesar de serem declaradas rivais pela disputa pelo amor do mortal Adônis no passado, Afrodite e Perséfone ainda eram de certa forma, próximas. Poderia dizer e defini-las como amigas falsas e por conveniência. Com uma sempre "ajudando" a outra. E graças a essas ajudas, Perséfone deu a Afrodite uma maldição, a qual a Deusa do amor moldou ao seu próprio gosto e desejo egocêntrico.

Perséfone como rainha do submundo, a filha de Zeus tinha certo poder sobre a morte, assim como seu marido, e isso não poderia ser mais perfeito para o que Afrodite precisava naquele momento.

A maldição que Perséfone deu a Afrodite para que pudesse moldá-la, unia perigosamente o amor e a morte. Esse tormento foi chamado por Octavia de a "maldição do inverso" e ela foi colocada apenas e exclusivamente na Stone mais velha. O preço da maldição era simples: quanto mais você amava alguém, mais você lhe roubaria a vida da pessoa. E Octavia amava incondicionalmente seus irmãos, o que cominou que a cada dia que se passava, o amor fraterno que sentia por eles, os matava lentamente. Era como se estivesse roubando uma parte da alma deles a cada respiração lentamente.

No passado, Afrodite tinha perseguido sua mãe, mas por algum motivo Helena tinha conseguido se livrar da Deusa e Ares passou a proteger e defender sua mãe. Mas quando Helena morreu, seu pai não protegeria mais os filhos da fúria da amante e sequer sua falecida mãe poderia fazê-lo, Afrodite aproveitou a chance para se vingar do amor infame que Ares e Helena uma vez sentiram, através dos filhos. Da mesma forma que Meneleu assassinou todos os filhos que sua esposa Helena teve com o príncipe Páris de Tróia, quando os espartanos invadiram as solidas e impenetráveis muralhas da cidade.

Uma verdadeira tragédia grega.

Na sua busca por tentar quebrar a maldição do inverso, Octavia encontrou uma forma de morrer temporariamente e depois voltar para a vida. E com isso, ela tinha descido facilmente ao submundo. Mas Afrodite, que a observava detalhadamente cada movimentou seu, mandou Eros avisar as fúrias que uma quase viva tinha adentrado nos domínios de Hades no intuito de roubar alguns de seus súditos, a princípio, a Stone infelizmente não conseguiu resistir à vontade de invadir os Campos Elísios para tentar ver sua família uma última vez. E esse foi seu maior erro.

Nos Campos Elísios, Octavia apenas tinha encontrado seu avô, sequer tinha encontrado sua mãe ou avó. Mas antes que pudesse pensar em algo a respeito, as fúrias tinham lhe capturado.

Seu meio irmão, Eros, sendo apenas mais um dos capachos de Afrodite; sugeriu para as fúrias que talvez fosse uma boa alternativa Octavia ter uma punição severa e sangrenta e com isso, o filho de Afrodite disse para Alecto, que se a Stone fosse acoitada pelos chicotes flamejantes das três irmãs como uma forma de "exemplo" para qualquer ser que tentasse enganar a morte e tentar roubar e perturbar os súditos de Hades, ninguém nunca mais sonharia em fazê-lo.

Percebendo que provavelmente não teria escapatória de seu destino, quando Eros finalmente partiu, Octavia viu uma oportunidade e propôs um acordo oportunista para as três fúrias, no qual propunha que se ela aguentasse sete chicotadas sem desmaiar ou chorar, Alecto e suas irmãs a levariam diretamente para Perséfone, caso contrário elas poderiam lhe levar para os Campos de Punição torturando-a por toda eternidade. A filha de Ares era "carne nova" e certamente as benevolentes se sentiriam bem em puni-la depois do que tinha feito, por isso não pensaram direito ao aceitarem e concordar com o acordo.

Por sete vezes os chicotes flamejantes das Benevolentes estalaram sob suas costas, onde a cada batida uma pequena chuva de gotas de sangue eram expelidas para fora.

Como prometido, Octavia não chorou ou sequer desmaiou, mas em compensação seus lábios sangravam demasiadamente, pois foram mordidos de forma tão brutal para que ela pudesse conter os gritos de dor e a imensa vontade de chorar. Obviamente, Afrodite tinha se deliciado com aquela cena agonizante, mas tudo estava bem para Octavia, ela tinha sobrevivido ao acoite e logo estaria cara a cara com Perséfone, que por um ato de auto piedade por ver uma garotinha com as costas machucadas, retirou a maldição do inverso e disse para a Stone às palavras que jamais iria esquecer.

"Sua mãe e sua avó, não estão nesse mundo".

Logo após, Perséfone dizer essas palavras, Victória tinha usado o desfibrilador para fazer com que o coração de Octavia voltasse a bater, trazendo-a de volta para o mundo dos vivos. No entanto, assim que voltou, as costas da Stone mais velha estava manchadas de sangue e marcadas por longas e horríveis cortes, que mais tarde se tornariam cicatrizes impossíveis de se esquecer.

Tudo bem que Octavia tinha sacrificado a carne de suas costas pelos irmãos, ela faria de novo e de novo. Qualquer coisa para mantê-los seguros e longe do perigo intermitente. Ela os amava demais e estar por um momento livre da maldição, há aliviou um pouco, não totalmente, pois a fala de Perséfone ecoava em sua mente.

Sua mãe e sua avó não estavam naquele mundo. O que aquilo significava? Nunca soube a resposta e talvez nunca saberia. Mas de alguma forma doentia, Barba Negra parecia ter a resposta para essa dúvida que lhe perseguia por durante anos.

Octavia foi desperta de seus pensamentos internos quando foi bruscamente empurrada para dentro da cela, fazendo-a tropeçar um pouco nos próprios pés, mas rapidamente tratou de recuperar o equilíbrio recém perdido. Logo em seguida seus pulsos foram desamarrados e a Stone se viu obrigada a conter um gemido de satisfação por seus pulsos estarem livres e seu sangue poder correr livremente em suas mãos inchadas e doloridas, pela falta de fluxo.

Ainda com suas mãos fechadas, Octavia esconde o canivete de Raj entre seus dedos, o apertando com força e discretamente o coloca dentro do bolso de trás do seu jeans, quando tem a absoluta certeza que Bratt e Trevor tinham se afastado, tomando certo cuidado para que nem eles e nem ninguém visse o objeto. Ouvindo o ranger agonizante do metal no momento em que a cela é fechada bruscamente, até mesmo era capaz de ouvir o som do ressoar da fechadura da cela, quando Bratt a tranca completamente.

Também pode ouvir o som dos passos dos gêmeos se afastando gradativamente, até que Octavia já não fosse capaz de ouvi-los, indicando que eles tinham se afastado.

Como ainda era noite, grande parte da cela estava escura, exceto pelas tochas flamejantes laranjas que estavam penduradas nas paredes rochosas do pátio em frente à prisão, as quais davam um pouco de iluminação e claridade dentro da cela. Os olhos castanhos de Octavia vagam sob o lugar pouco iluminado, vendo Frank e Hazel abraçados encolhidos no canto direito, enquanto Will estava sentado no canto esquerdo com a cabeça apoiada sob as grades enferrujadas.

De qualquer forma, os olhares insistentes que os três lhe lançavam eram irritantes e perturbadores. Era mais do que certo que o trio estava esperando algo dela. Talvez estivessem esperando que ela contasse sobre sua conversa com Barba Negra ou que pelo menos explicasse o que Alison quis dizer sobre ela ter matado a própria namorada. Se eles realmente estavam esperando por algo assim, eles não conheciam de verdade Octavia Stone.

Ela não precisava se justificar para ninguém.

A filha de Ares passou a ignorar os olhares insistentes sob si mesma, enquanto massageava os pulsos doloridos e torcia para que suas mãos desinchasse o mais rápido possível para que pudesse parar de doer juntamente com os outros membros sensíveis que Alison tinha acertado. Octavia caminhou até o fundo pouco iluminado da cela e por ali se jogou, deixando suas costas se apoiarem na parede rochosa e dura, ainda ignorando o duro e acusatório olhar que os olhos azuis penetrantes de Will lhe lançavam, ao fechar os olhos.

O dia tinha sido longo até demais. Muitas emoções e informações para serem digeridas de uma só vez.

Porém, mediante a tudo que tinha acontecido, Octavia acreditava que poderia dormir tranquilamente, pois de qualquer forma seus irmãos já deveriam ter chegado à segurança do Acampamento Meio Sangue e duvidaria que Quíron, Sr. D ou até mesmo Grover permitissem que os seus seis irmãos fizessem alguma besteira ou se colocassem em perigo desnecessário. Ao menos ter essa tranquilidade em sua mente era de certo modo reconfortante.

Queria poder levantar mais dúvidas e suspeitas sobre sua breve conversa com seu meio-irmão pirata, mas sua mente estava tão exausta que a última coisa que conseguiria fazer naquele momento era tentar formular uma estratégia ou alguma ideia trapaceira para sair dali.

Deuses! Sua cabeça parecia entrar em colapso a qualquer momento.

Aquela certamente não era a primeira vez e nem seria a última que estivesse em uma grande enrascada, mas de qualquer forma, acreditava plenamente que conseguiria sair daquela situação. Sempre teve uma ótima lábia e uma língua bastante afiada, sem mencionar sua mente. Poderia até mesmo soar arrogante, mas ela, Octavia Stone, era muito inteligente até demais para uma simples filha de Ares.

Nesse momento poderia sim estar em desvantagem sem suas habilidades de meio sangue, mas ela ainda tinha outros atributos, outros truques que poderiam ser muito bem convenientes para sua atual situação.

Por mais que sentisse seu corpo exausto e implorando por algum descanso válido, mesmo com certas partes ainda doloridas pelos maus tratos sofridos mais cedo, era quase impossível dormir sem antes refletir sobre o interesse repentino de Barba Negra nas pinturas de sua mãe. Ainda era difícil para Octavia assimilar que Helena, sua mãe, era uma pessoa. Uma pessoa com falhas, que tinha seus próprios defeitos e que não era perfeita.

Durante um tempo, a única imagem que tinha de sua mãe em sua mente era de um ser puro, cheio de luz e inofensivo. Mas Helena Stone não era assim. Não. Ela realmente não era. Sua mãe era como Octavia, selvagem, durona, mandona e com uma personalidade ainda mais complicada e difícil de lidar. Nesses pontos elas tinham muito em comum. Mas era quase inevitável que Octavia não ficasse um pouco ressentida com as memórias que carregava de sua mãe. Afinal, Helena tinha lhe escondido muita coisa, ela tinha seus segredos como todos, porém, a filha de Ares jamais tinha pensado que esses segredos eram grandes demais, pesados demais para que conseguisse suportar.

Helena sabia sobre tudo. Sabia sobre o verdadeiro mundo que se escondia por detrás da névoa. Sabia sobre os acampamentos, sabia sobre os monstros, sabia de quem era legado e várias outras coisas que sequer Octavia sonharia em saber. E a pior parte nessa história era que sua mãe nunca lhe contou nada. Talvez Helena pensasse que se escondesse certas coisas de seus filhos, isso os protegeriam, mas ao invés de proteger, isso só apenas levantava mais dúvidas sobre a verdadeira índole que sua mãe poderia ter.

Ela não era perfeita. E admitir isso para si própria era algo muito difícil.

O namorado que sua mãe havia trocado pelo seu pai era nada mais que o próprio Apolo, pai de Will e o Deus das Profecias e outros títulos absurdos mais. Só com o curto pensamento de ser uma provável filha de Apolo, fazia o estômago de Octavia revirar, que os Deuses a livrassem de ser uma cópia mal feita de algum ator de High School Musical, pois ela além de péssima cantora; odiava ainda mais cantar.

Não. Por mais que seu pai fosse um idiota, ainda sim, estava satisfeita sendo uma filha de Ares do que uma filha de Apolo.

Nos diários de sua mãe, os quais Reyna havia encontrado escondido na Quinta Corte do Acampamento Júpiter, contavam sobre a vida cotidiana e rotineira que Helena costumava ter no acampamento romano. A cada página escrita que lia, Octavia menos conhecia sua mãe, naquele diário ela era tão diferente do que realmente era consigo mesma ou do que se lembrava. Talvez fosse porque aquela Helena que era descrita nas folhas daquele diário, era uma versão adolescente irresponsável e não uma mãe de sete crianças.

Apolo e sua mãe namoraram por um longo tempo, ao ponto do Deus das Profecias lhe presentear com um dom especial relacionado à pintura, mas quando Helena o trocou por Ares, sem poder retirar o dom que havia dado a Stone de presente, o filho de Leto apenas amaldiçoou sua mãe para que ela jamais tivesse o reconhecimento que tanto almejava ter no mundo da arte. Era uma situação similar com o que tinha acontecido com Cassandra de Troia, que recebeu os dons de prevê o futuro, mas com o fim de seu relacionamento com Apolo, o Deus fez com que todos acreditassem que a princesa era louca e nunca lhe dessem ouvidos.

Uma mulher louca sempre está certa, mas ninguém estava preparado para lidar com essa dura verdade.

Octavia durante os anos guardou cada uma das pinturas de sua mãe, pois de certa forma elas faziam parte de Helena e aquecia o coração da filha de Ares ao sempre vislumbrar o talento incrível que sua mãe detinha sob a arte, as diversas telas e imagens pintadas sempre estiveram com os Stones. Até que um dia eles perceberam que de alguma forma as pinturas de sua mãe pareciam se mexer, como se tivessem vida própria e quando Octavia tocou em uma das telas, sua mão tinha atravessado completamente a pintura.

Aquele momento só não foi o mais assustador, porque outra coisa bizarra tinha acontecido: Octavia tinha atravessado a pintura que sua mãe tinha feito do Tártaro e como num passe de mágica, a Stone ao passar pela tela de cores vivas tinha ido parar no pior lugar da mitologia grega e por pouco não foi atacada por algum monstro, pois seus irmãos a puxaram de volta trazendo-a para fora da pintura. De alguma forma, todas as pinturas que Helena Stone tinha pintado eram na verdade uma forma rápida e assustadora de utilizar portais.

No início, Octavia não entendia. Ficava frustrada e nervosa por não poder sequer perguntar sua mãe como aquilo era possível, pois nesse momento Helena já estava morta. Mas quando Reyna tinha lhe dito através de uma mensagem de Íris que tinha encontrado um diário de uma garota cuja tinha seu mesmo sobrenome na Quinta Corte, foi o exato momento em que Octavia teve suas respostas.

As pinturas de Helena eram portais. Todas as telas davam acesso a um lugar difícil de ser acessível ou quase impossível de se conseguir chegar vivo até o destino final, como, por exemplo, o próprio Tártaro. Sua mãe tinha pintado diversos lugares, o Acampamento Júpiter, o Submundo, os Campos Elísios, Asfódelos, Punição, Olimpo, o Palácio Submerso de Poseidon, As Colunas de Hércules e tantos outros lugares míticos de difícil acesso que era quase surpreendentemente bizarro que os Stones tinham um acesso facilitado a cada um deles.

No entanto, se Barba Negra queria as pinturas de sua mãe tanto assim, era porque certamente ele sabia do que elas eram capazes. E se as pinturas de sua mãe caíssem em mãos erradas, coisas ruins poderiam acontecer, os Deuses poderiam se zangar com Octavia e seus irmãos por lhes esconderem aqueles fatos e talvez Edward poderia começar uma nova guerra.

Era verdade que uma grande parte da filha de Ares queria acabar com os Deuses. Os ideais de revolta e luta contra a tirania dos Olimpianos, seduziam-na de uma forma quase insensata. Mais do que ninguém, ela também queria fazer os Deuses pagarem por tudo. Alguém precisava dar uma lição neles, para que aprendessem que mesmo sendo Deuses seus atos também tinham consequências avassaladoras.

Os Deuses eram só crianças mimadas que faziam o que bem entendiam sem sofrer alguma consequência e isso a tirava do sério. A falta de punição. A falta de justiça igualitária. Ela não era uma má pessoa só porque não concorda com a falta de justiça? Não concorda com o fato dela e de outros semideuses e mortais serem apenas marionetes ou brinquedos para os Deuses? Luke Castellan estava mais do que certo, mas foi estúpido em confiar em um Titã; se quer lutar contra os Deuses não se pode confiar em uma divindade, apenas em seus iguais: os meios-sangues.

Mesmo que fosse difícil ser ou ter uma atitude positiva, Octavia acreditava que um dia alguém iria aparecer e iria punir os Deuses por cada pecado das coisas horríveis que fizeram com os mortais e os meios sangues. Quando esse "salvador" aparecesse, a Stone estaria radiante vendo cada um dos Deuses recebendo o que mereciam. E no fundo, bem no fundo do seu coração de aço, Octavia torcia para ser esse alguém.

Diferente do que pensava; os Deuses não a ajudaram ou foram benevolentes com ela e seus irmãos por pura bondade. Não. Se o que seu irmão havia acabado de insinuar em sua breve conversa fosse verdade, eles — os Deuses — tinham um motivo bem sórdido e podre para querem manipulá-la como fizeram com Hércules. E uma das coisas que Octavia odiava ainda mais que seu pai: era ser usada como um peão.

O Campeão dos Deuses. Seria aquele que lutaria pelas divindades em uma batalha que eles próprios não poderiam vencer e como recompensa pelos trabalhos prestados, o campeão ascenderia ao Olimpo como um Deus menor.

Ela nunca lutaria pelos Deuses, ou tampouco morreria por eles. Era mais fácil decapitar Ladão novamente, do que fazer tal coisa pelos Deuses. Edward estava blefando. Octavia não era uma campeã e nunca poderia ser; sequer era filha de um dos Três Grandes ou era importante. Ela era um ninguém sem importância para a mitologia. Uma filha de Ares qualquer.

O único que poderia lhe tirar esse tormento de sua mente sentia Quíron. Ele havia treinado Hércules e certamente saberia esclarecer esse fato lhe dizendo que ela não era uma campeã e sim o Santo Jackson era o verdadeiro.

Ainda com os olhos fechados, Octavia sentiu uma movimentação e uma presença ao seu lado, ela não precisava abrir os olhos para saber quem era a pessoa que tinha acabado de se sentar ao seu lado. Mesmo que ele estivesse sem suas habilidades de semideus, a Stone ainda era capaz de sentir o calor que emanava naturalmente pela pele naturalmente bronzeada de um filho de Apolo.

Will tinha perguntas e Octavia não queria responde-las.

— Eu sei que está fingindo dormir. — Ele começa e assim como quando eram crianças, a Stone percebe o tom doce e quase angelical que a voz do Solace tinha.

Deuses, como não queria abrir os olhos, pois se o fizesse iria encontrar com os hipnotizantes olhos azuis que tanto invejava quando era criança. Ela não iria encarar Will, pois sequer conseguia fazer isso sem sentir um medo avassalador lhe consumir. Por quanto tempo imaginou e fantasiou como seria reencontrar ele ou seus irmãos do chalé 5, tinha pensado em tantas possibilidades do que poderia acontecer, mas nenhuma das coisas que imaginou parecia fazer sentido ou lógica nesse momento. Pois ela não estava apenas imaginando, agora, dessa vez, era real.

— Vai continuar fingindo? — Will insiste, quando Octavia insiste em ficar em silêncio de olhos fechados, fingindo estar dormindo.

Quando era criança, nunca conseguia esconder nada de Will, sempre o contava tudo, até mesmo seus momentos mais constrangedores na vida de uma garota. Os dois viviam colados para todo o lado do Acampamento, um sempre apoiando o outro, sempre conversando sobre coisas banais e trocando segredos. Gostaria voltar atrás, quando as coisas ainda eram fácies, mas não podia. Sua vida nunca foi fácil depois que perdeu sua família.

Will foi uma das poucas pessoas em sua vida que foi gentil e bondoso e provavelmente era a única pessoa que sentia que devia algum tipo de obrigação ou um débito imensurável. E, só por isso, iria se esforçar para não ser arrogante ou orgulhosa com ele.

— Não vou. — Respondeu por fim, antes de dar um longo suspiro e abrir os olhos lentamente. — O que quer?

— Respostas. — Disse o óbvio, encarando-a fixamente. — Mas antes preciso que me responda se está bem... — Era quase impossível não perceber o tom preocupado na voz de Will.

Era até bonitinho ver que o Solace ainda conseguiu manter suas virtudes, ser uma boa pessoa e continuar sendo altruísta, algo que Octavia não conseguiu. Will deveria ser o mesmo de sete anos atrás, mas ela não. Não era mais a garotinha estúpida que acreditava em amor verdadeiro, bondade e nobreza.

— Estamos em um lugar desconhecido, com semideuses loucos para se revoltar contra os Deuses e um pirata que não se depila desde o século XVIII, como poderia estar melhor? — Sorriu irônica, mas seu sorriso logo desapareceu quando o olhar severo e duro de Will pairou sob si mesma, isso a fez revirar os olhos, contrariada. Porque o Solace ainda a fazia se sentir uma completa idiota quando usava seu sarcasmo? — Péssima. Levei uma surra da loira aguada, o que foi péssimo para meu orgulho, e estou com muita dor. — Respondeu com sinceridade, sem encará-lo, direcionando seu olhar para Frank e Hazel que nesse momento estavam dormindo abraçados no mesmo canto direito da cela.

Era irritante ver demonstrações de amor. De alguma forma isso irritava Octavia, talvez porque isso a lembrava de como era estar apaixonada um dia e ao mesmo tempo se recordava também como era ter seu coração despedaçado em diferentes tamanhos. Ela odiaria o amor pelo resto da sua vida.

Estava tão distraída olhando para o casal dormindo, que deu um sobressalto assustada quando algo úmido e gelado encostou ao canto de sua boca, imediatamente Octavia se afastou e encarou o pedaço de tecido xadrez úmido que Will tinha em suas mãos, juntamente com uma tigela de barro com água.

— O que está fazendo? — Perguntou com os olhos arregalados.

— Limpando suas feridas. — Respondeu o loiro, logo se inclinando para tentar limpar novamente o sangue seco no canto dos lábios de Octavia, que novamente recuou.

— Não preciso que limpe minhas feridas. — Disse sentindo o rosto arder. Porque Will ainda tinha que ser tão invasivo quanto antes? — Estou bem, obrigada, de nada.

Por incrível que parecesse, o Solace deu uma leve risada com a sua relutância.

— Vejo que ainda tem problemas em aceitar ajuda quando lhe é oferecida. — O rosto de Octavia ficou vermelho. — Mas você sabe que vou limpar suas feridas, querendo ou não. — Disse com um sorriso, usando novamente o pedaço que provavelmente tinha rasgado de sua camisa para usar como forma de limpar a ferida.

— E você continua ainda o mesmo altruísta invasivo de antes. — Diz contrariada, mas se rendendo e permitindo que Will limpasse sua ferida. Estava cansada demais para discutir com o Solace e no quesito teimosia, certamente o loiro era pior do que ela.

— "Altruísta invasivo"? — Ri. — Isso deveria ser uma ofensa? — Pergunta pressionando levemente o tecido úmido no machucado dos lábios de Octavia, que em resposta a súbita ardência no local, geme em frustração pela súbita dor.

— É uma ofensa em meu dicionário particular de palavras chulas. — Diz contrariada e tentando controlar a queimação em seu rosto por Will estar sendo tão Will, ao cuidar de si própria, como se fosse ainda criança.

Ter o filho de Apolo tão próximo de si mesma, era desconfortável.

Quando eram crianças, Will sempre cuidava de seus ferimentos durante os duros e severos treinos do Acampamento, quase tinha se tornado normal e rotineiro Octavia sempre ir parar na casa dos doentes para ser tratada. Sempre se machucava, às vezes era por ser sempre tão desatenta ou um pouco desastrada, pouco cuidadosa e nesses momentos o Solace sempre aparecia para ajuda-la e tratar de suas feridas.

Ser bonzinho e ajudar quem precisa são coisas das qual Will Solace jamais poderiam deixar de fazer. Não importava o quão nervoso e triste ele estava com Octavia por ter mentido esses anos, mas se ela precisasse de ajuda, o loiro ainda estaria ali, pronto para ajudá-la, como estava fazendo naquele momento.

— Como você... — Will começou, mas deu uma pausa provavelmente porque estava incerto sobre o que deveria perguntar. — Nós vimos às notícias nos telejornais londrinos, todos eles diziam que você e sua família tinham morrido no incêndio. Até mesmo Quíron confirmou a história...

Um frio irritantemente atravessou o corpo de Octavia, o deixando em alerta. O momento que tinha adiado por anos havia chegado e não. Não. Ela certamente não queria falar sobre isso, não queria que Will a encarasse com pena ou a visse como uma simples coitadinha, mas infelizmente não tinha outra escolha. A Stone devia uma explicação a ele, sim, ela devia. No entanto, não era fácil lidar com isso ou muito menos falar sobre algo que durante anos se tornou um trauma para si e seus irmãos.

Instantaneamente o gosto amargo e ácido de sua bile subiu a garganta, juntamente com o gigante nó que se formava ali. Will estava prestes a começar a limpar o sangue seco em seu nariz, quando Octavia o impediu segurando delicadamente o pulso dele, o deixando surpreso pelo ato repentino.

— Deixe que limpe minhas feridas, sozinha. — Disse tomando o pano das mãos de Will sem ser capaz de encará-lo, voltando apoiar suas costas na parede rochosa.

— Octavia... O que...

— Sinto muito, Will. — Se desculpou ainda com um nó em sua garganta. — Pensei que poderia falar ou lhe dar uma explicação que você merecia, mas não posso. Eu não consigo. — Disse passando o pano no sangue seco acima dos lábios, o retirando aos poucos dali.

— Mas o que aconteceu? — Insistiu. — Posso estar bravo e chateado com você por ter mentido por esses anos, mas sei também que você não faria isso sem ter um motivo válido. A Octavia que conhecia não era assim e...

— A Octavia que você conhecia está morta, assim como as pessoas que eram importantes para ela. — O cortou grosseiramente, arrancando um som de surpresa do loiro. E, céus como doeu dizer aquilo... Era como se algo dentro de Octavia estivesse a rasgando de dentro para fora e um sentimento de melancolia junto com impotência a invadia pouco a pouco. — Obrigada pela gentileza, mas agora, apenas quero dormir. — Disse se virando, dando as costas para o Solace, como forma de mostrar que o assunto tinha acabado.

Claro que se sentiu péssima pela sua atitude grosseira com Will, mas não havia mais nada que pudesse fazer. Às vezes era melhor afastá-lo de si, antes que fizesse alguma outra besteira.

Os olhos de Octavia se encheram de água, ao relembrar o porquê teve que se esconder por sete anos e se afastar da sua antiga vida. Eles não só mataram sua família como também mataram uma parte significativa da Stone, uma parte que jamais poderia ser recuperada. Durante os últimos anos que se esforçou para manter os pesadelos daquela noite, na véspera de seu aniversário de onze anos, afastados, pareciam não iriam abandoná-la tão cedo, pois no momento em que a filha de Ares fechou os olhos, ela pode rever os cadáveres ensanguentados de sua mãe e seus avós.

Por sete anos tentou fugir de seus demônios, para depois perceber que não importava mais fazê-lo, pois no final, eles sempre a alcançavam. Não importava para onde iria.











OII, pessoas! Como estão? :3

Sim gente, eu sei que prometi morte, sangue e circo pegando fogo nesse capítulo, mas infelizmente vou ter que deixar para o próximo capítulo. Não se preocupem, o próximo vai ser apenas tiro atrás de tiro. *risada maligna*.

Esse foi o capítulo de hoje e então o que acharam? :3 Alguma teoria?

Não se esqueçam de votar e comentar o que acharam ;)

Beijinhos e até a próxima! <3

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen2U.Com