Capítulo 16
⚠️ Esse é o capítulo 12, mas agora é o 16 porque mudei o número dos capítulos ⚠️
Seus fortes encantamentos falharam,
Suas torres de medo em ruínas,
Seus galhos secos de venenos
E a faca no pescoço dela,
A Rainha do Ar e da Escuridão
Começou com um choro agudo,
"Oh meu jovem, ó meu matador,
Amanhã você morrerá."
Ó Rainha do Ar e da Escuridão,
É verdade o que você diz,
E Eu vou morrer amanhã;
Mas você morrerá hoje.
—A. E. Housman, "Seus Fortes Encantamentos Falharam"
***
Octavia nesse momento estava parada ao lado de sua bisavó, a qual se encontrava completamente bêbada, mesmo sendo a própria Marquesa de Whittemore, Sophie não se importava em exibir seu vício com a bebida e o cigarro na frente dos bisnetos ou muito menos na frente de toda sociedade londrina. Na verdade, a última Marquesa não se importava com nada.
Tanto Sophie e Octavia estavam na mansão Whittemore e estavam também paradas diante do brasão da família esculpido em mármore puro em um dos diversos corredores que a grande propriedade dos marqueses possuía. O tão belo e grande brasão da família consistia em uma serpente envolta de um escudo que tinha letra W gravada e pressionada bem no centro, logo atrás do escudo havia um cruzado de lanças que eram divididos por uma espada.
O símbolo da serpente sempre deu calafrios em Octavia, pois no brasão, o réptil tinha a boca ameaçadoramente aberta revelando suas presas longas e colocando a língua bifurcada para fora. E o mais assustador é que a serpente também tinha um par de chifres no topo de sua cabeça.
Aquele símbolo sempre lhe causava certo desespero interno, ao ponto de lhe provocar pesadelos. Odiava repteis e odiava ainda mais serpentes. Elas eram simplesmente malvadas e assustadoras ao seu ponto de vista.
— Não é uma serpente. — Disse a voz embriagada de sua bisavó que soluçou logo em seguida, como se Sophie pudesse ler seus pensamentos internos.
A pequena Stone uniu as sobrancelhas e encarou a bisavó.
— O que é então?
Sophie sorriu mostrando os dentes amarelados pelo uso excessivo do cigarro por décadas. A Marquesa de Whittemore tinha seus vícios e era um péssimo exemplo para Octavia e seus irmãos, pois Sophie além de alcóolatra, fumante, super vulgar para uma senhora da sua idade, era também viciada em jogos de azar. Lucrécia, sua avó, não se dava bem com a sogra, qual a detestava e a desprezava.
A Marquesa de Whittemore era bastante preconceituosa também e sempre que podia arrumava um jeito de humilhar Lucrécia ou jogar na cara de Richard seu desgosto e desaprovação de seu casamento com uma latina de sangue ruim, ainda doente mental e surda. Nunca aprovaria aquela união profana que seu único herdeiro fez ao misturar a linhagem nobre com uma linhagem meia boca latina. Sophie Whittemore era uma pessoa com uma personalidade desprezível e não era de se admirar que muitos funcionários ficar aliviados com sua morte no ano seguinte. Ela realmente uma pessoa difícil de lidar.
Por sorte, a neta de Sophie, Helena, tinha puxado os traços ingleses da família e não herdado os traços daquele sangue ruim brasileiro que Lucrécia carregava.
Por outro lado, infelizmente seus netos tinham herdado a genética maldita latina da avó, pois possuíam a pele um pouco mais bege amarelada, os cabelos castanhos e olhos da mesma cor. Exceto pelos trigêmeos que por um milagre, possuíam a pele branca como o leite dos Whittemore e os olhos cinza, herdando claramente os traços britânicos da família.
Era realmente uma pena que a primogênita de sua neta tivesse puxado a genética ruim da avó. Esses latinos... Nunca pensou que sentiria tanto desgosto quanto sentiu quando sua irmã caçula preferiu ser deserdada e se casar com um pobretão sem classe com sobrenome Faust, se tornando a simples e insignificante: Sra. Faust. Quem em sã consciência abre mão de ser um Whittemore para viver com uma vida qualquer? Sua irmã só poderia ser louca.
Mas não havia muito que fazer, afinal um dia seria Octavia que se tornaria a Marquesa de Whittemore por ser a primogênita e Sophie só rezava para que a bisneta não arrastasse o sobrenome da família para a lama. Porque para sua infelicidade sua herdeira tinha o sangue ruim nas veias, mas torcia que a educação particular que estivesse dando para Octavia a tornasse digna de carregar o título em suas costas.
Porque para ser ainda mais desgostoso para Sophie, sua neta sequer era casada com o pai de seus filhos, o que era uma grande infâmia para o nome da família. Não sabia nada sobre o "namorado" de Helena, mas a ideia perturbadora de que ele poderia ser casado com outra mulher e seus bisnetos fossem bastardos lhe causava enjoos. Um bastardo fazendo parte de uma família nobre era totalmente inaceitável para Sophie, por isso a Marquesa preferia acreditar que isso não era verdade e que o pai de seus bisnetos era só um pé rapado qualquer que não assumia um compromisso sério.
— É o leviatã. — Sophie tragou seu cigarro, antes de soltar a fumaça pelas narinas. — Somos os Marqueses de Whittemore, Octavia, sabe o que isso significa?
Sua bisneta balançou a cabeça negativamente.
— Na monarquia e hierarquia britânica estamos apenas atrás da Rainha Elizabeth e dos Duques que obviamente são os parentes mais próximos de vossa majestade na linha de sucessão do trono inglês. — Respirou fundo. — Nós, os Marqueses sempre fomos fundamentais na administração de qualquer reino ou império. Somos os homens da alta confiança do rei, os quais nos cediam territórios fronteiriços ou mal pacificados, para que pudéssemos controlá-los e apaziguar as revoltas ou possíveis guerras. Sobre essas porções de terra, que eram chamadas marquesados, nós tínhamos o total poder civil e militar.
— Mas ainda não entendi o porquê de nosso brasão ter um "leviatã". O que é um leviatã?
Sophie revirou os olhos, antes de voltar encarar a bisneta com desdém, como Helena nunca havia feito Octavia ler a obra de Thomas Hobbes?
Mesmo desdenhando a ignorância de sua herdeira sobre a família e cultura, a Marquesa contragosto fez questão de explica-la:
— Segundo a mitologia dos fenícios, o leviatã era um dragão marinho, um monstro do caos primitivo, mas apesar da besta sanguinária ser o terror para nós, humanos, ele também era visto com o guardião das criaturas marinhas. Ele era um mal necessário. — Esclarece. — A besta está atrelada a nós, Marqueses de Whittemore porque éramos nós que defendiam as fronteiras do reino de invasões e acabávamos com as revoltas. Sempre fomos os primeiros a morrerem pelo rei durante uma guerra e os principais por causar terror e agonia a nossos inimigos.
Octavia desviou o olhar para os próprios pés, enquanto alternava o peso de uma perna para outra.
— Acho que sim...
Sophie suspirou tentando manter a calma.
— Assim como o leviatã protegia as criaturas marinhas e afugentava todos os inimigos, causado terror e caos por onde passava. Nós, Whittemore, fazíamos o mesmo ao proteger nosso rei e dizimar nossos inimigos. Por isso o leviatã faz parte do brasão da nossa família. — Deu uma longa pausa. — Um dia, Octavia, você será a Marquesa de Whittemore. E quando isso acontecer, quero que se lembre de uma coisa.
A pequena olhou para a bisavó diretamente nos olhos, esperando e ansiando pelo o que Sophie estava prestes a dizer.
— Os Whittemore não demonstram compaixão ou misericórdia para com seus inimigos. Nós os dizimamos sem piedade e passamos por cima de quem quer que esteja no nosso caminho. — Sophie dá um sorriso sombrio. — Mate todos seus inimigos e não seja tola de deixa-los vivos. Justiça sem o derramamento de sangue, não é justiça. Por isso, encontre uma maneira de viver em paz mesmo que tenha que carregar um sangue que não seja seu em suas mãos.
***
Talvez devesse se sentir culpada, triste, transtornada, chocada, desesperada ou sentisse um pouquinho de arrependimento. Mas a verdade é que Octavia não sentia nada. Nem felicidade ou alivio por ter matado alguém tão desprezível quanto sua irmã romana. Não. Ela apenas sentia um vazio como se fosse um robô ou uma máquina. Não tinha nenhum sentimento.
Ela não se importava o suficiente para sentir algo.
Quando tirou a vida de alguém pela primeira vez, tinha apenas onze anos. Octavia havia sido dominada pelo ódio e pelo instinto de proteger seus irmãos e por isso desmembrou cada um dos responsáveis por assassinar seus avós e sua mãe. Só foi dessa vez que sentiu realmente prazer em tirar vidas, estava tão tomada pelo ódio que não havia dado importância para um simples fato: nenhum daqueles assassinos sangravam vermelho. Todos eles sangravam o maldito ichor dourado, igual os Deuses, igual à Alison e merda! Até mesmo Jessie tinha sangrado ichor dourado quando atravessou sua espada contra o peito da namorada!
Nunca obteve resposta de como era possível que aqueles assassinos de sua família e sua namorada poderiam sangrar o mesmo sangue dourado dos Deuses, por muitas vezes achou que estava louca, à beira da insanidade total ou que sua mente tivesse lhe pregando peças. Mas por nunca conseguir obter uma resposta racionalmente válida, Octavia ignorou esse fato.
Quando seu pai a levou para Temiscira com seus irmãos, a Stone estava completamente ensopada de sangue dourado e o sangue vermelho de sua mãe e seus avós, visto que depois de matar os assassinos a garota ficou bom tempo abraçada aos cadáveres de sua família depois que Ares apareceu. Talvez tivesse ficado uma hora abraçada aos cadáveres e se sujando com o sangue vermelho deles.
Mas ali, em seu desespero e dor interna de garotinha assustada, ela não queria acreditar que realmente as pessoas que mais amava morreram. Não. Isso foi um baque muito forte para apenas uma criança de onze anos pudesse processar sozinha.
Drusilha tinha morrido poucos minutos depois de nascer. Ela simplesmente tinha parado de respirar e seu corpo estava frio. Octavia mal se lembrava da irmã caçula, pois toda vez que fazia; se sentia horrível, sempre permitindo que um sentimento ruim lhe dominasse quando se lembrava de segurar o cadáver de sua irmã bebê e colocá-lo junto com os dos outros membros da família antes de iniciar o incêndio para forjar sua morte e de seus irmãos. Para que pudesse fugir, se esconder com os irmãos e acima de qualquer outra coisa: ela precisava os manter seguros.
Drusilha havia morrido. Ela estava morta e era impossível estar viva. Pois, Octavia segurou o cadáver do bebê gelado em seus braços e a viu morta com os olhos tranquilamente fechados como se estivesse dormindo tranquilamente, só que infelizmente era para sempre.
Jamais se perdoou pelo que tinha acontecido aquele dia e talvez nunca se perdoaria. Sempre sentiria que era sua culpa, que deveria ter feito alguma coisa, que podia ter salvado todos. Isso sempre a atormentaria pelo resto de toda sua vida, como se ela própria fosse a hospedeira de Cronos.
Alison estava mentindo. Claro que estava. Só havia dito aquilo para deixa-la totalmente atormenta e porra, a vadia realmente tinha conseguido o que queria.
Sentia o peso do olhar acusatório e culposo que Hazel e Frank lhe lançaram quando surgiram por detrás de Will, ao perceberem o que tinha feito. Os três pares de olhos por um instante demoraram o suficiente encarando o corpo morto de Alison no chão, antes de voltarem a olhar Octavia com um peso acusatório como se os três ali fossem os próprios juízes do submundo. Como se eles fossem os donos da razão e ela... Bem. Não fosse nada além de um monstro.
Um leviatã.
Por muito tempo Octavia se negou a aceitar quem era e isso só lhe trouxe mais tormento e angustia, mas somente no dia em que finalmente reconheceu que era um monstro e aceitou essa sua parte sombria, foi quando a Stone conseguiu dormir com tranquilidade.
Mas isso não lhe importava mais, não se importava com eles, mesmo Frank sendo seu irmão romano, ainda sim, ele era apenas um desconhecido insignificante, assim como sua namorada — a qual ela tinha salvado a vida pouco tempo atrás. Entretanto, eliminando esse fato, o olhar que Will estava lhe lançando de alguma forma, a fazia se sentir horrível ao ponto de preferir levar um tiro ao invés de ter o loiro lhe encarando daquela forma.
Aqueles olhares a estava irritando, principalmente o de Will, por mais que soubesse que de alguma forma seu corpo ainda reagia ao filho de Apolo, ainda sim, não gostava de ser julgada como se fosse a vilã e eles os mocinhos arrogantes cheios de moral.
— O que você fez? — Will repetiu a pergunta, esperando uma resposta sua.
Isso foi o estopim para explodir
— Matei uma vadia, não tá vendo?! Ou ficou cego por acaso, porra?! — Disse irritada sem encarar o filho de Apolo, que ficou surpreso com a sua resposta grosseira.
— Você não... — Hazel começou, mas Octavia a encarou com um ódio tão mortal, que se estivesse com seus poderes poderia jurar que sua íris já estaria soltando faíscas flamejantes.
— O quê? Não deveria tê-la matado? Que matar é errado? Por favor, ô coisinha insignificante, cala a maldita boca e poupe-me desse discurso brega de mocinho hipócrita.
— Não fala com ela assim! — Frank gritou partindo em defesa da namorada. — O que você fez é errado! Como pode está tão tranquila e com a consciência limpa sobre ter tirado a vida de alguém?!
— Aiin que bonitinho! Está defendendo a namoradinha agora? Porque pelo que me lembre de você foi bem inútil ao tentar salvá-la de um lobisomem que por acaso fui eu que o fiz! — Disse com desprezo. — Ahh claro! Matar alguém que queria me matar é errado, então me diz ô grande senhor da razão o que deveria fazer? Me ajoelhar diante da vadia e permitir que me matasse? Eu juro que não sei que porra de mundo de pôneis cor-de-rosa em que vocês vivem, do qual ninguém derrama sangue e não é obrigado a lutar pela própria vida. Acordem porra! Somos semideuses! Lutamos para sobreviver! E sim, matamos também se for preciso! Parem de ser uns hipócritas de merda e donos da verdade, porque nenhum de vocês sabem o que é a vida de verdade.
— E você sabe? — Will a questionou, atraindo o olhar de Octavia para si. — Porque para mim parece que não é a primeira vez que você derrama sangue.
Octavia deu um sorriso maligno.
— É, você tem razão. Não é a primeira vez que derramo sangue e não vai ser a última, porque diferente de merdinhas como vocês, alguns tem que matar para sobreviver, pois se não fizer isso você pode ser morto ou perder alguém importante. — Cuspiu as palavras. — Não espero que entendam e nem quero isso, afinal se querem me fazer ser a vilã malvada. Ok, eu não me importo e não dou a mínima. Eu matei a Alison sim e querem a verdade? Estou muito aliviada por ela estar morta.
Will a encarou com uma expressão incrédula.
— Como consegue? Você não era assim...
A filha de Ares ri com desdém.
— Pessoas mudam, Andrew, aceite ou não, mas eu consegui encontrar uma maneira de viver em paz mesmo tendo a mão suja de sangue e não me arrependo de nenhuma pessoa que matei. — Disse dando as costas para o loiro, se abaixando perante o cadáver de Alison antes de retirar sua espada do peito dela, fazendo um pouco mais de ichor escorrer pela ferida aberta e se derramar ali na terra.
O bronze celestial da espada estava totalmente coberto por ichor dourado e Octavia não se importou de lamber a lâmina, bebendo mais um pouco do líquido. Atrás de si ouviu sons de nojo serem emitidos, mas não se importou, afinal já estava sentindo o ichor fazer seu papel em seu organismo, como havia esperado. Sentia as feridas do seu corpo se fecharem completamente, assim como também sentia suas costelas quebradas se mexerem dentro de si, se unido completamente como se nunca tivessem sido quebradas antes. E rapidamente a Stone sentiu as dores musculares que lhe atormentavam desaparecem completamente.
E tão rápido quanto um raio, todas as feridas e dores musculares de Octavia haviam desaparecido, deixando-a sem nenhum arranhão sequer. Como se não tivesse sido esmurrada e quase morta pela irmã romana.
— Então... — Ouviu a voz de Will começar. — Era verdade o que Alison disse? — Perguntou ignorando o que ela tinha acabado de fazer. — Que você realmente matou sua namorada? — Questionou em um tom que não a agradou.
Octavia congelou por um momento.
Era como se seu cérebro e o resto do seu corpo tivessem parado de funcionar ou receber os comandos necessários para se mover.
As palavras de Will ecoavam pela sua mente, mas o tom, justamente o tom que ele usou para falar com ela, como se ela fosse uma psicopata de merda e Jessie a mocinha injustiçada que sofreu em suas mãos. Ah. Isso foi demais até para Octavia tentar engolir.
Subitamente, a filha de Ares foi domada por uma fúria avassaladora, a qual a fez segurar o punho da espada — que tinha ceifado a vida de Alison —, com tanta força, que seus pulsos tremiam e mal conseguiam se mantiver quietos devido à alta carga de adrenalina que atravessava cada veia de Octavia e aumentava cada vez mais seus batimentos cardíacos.
A Stone se levantou rapidamente de uma só vez com brutalidade, um olhar assassino tinha tomado conta de seus olhos castanhos e a fizeram ir pisando duro até Will. Nesse momento, Octavia deveria estar emanando uma aura tão sombria e feroz que foi o suficiente para fazer com que Frank e Hazel tomassem posições ofensivas segurando firmemente suas armas, esperando caso a Stone atacasse o filho de Apolo, eles estariam ali para defendê-lo.
Por outro lado, Will, observando a mudança súbita de comportamento de Octavia ainda se manteve firme com seu olhar para a filha de Ares e sequer se moveu. O filho de Apolo estava esperando e ansiando para ver qual seria a reação da garota que um dia chegou ser sua melhor amiga.
— Não fale com esse tom como se soubesse de porra alguma do que aconteceu! — Octavia gritou apontando o dedo na cara de Will, sendo completamente domada pela fúria e não se intimidando pela diferença absurda de altura que eles tinham, pois o filho de Apolo era relativamente mais alto do que ela. — Porque você, Andrew, não faz a mínima ideia do que eu passei! — Disse entredentes, antes de usar sua mão e empurrá-lo brutalmente para trás, o que o fez perder o equilíbrio e cair sentado no chão, enquanto olhava Octavia com os olhos arregalados e perplexos.
Will estava surpreso pela reação de Octavia, talvez porque esperava que ela lhe acertasse um soco dada a expressão animalesca, mas ao invés disso ela tinha o empurrado.
Nunca tinha visto tanta fúria na garota como viu naquele instante. Um pensamento rápido passou pela sua cabeça acreditando por um segundo que Octavia fosse mesmo lhe matar, mas ele logo sumiu quando viu a garota guardar a espada dentro da bainha e subitamente seus olhos a vislumbraram retirar o arco e a bolsa de aljava com flechas por cima do ombro, jogando os itens bem ali no chão, a sua frente. Mas isso sequer era o mais perturbador do que ver a Stone tirar a própria camiseta — a qual uma vez tinha sido branca, mas agora estava completamente suja e encardida —, e a jogar violentamente contra seu rosto.
***
Frank e Hazel não conseguiram evitar o grito de espanto, não por Octavia está de sutiã perante eles, mas sim, por verem as costas maltratada e cheias de marcas que a garota possuía. A pele das costas da Stone era grossa como se tivesse uma casca bem ali, era cheia de marcas violentas de inúmeras linhas, que ora eram diagonais, ora horizontais e ora verticais. Cicatrizes. Eles se corrigiram.
As cicatrizes estavam por toda extensão das costas da garota.
Eram tantas cicatrizes formadas uma sob a outra, que era uma visão horrível de se ver, isso se os sinais vermelhos e deformados na região não mostrassem visivelmente que além das cicatrizes, a pele das costas de Octavia mostravam os sinais de queimaduras sérias, as quais também contribuíam para a deformidade de suas costas.
A visão era tão perturbadora que Frank e Hazel não conseguiram encarar aquilo nem mais por um só instante, por isso viraram o rosto para o outro lado sentindo o sentimento de indignação e raiva por Octavia ter tirado uma vida friamente, ser substituído por pena. Seja lá o que tivesse acontecido com as costas da garota, certamente ela tinha sofrido bastante para ter aquelas marcas.
E o casal apenas se perguntavam o que raios havia acontecido com Octavia para que ela tivesse aquelas marcas horríveis e cruéis.
***
Will não sabia o que fazer ou muito menos entendia o que estava acontecendo para Octavia arremessar sua camiseta violentamente contra seu rosto. Tudo bem, o que ele tinha acabado de falar parecia ter irritado a garota e até entendia o porquê dela ter o empurrado e o feito cair sentado, mas ele não conseguia entender porque raios Octavia tinha se despido.
Sua mão foi até seu rosto e retirou a camisa dele, logo se deparando com Octavia apenas de sutiã comum preto. Por alguns segundos seus olhos vagaram pelo corpo exposto da Stone reparando que ela tinha as mesmas características de seus irmãos filhos de Ares, um corpo atlético e com músculos, mas os músculos de Octavia eram magros assim como eram os de Clarisse, a barriga era completamente chapada e um pouco definida. O loiro não tardou a perceber que a Stone tinha outra tatuagem no lado esquerdo da barriga com uma coruja voando com suas asas abertas.
Logo o olhar de Will subiu e ele parou fixo no seio esquerdo de Octavia e seus olhos arregalaram com o que viam.
Bem ali, no começo do seio esquerdo de Octavia iniciava uma grande e grossa cicatriz que terminava no vão entre seus dois seios, bem no local onde ficava o coração. Pela forma como a cicatriz era grossa, ele já podia perceber que o corte tinha sido profundo o suficiente para quase penetrar no coração. Algo que significava que a Stone tinha escapado por muito pouco da morte certa por causa daquele corte.
O que significava aquilo? E porque Octavia estava lhe mostrando?
— Jessie era o nome da minha namorada e sim eu a amava incondicionalmente. — Octavia começou, desviando o olhar para qualquer canto que não fosse seu rosto. — Mas como toda boa vadia filha de Afrodite, ela partiu meu coração, mas essa nem é a pior parte. Um dia Jessie enlouqueceu ou só talvez realmente me mostrasse à verdadeira sociopata que era e matou a sague frio dez irmãs amazonas minhas. Não foi só um simples assassinato, o que Jessie fez com elas foi... Foi algo brutal e desumano. Ela havia cortado as cabeças e a enfiado na ponta de inúmeras lanças e os corpos... Todos estavam mutilados, tinha sangue para todos os lados e o cheiro... — A filha de Ares parou por um momento fazendo uma expressão de dor ao relembrar o que tinha acontecido.
Will tentou imaginar a cena, mas só ao fazer isso seu estômago começou a embrulhar.
— E para piorar ela tentou matar uma criança! E não era qualquer criança, era meu irmão! Por culpa dela César ficou entre a vida e a morte e nunca me perdoei por isso. — Respirou fundo. — Jessie tinha roubado o cinturão de Hipólita e tinha fugido. Hylla e eu fomos atrás dela e após dois dias a caçando, finalmente a encontramos. E infelizmente, mesmo sendo uma filha de Afrodite, Jessie era uma inimiga perigosa, pois era bastante habilidosa. Ela até tentou me matar, justo a idiota que dedicou todo seu amor à ela... — Octavia riu secamente, antes de passar os dedos pela cicatriz que tinha no peito. — Mas quando vi que ela estava prestes a matar Hylla e tinha se esquecido de mim, com dificuldade eu me levantei, fui até Jessie e antes que ela desse o golpe final em Hylla, eu atravessei minha espada pelas suas costas a acertando bem no coração. Jessie cambaleou um pouco para o lado, perdendo seu equilíbrio, indo até a beirada do penhasco e antes de cair ela fez questão de me amaldiçoar com suas últimas palavras.
O filho de Apolo piscou diversas vezes totalmente atônico e incrédulo pelo o que Octavia tinha acabado de lhe contar. Uma pequena parte de si pensou que a Stone poderia estar mentindo para lhe manipular, mas uma grande parte de si mesmo acreditava veemente nas palavras da filha de Ares. Conhecia Octavia muito bem ao ponto de saber quando ela estava falando a verdade ou não, poderiam ter se passado sete longos anos, no entanto, ainda sentia um sentimento de confiança para com a garota.
Por mais que ela insistisse em dizer que não era a mesma garotinha, a qual conheceu e se tornou amigo, Will sempre a veria como a mesma de sete anos atrás.
Mesmo que uma parte do seu cérebro insistisse para manter um pé atrás com Octavia, ele simplesmente não conseguia dar as costas para ela ou fingir que não ligava. Poderia estar até mesmo surpreso por ver alguém que conhecia e nutria um carinho especial ser capaz de matar alguém tão friamente, mas algo o fazia se prender à Octavia, por mais que não soubesse o que era.
— E foi isso que aconteceu! Então não diga asneiras nesse tom como se eu fosse a louca psicótica que matou a namorada sem nenhuma razão plausível. Porque nem você, Andrew, e nem não faz a mínima ideia do maldito inferno que minha vida se tornou desde que deixei o Acampamento há sete anos! — Esbravejou. — Se Jessie fosse a mocinha não teria deixado essa cicatriz em mim!
Sabia que quando Octavia lhe chamava pelo nome do meio, significava que ela estava mais do que furiosa consigo, pois mesmo quando crianças ambos eram assim. Quando estavam bravos ou furiosos um com o outro, Will a chamava de Lucrécia, enquanto ela lhe chamava por Andrew.
E ouvir essas duras palavras saírem da boca da Stone, lhe fizeram se sentir péssimo internamente ou não mais o ser mais desprezível entre todos.
Não era de seu fetiche julgar as pessoas sem ouvir sua versão antes, mas quando viu o cadáver de Alison e Octavia parecer não se importar em tirar uma vida, a imagem da garotinha que conheceu havia completamente desaparecido e ele havia chegado a conclusão que talvez não conhecesse tanto a filha de Ares como pensava. Muitos anos haviam se passado, talvez eles tiveram afetado o caráter da doce e gentil Octavia que conheceu e isso o deixou desolado internamente ao mesmo tempo em que permitiu que o sentimento de desconfiança e de julgamento lhe dominassem.
E ao permitir que isso acontecesse, não conseguiu controlar suas palavras acusatórias e o tom ácido, do qual utilizou para proferi-las.
Apesar de ainda se sentir um pouco traído por Octavia ter continuado viva e escondida, enquanto ele e o chalé cinco permaneciam de luto por sua falsa morte, sabia que deveria ter alguma razão plausível para justificar o que tinha feito. Ouvir aquele relato sair dos lábios da Stone só o fez perceber o quão errado estava sobre ela e que Octavia estava certa: ele realmente não sabia ou sequer fazia a mínima ideia do que ela poderia ter passado nesses últimos anos. E constatar isso só o fez se sentir ainda mais culpado.
***
Os olhares de pena que recebeu de Hazel e Frank quando viram suas cicatrizes e as deformidades em suas costas, apenas serviram para irritá-la ainda mais. Odiava quando isso acontecia quando alguém viam suas marcas. Todos sempre faziam as mesmas coisas: a olhavam e a viam como uma coitadinha e isso lhe tirava do sério.
Ela não era uma coitadinha digna de pena. Não precisava disso ou muito menos de compaixão.
Ninguém realmente via Octavia como ela queria que fosse vista por carregar aquelas marcas: uma guerreira e uma sobrevivente que exibia suas cicatrizes como um soldado que exibe orgulhosamente suas medalhas. Mas não. Nenhuma pessoa jamais a veria dessa forma. E tinha certeza que quando se virasse para Will e o loiro também visse as marcas, ele também lhe olharia do mesmo jeito que Hazel e Frank e de todas as coisas que poderiam acontecer certamente essa era a última coisa que precisava lidar.
Por um momento, sentiu um misto de emoções confusas lhe invadirem e lhe corroer por dentro ao contar o realmente tinha acontecido com Jessie. Se sentia culpada, envergonhada e ao mesmo tempo com um ódio avassalador. Sabia que tinha sido imprudente por se expor vergonhosamente dessa maneira a dois estranhos e ao amigo de infância, o qual estava acostumado com uma imagem eternizada da doce e pura garotinha que um dia já foi e tinha sido morta com a mãe. Mas, quando tomou consciência do que tinha feito, já era tarde demais. E mais uma vez a Stone se deixou ser dominada pela raiva e agiu sem pensar.
Sem mencionar que ainda por cima tinha tirado sua camiseta só para se expor ainda mais ao revelar suas cicatrizes. Não deveria ter feito isso.
Mais uma vez sua imprudência a colocaram em uma situação desgastante e frustrante.
— Octavia eu... — Will começou, mas um barulho repentino de galhos sendo brutalmente esmagados e torcidos; ecoou por todo recinto, sendo acompanhado por rosnados familiares, algo que atraiu a atenção de todos, principalmente de Octavia que fez uma careta.
— Merda! — Xingou ao encontrar as íris vermelhas familiares encarando todos, enquanto era camuflado pela escuridão da floresta e os arbustos grossos e gigantes. — Meu sangue derramado deve ter os atraído!
— Seu sangue? — Frank a questionou.
— Sou uma heráclida, idiota! Sangue fresco de heráclida sempre atrai mais monstros e a podemos dizer que a vadia da Alison me fez vomitar uma boa quantidade de sangue durante nossa luta. — Respondeu grosseiramente, não se importando nenhum pouco com isso, seu olhar foi instintivamente até Will e sem pensar duas vezes Octavia estendeu o braço para o loiro, que ao segurá-lo, o puxou com força para ajuda-lo a se levantar.
Poderia estar ainda completamente irritada com Will, mas não ao ponto de deixa-lo para morrer.
Sem ao menos pensar e se deixando levar pelos instintos de sobrevivência, Octavia pegou rapidamente o arco e a aljava os atravessando pelo seu ombro desnudo e os colocando bem ali, para caso precisasse futuramente e não estivesse desarmada. Como odiaria ficar vulnerável em território desconhecido e inimigo.
Tinha se esforçado tanto para despistar os filhos de Licaão com o incêndio e logo usando corvos para forjar sua localização, mas infelizmente Octavia era uma heráclida e os heráclidas sendo ou não semideuses eram capazes de atrair uma quantidade maior de monstros, estes que ficavam completamente agitados quando sentiam o cheiro de sangue fresco de um descendente de Hércules quando o líquido era derramado.
Ter uma linhagem forte e instável como a que os Stones tinham não era uma dádiva, mas sim uma maldição, pois eles eram os verdadeiros imãs para monstros. Sempre estariam fadados a atrair uma enorme quantidade de bestas maior do que a média dos semideuses normais.
Isso era um pesadelo.
Como esperado os rosnados começaram a ficar cada vez mais altos na medida em que os outros lobos surgiam e seus olhos vermelhos começaram a se multiplicarem pela escuridão e nesse momento Octavia apenas gritou:
— Corram!
Os quatros rapidamente se viraram para trás e começaram a correr pela floresta escura, enquanto mais uma vez eram perseguidos pelos lobos famintos atrás de si próprios. O silêncio da floresta noturna era quebrado pelos inúmeros rosnados e grunhidos dos filhos de Licaão atrás de si próprios, as bestas se amontoavam uma nas outras como leões famintos perseguindo suas presas pelas savanas africanas. Octavia podia ouvir também o som violento que era ouvido quando as patas dos lobisomens se chocavam contra o chão, fazendo-os parecer algum tipo de ciclope ou gigante dado à força do som do impacto contra o solo.
O vento praticamente se chocava contra o rosto da Stone assim como galhos e arbustos que arranhavam sua pele brutalmente dado pela pressa da correria para salvar a própria vida. Acreditava que sua situação não era tão diferente da de Will, Frank ou Hazel, mas definitivamente era ela que estava se ferindo mais ao atravessar violentamente os arbustos e os galhos que estavam em sua frente, pois ainda estava sem sua camiseta e só de sutiã, o que deixava sua pele mais exposta e vulnerável aos arranhões e cortes.
Seu cérebro não estava funcionando muito bem, era como se tivesse dado pane ou algo do tipo, pois não conseguia pensar com clareza ou sequer bolar algum plano válido que os ajudassem a sair daquela situação. Mas quando a única coisa que podia exterminar os lobisomens era a prata, algo que sequer eles tinham em abundância, ficava muito difícil de pensar em algo que os livrassem dessa situação. Afinal a chance de conseguirem escapar com vida eram mínimas ou quase inexistentes quando se tinha apenas um canivete de prata contra uma alcateia gigantesca.
Isso seria uma grande piada.
Octavia pulou um grande tronco de árvore que havia caído no chão e estava em seu caminho. Quando aterrissou com os dois pés no chão, os olhos da Stone vagaram até o final dos numerosos arbustos vislumbrando algo do qual poderiam ajudá-los a se livrarem dos lobos.
— A ponte! — Gritou quase sem fôlego. — Vão todos para a ponte!
Não sabia se todos tinham ouvido seu grito, afinal os quatro pareciam ter se distanciado um dos outros durante a fuga, mas no fundo do seu peito Octavia torceu para que sim. Para que todos tivessem a ouvido e provavelmente já entendesse o súbito plano que havia surgido em sua mente quando olhassem para aquela ponte velha feita somente de cordas amarradas em tábuas de madeira.
Existia um risco de que aquelas tabuas estivessem podres ou que as cordas já estivessem gastas o suficiente para não suportar o peso dos quatro quando a atravessassem, mas era um risco que eles precisavam correr, porque não havia outra opção para eles.
Enquanto corria até a ponte que ligava dois extremos de dois penhascos, do qual se aproximavam gradativamente mais, Octavia foi capaz de ouvir o som de cigarras cantando e logo a noite parecia se extinguir aos poucos tornando tudo roxo claro. Quando rapidamente seus olhos encontraram com o céu, antes noturno, a garota se deparou com o próprio crepúsculo do amanhecer, com um traço pequeno e alaranjado surgindo aos poucos no céu. Não demoraria muito para que logo o dia surgisse e quando isso acontecesse a Stone esperava que eles estivesse já do outro lado do penhasco e sem lobos famintos os seguindo.
Quando Octavia atravessou a última parte do que restava vegetação da floresta, logo entrando no campo aberto com gramas curtas e próximas do penhasco, a Stone logo se sentiu completamente aliviada por ver a cabeleira loira de Will correndo até ela. Talvez se não estivessem correndo por suas próprias vidas, a garota o abraçaria já se esquecendo-o porquê de estar tão furiosa com o filho de Apolo há alguns minutos atrás.
Entretanto, Will não foi o único a aparecer, logo as silhuetas familiares de Frank e Hazel também surgiram no campo de visão de Octavia e todos eles seguiam para o mesmo caminho que ela tinha indicado anteriormente: a ponte.
Sequer a Stone precisou olhar para trás para saber que os lobos estavam se aproximando cada vez mais deles, por isso se esforçou ao seu máximo para correr ainda mais rápido até a entrada da ponte.
Frank e Hazel haviam sido os primeiros a entrarem na ponte e atravessá-la, Octavia havia ido depois deles, a garota estava com tanta pressa em atravessar que por um momento, a filha de Ares pisou em falso em um dos vão entre as tábuas de madeira que a fizeram se afundar e cair de cara nas outras tábuas, que a obrigaram ver a gigantesca altura absurda, da qual estavam de um grande rio com águas turbulentas e cheias de correntezas mortais que cortavam e separavam os dois penhascos um do outro.
E nesse momento eles estavam contando com a sobrevivência através daquela ponte mal feita e antiga.
Octavia não tinha tempo para chutar a altura que estavam, mas já tinha uma teoria de que se eles caíssem daquela altura sob a água, saberia que muito provavelmente a água teria o efeito de pedra sob seus corpos e as pontes de hidrogênio ao serem rompidas de maneira errada poderiam fazer uma pressão forte o suficiente para quebrar todos os ossos de seus corpos. Era uma equação simples de pura física e química, as quais eram as matérias favoritas da Stone, por sinal.
Não teve muito tempo para continuar com sua distração, pois logo sentiu uma mão quente familiar lhe tocar pelas costas nuas e outra envolver seu braço, a ajudando-a a se levantar. Sentia o peso no olhar de Will em suas costas. Droga. Ele tinha as visto e ainda estava as tocando. Se estivessem em outra situação excepcional, Octavia imediatamente teria retirado à mão dele dali com um forte tapa, pois a única pessoa que permitiu tocar suas cicatrizes antes por acaso havia sido a mesma que tinha lhe partido o coração: Jessie Jones. E a filha de Ares odiava quando alguém tentava tocar suas marcas doloridas, esse era um momento de fraqueza e vulnerabilidade que jamais se permitiria sentir ou passar novamente. Mesmo que a pessoa fosse Will.
Ela já tinha se machucado demais ao se permitir ser vulnerável, mas como agora se tratava de vida ou morte, a garota tratou logo de ignorar a corrente elétrica que atravessou seu corpo quando sentiu Will a tocar ali. Sequer se permitiu ficar furiosa pelo olhar de piedade que sentiu do loiro, pois estava mais preocupada em salvar sua própria pele do que se importar com essas coisas tolas. Os lobos estavam ali a espreita e se aproximavam.
— Tudo bem? — Will ousou lhe perguntar quando lhe ergueu, mas Octavia apenas balançou a cabeça assentindo de forma afirmativa sem sequer possuindo coragem para encará-lo.
Hazel e Frank pareciam estarem completamente alheios ao que aconteciam atrás deles, apenas focando e se concentrando o suficiente para seguirem seus próprios caminhos pelo restante da ponte. Acreditava que eles sequer tinham percebido seu deslize de tão focados em fugir pela própria vida.
Octavia agradeceu aos Deuses por não ter nenhuma fobia de altura, pois se tivesse certamente já teria desmaiado dramaticamente pela grande altura que se encontravam. A passagem pela ponte era longa e completamente gigante, o que significava que precisavam ter cuidado. Não demorou muito para simplesmente surgir uma súbita e violenta rajada de vento que havia aparecido praticamente do nada, fazendo a ponte balançar com as cordas bambas, os obrigando a se segurarem firmes nas cordas que não passavam segurança alguma, mas aquilo era melhor do que nada, pois se não estivessem segurando, muito provável teriam sido arremessados para fora da ponte e caído no rio abaixo deles.
Octavia e os outros foram obrigados a terem um forte jogo de cintura rígido e manterem os pés firmes e colados junto às tábuas de madeira ao ponto de se equilibrarem devidamente para não serem arremessados ou caíssem da ponte, graças ao forte vento. Foi inevitável não gritarem um pouco mais pela surpresa repentina.
Por um momento, a Stone temendo que isso só os atrasasse mais, ousou inclinar o corpo um pouco para o lado com os olhos um pouco espremidos para que os vento não os maltratassem com as poeiras e vestígio de terras que carregavam. Pois, nesse momento seria horrível ficar com os olhos irritados por algum grão de pó, quando se está sendo perseguidos por monstros famintos.
A filha de Ares olhou para além da silhueta de Will atrás de si própria, procurando pelos filhos de Licaão, estes quais estavam os perseguido anteriormente, acreditando veemente que eles não tardariam em lhes alcançar, pois agora estavam sendo atrasados pelo vento. Mas algo surpreendente tinha acontecido diante de seus olhos, bem ali no amanhecer.
Octavia até mesmo tinha chegado piscar os olhos repetidas vezes para ter absoluta certeza do que estava vendo era real e não algum fruto da sua imaginação ou alguma peça que sua mente exausta estava lhe pregando.
Os lobos tinham se juntado em uma fileira horizontal completamente organizada, bem ali diante do lugar de campo aberto onde tinham passado antes de adentrarem na ponte. Os olhos vermelhos como o sangue os encaravam ainda mostrando tamanha era a sede por destroça-los um a um.
Eles rosnavam e grunhiam em conjunto, mas ainda sim, diferente do que esperavam, eles não estavam atacando ou ameaçando um ataque iminente como tinha ocorrido da primeira vez. Não. Dessa vez algo estava errado. Errado o suficiente para os lobos não lhes perseguirem pela ponte. Os filhos de Licaão pareciam que estavam esperando por algo, mas o que seria? E Octavia conseguiu perceber isso antes de qualquer um do grupo.
Não deveria se incomodar com aquilo, talvez poderia até acreditar que o destino estava sendo completamente gentil e bondoso com eles ao fazer os lobos não os atacar, mas, infelizmente, quando se era um semideus, você sempre saberia que a sorte jamais estaria a seu favor. E que quando uma coisa está fácil demais, é porque algo está muito errado.
Octavia sabia disso e então quando novamente virou sua cabeça para frente, ainda vendo Frank e Hazel insistindo em atravessar a ponte mesmo com a forte rajada de vento. Eles pareciam completamente inquietos e agitados, loucos para sair dali e só nesse momento Octavia percebeu que a morena a sua frente estava com os joelhos tremendo e completamente apavorada. E nesse instante, a Stone conseguiu compreender o que de fato estava acontecendo ali.
Nunca tinha pensado que os boatos poderiam ser verdadeiros. Até mesmo chegou acreditar que era uma bobagem inventada. Mas, agora, vendo com seus próprios olhos Octavia viu que realmente os boatos eram nada mais que a mais pura verdade. Filhos de Pluto e Hades pareciam ter mesmo medo de altura. Talvez porque o domínio dos céus e até mesmo do ar fosse completamente exclusivo de Zeus e de seus filhos; e estar em um território que possivelmente pertencia ao seus tios os deixava desconfortáveis e nos casos mais extremos até mesmo com medo.
E pelo que se lembrava do seu tempo no Acampamento, Thalia Grace tinha fobia de altura, mesmo sendo filha de Zeus.
Algo que de fato estava acontecendo diante de seus olhos.
Em uma situação normal certamente Octavia teria feito chacota da Levesque sem pensar duas vezes, mas como esse não era o momento certo para dá uma de valentona, a garota se manteve calada e desviou o olhar para o outro extremo do próximo penhasco que estava diante de seus olhos e a espera de cada um deles ao atravessarem. Mas algo estava errado e teve plena certeza disso quando viu várias sombras surgirem praticamente do nada bem na saída da ponte, bem à frente deles.
— Parem! — Octavia gritou em um tom de ordem para Frank e Hazel que pararam de andar e lhe obedeceram, antes de virarem suas cabeças para trás a encarando em buscas de respostas pelo seu súbito e inesperado comando. — Olhem para frente, agora! — Praticamente gritou e seu irmão romano e a namorada dele fizeram o que ela mandou.
Um som de surpresa inesperada foi emitido pelos lábios carnudos de Hazel e isso pareceu ser a confirmação necessária para o que Octavia temia internamente, a deixando-a irritada e em completo estado de agitação.
O conjunto de sombras negras que pareciam ser uma espécie de fumaça, se remexiam, dançando completamente inquietas em pleno ar e não demorou muito para que daquelas sombras, três silhuetas surgissem com sorrisos diabólicos e perversos estampados em seus lábios, enquanto os encaravam mortalmente.
— Não pode ser! — A filha de Pluto, exclama totalmente em choque pelo o que estava vendo.
— Isso... Foram viagens nas sombras? — Frank perguntou como se não acreditasse no que seus olhos tinham acabado de presenciar.
Eram dois caras e uma garota alta no meio deles. Os dois rapazes eram altos e musculosos, ambos tinham um pouco de traços diferentes, mas se pareciam bastante, assim como também se pareciam com a garota no meio deles. Todos os três tinham as mesmas características: cabelos negros lisos, olhos completamente escuros e uma pele extremamente clara.
Quando o olhar de Octavia vagou para as espadas que os três carregavam em suas mãos e a Stone imediatamente detectou o material de que eram feitas, algo que fez o ar completamente esvaziar de seus pulmões. As três lâminas das espadas eram completamente negras e só de olhar para elas, Octavia sentia um forte calafrio involuntário lhe atravessar pela espinha.
Ferro estígio.
— Filhos de Hades... — Sussurrou completamente incrédula pelo o que tinha acabado de dizer, porque era realmente inacreditável que Hades tivesse outros filhos, pois diferente dos irmãos ele tinha sido o único a cumprir o juramento do Estige, mas pelo visto ele parecia ter quebrado o juramento também.
Apenas filhos de Hades podiam utilizar o metal divino do ferro estígio. Todo idiota sabia disso e Octavia melhor do que ninguém também sabia.
O choque dos quatro eram mais do que evidente, mas a expressão surpresa deles só não duraram muito, pois o som irritante de bater de palmas foram ouvidos por todos eles. O som era tão irritante e repetitivo, que os quatro viraram suas cabeças para trás, se esquecendo por um momento dos filhos de Hades diante deles, e se concentrando na origem do som.
Bem ali, atrás deles no outro lado do penhasco — o qual havia fugido e onde estavam exatamente os lobos — estes logo abriram passagem entre os lobos para uma figura familiar para Octavia aparecesse e pudesse passar tranquilamente entre os filhos de Licaão sem sofrer nenhum ataque ou ameaça, porque no fundo ambos eram aliados no final.
Era o mesmo garoto loiro, alto, bronzeado e com olhos verde mar que estava com Barba Negra na ágora, quando havia sido levada, tinha aparecido bem ali. O garoto era alto, musculoso, mas emanava uma aura assassina. Ele batia palmas incansavelmente com a mesma expressão cruel em seu rosto, juntamente com um sorriso psicótico desenhado em seus lábios.
— Octavia Stone! — Ele gritou seu nome ainda sorrindo. — Finalmente nos conhecemos! Já estava me sentindo o excluído da turma por não fazer a mínima ideia do quão insignificante você era!
Octavia o encarou com os olhos cheios de raiva.
— E você quem seria? O coringa? — Debochou não conseguindo controlar sua língua afiada. — Deve ser mesmo o coringa, com essa cara de palhaço que tem, é a única explicação plausível. O que está fazendo perdido aqui? Cansou de apanhar do Batman? Porque se for o caso, posso resolver isso.
Por incrível que parecesse, seu deboche parecia não feito qualquer efeito no rapaz, que ainda a encarava com sua melhor expressão psicótica. Ele tinha continuado completamente inabalável.
— Eu sou Jacob Lewis, filho de Poseidon. — Essa informação havia não só pegado Octavia, mas como também tinha pego todos ali de surpresa. — Vejo que já conheceram meus primos e agora que já fomos devidamente apresentados... — Deu uma pequena pausa. — Podemos finalmente começar a festa, espero que vocês deixem as coisas interessantes e divertida para nós, porque odiaríamos saber que são tão fácies de matar, antes de mutilarmos vocês vivos... Sabem... Meus primos e eu gostamos de ouvir os gritos...
***
Estar em uma situação de visível vulnerabilidade não agradava nenhum pouco Octavia, afinal a regra sempre foi clara para qualquer filho de Ares: nunca se permita estar em uma situação desfavorável ou isso poderia significar sua morte certa. Na guerra não há compaixão ou misericórdia, sempre era matar ou ser morto e agora, a Stone sabia qual era a sensação de estar em uma situação desgastante da qual se encontrava.
Eles estavam cercados de todos os lados. Não havia escapatória.
Agora Octavia provavelmente sabia como um rato se sentia quando se era cercado por felinos, pois era exatamente o que estava se passando consigo mesma.
Jacob se aproximava da entrada da ponte com um sorriso sádico em seus lábios e ao olhar por de trás acima de seu ombro, Octavia também viu os filhos de Hades se aproximarem. O que ela poderia fazer? Sua mente praticamente gritou e implorou por uma resposta válida e digna, mas a ideia de usar suas flechas não lhe parecia tão agradável quando não se tinha espaço o suficiente ou uma boa estabilidade para atirá-las sem correr o risco de errar.
Hazel, Frank e Will estavam assumindo suas posições de defesa prontos para entrarem em conflito se fosse mesmo necessário, pois eles sabiam melhor do que ela que estavam em uma posição bastante desfavorável e vulnerável. O olhar perdido de Octavia foi para baixo, os olhos avelã se fixaram no vão entre as tabuas onde estavam seus pés fixos e a garota apenas viu as águas violentas e turbulentas que pairavam abaixo deles.
Aquela era uma escolha arriscada. Mas enfrentar filhos de Hades e um filho de Poseidon sem suas habilidades divinas já era quase um suicídio, então porque não tentar? Mesmo Jacob sendo um filho do deus do mar, assim como o Santo Jackson era, poderia significar que eles já estariam praticamente perdidos por saltarem em um rio, mas não havia escolha e em situações extremas, medidas radicais deveriam ser tomadas.
Octavia rapidamente sacou sua espada para fora de sua bainha e então sob os olhares surpresos de Hazel, Frank e Will, a filha de Ares desceu a afiada lâmia de bronze celestial sob as cordas da ponte, as quais foram cortadas numa facilidade absurda. Mas assim que as cordas arrebentaram ao serem ceifadas pela espada da Stone, de uma só vez e sem aviso prévio, Octavia e os outros caíram sob as águas turbulentas do rio abaixo deles, no mesmo instante em que os primeiros raios solares do dia surgiam.
Foi inevitável que alguns gritos fossem sufocados, mas logo a longa e bruta queda contra as águas do rio foi o suficiente para conter os gritos surpresos. Octavia sentiu sua pele ser abraçada pela água gelada quando se chocou nela durante a queda, mas logo tratou de emergir de volta para a superfície sugando o máximo de oxigênio que conseguia e seus olhos estavam completamente arregalados assim como seus sentidos estavam desalinhados e fora de orbita.
A única coisa que conseguia fazer ou pensar era em Will.
Octavia tentava olhar para todas as direções em busca do amigo, mas sempre que fazia isso mais forte à água da correnteza era jogada em seu rosto, fazendo-a tossir e se engasgar. O dia havia nascido e só o pouco dos raios de sol eram o suficiente para irritar os olhos da Stone, que se debatia na água e tentava lutar contra a forte correnteza que a puxava contra sua vontade.
— Octavia! — Ouviu alguém lhe chamar, mas não soube distinguir quem era o dono da voz, logo a garota sentiu seus braços serem rodeados por inúmeras mãos, das quais a puxaram para fora da água e a colocaram em sua superfície sólida.
A filha de Ares cuspiu mais um pouco de água, antes de tossir freneticamente e só quando a tosse parou, foi o momento em que Octavia pode respirar com tranquilidade e abrir os olhos com tranquilidade para tentar assimilar o que estava acontecendo. Sentiu e reconheceu mais uma vez o toque quente de Will em seu ombro direito, o que a fez se sentir um pouco mais tranquila e segura o suficiente para levantar o olhar e se perceber que tanto ela como Frank, Hazel e Will estavam navegando pelas corredeiras do rio sob um tronco grosso e grande de uma árvore qualquer.
E assim como ela, os três também estavam ensopados devido à queda repentina provocada por ela. Ao menos nenhum deles demonstrava estar com os ossos quebrados ou ferimentos, isso era um bom sinal, a seu ver. A espada de bronze celestial, a qual havia usado para assassinar Alison e cortar as cordas também tinha desaparecido, era mais do que certo que Octavia havia a soltado quando cortou as cordas da ponte. A espada provavelmente teria se perdido entre as águas violentas do rio.
Ainda com a luz do sol aquecendo sua pele, foi inevitável não olhar para a ponte onde estavam alguns minutos atrás, vendo a luz do dia banhar os filhos de Hades e o filho de Poseidon, os quais permaneciam parados os encarando. Assim como os filhos de Licaão fizeram anteriormente. Mas nada e nem ninguém tirava o sentimento de mau presságio que invadiu o peito da Stone quando viu que Jacob estava tranquilo, com uma expressão serena o suficiente para lhe dar um sorriso.
Ele poderia até não ter ido atrás deles naquele momento. Poderia até ter permitido que escapassem através das águas do rio, mas no fundo Octavia sabia que isso tudo que estava acontecendo fazia parte do planejado. Jacob não demoraria a ir novamente atrás deles.
***
Enquanto todos aproveitavam da extensão gigante e grossa do tronco em que estavam para descansarem e até mesmo dormirem um pouco depois da madrugada turbulenta e problemática da qual todos tiveram e estavam completamente exaustos.
Octavia não sabia o que estava acontecendo como ou porque, mas a Stone tinha começado a ter um sonho estranho.
Nesse sonho Octavia tinha perdido seu braço direito, como se o membro tivesse sido completamente mutilado sem piedade, e estava debruçada sob uma sombra desconhecida. Não tinha rosto ou silhueta. Era nada mais do que sombras e escuridão. Mas isso não era o mais perturbador do que ver que estava com uma espada atravessada contra seu peito pelas costas, vendo si própria sangrar e perder uma grande quantidade de sangue não só pelos lábios como também pelo sanguinário ferimento no peito.
Logo, a filha de Ares ficou espantada ao reconhecer a arma que havia a ferido sendo nada mais que a própria espada sagrada de Hades. E isso sequer era a parte mais assustadora. Estava cuspindo sangue novamente quando ouviu a sombra que estava por debaixo dela, falar consigo própria:
— Por que... Porque fez isso? Sacrificou-se por mim? — Ouviu a sombra perguntar e um sorriso com os dentes completamente sujos de sangue apareceu nos lábios de Octavia.
— Não... Fique se... Achando, idiota... — Disse com dificuldade. — Meu... Corpo... Ele se moveu... Sozinho... — As palavras saíram com dificuldade por seus lábios, antes da espada ser retirada do seu corpo e um pequeno grito de dor sair pelos seus lábios.
Seu corpo então perdeu completamente a sua sustentação, fazendo Octavia despencar para o lado e antes de perder completamente a consciência a última coisa que viu foi Will aparecendo em seu campo de visão totalmente desesperado e gritando e depois disso tudo ficou completamente escuro.
Ela tinha morrido.
Com a respiração totalmente descompensada, Octavia acordou bufando e com os batimentos cardíacos acelerados. Rapidamente seu olhar vagou pelo tronco em que estavam flutuando sob o rio, procurando conforto em algum rosto familiar, mas para seu desespero interno, a filha de Ares não encontrou ninguém e isso a deixou louca.
Estava prestes a começar a gritar em busca de Will, Frank e Hazel, mas ao ouvir uma doce canção que lhe era perigosamente familiar, ela então parou de gritar e chamar por seus companheiros.
Você está indo à Feira de Scarborough?
Salsa, sálvia, alecrim e tomilho
Mande lembranças àquele que vive lá
Ele outrora foi o meu verdadeiro amor
Diga a ele que me faça uma camisa de cambraia
Salsa, sálvia, alecrim e tomilho
Sem nenhuma costura ou trabalho com agulha
E ele deverá ser meu verdadeiro amor
Diga a ele para lavá-la a seco
Salsa, sálvia, alecrim e tomilho
Onde a água surgiu e a chuva nunca caiu
E ele deverá ser meu verdadeiro amor
Octavia balançou a cabeça para todos os lados possíveis tentando descobrir de onde estava vindo aquela canção, se esquecendo do súbito desaparecimento de seus companheiros, mas não encontrou nada. A água do rio estava calma, diferente de quando haviam pulado da ponte, assim como os locais das vegetações próximas do rio e a pior parte é que não existia ninguém.
O que em nome dos Deuses estava acontecendo?
Diga a ele para me comprar um acre de terra
Salsa, sálvia, alecrim e tomilho
Entre a água salgada e a areia do mar
E então ele será meu verdadeiro amor
Você está indo à Feira de Scarborough?
Mande lembranças a aquele que vive lá
Ele outrora foi o meu verdadeiro amor
Mais uma vez a canção com uma melodia lenta e até mesmo com uma voz angelical, que por alguma razão fazia Octavia se sentir completamente em paz e espantava qualquer sentimento de raiva ou preocupação com os companheiros que haviam desaparecido subitamente, como se não se importasse mais com eles e como se eles não significassem nada.
A música funcionava como um calmante natural e aos poucos a estava enfeitiçando como se alguma sereia ou sirenas estivesse a cantando e lhe seduzindo gradativamente.
Claro que conhecia a canção sendo a tão famosa e mítica "Scarborough Fair", a qual era uma canção tradicional da Grã-Bretanha com uma origem um tanto duvidosa e totalmente misteriosa. E como parte da família de Octavia era inglesa, ela conhecia a história e a música. Muitos afirmavam que provavelmente a canção havia sido criada na era medieval por um autor também desconhecido, já que nessa época as músicas não levavam créditos, elas eram cantadas por bardos da era medieval e iam passando de cidade em cidade.
Existia uma crença popular que muitos diziam na Inglaterra que as fadas gostavam dessa canção e sempre que podiam a cantavam enfeitiçando suas vítimas que caiam feito patinhos em suas travessuras, para depois as fadas lhes cortassem a garganta e desaparecesse com seu corpo em um lago próximo. Era apenas um mito popular dos resquícios da cultura celta que a Grã-Bretanha carregava até os dias atuais, mas que uma vez correu o risco de ser completamente extinta quando os Romanos invadiram e dominaram a força o território para expandir o Império na época.
— Are you going to Scarborough Fair? Parsley, sage, rosemary and thyme. Remember me to the one who lives there. For once he was a true love of mine. For once he was a true love of mine. — Instintivamente e sem sequer ter algum controle sob seu corpo, Octavia cantou um verso da música sem ao menos se dar conta do que havia feito, pois estava enfeitiçada e não fazia a menor ideia do que estava fazendo.
E então bem ali diante de seus olhos, subitamente a água do rio começou a ser erguida e de repente todas as partículas e gotas de água estavam flutuando em pleno ar, antes de começarem a se unirem uma juntamente a outra e então rapidamente a água começou a ter a forma de os traços precisos de uma silhueta, antes de assumir uma forma precisa feminina nua feita completamente de pura água. Aquilo poderia ser algo inacreditável ou até mesmo assustador para um mortal se ver, mas não para um semideus.
A mulher de água então encarou Octavia que havia sido enfeitiçada pela ninfa e sorriu com desdém.
— Então você é Octavia Stone? Ouvi falar muito de você, criança. — A doce voz ecoou pela mente da garota enfeitiçada. — Nunca antes existiu algo ou alguém como você... O que você é? Grega? Romana? Egípcia? Nórdica? Ou seria apenas uma inglesa impura? — Perguntou a mulher visivelmente ansiando pela resposta que não veio. Isso a irritou. — Responda-me! — Ordenou utilizando seus poderes sob a Stone, que imediatamente fez o que lhe foi ordenado.
— Eu não sei o que sou... — Octavia respondeu automaticamente ainda presa no feitiço do transe. — Quem é você? — Perguntou involuntariamente com um olhar vazio e sem vida.
A ninfa sorriu de maneira fria, mas mesmo assim a respondeu.
— Quem eu sou? Bom. Por muitas eras recebi diversos nomes diferentes e assumi diversas formas alternativas. Possuo vários nomes. Sou Nimue para os Celtas, Vivianne para os Romanos e popularmente conhecida também como: A Dama do Lago. — Sua expressão aquática tinha ficado pensativa por um momento, enquanto seu longo cabelo feito de água era balançado pelo vento, flutuando magicamente pelo ar. — Mas agora diante de você, sou Vivianne filha de Diana, Deusa Romana dos bosques e da caça. E como pode ver, sou uma ninfa.
— Porque está aqui?
— Queria ver com meus próprios olhos a próxima herdeira da Excalibur, afinal apenas um filho ou legado de Ares ou Marte pode empunhá-la. E sim, o antigo dono da lâmina, Arthur Pendragon, era neto de Marte. Mas isso não importa, agora... — A mulher de água deu uma pausa. — Até porque um dia você virá até mim, criança, quando perceber que a única forma de salvar aqueles que ama é tomando o poder da Excalibur. E nesse momento você ainda não está pronta.
Mas um dia estará...
Oi, oi, oi gente! Tudo bem com vocês?
Como prometido aqui está esse capítulo gigante que fiz especialmente para vocês!
IRRAAAAAAAA QUERIAM TIRO? QUERIAM SURTO? QUERIAM CAPÍTULO COM MAIS DE 10K DE PALAVRAS?! ENTÃO TOMA MOÇADA!
E spoiler esse capítulo nem será metade do surto dos outros capítulos que estão por vir. Aiii amo causar esses surtos em vocês! Vocês nem acreditam!
E aí o que acharam do julgamento do Frank, Hazel e Will contra a Octavia? Acharam que eles estavam certos e que a Octavia pode ter exagerado um pouco? E também o que estão achando do nosso quarteto de semideuses sobreviventes? AQUI É JOGOS VORAZES PÔ!
EEEEEEE TEREMOS MAIS FILHOS DOS TRÊS GRANDES VERSÃO MALIGNA SIM UHUUULLLLL EU NÃO DISSE QUE NÃO ERA COM A ALISON QUE CÊS TINHAM QUE SE PREOCUPAR?! Eu vos apresento Jacob Lewis o maior Chernobyl da fic até agora e atual namorado da cadela da Jessie. É FOGO NO FENO BRASIL!!!!
E sobre esses sonhos? Alguma teoria gente? To super animada!
E antes que comecem a falar sobre a Diana (versão romana da Ártemis) sobre ser castra e assim... Não gente. Não. Ártemis nem sempre foi uma Deusa castra e o próprio Rick disse isso quando eu fui ler o próprio livro que ele estudou e se interessou por mitologia grega, sou meio obcecada com mitologia então podem me julgar. Tem a versão da lenda do Rei Arthur onde a Dama do Lago que era conhecida pelos celtas como Nimue, mas quando os Romanos chegaram a Britânia (Assim era chamada a Grã-Bretanha na época) eles começaram a chamar Nimue por Vivianne e a consideravam filha de Diana.
Por mais que no universo oficial do Tio Rick ele não tenha adotado essa versão da Ártemis sem ser castra, aqui eu vou trazer essa versão dela não castra, até porque convenhamos eu acho legal essa ideia de Ártemis, Hera ou até mesmo Héstia terem semideuses. É bem interessante ao meu ver.
" Originalmente, a arma de Poseidon era um raio. Ártemis nem sempre foi uma deusa virgem. O caduceu de Hermes poderia converter as pessoas em pedra. E aquelas serpentes ao redor do cajado? No final das contas, não se tratava de serpentes." — Rick Riordan em Atraves do Espelho de Afrodite do livro Os Mitos Gregos de Robert Graves.
Enfim, esse foi o desabafo de hoje. Espero que tenham gostado de verdade do capítulo e logo vou voltar com mais capítulos.
Não se esqueçam de votar e comentar, sim??
Beijos e até a próxima. <3
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