Capítulo 6
Ao se despedir de Hylla e Calypso após o episódio da praia, Octavia seguia novamente seu caminho de volta para a sua cabana com as mãos totalmente ensanguentadas que carregavam um cervo morto recentemente caçado por ela mesma. Tinha que confessar para si mesma que odiava caçar, mas às vezes era necessária a prática caso ela não quisesse passar fome juntamente com os irmãos, entretanto, dessa vez a filha de Ares não estava caçando para si mesma ou para algum de seus irmãos, mas sim, para Fiver.
Sabia que seu dragão precisaria de energia e força para o dia seguinte, no qual Octavia e seus irmãos iriam para o extremo leste atravessando o continente por completo. Aquela tarefa seria bastante exaustiva para Fiver e tinha essa consciência, por isso, decidiu alimentá-lo bem para que assim ele pudesse ter energia de sobra.
O cervo que carregava em seu braço, deixava um rastro de sangue por onde ela passava. Mesmo a filha de Ares lhe provocando uma morte rápida e indolor com uma flecha cravada em seu peito, a carcaça do animal ainda sangrava muito. A espécie que abateu era nada mais que um veado-vermelho, um animal grande e com cerca de duzentos quilos, mas para Octavia que o carregava com facilidade aquilo não era nada. Ela era uma descendente de Hércules, um legado de Júpiter e herdou a força monstruosamente assustadora do herói grego. A Stone era tão forte que só com um soco ela poderia pulverizar a rocha mais dura e resistente do mundo, assim como seus irmãos também poderiam.
Sentia suas roupas úmidas pela recente mergulhada no mar ficarem ainda mais ensopadas pelo sangue do animal. Definitivamente precisaria de outro banho para se limpar de uma vez.
Assim que terminou sua caminhada para o alto da colina. Os olhos de Octavia percorreram a cabana que estava com as luzes totalmente apagadas dando indícios que seus irmãos já haviam ido dormir e quando virou a cabeça para o lado logo avistou Fiver adormecido tranquilamente embaixo de um carvalho grande e bem velho que existia ali, próximo à morada temporária dos Stones na ilha.
Quase quis sorrir bobamente ao perceber o quão fofo seu dragão ficava ao dormir. Mortalmente fofo. Uma vez que se Fiver sentisse uma presença estranha próxima a si, sabia muito bem que ele estraçalharia qualquer coisa viva em mil partes e depois a devoraria sem pensar duas vezes, mesmo sendo seu amigo e parte da família, o dragão ainda era um animal selvagem e feroz e não hesitaria em matar qualquer pessoa desconhecida que se aproximasse dele.
Fiver era um dragão com habilidades excepcionais e muito mortais. Sabia disso desde que Hera o havia lhe dado quando ainda era apenas um ovo, o primeiro rosto que ele havia visto pela primeira vez foi o de Octavia e de seus irmãos, por isso o réptil confiava e era fiel aos Stones cegamente. Dragões crescem rápido, Fiver tinha apenas seis anos de idade e já era um gigantesco e assustador dragão, mesmo que ainda fosse considerado uma criança em comparação a muitos de sua espécie.
Octavia ao se aproximar, fez Fiver despertar imediatamente, ele provavelmente havia sentido sua aproximação dadas às vibrações que o chão expelia de seus passos. Répteis sempre são sensíveis demais às vibrações do solo. Ou pelo menos, foi isso que sua avó lhe ensinou. O dragão logo ergueu sua cabeça juntamente com o seu pescoço grande, enquanto encarava Octavia com seus olhos azuis intensos e mexia a cabeça para os lados inquietamente como se fosse uma forma de demonstrar sua curiosidade.
- Tome, trouxe para você. - Disse soltando o cervo morto no chão, bem na frente de Fiver. - Vai precisar de energia para amanhã, grandão.
Após isso, Octavia se afastou e tratou de se sentar perto do seu dragão, apoiando suas costas contra as escamas que expelia calor. Sem perder tempo ou fazer cerimônia, Fiver logo abocanhou um grande pedaço do cervo morto dilacerando com seus dentes afiados e mortais. Pedaços do cervo eram deglutidos com satisfação e a grama que estava úmida pelo sereno da madrugada foi tingida de vermelha pelo sangue do animal.
O cheiro forte de sangue e a visão de Fiver desmembrando pedaço por pedaço do cervo poderia ser capaz de fazer o estômago de qualquer um revirar ou provocar náuseas, o que não era o caso de Octavia, pois já estava acostumada com tanta selvageria e ferocidade do réptil ao se alimentar.
A luz da lua cheia iluminava perfeitamente aquela noite, deixando tudo mais claro e nítido. Poderia ser uma bela paisagem para ser pintada em uma tela, mas a filha de Ares já não fazia isso há muito tempo. As únicas vezes que voltava a pintar era quando ensinava a Liv e a Gus tudo que sua mãe havia ensinado para ela em relação à pintura e a desenhos, pois eles eram os únicos de seus irmãos que realmente demonstraram afinidade com a arte.
Sentia em suas costas, o estômago de Fiver mexer várias vezes, o que indicava que o movimento peristáltico do sistema digestivo do seu dragão estava fazendo seu trabalho de digestão. Mas isso não incomodava Octavia, na verdade, eram poucas as coisas que lhe incomodava quando estava na presença do seu companheiro.
Fiver Bigwig Stone. Esse foi o nome que havia dado a ele. Em homenagem aos seus dois personagens favoritos do livro "Em busca de Watership Down" que eram os coelhos Fiver, o fofo e gentil, e Bigwig, o valentão e mal humorado. Octavia o considerava, o verdadeiro caçula da família ao invés de Liv, pois Fiver era muito mais do que só um bichinho de estimação ou um guardião, ele era da família.
Sua avó, Hera, foi quem lhe deu o ovo de Fiver, filho do seu leal servo o dragão Ladão, que tinha função de guardar o jardim das Hespérides lugar no qual existia a árvore das lendárias maças douradas da imortalidade. Ainda se pegava completamente confusa sobre o qual motivo sua avó havia decidido ser tão benevolente e gentil com ela e seus irmãos, pois além de lhes darem o ovo de Fiver, Hera havia também prolongado suas vidas para que a previsão das parcas não se cumprisse e para que os Stones não morressem ao completarem doze anos.
Algo estava errado. Sempre soube disso. Deuses nunca eram bondosos sem terem alguma sujeira por detrás de sua "bondade". Na verdade, deuses nunca se importavam com mortais ou tampouco com seus filhos meio-sangue. Eles eram os exemplos de perfeitos de péssimos e ausentes pais. Sempre egoístas e só se importando com o próprio umbigo. Octavia sabia que a "ajuda" e o "presente" de Hera tinham seu preço e certamente era um preço alto que a filha de Ares teria de pagar quando a deusa dos casamentos viesse lhe cobrar.
Hera. Hades. Zeus. Atena. Octavia tinha dívida com todos os quatro deuses. Hera por lhe ajudar. Hades por ela ter o envergonhado dentro de seus domínios. Zeus por não lhe mandar de volta para o submundo. Atena por ter ajudado Calypso a pedido seu. Suas dívidas com os deuses pareciam só aumentar perante aos anos e no fundo a filha de Ares sabia que o preço seria certamente caro demais para que pudesse quitar seus débitos totalmente.
Na maioria das vezes, Octavia se pegava pensando como sua vida poderia ter sido se não fosse uma meio sangue. Se seu pai fosse só um vagabundo qualquer ausente que nunca pagou pensão ou ajudou os filhos em alguma coisa. Não que isso fosse muito diferente do que seu pai e os outros deuses sempre foram na verdade, mas talvez só pelo fato de não ter sempre monstros lhe perseguindo ou querendo sua cabeça por nascer da união de um deus com uma mortal.
Tudo poderia ser tão simples.
Tudo seria tão mais fácil.
E sua mãe estaria viva...
Mesmo estando ali em Temiscira, era como se Octavia fosse capaz de voltar para aquela noite... À noite na qual sua vida mudou... Era capaz de ouvir os gritos desesperados da sua mãe e os gemido agonizante de seus avós, ela parada totalmente em choque vendo aquela cena e não fazendo nada para impedir. Mas ela era uma criança, mal tinha amadurecido suas habilidades de filha de Ares e nunca tinha presenciado tal barbárie em toda sua vida... Já seu pai... Dizia tanto que amava sua mãe e não fez nada para protegê-la ou salvá-la... Ele sequer protegeu os próprios filhos da fúria da amante, Afrodite... Ares sequer impediu a amante de brincar com os sentimentos de Octavia... Porque deveria perdoá-lo? Porque ela deveria não odiá-lo?
Não tinha motivo...
Ares era o culpado de sua desgraça. Ele e sua amante. Mas um dia Octavia se vingaria de Afrodite e do seu pai. Um dia os fariam sangrar. Mas por enquanto que esse dia não chegasse, Octavia se contentava em só vislumbrar sua vingança dos assassinos da sua família.
Octavia tombou sua cabeça para trás e seu olhar se fixou no céu noturno e escuro. Instintivamente sua mão ainda suja pelo sangue seco do cervo, foi até o a grande cicatriz que tinha em seu peito no lugar exato onde ficava seu coração, deslizando os dedos por aquela cicatriz se lembrando de memórias das quais deveria ter esquecido há muito tempo...
Jessie... Seu primeiro amor e também a primeira pessoa que partiu seu coração. Pensava que seu primeiro amor foi o filho de Hades, cujo nome Octavia já não se lembrava mais, porém ela estava enganada. O que ela achava que sentia pelo filho de Hades era nada do que além uma ilusão boba. Uma fantasia... Já o que sentiu por Jessie... Foi amor... Algo lindo, incrível, maravilhoso e que no final a destruiu...
Assim como Octavia, Jessie também cresceu na corte amazona. Ninguém sabia quem era seus pais. Ela era órfã. As duas sempre treinavam combate, esgrima e arco e flecha juntas. Elas eram inseparáveis. Até que no dia do aniversário de quatorze anos da filha de Ares, Jessie lhe deu um presente. Um beijo. Um beijo inesquecível e que foi o estopim para que Octavia se declarasse e, pela primeira vez em muitos anos, também se abrisse com alguém que não fosse Hylla. Jessie a havia feito baixar suas defesas, sua guarda e a deixou vulnerável.
Octavia a amava incondicionalmente. A colocava em um pedestal e a idolatrava como se fosse alguma deusa grega. Havia feito planos para elas no futuro e... Ela era tão estúpida... Tão patética... Se lembrar da garota que era há dois anos atrás, a fazia se sentir péssima. Como pode ser tão tola?! Pensar que só por um segundo ela poderia ser feliz e ser amada?! Sentia ódio, raiva e se culpava por deixar Jessie se aproximar, por acreditar nela e por todas as coisas que a garota havia lhe dito.
Era claro que Afrodite não deixaria Octavia em paz. Nunca deixaria. Afinal Ares havia chegado amar mais sua mãe, Helena, uma mortal, do que a deusa que foi acusada de adultério perante todo o olimpo por amar o deus da guerra, aquilo era uma afronta para a deusa do amor. Afrodite nunca deixaria Octavia em paz e tampouco seus irmãos, eles eram a prova do "amor" que Ares sentia por Helena, algo que era um insulto para a deusa. A existência deles em si, já era uma grande ofensa para a deusa do amor.
Sua namorada era filha de Afrodite, que a pedido da mãe, fez Octavia se apaixonar por ela, só para a Deusa ter o divertimento de ver sua filha partindo o coração e humilhando a filha de Ares. Além disso, Jessie traiu suas irmãs amazonas, feriu César, tentou matar Hylla e quase matou Octavia, a cicatriz em seu peito era um lembrete desse fato. Porém antes do golpe final da filha de Afrodite, Octavia foi mais rápida e atravessou sua espada contra o corpo de Jessie e após isso, a filha de Ares viu a única pessoa que mais amou no mundo cambalear um pouco para trás, até se aproximar da beirada e cair do alto penhasco.
Jessie estava morta. E o coração de Octavia também estava.
Era estranho para a filha de Ares. Ser capaz de amar tanto alguém, ao ponto desse amor se converter em um ódio tão monstruoso e profundo... Nunca conseguiria entender o porquê Jessie se rebelou contra suas irmãs amazonas, atacou Hylla e César... O pobre irmão de Octavia... Uma criança que quase morreu por traumatismo craniano dada a pancada forte que Jessie havia lhe dado. "Ninguém machuca minha família e saí vivo". Esse sempre foi o lema de Octavia.
"Ninguém machuca minha família e saí vivo, mesmo se for alguém que amo." - Pensou.
Por mais que não entendia o motivo pelo qual Jessie se rebelou, Octavia entendia o porquê ela partiu seu coração. Esse sempre foi o "rito de passagem" do chalé 10, o chalé dos filhos de Afrodite, fazer alguém se apaixonar por eles e depois partir seus corações, como se eles não fossem nada. Como se você nunca tivesse significado nada para eles.
Amar alguém deveria ser considerada a coisa mais perigosa do mundo, pois essa é a forma de te destruir e matar lentamente, enquanto você acredita veemente e ingenuamente que isso está lhe fazendo bem, quando na verdade... Só está te matando...
Octavia bufou e balançou a cabeça para os lados na tentativa de se livrar de tais pensamentos e lembranças. Não adiantava ou mudaria os fatos ficar remoendo tais acontecimentos. Já aconteceu. Já passou. Já acabou. Para evitar que pensamentos e lembranças daquele tipo, a filha de Ares, tratou logo de retirar o diário de Rech de um dos seus bolsos da sua calça de moletom.
Seus olhos castanhos fixaram atentamente contra a capa e seus dedos passearam por ela, sentindo não só a textura, como também a agonia da pessoa que teve a pele esfolada para no fim, virar capa de um diário. Octavia nunca gostou de guerras, por mais que sua experiência fosse arranjar brigas ou disseminar o caos, entretanto quando assunto era guerra... A Stone já sentia seu estômago embrulhar de nervoso.
Guerras nunca eram benéficas, nunca eram em prol de um bem maior ou de uma conquista justa, era só uma carnificina ou genocídio desnecessário em prol de ambições humanas ou rivalidades estúpidas. Guerras sempre traziam mortes desnecessárias e conflitos desnecessários. Durante a segunda guerra titã, Octavia não participou e sequer permitiria seus irmãos participarem, a guerra contra Gaia, os Stones também não participaram.
Neutralidade. Era isso que os manteve vivos e longe de encrencas. Até mesmo Ares, seu pai, era neutro perante guerras, pois o Deus da guerra e da violência não ajudava ou apoiava nenhum dos lados em conflitos, apenas os instigavam em lutarem e se matarem até deixar um rastro de destruição por onde passavam.
Uma guerra sempre será uma guerra, não importa se você tem ou não boas intenções. Pessoas sempre vão morrer e você não poderá fazer nada para salvá-las ou ajuda-las.
Sem mais delongas, Octavia tratou de abrir o diário. Como o esperado, todas as palavras estavam codificadas por um dialeto que misturava grego antigo, nórdico e latim. Diferente dos outros semideuses; nenhuns dos Stones eram disléxicos ou tinham TDAH, eles eram uma exceção à regra dos típicos meio sangue. O avô de Octavia era um grande historiador e arqueólogo, ele ensinou muito para a garota sobre história, mitos e até mesmo dialetos antigos.
Geralmente a maioria das pessoas subestimavam os filhos de Ares dizendo que eram só trogloditas que possuem mais músculos do que cérebro, bem, até que por um lado elas estavam certas. Mas Octavia não era esse tipo de filha de Ares. Ela era manipuladora, estrategista, calculista e até mesmo muito perigosa. A Stone sabia que há jeitos mais inteligentes de se fazer várias coisas além da força física e claro... Aumentar sua força e suas habilidades.
Um grande poder poderia até vir com um grande preço a se pagar. Entretanto, Octavia era muito ambiciosa e estava disposta a conseguir poder pelo preço que fosse. Ela precisava disso para proteger seus irmãos. Ela precisava ficar forte. Ficar invencível. E o meio mais rápido de conseguir isso, era decifrando os diários nazistas de Rech.
Folheando algumas páginas, até parar em uma que lhe chamou a atenção pelo título: "Como controlar metais através do corpo humano".
Octavia ajeitou a postura e uniu suas sobrancelhas confusa, até começar a ler o que a página dizia. Estava tão acostumada a decifrar os dialetos de Rech, que automaticamente as palavras se organizavam em sua mente de uma maneira completamente legível e clara.
Tão atentos quanto os olhos de um felino vagaram pela página, lendo minuciosamente cada palavra. Cada letra.
"Berlim, 27 de janeiro de 1940.
O experimento quarenta e três mostrou que pode ser capaz de manipular metais através do corpo humano. Aqueles com a metalocinese podem ser capazes de expandi-la e moldar a técnica ao seu favor. O corpo humano sempre precisou de metais para regular seu metabolismo enérgico e o próprio sangue humano precisa de ferro para manter suas células nutridas.
Meu meio irmão conseguiu manipular metais através dos corpos de pequenos roedores, algo que é um avanço, mesmo Arnold, meu meio irmão, precisando de grande concentração e foco, para conseguir controlar os metais que existem nos corpos dos ratos, na próxima semana vamos começar os testes em humanos e se tudo funcionar bem teremos um novo trunfo contra os filhos de Zeus e Poseidon. Podemos garantir nossa vitória nessa guerra.".
Octavia ao descer os olhos para o final da página que dizia: "Experimento quarenta e três foi um sucesso." E logo após essa frase existia algumas instruções sobre como realizar a técnica com eficácia, com a condição circulada diversas vezes em caneta escura: "A técnica só pode ser realizada em terceiros, não funciona em si mesmo".
Folheando o diário para as próximas páginas, outro título chamou atenção da Stone. "Experimento setenta e seis: necromancia avançada".
"Auschuwitz, 27 de março de 1940.
Os filhos de Poseidon e Zeus se isolaram na Inglaterra, daqui posso sentir o cheiro de medo deles e posso garantir que fede. Logo invadiremos a França e tomaremos Paris juntamente com os filhos de Hades. Os experimentos estando indo bem, porém, o experimento setenta e seis é o mais preocupante. Alguns filhos de Ares e Marte podem ser capaz de invocar e controlar soldados e guerreiros mortos para lutarem ao seu lado. E se conseguirmos fazer um dos meus meios irmãos invocar um exercito?! Se conseguirmos tal façanha certamente ganharíamos a guerra.
Spencer, também um filho de Ares, morreu poucas semanas depois de tentar conjurar mais de dez soldados. Ele não suportou a carga alta de poder e adrenalina secretada pelo seu corpo durante os testes com a necromancia. Subitamente ele começou a sangrar pelos olhos, orelhas, nariz e boca sem parar, foi uma trágica hemorragia que conseguimos conter a tempo, porém após a utilização dessa habilidade, Spencer não conseguiu manter os soldados mortos-vivos por muito tempo e seu corpo inteiro ficou paralisado.
Na enfermaria estávamos cuidado bem do seu corpo. Injetamos mercúrio em suas articulações misturado com néctar, para potencializar sua capacidade de cura, no entanto, de repente o rosto de Spencer foi coberto por veias salientes negras, ele se debatia e gritava sem parar, então seus globos oculares incharam ao ponto de explodirem juntamente com seu cérebro. Ainda não sabemos o que deu errado no experimento. Mas pretendo descobrir o mais rápido possível e corrigir o erro. Faremos novos testes no próximo mês, estamos tão perto! Chegamos tão perto de invocar um exercito de guerreiros mortos-vivos! Não podemos falhar! Não podemos desistir! Não podemos perder essa guerra!".
- Necromancia avançada... - Sussurrou Octavia já foleando as próximas páginas do diário procurando em outras folhas para descobrir se às tentativas de Rech havia funcionado ou não.
***
Mal se lembrava da última vez em que esteve em Los Angeles e sequer se recordava do quanto barulhenta era a cidade. Afinal, gostando ou não, ela estava na cidade mais famosa da Califórnia, conhecida não só pelas Sunset Trip eletrônicas nas praias e por revelar grandes astros de Hollywood, mas também por ser uma cidade bastante turística e famosa. A música ressoava alta pelos fones de ouvido do ipod de Octavia, ajudando-a relaxar e respirar fundo tranquilamente perante todo aquele caos que era Los Angeles.
Temiscira não era um lugar próximo dos Estados Unidos, a viagem demorou longas horas. Fiver precisava descansar, seus irmãos precisavam esticar as pernas e Octavia precisava apender a voltar a andar de novo sem sentir suas nádegas doerem após horas sentada sob as escamas desconfortáveis do seu dragão.
Como seu traseiro estava dolorido...
Fiver havia trocado do tamanho de um prédio de vinte andares para seu tamanho normal de cinco metros. Rapidamente os Stones não perderam tempo em escondê-lo em um velho galpão abandonado no subúrbio da cidade, livrando de todo o peso das bagagens que o dragão carregava durante o trajeto para deixá-lo descansar pelo menos por quatro horas. Octavia havia usado suas habilidades com a metalocinese para selar as gigantescas portas de aço do lugar para que nenhum desavisado ou bisbilhoteiro entrasse ali, pois caso isso acontecesse, Fiver não hesitaria em matar e se alimentar do pobre afortunado que cruzou seu caminho.
Agora, já no centro da cidade, os Stones se encontravam escondidos em um beco qualquer conversando e repassando o plano que Octavia, com a ajuda de Augustus, havia criado.
- Vou pegar o dinheiro na joalheria e vocês vão para o Burger King em Santa Mônica e fiquem por lá! Não saiam de lá em hipótese nenhuma, ouviram?! - Octavia disse. - Sem voltinhas por aí para explorar. - Encarou fixamente César e Augustus. - Sem ida ao parque de diversões. - Seu olhar se voltou para Lívia. - Sem querer ir à praia para ver os surfistas gostosões. - Foi à vez de encarar Julian e Victória com um olhar censurador. - E, pelo amor dos calções mal lavados do nosso pai, sem brigas ou confusões, ouviram? Marcus?! - Os olhos castanhos da mais velha, parou sob o caçula dos trigêmeos, que arregalou os olhos e apontou para si mesmo se fingindo de ofendido.
- Porque eu?! Eu sou o mais santo em comparação com os outros! Você está difamando minha imagem, Lucrécia!
- Você santo?! Rá! - César debochou. - Se você é o mais santo, nosso pai é a Beyoncé.
- Disse o anão de jardim da branca de neve! - Rebateu Marcus.
- Ei! Não é legal fazer piada com a altura das pessoas, seu babaca!
- Ui! Olha só quem ficou bravinho!
- Já chega! - Octavia berrou. - Se continuarem com essa palhaçada... Irei amarrar vocês dois, um junto ao outro, durante a viagem toda e só solto quando chegarmos à Long Island! Fui bem clara? Tito?! Lúcio?! - Chamou os nomes do meio de César e Marcus, enquanto os encarava com um olhar irritado.
Marcus e César olharam para baixo contragosto disseram juntos:
- Sim Tavy...
- Ótimo! - Bufou. - Victória está no comando até eu voltar. A respeitem e façam tudo o que ela disser. Não se separem. Fiquem juntos o tempo todo e se algum monstro aparecer... - O coração de Octavia se apertou. - Vocês, todos vocês, me chamem pela marca, mas quero que corram e se escondam até eu chegar! - Seus irmãos estavam prestes a protestar, mas Tavy elevou sua mão para o alto, enquanto os encarava com um olhar sério, os obrigando a ficar em silêncio. - Não discutam! Apenas façam o que eu digo e pronto! Não estão preparados para combate! Vocês podem se machucar ou até... - mesmo morrer... Completou a frase em pensamento se acovardando em dizê-la em voz alta. Afinal que tipo de irmã mais velha queria dizer isso para seus irmãos caçulas?!
Octavia respirou fundo. Odiava a ideia de deixar seus irmãos sozinhos longe de seus olhos e de sua proteção. Mas... Dessa vez ela realmente precisava ir. Precisava arrumar dinheiro com Mark e resolver toda a burocracia de se arrumar identidades falsas e passaportes. Gostando ou não. Eles estavam em um país que era pouco receptível a imigrantes, principalmente a latinos americanos. Claro que Octavia poderia se livrar de roubadas assim, com suas habilidades de meio sangue, mas não era uma boa ideia chamar atenção fora do acampamento, pois isso atrairia ainda mais monstros.
Ajeitando a jaqueta de couro que usava e dobrando as mangas até aos cotovelos. A Stone segurou seu pulso direito com a mão esquerda de forma possessiva.
- Agora vai começar a parte que mais gosto... - Ouviu Julian resmungar baixo para Vick que ao seu lado concordou com a cabeça.
Respirando, uma, duas, três vezes. A filha de Ares tentou clarear a mente ao ponto de deixa-la completamente vazia. Sentiu seus membros superiores se enrijecerem e fixou seu olhar na sua palma da mão direita. O ar ao redor da palma aberta de Octavia começou a rodar cada vez mais rápido como se um pequeno tornado houvesse surgido ali, ao ponto de rodopiar várias e várias vezes até a forma de um grande pedaço de pepita de ouro puro surgisse na sua mão direita.
- Invocação de metal... - Gus sussurrou. - Ouro, vinte e quatro quilates.
Quando o ouro tomou o formato desejado por Octavia, ela parou de molda-lo e logo o pequeno tornado se dissipou pelo ar, até desaparecer. Como se ele nunca tivesse existido. Metalocinese era um dom que poderia ser dividido em vários tipos de sub dons relacionados aos metais. Invocação e formação de metais a partir do uso dos gases que a cercava ao seu redor eram alguns deles.
- Dessa vez, acho que o Mark vai te dar uma nota preta por esse ouro. - Vick assobiou. - Vamos ficar ricos! - Comemorou.
Octavia não conseguiu evitar a formação de um sorriso de lado.
- Melhor não ter ideia... - A mais velha a cortou, enfiando a mão no bolso da jaqueta, tirando dali um emaranhado de notas de dólares enrolados por um elástico. - Perto do píer de Santa Mônica tem algumas barracas e lojas, comprem apenas o que precisar. Nada mais do que isso. - Jogou o bolo de notas para Vick, que as pegou imediatamente. - Tem quinhentos dólares aí, é todo o dinheiro que nos resta, então gastem com moderação e coisas relevantes, sim?
Todos assentiram.
- Ótimo! Encontro vocês às quatro e meia no Burger King de Santa Mônica.
***
- É sempre bom fazer negócio com você, Diana. - Mark sorriu alegremente brincando com o anel de ouro puro em seus dedos.
Octavia sorriu descaradamente.
- Obrigada Sr. Rupert. - Assentiu enquanto fechava a grande bolsa cheia de várias notas de dólares e colocando a alça da bolsa em seus ombros.
Mark Rupert era o dono de uma das joalherias mais caras dos Estados Unidos, na qual era sempre o alvo escolhido pelas pessoas mais requintadas e chiques de Los Angeles. A joalheria de Mark sempre era extravagante assim como seu dono. Ricos sempre são extravagantes. A Saturn - a joalheria -, além de vender joias caras, que custam certamente uma mansão em Malibu, oferecia champanhe do mais caro gratuitamente para seus clientes juntamente com aperitivos pequenos e chiques demais para encher o estômago de alguém que está com fome de verdade.
Nunca entenderia os ricos.
O Sr. Rupert era o cliente mais rico e o que pagava muito bem para Octavia lhe trazer grandes metais valiosos, dos quais ele pensava que ela mesma os escavava e os encontrava. Pobre e ingênuo Mark. Mal sabia ele que era a própria Stone que criava os metais preciosos que comprava. Era óbvio que a filha de Ares não usava seu nome verdadeiro para tratar de negócios, era arriscado demais usar o seu nome, por isso ela se denominava apenas como Diana Willians.
- Como sempre você nunca decepciona Willians. - Disse ele se inclinando para trás com sua cadeira de couro, colocando os pés sob a mesa. - Sempre me trazendo seus melhores metais, ouro e prata. - Mark ascendeu à ponta do seu charuto cubano, em seguida o tragando o mais rápido possível.
- O senhor também nunca decepciona com os pagamentos.
- Claro que não... Você merece... Trouxe para mim um quilo de ouro vinte e quatro quilates. Minhas joias vão vender como água. - Riu, enquanto uma das mãos alisava seu terno de pele de cobra. - Há uma mansão antiga, porém muito refinada, que está à venda em um dos bairros nobres de Londres. Estava ansioso para compra-la desde que foi anunciada à venda... - Fez uma pausa para beber seu conhaque.
Mark quando misturava cigarro com álcool, sempre soltava algum segredo podre para Octavia, que por alguma razão misteriosa do destino, o Rupert pensava que ela era sua confidente mais próxima. Claro que a filha de Ares poderia se sentir desconfortável ou até mesmo incomodada, mas a Stone se sentia totalmente o oposto daqueles adjetivos. Ela gostava de colecionar segredos. Pois segredos eram as armas mais letais que poderia se usar contra alguém.
- Dizem que a mansão foi alvo de um brutal assassinato dos membros da família e depois uma das alas pegou fogo, porém já foram reformadas... A policia londrina disse que provavelmente foi algum desses malucos que seguem o paganismo fizeram um sacrifício humano, para aqueles deuses estúpidos que tanto idolatram. Alguns falam que os herdeiros da grande fortuna daquela família estão desaparecidos até hoje...
Quase que imediatamente Octavia parou de mexer na droga do zíper da bolsa, prendendo a respiração com toda sua força e fechando os punhos com ferocidade. Imediatamente sentiu seus ombros se enrijecerem juntamente com seu maxilar.
- A mansão por acaso seria da falecida família Stone? - Ousou perguntar, mas por mais que aquela pergunta saísse naturalmente de seus lábios, por dentro Octavia sentia que havia levado um soco no estômago cada vez que cada uma daquelas palavras saísse por seus lábios. Sentia o frio na barriga lhe incomodar e a adrenalina correr solta pela sua corrente sanguínea.
Mark a encarou fixamente com seus olhos verdes idênticos ao de um predador, surpreso por ela saber daquela informação. Mas claro que ela sabia! Como não poderia?! Afinal ela estava lá quando tudo aconteceu...
- Exatamente essa. O que você acha?
As mãos da Stone tremiam de ansiedade e nervoso. Até mesmo sua respiração começou a ficar desregulada, como se uma grande pedra estivesse sob os pulmões de Octavia, a impedindo de respirar com facilidade. Mesmo perante a todo esse caos instaurado no seu interior, a garota forçou um sorriso e disse:
- É uma bela casa. - Disse. - Você tem muito bom gosto, Sr. Rupert.
***
As ruas de Beverly Hills jamais pareceram tão caóticas para Octavia como naquele momento. A garota retirou logo sua jaqueta de couro e apoiou as costas em uma parede qualquer daquele beco, na Avenida Sunset Blvd. Sentia seu corpo inteiro começar a suar frio e sua respiração só acelerar cada vez mais e mais junto com seus batimentos. Piscou algumas vezes tentando manter sua visão nítida, mas logo depois ela se tornava turva. Fazia tempos que não tinha uma crise de ansiedade, na verdade fazia anos... Hylla a ajudou com isso e Calypso também, mas agora, suas amigas não estavam aqui. Ela estava sozinha.
Tentou normalizar sua respiração, respirando e inspirando a cada três segundos. Seu estômago estava começando a causar aquele desconforto insuportável, fazendo a sua própria bile subir a garganta. Não queria vomitar. Odiava vomitar e ficar com o gosto insuportável e amargo na boca. Entretanto, Octavia não tinha muitas opções quando o vomito subiu rapidamente para a sua garganta, a garota virou o rosto para o lado, segurando o cabelo, e colocou tudo para fora de uma só vez.
Após tossir algumas vezes e respirar tranquilamente. A Stone esfregou o rosto, furiosa e chutou fortemente a lataria de uma grande lata de lixo, que desfigurou completamente o metal, perante a força monstruosa que ela possuía.
Droga. Droga. Droga!
Era óbvio que o estado iria vender todos os bens da família Stone, pois ela e seus irmãos ficaram desaparecidos por muito tempo. Muito tempo longe e sem dar sinal de vida. Tudo por culpa de Octavia! Tudo era sua culpa! Culpa pelos seus irmãos não terem um lar fixo, não terem os próprios quartos e ela ter que negociar ouro e prata com um joalheiro ricaço para que eles tiverem dinheiro o suficiente para sobreviverem, quando na verdade tudo seria mais fácil se Octavia lutasse contra seu orgulho e se revelasse para o advogado do seu avô, para que todos os bens que são dela e de seus irmãos por direito, voltassem para suas mãos.
Após dizer aquelas palavras para Mark, a Stone precisou inventar uma desculpa qualquer para fugir da Saturn antes que explodisse lá mesmo.
O que seu avô diria para ela quando visse de qualquer lugar ele estava que ela perdeu todo o patrimônio milenar dos Stones? Por puro orgulho e teimosia? A mansão Stone... Octavia tinha boas lembranças de lá, mas a única lembrança ruim que possuía era o dia do assassinato da sua mãe e seus avós. Antes tudo estava tão recente que a garota só quis se manter longe, mas agora...
Lorde Richard Henry Julian Stone, seu avô, dono de várias empresas com diferentes áreas de atuação econômicas espalhadas por toda Europa. Por alguns anos seu avô havia cursado arqueologia e história em Oxford, mas quando o pai dele morreu, Richard teve que mudar seu curso para que pudesse assumir e administrar as empresas deixadas por seu pai. Muitas pessoas diziam que sua avó, Lucrécia, só havia se casado com seu avô por interesse na fortuna dele e também por ela ser brasileira. Não é só nos EUA que existe uma forte xenofobia, até mesmo na Inglaterra existe e em vários outros países. Entretanto, sua avó, dizia-lhe que nunca se importou com o que as más línguas diziam sobre ela, tanto na Inglaterra quanto no Brasil. Aquele britânico de olhos azuis e cabelos loiros conquistou seu coração, durante a viagem dele pelo Brasil. Era o que ela sempre dizia.
Aquela mansão era importante para seus avós, pois foi lá em que eles se casaram, onde sua mãe nasceu e passou boa parte da infância lá. Todos os antepassados dos Stones sempre viveram lá, por mais que tivesse más lembranças do que havia acontecido na sala de descanso da mansão, Octavia sabia que sua mãe amava aquela casa tanto quanto o jardim recoberto por lírios e margaridas, as flores favoritas de Helena.
Sabia que se perdesse a casa e os bens da família, sua mãe e seus avós nunca a perdoariam sejam onde estivessem. Sabia que eles ficariam decepcionados com ela.
Por um momento, Octavia suspirou fundo e fechou seus olhos se lembrando de tudo que viveu naquela casa. Do quanto seu avô ficava em êxtase ao perceber a curiosidade e o fascínio dela, quando criança, por história e arqueologia. Da sua avó que sempre dispensava os empregados da cozinha, pois ela nunca se acostumou a ser tratada como "patroa" e sempre que podia ia para a cozinha fazer suas deliciosas receitas e o bolo de cenoura com cobertura de chocolate, que por acaso era o favorito de Octavia. Lembrou-se da sua mãe. Com os longos cabelos loiros e o sorriso radiante que ela tinha quando brincava com os filhos de "pega-pega" pelo extenso jardim da mansão.
Aquela mansão poderia simbolizar o lugar onde Octavia perdeu sua mãe e seus avós, mas no fundo do seu coração, ela sabia que não era bem assim. Por mais que lá tenha sido o fim de tudo, lá também foi o começo. Foi naquele lugar em que Octavia e seus irmãos viveram as melhores lembranças da família durante as férias e feriados em passava em Londres; foi lá que alguns deles (Stones) cresceram e era lá que era lar de todos eles.
Octavia esfregou o rosto com certa brutalidade para secar as lágrimas teimosas que escorriam pelo seu rosto. Não adiantava nada chorar. Eles se foram. Mas não podia deixar que as coisas que sua família mais amava se fosse também.
Com esse pensamento, Octavia voltou a vestir sua jaqueta de couro e saiu do beco onde estava para seguir seu caminho de volta para Santa Mônica e finalmente encontrar com seus irmãos. Durante o caminho pelas calçadas tão movimentada do bairro que era repleto de lojas caras e de grife sempre cheias por muitos turistas, deixavam até mesmo as calçadas um lugar turbulento para se andar pelo tráfego de pessoas de todos os lados.
Diziam que Los Angeles era a cidade para quem queira se reinventar. Ser uma nova pessoa. Deixar o passado para trás. A cidade dos anjos dos grandes artistas, tanto as estrelas de Hollywood, quanto os artistas de rua. Grafiteiros decoravam as paredes das ruas de Beverly Hills com suas lojas caras e mesquinhas.
Octavia parou de andar por um momento para apreciar um garoto que não parecia ser mais velho do que seus irmãos trigêmeos, que estava grafitando uma parede sem vida, a qual graças aos desenhos do rapaz passou a ganhar uma nova imagem. Arte sempre foi a grande paixão da sua mãe. Ela dizia que seu sonho era ter uma de suas obras expostas e imortalizadas em uma galeria mundialmente famosa. Mas infelizmente ela não estava aqui para ver o quanto sucesso suas obras de arte fizeram após seu assassinato.
As pessoas em si eram, em grande parte, hipócritas. Elas sempre amavam a tragédia e a destruição alheia. Caso isso não fosse verdade... Porque quando pessoas que morrem de forma trágica sempre conseguiam mais seguidores em suas redes sociais? Ou quando um astro da música pouco conhecido morre porque cometeu suicídio e as pessoas vão a todas as lojas musicas ou plataformas digitais para ouvirem sua música que antes em vida era tão desprezada? Ou no caso da sua mãe... Uma artista que só teve o reconhecimento que merecia após a trágica morte...
- As pessoas só começam a te dar valor quando você para de respirar... - Disse para si mesma, pensativa, enquanto mantinha o olhar fixo no grafite do garoto do outro lado da avenida.
Como estava distraída olhando para o grafite do garoto, Octavia sequer conseguiu prever ou evitar que um desconhecido a lhe tirasse sua bolsa cheia de dólares que Mark havia lhe pagado pelo seu ouro. Tudo aconteceu muito rápido. Em um momento a bolsa de Octavia estava pendurada no seu ombro esquerdo e no outro ela foi empurrada bruscamente para o lado tendo sua bolsa arrancada do seu ombro, só podendo ver um cara com o cabelo raspado e uma tatuagem de cobra no pescoço saindo correndo em meio às pessoas da calçada, as empurrando bruscamente, com a bolsa de Octavia em seus ombros.
A garota mal havia respirado ou raciocinado direito quando gritou:
- Ei! Seu filho da puta! - Gritou saindo em disparada atrás do cara com tatuagem de cobra, que ao ouvir seu grito havia se assustado e começado a correr mais rápido que podia.
A Stone corria e empurrava bruscamente as pessoas na calçada correndo atrás do desgraçado que havia lhe roubado. As pessoas na calçada gritavam e a insultavam ao serem empurradas bruscamente por ela. Logo, o cabelo castanho escuro de Octavia foi jogado para trás pelo vento dada a velocidade em que corria. Aquele ladrão não tinha chance. Se existia uma coisa que Octavia fazia melhor do que lutar era correr, sempre foi assim desde criança com as ninfas corredoras e as quais foram suas professoras no acampamento meio-sangue.
- Eu vou te pegar seu desgraçado! - Ameaçou quase se aproximando do ladrão, que se assustou ainda mais e em um ato de desespero, ao passar perto das bicicletas que estavam estacionadas na calçada, ele as derrubou todas de uma vez para que aquilo se tornasse um empecilho para que a garota parasse de lhe seguir.
Octavia, por sua vez, ao ver as bicicletas caídas no chão da calçada logo a sua frente, apenas começou a correr mais rápido e assim que estava próxima delas, a Stone deu um salto alto o suficiente para que ela conseguisse passar pela longa e extensa fileira de bicicletas tombadas e espalhadas pela calçada. Firmando as mãos contra o chão e dando uma cambalhota "bem feita" ao ponto de voltar a firmar os pés no chão rapidamente e voltar a correr atrás do ladrão.
Ele não podia fugir com seus dólares! Ela precisava daquele dinheiro!
Quando se aproximou perigosamente do ladrão, com o braço e a mão esticada em tempo de agarrar sua camisa e puxá-la para trás. O barulho alto de uma buzina a desconcentrou. Octavia logo ouviu o barulho agonizante do atrito do pneu contra o chão, fazendo-a ficar perdida. Quando olhou para seu lado, a filha de Ares, pela primeira vez, percebeu que estava no meio da avenida e que por muito pouco ela quase tinha sido atropelada.
- Sua maluca! - Ouviu o motorista do carro que quase tinha a atropelado, gritar saindo do veículo. - Não está vendo o trânsito, não?!
Octavia o ignorou, assim como também tinha ignorado as outras buzinas irritantes dos outros carros atrás daquele. Seu olhar predatório percorreu a sua volta tentando procurar o ladrão, mas nada encontrou. Sentindo a fúria lhe consumir pela a barulheira irritante do trânsito, pelas ofensas e falatório desnecessário do cara que quase a atropelou e por ter perdido de vista seu ladrão. Em tempo de explodir, a garota deu um forte soco na frente do carro, forte o suficiente para estraçalhar todos os vidros dos faróis os reduzindo a meros cacos, deixando o metal do para-choque totalmente amassado e destruído com um grande formato de V no lugar onde Octavia havia descido seu punho com força. A frente do jeep não passava de nada além de um metal retorcido e amassado até tocar o chão do asfalto, como se tivesse realmente batido bruscamente em algum poste de luz.
Octavia olhou ameaçadoramente para o dono veículo, que parecia estar em choque e perplexo demais pelo o que ela tinha feito com a frente do seu carro só com um simples soco.
- Vai encarar idiota?! - Perguntou com a voz carregada de raiva o olhando.
O homem por sua vez, estava tão perplexo e assustado que ao ouvir as palavras da Stone, apenas começou se afastar lentamente para trás, até que virasse para trás e começasse a correr totalmente apavorado entre os carros parados no trânsito. Sabia que talvez fosse uma péssima ideia chamar esse tipo de atenção de todos ali ao usar sua força monstruosa, inclusive, Octavia conseguia sentir o peso do olhar de muitas pessoas que haviam parado de andar na calçada, só para a verem destruir a frente do jeep vermelho. Ela mesma havia quebrado sua própria regra de "não chamar atenção".
Porém, aquele cara a tinha feito perder seu ladrão e ainda ficou a ofendendo, obviamente que ela não ia deixar aquilo barato. Octavia tinha um temperamento horrível e nenhum resquício de paciência.
Sem pensar duas vezes, a filha de Ares ousou subir no jeep que tinha acabado de destruir, até ficar de pé sobre o teto do carro. Ela já tinha chamado atenção demais com o seu soco, então o que seria apenas uma subida no teto de um carro? Em meio à avenida mais movimentada de Beverly Hills e repleta de pessoas que a encaravam como se ela fosse um alien ou uma maluca? Bem... Talvez ela fosse mesmo um pouco maluca...
Octavia de onde estava podia ter uma visão mais ampla e geral da Avenida e das pessoas que circulavam por ali. Seus olhos castanhos vagaram por cada canto ali, até ela reconhecer o ladrão que a tinha roubado andando tranquilamente, pensando que talvez a Stone tivesse desistido de lhe seguir e por isso andava calmamente e sem preocupação. Os olhos de Octavia o acompanharam até ele entrar em um beco há duas quadras dali.
Pobre ladrão... Ele havia mexido com a filha de Ares errada.
***
- Olha quanta grana! - Comemorou ao abrir o zíper da bolsa. - Mais uma otária se deu mal.
- Eu acho que não, seu filho da puta. - Disse Octavia que havia aparecido subitamente atrás do ladrão.
O homem rapidamente olhou para trás e arregalou os olhos, perplexo e surpreso por vê-la bem ali, atrás de si. Rapidamente ele fechou o zíper da bolsa e a jogou para trás tirando rapidamente do bolso da sua calça velha um canivete e apontando para Octavia.
- Tenho que admitir que você não seja mais uma das otárias que estou habituado a roubar. Você é persistente. Pena que isso vai lhe fazer perder a língua. - Ameaçou-lhe apontando o canivete para ela.
Só naquele instante ela percebeu que seus olhos eram castanhos como os dela, com alguns dentes podres ou faltando e com uma longa cicatriz desenhada do começo da sua testa até o final da sua bochecha direita. Ao olhar rapidamente para o pulso esquerdo dele, a Stone pode ver uma tatuagem de uma caveira totalmente quebrada com a sigla OTS, que significava Outsider. Seu ladrão, pelo visto, fazia parte uma gangue ao sul de Los Angeles.
Aquilo não poderia ser boa coisa.
- Então vai ser assim? - Questionou Octavia se aproximando perigosamente do ladrão, que continuou firme em sua posição, apontando o canivete para ela. - Te dou uma chance de devolver minha bolsa e sair ileso de uma briga que você certamente vai apanhar até sair chorando feito uma garotinha.
O ladrão sorriu debochadamente, mostrando seus dentes podres e alguns dentes com implante de ouro ou prata.
- Se quisesse receber ordens de uma mulher, teria me casado! - Umedeceu seus lábios com a língua. - Não sou um frouxo para ter medo de mulherzinha, garota. Além do mais, você que está em desvantagem aqui.
Octavia cerrou os punhos com força e sentiu seus ombros tensos. Estava começando a ficar irritada e quando ficava irritava... Ah... Alguém sempre saia sangrando e esse alguém, certamente, não era ela.
- Vou não só lhe arrancar a língua, como também vou... - Antes de terminar sua fala, a paciência da filha de Ares já havia se esgotado.
Rapidamente, Octavia segurou fortemente o pulso direito do qual o ladrão segurava seu canivete, com a mão esquerda, girou no sentindo anti-horário com o auxilio de sua força sobre-humana, até ouvir o "crack" do osso do homem se quebrar e vislumbrar a mão dele soltar o canivete, que caiu no chão do beco, o desarmando. Antes mesmo do gangster pudesse gritar de dor, o punho direito da filha de Ares acertou fortemente o seu pomo de adão em sua garganta, o deixando sem ar.
Quando o cara com tatuagem de cobra caiu de joelhos no chão, com a língua para fora, com uma grande dificuldade para respirar. Sua mão esquerda segurava firmemente seu pulso recém-quebrado, enquanto seus olhos castanhos olhavam assustados e surpresos para Octavia, que sem pensar duas vezes deu um forte chute na cara do ladrão, que após receber o chute, ele virou o rosto para o lado no instante em que o sapato de Octavia lhe atingiu, antes de cair desacordado para frente. De cara no chão.
- Mulherzinha... - Repetiu Octavia massageando seu punho direito, antes de se aproximar do ladrão desacordado no chão sujo do beco, tratando imediatamente de tirar a alça e sua bolsa perto daquele cara e a colocando de volta no lugar que ela nunca deveria ter saído: seus ombros. - Mexeu com a mulherzinha errada, seu otário. - Disse lhe mostrando o dedo médio antes de passar por cima dele para retomar seu caminho para Santa Mônica.
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