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Capítulo Extra: Meu Pai é o Mr.Catra da Mitologia Grega



Capítulo Extra: Meu Pai é o Mr.Catra da Mitologia Grega










Tive sonhos estranhos, cheios de animais-humanos selvagens. A maioria queria me matar. O restante queria comida. Extraterrestres querendo invadir a Terra. Grover sendo metade burro. Minha mãe sendo uma ninja de salto agulha. Professores querendo me matar e ainda uma Dr. E super esquisita.

Devo ter acordado várias vezes, mas o que ouvi e vi não fazia sentido, então adormecia de novo. Lembro-me de estar deitada em uma cama macia, sendo alimentado com colheradas de alguma coisa que tinha gosto de pipoca com manteiga, só que era pudim. Via a imagem turva da minha mãe com o seu cabelo loiro liso pairava acima de mim com uma expressão preocupada, enquanto limpava as gotas que escorriam do meu queixo com a colher.

Mesmo com a visão turva, vi uma mão pesada se apoiar no ombro da minha mãe. Minha mãe segurou a mão e deitou a cabeça sobre ela, enquanto a acariciava com sua bochecha. De alguma forma louca eu sabia que aquela mão grossa e pesada era de ninguém menos do que meu pai.

— Está na hora dela ir, Helena. — Era a voz do meu pai.

Minha mãe suspirou.

— Ela ainda é muito jovem. Não acredito que já consiga atrair tantos assim. E ainda não sei se estou preparada para ter aquela conversa com ela. Com todos eles.

Gemi um pouco.

— Mãe...? — A chamei, um pouco antes de voltar a apagar.





***





Quando finalmente voltei a mim de vez, não havia nada de estranho com o lugar ao meu redor, a não ser que era meu próprio quarto. Sei disso, porque o teto do meu quarto foi pintado por mim e pela minha mãe num tom azul escuro cheiro de pontinhos prateados que imitavam o céu noturno estrelado com inúmeras constelações conhecidas que meu avô estava me ensinando aos poucos.

Respirei fundo sentindo o cheiro agradável de lavanda que meu quarto tinha e ouvi algumas risadinhas, que me fizeram acordar rapidamente sentando de uma só vez na minha macia cama, antes de ver três pestinhas super ninjas pulando sobre mim, me derrubando novamente sobre a cama.

— TAVY! — Gritaram os trigêmeos em coro e em resposta eu gemi de dor.

— Fedelhos! Eu não consigo respirar! — Disse com dificuldade, deixando meus irmãos saírem um por um de cima de mim, que ainda sorriam travessos.

É, se já era difícil aturar Victória, imagina aturar três cópias idênticas? Igualzinho aquele meme. Posso copiar seu trabalho? Pode, mas não faz igual. E puff, e assim nasceram meus irmãozinhos trigêmeos. Você pensa que vai confundi-los o tempo todo, mas não é bem assim. Com o tempo e a convivência você sabe diferenciar exatamente cada um deles.

Os trigêmeos tinham o cabelo castanho tão escuro que as vezes era confundido com o preto, mas era só colocar os cabelos deles no sol, que você via o leve tom marrom. Eles tinham a pele como a minha, um pouco bege amarelada, não tinham a pele tão leitosa quanto a de nossa mãe — que era tão branca que dava para ver com facilidade as veias azuladas em sua pele —, ou como os demais Whittemore. Os olhos deles eram castanhos acinzentados, não eram como os meus olhos castanho escuro e os de Victória também. Eles tinham acabado de completar quatro anos em março, logo o aniversário de cinco anos de Vick estava chegando, já que ela fazia no inicio de agosto. E logo em Outubro, eu faria oito anos.

Voltei a me sentar na cama.

Mas Gus pegou e me abraçou com força pela minha cintura magricela, enterrando o rosto na minha barriga e comecei a ficar assustada, pois Gus estava tremendo e começou a chorar desesperadamente. Ele era o mais calado dos trigêmeos e não gostava muito de contato físico, ele ficava irritado e gritava feito louco se abraçássemos ou fizesse cócegas nele. Logo descobrimos que isso tudo se dava, porque Augustus, assim como nossa avó, tinha autismo, por isso respeitávamos o espaço de Gus e o mundo que ele vivia, pois caso não fizéssemos isso, ele ficava furioso, ao ponto de gritar e até mesmo nos atacar.

Uma vez Gus mordeu Victória e se escondeu em algum lugar do apartamento, porque nossa irmã estragou o toca disco de vinil que Gus gostava tanto de ouvir musica clássica, foi um acidente, obviamente, mas meu irmão estava convencido que ela tinha feito de propósito, ao estragar uma coisa importante para ele. Uma coisa que fazia parte do mundo dele.

Gus tinha um grande problema para compreender expressões figuradas ou ironias, por isso, mamãe e eu desenhávamos e fazíamos "cards" para que ele pudesse entender certas expressões, sentidos figurados e ironias. Como: "Victória está na lua", "O Julian é um anjo em comparação a Marcus", "A Tavy tem uma língua afiada" e outros do gênero. Mamãe e eu fazíamos desenhos para ilustrar o que realmente esses sentidos queriam dizer para que Gus entendesse com mais facilidade.

Então quando Gus demonstrava qualquer carinho ou afeto vindo dele, ficávamos felizes e emocionados, mas naquele momento, apenas fiquei preocupada com Gus estar chorando e soluçando, enquanto me abraçava. Ele quase nunca chorava assim, geralmente ficava irritado ou escondido em algum lugar, mas chorar dessa maneira foi a primeira vez que vi. Nem mesmo quando ele ralou o joelho pela primeira vez, Gus tinha chorado dessa maneira.

— Gus...? — Eu o chamei.

Marcus cruzou os braços e revirou os olhos.

— A mamãe cansou de dizer que você ficaria bem e mesmo assim ele não deixou de ficar preocupado!

Julian bateu na cabeça de Marcus.

— Não seja malvado com Gus!

Abracei Gus e beijei o topo da sua cabeça e dizendo que tudo ia ficar bem, porque eu realmente estava bem. Meu irmão se separou de mim, esfregando os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar e apenas assentiu com os lábios trêmulos, mas voltou a me abraçar com força. Acho que ele realmente não vai me soltar tão cedo assim. Isso não me incomoda, de qualquer maneira.

— Não estou sendo malvado Julius! — Marcus chamou Julian pelo nome verdadeiro, fazendo o mais velho dos trigêmeos dar uma careta desgostosa. Julian odiava seu nome verdadeiro, porque quando viu a estatua de Julius César em mármore na Mansão Whittemore, meu irmão ficou muito ofendido por seu nome ser em homenagem a um cara tão feio quanto Julius César. — Só estou dizendo que Gus não precisava ficar preocupado. A Tavy só dormiu por dois dias, mamãe disse que ela tinha sido enfeitiçada por uma bruxa má, mas o papai quebrou o feitiço.

Não consegui compreender exatamente o que Marcus disse ou quis dizer com aquilo, por ainda estar bastante desligada e desatenta ao que estava realmente acontecendo comigo, minha cabeça parecia que iria demorar bastante para funcionar perfeitamente.

Havia uma manta sobre as minhas pernas, um travesseiro atrás do pescoço. Tudo isso era ótimo, mas minha boca me dava à sensação de ter sido usada como ninho por um escorpião. A língua estava seca e pegajosa, e todos os dentes doíam. Sobre o criado ao lado da minha cama havia bebida num copo alto. Parecia suco de maçã gelado, com um canudinho verde e um guarda-chuva de papel enfiado em uma cereja. Meu corpo estava exausto como se tivesse sido atropelada por um caminhão. E minha cabeça doía muito, como se uma agulha gigante a espetasse repetias vezes, me obrigando a massagear minha têmpora.

Julian pegou o copo e me estendeu.

— Mamãe falou para você tomar isso.

Ele me ajudou a segurar o copo e eu levei o canudinho aos lábios.

Recuei com o gosto, porque estava esperando suco de maçã. Não tinha nada a ver com isso. Era gosto de bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Bolo líquido. E não qualquer bolo de cenoura — os bolos de cenoura com cobertura de chocolate da minha mãe com pedacinhos de chocolate entre o recheio laranja. Ao beber aquilo, meu corpo inteiro se sentiu bem, aquecido e cheio de energia. Antes de me dar conta, já tinha esvaziado o copo inteiro. Olhei para dentro dele e, com certeza, não era uma bebida quente, pois os cubos de gelo não tinham nem derretido.

— Você acordou! Graças a Pã! — Grover apareceu dentro do meu quarto com ninguém menos do que Victória montada em suas costas.

— PÔNEI! — Minha irmã gritou sorrindo, com um dente banguela.

Me lembrei do que tinha acontecido ou pelo menos era o que eu acreditava que tinha acontecido. Quem sabe não tive um pesadelo? Talvez nem tudo aquilo realmente aconteceu. Ainda estava na escola e não tinha sido expulsa. Talvez foi só uma pegadinha do Silvio Santos. E Grover certamente...

Meu olhar desceu e olhei fixamente para as pernas de Grover e lá estavam. Os pelos, os cascos fendidos e aquele rabinho estranho no seu traseiro peludo. Grover estava sem calças e ainda com metade do corpo sendo asno.

Meu queixo caiu e pisquei os olhos repetidas vezes.

— Vocês estão vendo o mesmo que eu? — Sussurrei torcendo os lábios para os trigêmeos.

Julian e Marcus olharam para Grover, depois voltaram com um olhar para mim e assentiram.

— Sim! — Disseram juntos, totalmente empolgados. — Não é legal?

Ok. Talvez eu não devesse pedir uma verificação de que eu estava mesmo vendo aquilo, para crianças que ainda acreditam no papai noel, coelhinho da páscoa, fada dos dentes e... Bicho papão. TÁ. Eu posso acreditar neles também, mas também sou uma criança da ciência, preciso de fatos científicos! A mãe do Grover era uma cabra e o pai dele era humano? Por isso ele é um hibrido? Não. Fantasioso demais. O numero de cromossomos de um Capra aegagrus hircus (nome cientifico da cabra), são extremamente diferentes do nossos (seres humanos). O número diferente de cromossomos entre duas espécies impossibilita sua reprodução. É o que aprendemos em genética possivelmente no segundo ano do ensino médio, mas como sou uma superdotada, sei das coisas.

Espécies diferentes apresentam número distinto de cromossomos, estruturas no interior das células que contêm os genes. Essa diferença poderia inviabilizar o desenvolvimento do embrião, já que cada cromossomo que veio do macho precisa estar alinhado com um equivalente que veio da fêmea na hora de a célula fertilizada se dividir. Sem esse alinhamento, na maior parte das vezes a célula não se reproduz e morre.

E diante disso, meus caros amigos, eu lhe faço uma pergunta que deve deixar todos cientistas de cabelos em pé toda noite.

COMO CARALHOS UM BURRO CONSEGUIU SE REPRODUZIR COM UM DRAGÃO EM SHEREK?!

E COMO GROVER É A PORRA DE UM HIBRIDO MUTANTE DE ASNO E HOMEM?

O QUE É ISSO DAQUI? X-MEN? INSTITUTO XAVIER? CHAMA O PROFESSOR!

MARVEL VEM CÁ! PLAGIARAM SEU TRABALHO SEM DÓ E NEM PIEDADE.

Essa seria a parte em que eu começaria a gritar feito maluca, por ter a confirmação de que meu possível sonho, não foi um sonho.

Mas acho que surtar internamente e ficar totalmente petrificada; já é alguma coisa.

Para piorar a bizarrice do circo que minha vida se transformou, César com apenas dois anos, estava segurando Pernalonga em seus bracinhos finos e gorduchos, entrando dentro de meu quarto. Ele só falava coisas estranhas de bebês e gritava quando bem entendia, dando pirraça por alguma coisa. César era o atual caçula da família, mas também era o que mais dava trabalho. Ele era como Victória e eu, cabelos castanhos, olhos castanhos escuros, pele bege amarelada e definitivamente muito travesso. Aparentemente mamãe tinha acabado de dar banho nele, porque o cheiro do seu perfume de bebê preencheu o quarto e os cabelos ralos e finos estavam molhados penteados para o lado, perfeitamente. Ele usava um macacãozinho jeans e uma camisa branca por debaixo.

E claro, Pernalonga, nosso coelhinho, estava em seus braços devorando furiosamente uma folha de alface como se nem respirasse. Bolinha, Leco, Thor e Kika (meus cachorros pinschers) apareceram logo depois usando roupinhas combinando e latindo alto. Kika era a pinscher que definitivamente era tão hiperativa quanto eu, pois ela veio correndo igual o flash até minha cama e só com um salto ela voou até mim e começou a lamber meu rosto sem parar igual uma doida.

É, definitivamente, minha casa é um zoológico de animais (incluindo meus irmãos).

Quando os olhos de Grover recaíram sobre Pernalonga — um coelhinho super inofensivo que estava comendo uma folha de alface tranquilamente —, o qual estava nos braços do pequeno César. De repente, meu amigo híbrido, ficou mais branco do que os pelos de Pernalonga e ele soltou um gritinho nada masculino, antes de vir correndo (trotando) apressadamente na minha direção, com Vick gritando e rindo feito uma doida nas costas dele.

— Coelho mau... — Grover disse tremendo e eu arqueei minhas sobrancelhas.

Espera... Grover realmente estava com medo do meu coelhinho? De repente esqueci que estava surtando internamente por meu amigo ser um hibrido, decidindo focar na linguagem corporal dele.

— Grover... Você está com medo do meu coelhinho...? — Perguntei. — Ele é totalmente inofensivo.

O hibrido torce o nariz.

— Inofensivo? Humpf! É isso que eles querem que vocês pensem! Coelhos são grandes valentões que sempre roubam aipo de sátiros indefesos, como eu! — Olhei para Pernalonga comendo o alface nos bracinhos de César, ele não parecia ser um valentão. Talvez um pouco porquinho? Sim! Óbvio. Coelhos comem as próprias fezes e seu xixi fedia muito. Mas Pernalonga não era um valentão. Estava mais para guloso que comia tudo que via pela frente. Ele não era tão mal quanto Grover estava querendo fazer parecer.

Talvez o Underwood tivesse leporifobia (medo de coelhos), por isso esse comportamento irracional. Mas a palavra que o meu amigo usou para se referir ecoou na minha mente.

Sátiro...

A palavra ecoou pela minha mente e continuou se repetindo e repetindo sem parar.

Eu olhei mais uma vez para as pernas de Grover, parado de pé ao meu lado da cama e me perguntava se tinha ficado louca de vez ou se ele estava usando algum tipo de calça felpuda. Mas não, o cheiro era o mesmo que eu lembrava das excursões do para o zoológico infantil – lanolina, como o de lã. O cheiro de um animal molhado de estábulo.

Meio homem. Meio asno.

Lembrei vagamente do que minha mãe tinha o chamado quando entrou no consultório.

Fauno...

— O que você é exatamente, Grover? — Perguntei temendo a resposta.

— Isso não importa...

— Você é metade burro?

O medo que Grover estava sentido de Pernalonga desapareceu e as orelhas do Underwood ficaram roxas de tanta raiva e fúria acumulada, como se eu tivesse o ofendido do pior nome do mundo inteiro.

Grover soltou um agudo e gutura:

— Bééééé!

Eu já o tinha ouvido fazer aquele som antes, mas achei que era um riso nervoso. Agora me dava conta de que era mais um berro irritado.

— Bode! — Exclamou.

— O quê?

— Eu sou um bode da cintura para baixo.

— Mas você disse que não importava...

— Béééé! Alguns sátiros poderiam pisoteá-la por causa de tamanho insulto!

Sátiro! Lembrei exatamente da escultura de madeira que Grover fez na oficina de artes. A escultura do Deus Pã. O deus metade homem e metade bode. Filho de Zeus e da cabra Amalteia. Imediatamente me lembrei das histórias que ouvia tanto do meu avô, quanto da minha mãe e pai sobre mitologia. Praticamente cresci ouvindo isso e lendo sobre isso. E em um dos livros do meu avô sobre mitologia, tinha uma imagem exatamente parecia com Grover de um sátiro.

Sátiro, na mitologia grega, era um ser da natureza com o corpo metade humano e metade bode. Equivale ao fauno da mitologia romana. Na mitologia dos povos gregos, os sátiros são divindades menores da natureza com o aspecto de homens com cauda e orelhas de asno ou cabrito, pequenos chifres na testa, narizes achatados, lábios grossos, barbas longas. Normalmente eram-lhes consagrados o pinho e a oliveira e apesar de serem divinos, não eram imortais.

Era isso que os livros do meu avô contavam. Mas Grover não tinha orelhas de asno ou cabrito. E se reparasse muito bem, entre os cachos castanhos no topo da cabeça dele, pequenos chifres estavam nascendo.

Grover era um sátiro assim como os livros do meu avô.

— Isso não pode ser... Mitos não são reais!

— Aquelas velhas na praça eram um mito, Octavia? A professora Maria e o professor Roberto eram um mito?

— Então você admite que realmente viu o que eu vi Maria se transformar!

— É claro.

— Então por que...

— Quanto menos você soubesse, menos monstros atrairia — Disse Grover, como se aquilo fosse perfeitamente óbvio. — Nós pusemos a Névoa diante dos olhos humanos. Tínhamos esperanças de que você achasse que eram alucinações. Mas não adiantou. Você começou a perceber quem você é e que era real...

Parei de acariciar Kika e elevei uma das mãos até meus ombros onde senti curativos ali. Lembrei de Maria, de Roberto e de Equidna.

— Quem eu... Espere um minuto, o que você quer dizer?

— Graças a Minerva, você acordou! — Minha mãe entrou no meu quarto de uma só vez e parecia ter ficado completamente aliviada por me ver bem e acordada. Mas isso não explicava o porquê ela disse "Graças a Minerva"...

Bom, minha mãe tinha essas coisas. Apesar de me criar como ateia as vezes ela soltava algumas coisas intrigantes como: "Pelos Deuses", "Por Jânio", "Pelo tridente de Netuno" e outras coisas mais sempre fazendo alusões e saudando os Deuses Romanos. Isso nunca me incomodou, até aquele momento em que me lembrei dela entrando no consultório segurando uma espada, uma faca e ainda chamando Grover de Fauno...

Respirei fundo e olhei fixamente para minha mãe.

— Mãe... O que está acontecendo...?

E de alguma forma eu sentia que Helena tinha as respostas para mim, naquele momento.


[...]


Eu sempre soube que um dia eu teria "aquela conversa" com a minha mãe, pensando que ela iria me explicar como realmente os bebês vêm ao mundo... Mas, dessa vez, para meu trauma, a conversa não era sobre isso e sim, sobre: meu pai, Deuses, monstros e outras bizarrices que não sei como iria ter estomago para digerir aquilo tudo.

Ou muito menos iria conseguir ficar completamente sã, sem ser internada em um hospício ou coisa parecida. Porque, convenhamos, aquela era sim uma conversa de maluco.

Meus irmãos estavam com Grover em algum canto do apartamento, enquanto de repente meu quarto ficou irritantemente em silêncio, comigo ainda sentada na minha cama e minha mãe sentada ao meu lado. Minha mãe tinha pedido para Grover e meus irmãos deixarem nós duas sozinhas e isso fez com que minhas entranhas revirassem. Fazia cerca de três minutos desde que Grover e meus irmãos saíram e minha mãe se sentou ao meu lado na cama e ficou olhando para algum canto remoto do meu quarto.

Sem ao menos proferir alguma palavra e isso era muito irritante.

Nós duas não éramos parecidas. Eu era a cópia do meu pai, minha mãe só fez o trabalho de me carregar por seis meses na sua barriga, até eu nascer prematura. Minha mãe tinha os cabelos loiros e lisos, enquanto eu tinha cabelos castanhos ondulados, ela tinha olhos azuis intensos e eu apenas os olhos castanhos comuns. Ela era extremamente alta e eu baixinha. Fisicamente, não éramos parecidas, mas meu avô dizia que minha inteligência e mentalidade brilhante havia herdado dela. E não do meu pai.

O que poderia ser claramente um ponto a favor, uma vez que meu pai não era lá um cara muito inteligente, não. Que ele não me ouça dizendo algo assim, mas o que meu pai tinha de músculos, ele não tinha nada de cérebro. O coroa era extremamente burro. Diferente da minha mãe, que tinha um intelecto tão brilhante ao ponto de estudar em Oxford e se formar sendo uma das primeiras da turma.

Minha mãe tinha uma tatuagem da cabeça de um leão no alto do seu braço esquerdo. Ela dizia que o leão era o símbolo da casa de Hércules, pois esse foi seu primeiro trabalho dos doze. E pela primeira vez, eu vi uma nova tatuagem no antebraço direito dela, uma tatuagem que nunca tinha visto antes. Era um tridente, uma concha e uma águia um sobre o outro, o que causava um certo desconforto visual pela poluição, mas as letras SPQR e oito linhas horizontais como a de um código de barras. E o mais estranho era que aquela tatuagem parecia ter sido queimada sob a pele.

SPQR.... Eu me recordava daquela sigla vagamente.

Senatus Populus Que Romanus. O Senado e o Povo Romano. Era o que queria dizer.

O silêncio era algo que me deixada mais agitada. Minhas mãos tremiam sem parar, implorando para se manterem ocupadas. Nunca senti tanta falta do meu cubo mágico, que fazia com que minhas mãos se mantivessem ocupadas. E controlavam indiretamente minha ansiedade e minha hiperatividade. Eu simplesmente nunca conseguia ficar parada, isso era totalmente impossível para mim. Ao ponto que eu ficava extremamente envergonhada quando alguém me pegava andando de um lado para o outro em qualquer cômodo do apartamento com fones de ouvido, porque ao andar de um lado para um outro eu conseguia pensar melhor e controlar minha ânsia por ficar em movimento sem parar.

— Mãe... — Começo já não suportando mais o silêncio. — Por favor, me desculpe. Eu não queria ser expulsa de novo, mas simplesmente acontece mãe. Não consigo ficar longe de problemas...

Minha mãe continua não olhando para mim e seu olhar vaga pelos quatro cantos do quarto, antes dela soltar um longo suspiro.

— Deuses, Octávia! — Ela diz e tento muito não estranhar o fato de que ela realmente disse: "Deuses". — Eu não estou com raiva por você ter sido expulsa! Era de se esperar que algo fosse acontecer aqui também... — Não entendi o que ela queria dizer com aquilo, por isso me mantive calada, mas confesso que ao ouvir aquilo me incomodou muito.

Era como se minha mãe já esperasse coisas ruins de mim e nunca boas. Como se eu realmente fosse um fardo. Um peso morto que só lhe causava problemas e mais problemas. Eu juro que não queria ser assim, não queria ser motivo para tantos problemas ou dores de cabeça, mas simplesmente não consigo evitar. Eu tento ser melhor. Ser uma ótima filha, uma ótima aluna e até ser um motivo para minha mãe se orgulhar de mim, mas...

A quem eu quero enganar? Eu só sou um fracasso mesmo, como minha bisavó sempre fez questão de dizer e jogar na minha cara. Eu não era digna dos Whittemore e talvez nunca fosse.

Uma vontade insana de chorar se apossou de mim, era só isso que tinha vontade naquele momento: chorar e chorar. Mas segurei o choro com dificuldade, esperaria até minha mãe me dar todos os sermões possíveis e quando ela deixasse meu quarto, abraçaria minha pelúcia do Stitch e choraria muito.

Então minha mãe se virou para mim, me encarando com seus olhos intensos azuis.

— A culpa é minha, eu deveria ter te preparado melhor para isso...

Olhei para os lados tentando processar aquilo. Como se eu estivesse ouvido errado ou coisa do tipo. E então eu disse a coisa mais aleatória e doida que poderia adicionar aquela conversa:

— Então não vamos ter uma conversa sobre como os bebês são feitos? — Pergunto. —Porque não acredito mais na história da cegonha desde que descobri que elas são carnívoras.

Minha mãe faz uma cara confusa.

— O que...

— Assisto muito documentário da vida animal... Então... Meio que descobri como os bebês vem ao mundo através deles e por ver Thor e a Bolinha acasalando, assim nascendo aquele monte de filhotes. — Expliquei.

Helena revirou os olhos.

— Às vezes não sei se seu alto conhecimento é um dom ou uma maldição... Por Minerva! — Minha mãe resmunga. — Não vamos falar sobre bebês, vamos falar sobre seu pai e sobre mim. Eu deveria já ter lhe contado, mas nunca passou pela minha cabeça que você iria atrair tantos monstros assim tão nova... eu quero que não me interrompa, tudo bem?!

Não entendi nada do que minha mãe disse, mas segue o baile. Apenas assenti positivamente e esqueci da vontade insana que estava de chorar.

— O seu pai... bem... — Minha mãe suspirou. — Você sabe o que Grover é...?

— Eu acredito que seja um sátiro... segundo os livros que peguei do vovô para ler escondida...

Ouvi minha mãe resmungar "fauno".

— Isso é bom... Grover é seu protetor... Ele veio te buscar e te levar para um lugar seguro.

Arregalei os olhos.

— O quê?! Como assim?!

— Octavia... Você não é normal, precisa ir para um lugar seguro, agora mais do que nunca!

Senti um nó na minha garganta.

— Porque você não me quer me ver por perto? — Eu me arrependi das palavras assim que elas saíram.

Os olhos de minha mãe ficaram marejados. Ela pegou minha mão e apertou com força.

— Ah, Tavy, não. Eu... eu preciso, meu bem. Para seu próprio bem. Eu tenho de mandar você para longe.

— Porque eu não sou normal?

— Você diz isso como se fosse uma coisa ruim, Tavy. Mas não se dá conta do quanto você é importante. Pensei que aqui no Brasil seria bastante longe. Pensei que você finalmente estaria em segurança.

— Em segurança por quê?

Os olhos dela encontraram os meus, e me veio uma enxurrada de lembranças — todas esquisitas, assustadoras que sempre aconteciam, algumas que eu tentara esquecer.

Me lembrei instantaneamente de todas as coisas bizarras que me aconteceram.

Quando eu pensei realmente ter visto um homem alto de um olho só me seguindo pelas ruas de Londres. Quando uma senhora muito maldosa me empurrou para dentro da jaula dos leões quando fomos ao zoológico em Londres. Quando ouvia sem parar o chocalho de uma cobra na aula de literatura inglesa e todos disseram que eu estava ouvindo coisas, mas eu tinha certeza que tinha visto uma mulher estranha com pele de cobra. Quando estrangulei e mordi uma serpente venenosa na creche. E quando vi minha professora de artes virar algo monstruoso, juntamente do meu professor favorito e uma dentista maluca chamada Equidna. As velhinhas na praça com a meia.

Todas essas lembranças vieram à minha mente como se tivesse sido acertada por um taco de beisebol ao ponto da minha cabeça doer. E Grover era um sátiro e minha mãe estava agindo aquilo supernormal, como se não fosse a primeira vez que via aquelas coisas bizarras.

— Tentei manter você tão perto de mim quanto pôde... — Falou minha mãe. — Eles me disseram que isso era um erro. Mas só havia uma outra opção, Tavy... O lugar para onde seu pai queria manda-la. E eu simplesmente... simplesmente não poderia aguentar ter de fazer isso.

— Meu pai queria que eu fosse para uma escola especial?

— Não exatamente uma escola — Disse ela suavemente. — Um acampamento de verão.

Minha cabeça estava girando. Por que meu pai teria falado com minha mãe sobre um acampamento de verão? E, se isso era tão importante, por que ela nunca mencionara antes? Eu já tinha ouvido falar desse tipo de coisa nos Estados Unidos. E a única coisa que me vinha a cabeça era inúmeras garotinhas com fardas de escudeiras vendendo biscoitos de porta em porta, como aqueles filmes americanos clichês. Era isso que meu pai queria que eu fizesse? Vendesse biscoitos de porta em porta nos Estados Unidos?

— Porque um acampamento? — Perguntei.

— Porque você... você e seus irmãos... São semideuses!

Pisquei sem parar.

— Como é? — Perguntei novamente só para ter certeza se realmente tinha ouvido certo ou só não estava pirando completamente.

— Você e seus irmãos são semideuses! Por isso Grover está aqui! Por isso aquelas coisas atacaram você. Você é meia mortal e meio divino. Uma semideusa! Como nas histórias que lia para você, porque você acha que seu avô e eu sempre te incentivamos a estudar a mitologia, Octavia? Porque você faz parte dela! Porque nossa família faz parte dela!

— Semideusa... Metade humano, metade deus. Meio-sangue. Como Hércules, Perseu e Belerofonte?

— Sim...

— Isso é loucura! — Exclamei. — Se eu fosse uma semideusa isso queria dizer que meu pai é... É... — Eu não queria dizer aquela palavra.

— Um Deus. Ele é um dos olimpianos. Ares, o Deus da Guerra e Violência.

Minha respiração começou a acelerar.

— Não é verdade! Isso é cientificamente impossível! Mitologia são só mitos!

— Você sabe que seu amigo Grover é um sátiro. Você sabe... — Ela fez uma pausa. — Que você encontrou um caranguejo gigante e uma mulher chamada Equidna... quem eles te lembram da mitologia, Octavia?

Fiquei um longo momento calada, refletindo. Buscando nas minhas memórias sobre os livros e as histórias de mitologia que lia sem parar quando estava em Londres nos feriados com a família.

— Equidna na mitologia grega é considerada a mãe dos monstros. E o caranguejo gigante... não era aquele que Hera mandou matar Hércules quando o semideus matou a Hidra em um de seus trabalhos?

— Carcino. — Minha mãe me corrigiu. — Você sabe o que aconteceu foi real. Não sabe?

Algo dentro de mim novamente começou a ficar inquieto, completamente agitado. Como se uma chama tivesse acendido em meio a escuridão e isso me assustou, ao ponto de começar a questionar tudo o que tinha aprendido sobre a ciência. No entanto, ainda decidi me manter completamente desconfiada.

Eu sacudi a cabeça.

— Olhe, se as coisas que tentaram me matar era realmente o Carcino e a Equidna, os mesmos das histórias...

— Sim.

— Então só existem um de cada, certo?

— Sim.

— E eles morreram, tipo um zilhão de anos atrás, certo? Hércules matou Carcino e Equidna... sei lá...? Morreu de velhice...? Portanto...

— Monstros não morrem, Octavia. Eles podem ser mortos. Mas eles não morrem.

— Não entendi merda nenhuma... — Minha mãe me lançou um olhar zangado por me ver falando um palavrão em sua frente, mas não disse nada.

— Monstros não têm alma, como você e eu. Você pode bani-los por algum tempo, talvez até por todo uma vida, se tiver sorte. Mas eles são forças primitivas. Eu os chamava de arquétipos. No fim, eles se reconstituem.

— Você quer dizer que...

— Eu posso ter matado Equidna e Carcino, sim, mas eles irão voltar à vida daqui algum tempo.

Esfreguei meu rosto com as mãos e um pouco de força.

— Mãe... — A chamei. — Isso só são histórias... Mitos...

— O que você pode não saber é que grandes forças estão em ação na sua vida. Os deuses, as forças que você chama de deuses gregos, estão muito vivos. E seu pai é um deles. — Ainda continuava sem acreditar. — Os Deuses que você estudou comigo e seu avô, Octavia, são reais. Grandes seres que controlam as forças da natureza e os empreendimentos humanos; os deuses imortais do Olimpo... porque você acha que seu pai aparece e desaparece ao mesmo tempo? Ou como as vezes ele pode falar e contar histórias sobre as terríveis guerras da antiguidade com uma certeza tão absoluta como se realmente estivesse presente durante esses conflitos?

— Mas são histórias! — Disse eu. – São... mitos, para explicar os relâmpagos, as estações e tudo mais. Era nisso que as pessoas acreditavam antes de surgir a ciência e a filosofia.

— Diga-me, Octavia o que as pessoas pensarão da ciência daqui a milhares de anos? Irão chamá-la de baboseiras primitivas. É isso o que irão pensar. — Minha mãe suspira. — Você pode escolher entre acreditar ou não, mas o fato é que imortal significa imortal. Pode imaginar isso por um momento, não morrer nunca? Existir, assim como você é, para toda a eternidade? Se você fosse um deus, gostaria de ser chamado de mito, de uma velha história para explicar os relâmpagos? E se eu contasse a você, Octavia, que um dia as pessoas vão chamar você de mito, criado apenas para explicar como garotas problemáticas podem se meter sempre em confusão?

Acho que uma chinelada teria doido menos do que ouvir minha própria mãe, me chamar de "garota problemática".

— Eu não gostaria disso. Mas não acredito em deuses. Eu não acredito em nenhum Deus, mãe! Foi isso que você me ensinou, lembra?! Me criou como ateia! Você nem me batizou!

Minha mãe resmungou algo em latim que entendi e traduzi automaticamente para: merda. O lado bom é que as aulas malucas de Latim que meu velho me submeteu estavam surtindo efeito, no final das contas.

— Você nunca se perguntou porque eu sempre te dei aqueles avisos? Não faça isso ou aquilo. Seja normal. Se adeque aos padrões. Tente não chamar a atenção. Não se destaque. Não fale ou confie em estranhos, principalmente aqueles que tem apenas um olho. Seja discreta. Você nunca se questionou o porquê disso?

Fiquei quieta deixando com que o silêncio falasse por mim. É claro que sempre me questionei sobre esses irritantes avisos, que por mais que parecessem avisos bobos de uma mãe preocupada no fundo, bem lá no fundo, eu sabia que tinha algo errado. Infelizmente, meus dedos das mãos começaram a ficar cada vez mais inquietos e agitados. Eu estava praticamente à beira de um colapso nervoso com toda aquela conversa fiada de Deuses, semideuses, monstros e o caralho a quatro.

— Ou o porquê você sempre se sentiu diferente das outras crianças? Como se visse coisas inexplicáveis, ou conseguiu aprender grego e latim com tanta facilidade? Ou porque você foi diagnosticada com TDAH desde pequena? Ou porque quando escuta seu avô ou eu lhe contando histórias da mitologia, você fica super fascinada e sente como se algo estivesse vivo dentro de você? Isso não é só porque você tem um QI acima da média, Octavia, ou tampouco é uma coincidência. Você é uma semideusa. — Minha mãe disse.

Pode parecer loucura, mas eu estava praticamente acreditando veementemente em tudo o que estava saindo da boca da minha mãe e isso me assustou. Tipo para caramba! Porque ou aquilo significava que minha mãe era louca e eu estava me tornando louca também. Ou realmente, eu estava imaginando ou sonhado demais. Mas a questão era que sequer tinha criatividade para imaginar ou sonhar com aquilo, então eu também estava entrando para o circo dos birutas.

— O transtorno do déficit de atenção... você é impulsiva, não consegue ficar quieta na classe ou muito menos agora. — Os olhos da minha mãe desceram para meus dedos inquietos e imediatamente me forcei a parar de mexê-los de forma inquieta e agitada. — Isso são os seus reflexos de campo de batalha. Numa luta real, eles a manterão viva. Quanto aos problemas de atenção, isso é porque enxerga demais, Octavia, e não de menos. Seus sentidos são mais aprimorados que os de um mortal comum. É claro que os professores querem que você seja medicada. Eles são em maioria monstros. Não querem que você os veja como são.

Engoli o seco.

— Está se referindo Maria e ao Professor Roberto?

Minha mãe suspirou.

— O fauno me contou tudo. E ainda bem que ele conseguiu perceber isso na sua escola, pois caso contrário... eu não gosto nem de imaginar isso.

— Eu estaria morta... — Completei as duras palavras que ela visivelmente não queria dizer.

Ao dizer aquilo, minha mãe se sentiu incomodada. E eu também me senti, morrer aos sete anos não é uma coisa que gostaria...

— Grover é um fauno... — Ela parou. — Sátiro buscador, a missão deles é encontrar semideuses e leva-los para um lugar seguro e afastado. Onde podem treinar e se preparar para enfrentar monstros...

— Que lugar é esse? É o acampamento que o papai queria me mandar?

— Sim.

— Mas eu não quero ir! E não quero enfrentar monstros! Eu quero ficar aqui com a minha família!

— Receio que isso não será mais possível, Octavia... Monstros existem para caçar, perseguir e matar semideuses, esse é o propósito fundamental deles. Eles encontram os semideuses através do cheiro que eles emitem naturalmente e você, filha, tem um cheiro muito forte mesmo sendo muito nova. Eu deveria ter percebido isso.

Agora eu conseguia entender um pouco sobre o porquê todos estavam falando do meu cheiro. Eu não estava realmente fedendo, eu só estava atraindo aquelas coisas como se eu fosse uma iguaria exótica ou uma carne de churrasco sendo assada.

Lembrei da coisa pelo qual todos me chamavam.

— Mãe... Se eu sou uma semideusa... — Engoli o seco. — Também sou descendente de Hércules? Aquelas coisas não paravam de me chamar de heráclida e... — Respirei fundo. — Algo me diz que você passou pelas mesmas coisas que eu... — Ao ver a expressão da minha mãe mudar, percebi que estava certa sobre meu palpite. — Você é uma semideusa?!

Minha mãe arregalou os olhos.

— Não! — Respondeu imediatamente. — Não sou uma semideusa, mas... sou um legado, assim como você.

— O que é um legado?

Helena mordeu o lábio.

— Um legado é um mortal que é um descendente da segunda ou posterior geração de um deus, ou seja, os filhos, netos ou descendentes de um semideus. Eles podem ou não possuir habilidades semelhantes às de seus ancestrais piedosos. — Ela explicou e logo estendeu o braço com aquela tatuagem estranha com símbolos estranhos SPQR. — O tridente é para representar Netuno. A águia para representar Júpiter. A concha para representar Vênus. — Ela diz. — Somos legados dos três deuses. E através de Júpiter somos descendentes de Hércules.

— Poseidon, Zeus e Afrodite... — Disse o equivalente grego dos Deuses romanos que minha mãe citará.

— Sim... — Ela suspirou. — Quando tinha doze anos aconteceu algo semelhante comigo. Comecei a ser atacada por monstros e outras coisas bizarras, até que um Fauno como Grover apareceu para mim e me levou para um Acampamento.

Me lembrei do consultório e do que tinha acontecido.

— Como você conseguiu me encontrar, mãe? Como sabia que eu estava em perigo? E porque raios você estava segurando uma faca e uma espada?

Helena suspirou e então eu vi minha mãe retirar a mesma faca que a vi usando de um de seus bolsos. Era como se ela fosse uma adaga. Ela é coberta com couro preto desgastado e encadernado em bronze. Tinha um punho feito de madeira polida com uma lâmina triangular de 18 polegadas feita de algo que me lembrava a bronze.

— O nome dessa faca é Katoptris... — Minha mãe começou.

— Espelho... — Disse automaticamente sem pensar, como se meu cérebro já tivesse não só traduzido o nome do grego, como também tinha me feito falar rapidamente.

Minha mãe deu um leve sorriso e assentiu.

— Sim... — Ela segurou a faca precisamente e quando olhei para lâmina, ela refletia meu reflexo através dela, como um espelho. Agora entendia o porquê do nome... — Seu pai a me deu quando nos conhecemos... ela anteriormente pertencia à Helena de Tróia, que como sabe, recebi meu nome em homenagem a ela. Como Ares ficou ao lado da cidade de Tróia, ele perdeu a disputa para Atena e Diomedes, o herói protegido da Deusa. — Ela deu uma pausa. — Ares roubou a faca e ficou com ela até decidir me dar de presente.

— Mas... — Parei de tentar falar no instante em que minha mãe continuou a contar a história da sua faca.

— Esta faca foi originalmente um presente de casamento para Helena de Tróia de seu primeiro marido, Menelau, e quando vista, pode mostrar muito mais do que o reflexo do portador. Helena usou a adaga como espelho, por isso ela a chamou de Katoptris, que significa "espelho" ou "espelhado". Não foi usado como arma quando Helena era a proprietária, mas como espelho para que ela pudesse contemplar seu belo reflexo. — Minha mãe jogou a faca para o alto sem medo, acreditando veemente que a faca não iria cortá-la e então minha mãe pegou a faca com uma precisão invejável e tática também, como se já tivesse feito aquilo diversas vezes. Ela segurou a ponta da faca com o punho da arma virado em minha direção. — Vamos. Pode segurá-la. — Ainda um pouco ressentida eu segurei o punho. — Katoptris é uma lâmina de parazônio. Era principalmente cerimonial, conduzido por oficiais de alta patente dos exércitos gregos. Mostrava que o portador era uma pessoa poderosa e rica, mas também podia ser usado em uma luta.

— Eu entendi essa parte, mas... — Digo analisando a faca entre meus dedos, com um extremo cuidado. Era uma lâmina bonita e diferente do que pensava quando a vi nas mãos da minha mãe, era extremamente leve como uma pluma ou pena. — Isso não explica o porquê você tem uma faca assim, ou como ela pode ser mais eficaz contra monstros do que uma arma. Ou muito menos explica como você sabia exatamente onde me encontrar.

— Katoptris tem a capacidade de mostrar as visões do proprietário. No entanto, essas visões nem sempre são úteis e podem mostrar algo que o proprietário não deseja ver. O proprietário tem muito pouco controle sobre o que a faca irá mostrar a eles.

— Visões...? Visões do futuro, você quis dizer?

Minha mãe assentiu.

— Sim. Foi graças a essas visões que pude encontrar você e chegar na hora. As visões nem sempre são claras, mas com os anos você aprende a decifrá-las. — Ela disse. — E quanto ao que você disse sobre armas... Só é possível matar monstros, ferir Deuses e ferir semideuses com metais mágicos, claro que semideuses também ainda podem ser mortos por armas comuns como balas ou facas de cozinha, mas monstros e Deuses... aí a história vira outra...

— O que você quer dizer?

— Monstros só podem ser "mortos" e Deuses só podem ser "feridos" por armas com metais mágicos, sendo eles, bronze celestial, ouro imperial ou adamantina. Uma faca de cozinha ou simples balas não feitas desses metais, não matariam monstros... consegue entender...?

— Mais ou menos, minha cabeça ainda está processando a parte que meu pai é um Deus.

Minha mãe ri.

— Logo você se acostuma com isso... — Comenta. — Mas se por um lado metais mágicos podem matar monstros e ferir Deuses, eles são ineficazes contra mortais. Se eu atravessasse Katoptris em um simples mortal, ela atravessaria o corpo dele sem causar nenhum dano como se fosse uma lâmina fantasma...

— E Katoptris e aquela espada louca que você estava seguram eram feitas desses metais?

— Katoptris é feita de bronze celestial. A Messorem é feita de ouro imperial.

Messorem... meu cérebro automaticamente traduziu do latim para: ceifadora.

— Então... Só reafirmando... Meu pai é realmente um Deus e eu sou uma semideusa...? — Eu ainda não conseguia acreditar ou processar isso. Eu sou uma garota da ciência, oras! E ser filha de uma divindade vai tudo além do que já estudei ou acreditei.

Minha mãe revirou os olhos.

— Sim... Lucrécia, seu pai é um Deus e você uma semideusa...

Ela me chamou pelo nome do meio, péssimo sinal. Muito ruim mesmo. Ela já deveria estar se irritando por repetir as mesmas coisas para mim diversas vezes, ah, mas qual é. Minha mãe me diz que meu pai é um Deus e ela quer que eu não faça perguntas? Quer que eu me finja de egípcia e aceite tudo isso sem questionar? Eu sou uma mulher... quero dizer, ainda não sou mulher, sou uma criança fêmea da ciência, então questionar é sempre o que faço de melhor.

— Continuo achando isso tudo uma loucura...

Minha mãe bufa.

Querida, se você procriou com um Deus, você vai ter que me explicar essa história direitinho. Tim, tim, por tim, tim. Eu hein, não faz de maluca comigo não, Dona Helena Aufídia!

A parte revoltada e com muito pouco amor a vida disse isso dentro da minha cabeça. Obviamente eu não ia dizer isso em voz alta, pois se fizesse, iria partir dessa para melhor. Minha mãe é a própria encarnação da Rochelle e eu que não sou louca de brincar com ela.

— Será? Qual é a coisa mais comum que os deuses faziam nas velhas histórias? Eles andavam por aí se apaixonando por seres humanos e tendo filhos com eles. Você pensa que eles mudaram os hábitos nos últimos poucos milênios?

— Mas isso são apenas... — Eu quase disse mitos de novo. Então me lembrei do aviso da minha mãe de que daqui a dois mil anos eu poderia ser considerado um mito e fiquei calada.

— Se você não fosse uma semideusa, não poderia ter sobrevivido à ambrosia e ao néctar ou muito menos teria atraído um sátiro buscador ou muito menos monstros com seu cheiro.

— Ambrosia e néctar... — Repeti completamente perdida.

— A comida e a bebida que dei a você para curá-la. Aquilo teria matado uma garota normal. Teria transformado seu sangue em fogo e seus ossos em areia e você estaria morta. Encare os fatos. Você é uma meio-sangue.

Uma meio-sangue...

Minha cabeça estava girando com tantas perguntas que eu não sabia por onde começar.

Lembrei dos gostos que sentia. O gosto de bolo de cenoura com cobertura de chocolate que senti ao beber aquele suco de maça, que não parecia ser suco de maça coisa nenhuma... O gosto de pipoca amanteigada enquanto minha mãe me dava algo que parecia ser um pudim... será que eram essas coisas que seriam o tal Ambrosia e néctar...?

— Mãe... Se essas coisas existem... porque ninguém mais as viram? Quero dizer porque nos telejornais não noticiaram casos de garotos meio humanos e meios bodes correndo por aí? Caranguejos gigantes de três metros de altura? Ou outras coisas bizarras assim?

— A Névoa. É o véu invisível que esconde o verdadeiro mundo dos olhos daqueles que não o compreendem. — Helena disse. — Ela impede os mortais de verem coisas mágicas. Se eles veem algo como um centauro, a névoa o transforma em algo que só o cérebro deles pode entender, como por exemplo, um cavalo comum ou outra coisa. Mas para pessoa como nós, que tem algum tipo de ligação com os deuses, podemos ver através da Névoa, assim como também existem alguns raros casos de mortais que também podem ver.

— Centauro?! Isso existe?!

— Todos os mitos e as histórias são reais, Octavia...

Era como se alguém tivesse pegado uma bola de queimada e me acertassem com força total bem na boca da minha barriga, me fazendo perder completamente o ar em meus pulmões. Eu tinha muitas perguntas, muitas mesmo. Mas tinha medo de que as fizessem, poderia ficar mais confusa do que já estava.

Instantaneamente me lembrei vagamente de quando Grover me pegou no colo e saiu correndo comigo pelas ruas sem calças, exibindo suas pernas e traseiros peludos, após o incidente no consultório. As pessoas nas ruas gritavam, mas não por estarem assustadas, era mais alguns gritos furiosos. E xingamentos por todos dizerem que ele estava apenas de cueca correndo pelas ruas.

Então foi isso que a nevoa fez? Transformou as pernas de bode de Grover, em pernas humanas normais só que ele de cueca, aos olhos dos mortais?

— É muita coisa para digerir...

— Com certeza é.

— Preciso de uma prova. — Disse rapidamente. Minha mãe arqueou a sobrancelha. — Uma prova do que você está falando é verdade. Se você é um legado... faça algo.

— Algo?

— É... Tipo... sei lá... Abracadabra? Lançamento de teias com as mãos? Algum feitiço louco? Faça algo para me provar que não estou pirada, mãe.

Helena suspirou.

— Uma prova... Hum? — Seu olhar desviou para o vaso com água com girassóis bem no canto extremo do meu quarto. — Olhe com atenção para a água.

Fiz o que ela me pediu e comecei a olhar para a água no vaso de vidro transparente onde estava meus girassóis.

No início, para mim, estava tudo normal, nada de extravagante, ou chamativo ou uma chuva de glitter como no filme Barbie Moda e Magia — meu filme favorito da Barbie. É sou a fã número um da Barbie, me julguem. Tenho uma coleção completa de todas as bonecas e versões da Barbie. Maaas, saindo do meu leve devaneio e voltando minha atenção completa e fixa na água do vaso.

Realmente, pensei que nada pudesse acontecer e minha mãe poderia gritar: HAHA TE PEGUEI EM MAIS UMA PEGADINHA DO SILVIO SANTOS. Porém, ao invés de ouvir algo assim, eu não ouvi nada, apenas vi o que estava acontecendo com a água dentro do vaso de girassóis.

A água subitamente começou a borbulhar sem parar, como se tivesse sendo agitada naturalmente ou aquecida, ou algo do tipo, vai saber... Só sei que meu queixo caiu completamente quando vi a água saindo de dentro do vaso, flutuando para fora, planando em pleno ar em numerosas gotículas de água, como se estivéssemos em gravidade zero, deixando o vaso com os girassóis completamente vazios.

Me senti como se estivesse entrado no mundo de Avatar e estava vendo a própria Katara dobrar a água diante dos meus olhos... Só que a Katara era minha mãe nessa história...

TV Globinho, o que raios você fez comigo?

Pisquei repetidas vezes e até mesmo deixei Katoptris cair sob a cama, para esfregar meus olhos com força, na tentativa de realmente provar que aquilo que eu estava vendo realmente estava acontecendo e não alguma ilusão óptica ou coisa do tipo... até me belisquei levemente para ter a certeza que não estava enlouquecendo. E para meu terror interno a água estava mesmo flutuando em pleno ar diante dos meus olhos e as gotículas de água vieram em minha direção, ou melhor, na direção de minha mãe.

Eu estava com os olhos tão arregalados e perplexos, que sinceramente, ainda não sabia dizer como foi que eles não saltaram para fora de suas orbitas.

As gotículas de água flutuantes pairaram sob os dedos da minha mãe, as gotículas flutuantes de água começaram a se unirem cada vez mais, até formarem uma grande bola de água, que depois acabou tomando a forma de um coelho, só que composto de água, que para mim, sinceramente parecia o próprio Pernalonga — o meu coelho, não o coelho do desenho.

Meu queixo caiu e meus lábios formaram um gigantesco "O", quando vi o coelho começar a se mexer, saltando em pleno ar, até voltar de volta para o vaso com os girassóis, mergulhando de uma só vez, voltando a ser nada mais que água "normal" que estava no vaso antes da minha mãe invocar a AquaWoman.

— Wow... — Foi só isso que consegui dizer, após piscar repetidas vezes.

Minha mãe tinha um sorriso triunfante no rosto.

— Consegue acreditar agora...?

Pisquei e balancei a cabeça, tentando me recuperar do meu choque ao ver exatamente aquilo.

— Como...? — Sussurrei.

Helena estendeu o braço com a tatuagem SPQR e apontou para o tridente.

— Legado de Netuno. Hércules era filho de Júpiter e um legado de Netuno e ao mesmo tempo de Zeus.

Fiz uma careta, ao lembrar que Zeus procriou com a própria tretaneta, uma vez que o semideus Perseu era não só filho de Zeus, como também era bisavó de Hércules.

— Eu vou fazer isso também...? A coisa com a água...

— Não é assim que funciona... — Minha mãe suspirou. — Alguns legados podem herdar ou não certas habilidades de seus antecessores. De Júpiter herdei a força de Hércules. De Vênus herdei a capacidade de mudar o aspecto físico e de Netuno herdei a capacidade de controlar a água. Os deuses têm muitas habilidades, talvez você não herde precisamente essas que possuo, podendo herdar outras, como também há a possibilidade de não herdar nenhuma.

— Força de Hércules... — Imediatamente me lembrei como minha mãe conseguiu derrubar aquela porta do consultório odontológico e quase esmagou Equidna. Nas histórias, Hércules era tão forte que só com o uso da sua força, foi capaz de separar dois continentes. Me pergunto se minha mãe também era capaz disso. Mas o que ela disse sobre mudar seu aspecto físico, isso me intrigou. — O que quis dizer sobre "mudar seu aspecto físico"?

— Vênus pode alterar sua aparência física para se adequar à ideia de beleza de quem está ao seu redor. Ou parafraseando isso, posso assumir qualquer aparência física, homem ou mulher, assumir a minha aparência de quando criança ou velha. Posso até mesmo assumir a sua aparência, se eu quiser...

Dessa vez não me segurei e soltei um:

— Tá' de sacanagem, não é?

Minha mãe revirou os olhos e quando eu vi seu longo cabelo loiro assumir o tom do meu cabelo castanho escuro e sua altura diminuir aos poucos, até suas roupas ficarem extremante folgadas, até ela ficar na minha altura e seus olhos azuis ficarem castanhos. E então, num simples piscar de olhos, cá estava minha mãe, diante de mim, com o meu aspecto físico. Ela até tinha os mesmos dentes tortos que os meus. Era como se eu estivesse me olhando no espelho. Ou pior: que tivesse uma irmã gêmea, igual aos trigêmeos.

— Puta merda! — Soltei.

— Lucrécia! — Minha mãe com a minha aparência e até mesmo com a minha própria voz gritou. — Será que vou ter que fazer você comer sabão para lavar essa boca suja?!

A ameaça da minha mãe, nem ao menos foi levada a sério por mim, pois realmente não dá para levar sua mãe a sério quando ela se transforma em você. Eu estava surtando literalmente. Ao ponto de não ter medo de lavar uma chinelada na fuça.

— Mãe, por favor, volte a sua aparência normal. Está parecendo que estamos em um filme de terror e você é a minha sósia do mal.

Helena bufou e então aos poucos o processo que vi diante de meus olhos se repetiu, só que ao contrário. Minha mãe cresceu, o cabelo escuro se tornou loiro, os olhos castanhos se tornaram azuis e num piscar, minha mãe estava com sua aparência normal, para meu alivio físico e o alivio do meu psicológico e quem sabe... meu alivio neural...?

Respirei fundo e fiquei em silêncio por algum tempo, tentando processar tudo o que tinha presenciado diante dos meus olhos.

Até que cinco exatos minutos se passaram e tomei coragem para perguntar:

— Quanto tempo devo ficar nesse acampamento...? Pelo resto da minha vida...?

— Eu não sei querida... — Minha mãe suspirou. — Eu só costumava ficar nas férias no meio de cada ano... agora, você... eu realmente não sei... alguns campistas só ficavam no verão. Se você fosse filha de Vênus, ou Ceres, ou outra divindade menor, provavelmente não é uma força realmente poderosa. Os monstros poderiam ignorá-la, e então você pode se arranjar com alguns meses de treinamento de verão e viver no mundo mortal pelo resto do ano... — Ela explicou. — Mas, para alguns semideuses, sair é perigoso demais. Temos de ficar o ano inteiro. No mundo mortal, eles atraiam monstros. Eles percebem a presença. Vêm nos desafiar. Na maioria das vezes eles nos ignoram até termos idade suficiente para causar problemas, cerca de dez ou onze anos, mas depois disso muitos dos semideuses vão para lá ou são mortos. Alguns conseguem sobreviver no mundo exterior e se tornam famosos. Acredite, se eu lhe contasse os nomes você os conheceria. Alguns nem sequer se dão conta de que são semideuses. Mas poucos, muito poucos são assim.

— Com quantos anos você foi encontrada...?

— Eu tinha doze...

— Eu vou para esse mesmo Acampamento que você foi...?

Minha mãe ficou em silêncio por um longo tempo.

— Grover é um sátiro, não um fauno... então... é provável que você vá para outro Acampamento... um diferente que não frequentei.

— Ahh? Como assim, mãe? Existem mais de um acampamento...?

— Estou tão surpresa quanto você..., mas o Acampamento que fui era o Romano, você provavelmente vai para o Grego... ou pelo menos foi isso que Grover disse. Eu não sabia que existia outro Acampamento além do Romano, mas você não pode contar isso para ninguém, Octávia! Ouviu? Gregos e Romanos não dão certo...

— Mas você já não contou para Grover sobre esse outro Acampamento...?

Minha mãe negou com a cabeça.

— Eu não contei para ele. Apenas disse que sou uma descendente de Hércules, por isso posso ver através da Névoa..., mas isso tem que ficar em segredo, Octávia! Se isso vier a público, coisas ruins podem acontecer! Como uma guerra entre os Acampamentos!

Apenas confirmo com a cabeça e dessa vez sou eu quem suspira.

— Então é provável que eu fique o ano todo...

— Receio que sim, querida... você é muito forte. Uma semideusa com três legados e ainda uma descendência direta com Hércules. Infelizmente, você é um buffet completo para monstros...

— Então os monstros não podem entrar lá?

Helena sacudiu a cabeça.

— Não, a não ser que sejam intencionalmente mantidos nos bosques ou convocados por alguém de dentro.

— Por que alguém ia querer convocar um monstro?

— Para pratica de lutas. Para pregar peças.

— Pregar peças?

— A questão é que as fronteiras são fechadas para manter os mortais e os monstros de fora. Do lado de fora, os mortais olham para o vale e não veem nada de inusitado, apenas o que a névoa os permitem ver.

— Então vou ficar o ano todo... — Repeti de forma triste.

Engoli com dificuldade aquilo... eu não queria ficar longe da minha família...

Sei que passo tempo demais reclamando dos meus irmãos parasitas irritantes, mas... eu nunca pensei que um dia eu teria que ficar longe deles... ou muito menos longe da minha mãe ou do meu pai... que nem ao menos teve a decência de aparecer e explicar essa história direitinho, tintim por tintim...

Mordi meu lábio inferior tentando conter minhas lágrimas, mas não consegui fazer isso e comecei a chorar e a soluçar como uma verdadeira garotinha assustada que eu era e sempre seria.

Minha mãe me abraçou com força e enterrei meu rosto em seu abraço.

— Porque.... Por que o papai não está aqui...? — Solucei em meio as lágrimas.

Meu pai deveria estar aqui para explicar essa história direito! Não a minha mãe!

— Seu pai é muito atarefado como Deus, por isso, às vezes, ele não pode estar presente. — Minha mãe diz com uma voz calma e gentil, enquanto faz um pequeno carinho no topo da minha cabeça.

Grande merda. Meu pai é um Deus. Eu sou filha de um Deus, logo eu a ateia...

— Eu não quero ir embora, mãe... — Solucei em meio as lágrimas.

Minha mãe beija o topo da minha cabeça.

— Eu sei que não quer, coração de aço..., mas... acredite, você vai estar melhor e segura lá.

— Não, não, não! — Repeti não querendo aceitar meu fático destino, como uma criança mimada, algo que realmente sou.

— Tavy... Veja... assim que você aprender se defender vai poder voltar para a casa mais cedo e talvez... ficar no acampamento só nas férias. — Ela diz. — Sei que não quer ficar longe de mim ou de seus irmãos, mas... é preciso... quanto mais cedo você for, mais cedo voltará para a casa. Acredite em sua mãe.

Não digo nada. Apenas me contento a ficar abraçada ao máximo que posso com minha mãe, pois talvez essa possa ser a última vez em que posso estar segura em seus braços.

***

Acho que a vida pensa que sou a versão mirim do Patati e do Patata, porque ela só me faz de palhaça. Não estão entendendo? Calma... eu vou explicar, mas antes deixe-me exibir minha indignação por ser uma semideusa. Vou escrever minha carta de reclamação e vou enfiá-la goela à baixo do dono do espermatozoide que me trouxe a vida.

Quero dizer, eu nunca acreditei nessa coisa de sorte ou azar, mas puta merda! Sou a pessoa mais azarada do mundo! No Brasil costumamos dizer que quem nasce com o cu virado para lua, é uma pessoa de sortuda. Mas no meu caso, acredito que nasci com o cu virado para o sol, porque eu sou uma pessoa azarada demais.

Se eu soubesse o quanto de problemas que iria causar em um único dia e noite em Nova York, teria deixado Equidna e Roberto me devorarem e eu ainda perguntaria para eles: aceitariam molho inglês? Ou um limão? Porque... só pode ser karma. Sabia perfeitamente que Brasileiros não eram lá um povo muito normal, mas depois de tudo que Grover e eu aprontamos... Acho que os americanos vão pegar cada brasileiro e manda-los para a NASA. É, pessoas, o meme é real. O Brasileiro vai ser mesmo estudado pela NASA.

Eu sabia que poderia atrair muitos monstros, mas aparecer um monstro a cada cinco minutos? Aí tu tá de sacanagem comigo! Nem dá tempo para respirar, recuperar o fôlego ou beber uma aguinha. Por favor, até nas lutas de UFC tem um "tempo" então porque não pode ter um intervalo válido de monstros também?! Meu sedentarismo critico agradece. Acho que estava começando a entender perfeitamente o que significava ser uma semideusa. Significava sempre se meter em furas e confusões. Se virem meu pai, deem um chute nos países baixos dele por mim, ouviram?

Agora que já fiz minhas ressalvas sobre essa coisa de ser uma infeliz semideusa, vamos falar sobre como tudo foi de mal a pior quando coloquei meus pés em Nova York. Roubamos um pônei azul de uma criança melequenta, invadi o show da Katy Perry, conheci uma veia maluca do leque — que era filha de Atena —, enchi a pança de graça numa mansão em um luxuoso condomínio no Queen, conheci duas ruivas — uma que era sardenta e gostava tanto de pinturas quanto eu e outra que era quase um gnomo ruivo obcecado pela cor rosa neta da veia do leque do mal —, e também conheci Apollo e posso ter flertado com ele... Qual é o cara é literalmente um Deus bonito para caramba e meu tio... Ah, mas na mitologia grega, todo mundo pega todo mundo então tá suave na nave.

Vamos começar pelo fato de que um grifo maldito tentou me devorar e eu dei uma mochilada na fuça daquela galinha mal-amada e posso também sem querer ter incentivado Grover a atropelar aquela galinha e ter quase nos jogado de um penhasco para a morte? Posso. Mas vocês terão que provar isso, ouviram?! Todo mundo é inocente até que se prove ao contrário e se aquela galinha quiser me processar, eu vou depenar ela. Aí de quem chamar o IBAMA para mim. Eu rodo a baiana! A mineira! A carioca! O caralho a quatro se for preciso!

Enfim, vamos começar por quando tudo começou a dar mesmo errado...

***

Ainda estávamos sobrevoando o estado da Flórida. Eu dormi por algum tempo e Grover também dormiu. Mas depois do breve cochilo, eu comecei a ficar completamente agitada e ansiosa, ao ponto de sequer meu cubo mágico estava me ajudando com isso. Eu já tinha virado e desvirado ele tantas vezes que até mesmo meus dedos já sabiam de cor como tornar os padrões de cores dele uniforme. E então, sem saber como lidar com minha ansiedade, decidi pegar um livro para ler em um dos bolsos da minha mochila rosa da Barbie.

A edição de colecionador e de capa dura de Arsène Lupin: O Ladrão de Casacas. Eu sei o que você deve estar pensando... Uma criança não deveria ler livros assim, mas... Os livros infantis já eram entediantes para mim, tudo muito ilusório e perfeito, um enredo clichê sobre como a amizade pode mudar a vida das pessoas, ou sobre como não se deve ser trapaceiro e outras coisas. Eu já tinha lido praticamente todos os livros infantis que minha mãe tinha me dado e queria ler livros mais adultos, complexos e clichês. Claro que existia algumas palavras que desconhecia por serem bastante rebuscadas, mas nada que um dicionário não resolva...

Por um momento me pego pensando nos meus primos. Sadie e Carter, sempre vivíamos grudados sem parar, Sadie principalmente era mais grudada comigo do que ninguém. Será que se na próxima reunião em família, se contasse para eles que meu pai era um Deus, será que eles ririam de mim ou acreditariam...? Bom a Sadie acreditaria em qualquer baboseira que eu dissesse, mas Carter... Ele iria me zoar pelo resto da minha vida.

Penso num momento em Doraalice, minha outra prima, filha da irmã caçula da minha avó chamada: Larissa Castro, essa que engravidou aos quatorze anos e foi expulsa de casa pelos pais, antes de entrar ilegalmente nos Estados Unidos pela fronteira com o México em busca de uma oportunidade de vida melhor. Dora me lembrava um pouco de Ársene Lupin, já que ela vivia dizendo que esse era um de seus livros favoritos e quando brincávamos, Dora sempre era Ársene Lupin e eu era Herlock Sholmes — que era uma paródia de Sherlock Holmes criada por Maurice Leblanc. Sempre éramos esses personagens, Dora era o famoso ladrão francês e eu era a detetive inglesa. Era divertido essas brincadeiras, mas... Sempre quando lia os livros de Ársene Lupin, me lembrava automaticamente de Dora.

Eu não tinha muito contato com Dora, a via muito pouco quando minha avó insistia em visitar a irmã em Los Angeles e as duas sempre brigavam. Consigo lembrar facilmente da última vez que vi Dora, foi no mês passado.

Estava Dora, Carlos — o irmão adotivo de Dora — e eu jogando dominó no minúsculo quartinho empoeirado que Dora dividia com o irmão adotivo, eles nem tinham uma cama para dormir e os cobertores... Eles eram bem finos e não esquentavam nada, sem mencionar nas roupas velhas que usavam e nas vezes que tomavam banhos frios porque não tinham dinheiro para pagarem a luz. Larissa e os filhos viam numa situação muito precária e ainda moravam de favor no apartamento do namorado de Larissa chamado Phil.

Por algum motivo Larissa nunca quis aceitar a ajuda financeira da minha avó ou muito menos o dinheiro do meu avô e eu nunca entendi isso, mas... Eu sempre me sentia um verdadeiro lixo quando visitava Dora, me sentia uma mimada de merda que tinha tudo, enquanto ela não tinha absolutamente nada. Nem mesmo uma cama para poder dormir. Sempre quando ia visita-la, eu levava para Dora um pouco dos meus infinitos brinquedos, roupas minhas e comidas que eles não podiam comer sempre como por exemplo: Chocolate. Vovó fazia questão de comprar roupas para Carlos, remédios para ambos, material e outras coisas.

Acho que Larissa só aceitava vovó ajudar seus filhos, pois sabia que ela não podia, mas era orgulhosa demais para aceitar que também precisava de ajuda.

Carlos, Dora e eu estávamos jogando dominó, quando ouvimos a voz masculina raivosa vir da cozinha junto com o som da porta sendo batida com força. Eu me assustei.

— É o Phil... — Dora diz sem expressão alguma. — Ele sempre chega assim todos os dias, fedendo a álcool...

Um gosto amargo tomou conta da minha boca nesse momento.

— Ele bate nela... — Disse se referindo a Larissa. — E em nós também. Ele nos espanca dia e noite...

Cerro meus punhos.

— Mas porque vocês aceitam isso...? Porque a mãe de vocês se sujeita à isso...?

Dora dá um sorriso sem emoção.

— Porque é Phil que banca a gente, Octavia. O apartamento é dele, o dinheiro é dele, é por causa do casamento da nossa mãe com ele que não fomos deportados para o Brasil por estarmos ilegal aqui. Não estamos nessa situação porque queremos, mas...

— Porque precisam... — Completei. — Sua mãe poderia vir com a gente. Vocês também! Não precisam de Phil! Temos dinheiro o suficiente e podemos comprar uma casa para vocês e...

Dora negou.

— É gentileza de vocês, mas... Nossa mãe não quer aceitar... Ela disse que seu avô é uma pessoa ruim, muito ruim ao ponto de querer me usar como rato de laboratório.

Sugo o ar para dentro dos meus pulmões e bato com força minha mão sobre nosso jogo de dominó, o espalhando pelo chão do quarto, atraindo o olhar surpreso de Dora e Carlos.

— Como você pode falar isso do meu avô?! — Levantei furiosa gritando. — Ele é uma ótima pessoa! Você e sua mãe são duas mentirosas!

A expressão de Dora mudou rapidamente e em um súbito lampejo vi suas íris brilharem num tom alaranjado como dois anéis de fogo, antes dela levantar e vir em minha direção, me empurrando bruscamente para trás me fazendo cair sentada.

— Não fala assim da minha mãe, sua idiota! Seu avô é um monstro! Nem você e nem sua avó conseguem perceber isso! — Dora gritou.

E eu fui tomada pela raiva, chutando o tornozelo de Dora, fazendo-a cair para trás, antes de subir sob ela e começar a estapeá-la.

— Sua mãe é uma mentirosa! Meu avô é o homem mais gentil e bondoso do mundo inteiro! Você e sua mãe são duas orgulhosas de merda! E quer saber?! Vocês tem inveja de tudo o que minha avó e eu temos! Bem feito para vocês! Que apanham dia e noite! Isso é pouco perto do que merecem! — Eu estava tão nervosa que estava falando tudo sem pensar, deixando a raiva me dominar, enquanto a estapeava.

Carlos tinha se levantado e ido correndo chamar Larissa e minha avó para apartar a briga.

Os olhos de Dora voltaram a brilhar, só que o direito ficou laranja como se labaredas flamejantes dançassem ali e o esquerdo ficou azul como o gelo. Isso me assustou, mas era tarde demais. Dora rugiu, mas não era um rugido comum, era como se fosse um animal selvagem lutando para se libertar e então... Ela me deu um chute forte na barriga, para me fazer voar pelo quarto, até eu bater as costas violentamente contra a parede, eu gritei de dor, mas essa dor não foi nada comparado ao que eu senti quando Dora apareceu do nada diante de mim e mordeu meu pescoço com força, me fazendo gritar mais ainda pela dor e pelo sangue que sentia escorrer para fora do meu corpo.

Sim, Dora havia me mordido com tanta força que seus dentes perfuraram minha pele ao ponto de fazê-la sangrar. E a parte mais bizarra era que Dora parecia estar sugando o meu sangue.

A única coisa que me lembro era minha avó puxando Dora para longe de mim, antes de perder a consciência. Essa foi a última vez que vi Dora.

Toco instintivamente o local onde ela tinha mordido, mas já havia se curado.

Eu pensava que ter visto os olhos de Dora brilharem daquele jeito fosse apenas um fruto da minha imaginação e o fato dela ter me mordido, foi porque ela deixou a raiva dominá-la e não o fato de Dora ser uma vampira ou coisa do tipo... Até porque, ela andava tranquilamente na luz do sol sem ser queimada e não dormia num caixão. Mas e se... Dora também fizesse parte desse mundo louco que a névoa faz questão de esconder...

Ela seria uma semideusa como eu? Até porque, Dora nunca conheceu o pai, então só talvez...

Ouço Grover roncar ao meu lado e isso me assusta o suficiente para deixar com que o livro que roubei da biblioteca secreta do meu avô caia no chão do jatinho, me fazendo bufar, mas... Quando me abaixo para pegar o livro, vejo que tem um papel amarelo saindo para fora de uma das páginas dele. Junto minhas sobrancelhas e pego o livro, tirando a folha solta que ele tinha para fora, a abrindo e reconhecendo a caligrafia do meu avô ali.

"Jotun provavelmente se deriva da mesma raiz que "comer", mantendo o mesmo significado original de "glutão" ou "homem-comedor." Seguindo a mesma lógica, þurs pode se derivar do atual "sede" ou "bebedor do sangue"."

Apesar de não entender absolutamente nada do que aquilo queria dizer, algo me chamou atenção foi o nome de Dora está ali naquele papel circulado repetidas vezes, tanto repetidas que o circulo deixou o papel raso, quase sendo rasgado na parte preta. Doraalice Dorotéia Castro. Era o nome completo de Dora e estava ali, sendo circulado repetidas vezes... Mas... Porquê...?

***

Quando Grover acordou, ele olhou ao redor para se ter certeza que realmente estava em um jatinho particular e não estava sonhado.

Meu amigo metade bode havia ficado completamente impressionado pelo fato que ele realmente estava andando em um jatinho particular pela primeira vez e pode comer tudo o que quisesse, inclusive as latas de Pepsi que eu tinha acabado de beber, ainda era uma criança, então nada de bebidas alcoólicas por enquanto, mas não vou mentir que não tinha ficado completamente em choque quando vi Grover literalmente comer uma lata de refrigerante como se fosse algo absolutamente normal. Ou como se seus dentes estivessem perfeitamente preparados para aquilo e o mais bizarro é que eles sequer se quebraram quando morderam o metal.

Fiquei o encarando estática, principalmente quando o vi engolir o metal sem nenhum tipo de problema. Percebendo meu olhar fixo em si, o sátiro ainda me perguntou:

— Quer um pouco?

Fiz a minha melhor careta do mundo ao ouvir aquela pergunta. Uma careta digna de se tornar um meme bem popular na internet.

— Não. Valeu. — Disse me virando para a janela do avião vendo tudo ser completamente minúsculo ali decima.

Um voo do Rio de Janeiro para Nova York duraria em média 10 horas. O que significava que chegaríamos no início da tarde do dia seguinte. Acho que não sei conseguirei me adaptar ao fuso horário, sempre quando ia para Londres, demorei uma semana para adaptar o fuso horário londrino. E bem... Eu definitivamente odeio a américa...

Mas sobre o misterioso papel com a caligrafia do meu avô sobre aquela citação estranha com o nome da Dora, resolvi ignorar, pois não me parecia ser muito importante e o coloquei de volta dentro do livro, quando o guardei na minha mochila mais uma vez. E comecei a olhar para além da janela do avião.

Enquanto estava olhando para a janela de fora do jatinho, vendo os prédios minúsculos de Nova Jérsei, uma vez que o aeroporto de Newark ficava ali, estava tão distraída olhando os prédios que perguntei para Grover:

— Porque os Estados Unidos? Quero dizer, o lógico não seria irmos para a Grécia ou coisa parecida onde ficava os semideuses?

Grover estava mastigando sua latinha sem dificuldade, até que a engoliu facilmente, antes de me responder:

— É porque os Deuses Olimpianos estão aqui...

Arregalei os olhos.

— Tá brincando, não é? Como assim eles estão aqui? Nos Estados Unidos?!

Grover me encarou sério.

— Bem, certamente. Os deuses mudam com o coração do Ocidente.

— O quê?

— Vamos, Octavia. O que vocês chamam de "civilização ocidental". Você acha que é apenas um conceito abstrato? Não, é uma força viva. Uma consciência coletiva que ardeu brilhantemente por milhares de anos. Os deuses são parte dela. Você pode até dizer que eles são sua fonte ou, pelo menos, que estão ligados tão intimamente a ela que possivelmente não vão deixar de existir, a não ser que toda a civilização ocidental seja destruída. A chama começou na Grécia. Então, como você bem sabe... o coração da chama se mudou para Roma, e assim fizeram os deuses. Ah, com nomes diferentes, talvez: Júpiter em vez de Zeus, Vênus em vez de Afrodite, e assim por diante; mas as mesmas forças, os mesmos deuses.

— E então eles morreram.

— Morreram? Não. Seu pai morreu? O Ocidente morreu? Os deuses simplesmente se mudaram, para a Alemanha, para a França, para a Espanha, por algum tempo. Aonde quer que a chama brilhasse mais, lá estavam os deuses. Eles passaram vários séculos na Inglaterra. Tudo o que você precisa é olhar para a arquitetura. As pessoas não esquecem os deuses. Em todos os lugares onde reinaram, nos últimos três mil anos, você pode vê-los em pinturas, em estátuas, nos prédios mais importantes. E sim, Octavia, é claro que agora eles estão nos Estados Unidos. Olhe para o símbolo do país, a águia de Zeus. Olhe para a estátua de Prometeu no Rockfeller Center, para as fachadas dos edifícios governamentais em Washington. Eu a desafio a encontrar qualquer cidade americana onde os olimpianos não estejam proeminentes expostos em vários locais. Goste ou não – e acredite, uma porção de gente não gostava muito de Roma também -, os Estados Unidos são agora o coração da chama. São a grande potencia do Ocidente. E, portanto, o Olimpo é aqui. E nós estamos aqui.

Aquilo tudo foi demais para mim, especialmente o fato de que eu parecia estar incluído no nós de Grover, como se fizesse parte do mesmo clube.

— Claro que os Deuses estariam aqui... O país símbolo do capitalismo, homogenia cultural e obviamente o país mais hipócrita que financiou por anos o regime ditatorial nas Américas Latinas. Claro que os Deuses viriam para cá! Um bando de egocêntricos e péssimos pais!

Quando disse aquilo, um raio passou próximo do avião, me fazendo dar um pulinho assustada e um gritinho fino, enquanto Grover ficou assustado e sério. Aquele raio quase acertou a asa do avião e ao constar isso, minha respiração acelerou.

— Ah, Octavia... Se eu fosse você tomaria cuidado com o que fala... Os Deuses podem ser bastante imprevisíveis e impiedosos quando querem...

— Esse raio...

— Foi porque você falou aquilo... — Grover completou. — Tome cuidado com o que fala, os Deuses sempre estão ouvindo tudo e observando tudo...

Suspirei, tentando acalmar minha respiração acelerada e meu batimentos.

Maravilha, sequer posso falar mal dos Deuses sem ser ameaçada com um raio... Cadê a liberdade de expressão? Os Estados Unidos não são o símbolo da liberdade e democracia? Então onde está esses valores? Os Deuses devem ter enfiado no lugar onde não bate o sol, só pode...

Depois disso fiquei calada o tempo todo e emburrada.

Mal entrei nessa coisa de semideusa e já estou odiando tudo.

— Então... O Monte Olimpo... Ele pode mudar de lugar...? — Perguntei tentando raciocinar se isso era fisicamente possível. Talvez seja, já que meu pai é um Deus... Então... Qual a probabilidade da ciência conseguir explicar alguma dessas merdas todas? — Quero dizer... O Monte Olimpo não era uma montanha física...?

Grover suspirou.

— A montanha não se conecta com o solo e não pode ser detectada por mortais devido à névoa, mas está conectado ao mundo mortal por um elevador espacial. Dizem que está pairando sobre o edifício Empire State. Possivelmente exista em outra dimensão, devido ao fato de estar flutuando com sua grande massa sobre a cidade mortal sem ser detectada. No topo dela está uma grande cidade contendo palácios para os deuses do Olimpo e residências para muitos deuses menores e criaturas da mitologia grega.

Ok, eu não entendi nada, mas apenas segui as instruções dos pinguins de Madagascar: sorriem e acenem. E fiz a mesma coisa com Grover, sorri feito uma psicopata e acenei feito uma louca.

Grover uniu as sobrancelhas, confuso, mas não disse nada. Ainda bem, porque meu novo amigo é um sátiro e meu pai é um Deus e nada é mais confuso do que isso...

***

Quando pousamos na pista de Newark, não levou muito tempo para retirarem minha bagagem e passarem para o carro, onde o motorista de confiança da minha mãe nos aguardava. Grover murmurou que ele era confiável e que não sentiu nada suspeito em relação ao motorista e meu sátiro de estimação informou a George — o motorista britânico — que era para nos levar até Long Island, o que custaria em média duas horas de viagem pela estrada da rodovia 95.

Até aí tudo estava indo bem... Mas no momento em que passamos em frente ao Museu de Arte de Newark, eu fiquei com vontade de ir ao museu para conhecer as inúmeras obras dos artistas que tinham ali, por mais que Grover dissesse que era arriscado e perigoso demais. E por incrível que parecesse, eu realmente ouvi o aviso de Grover e não fiz nada estupido e me comportei como uma verdadeira criança comportaria para ganhar um doce ou um presente. Ainda era o início da tarde quando George decidiu parar para abastecer em posto que encontramos na rodovia e por mais que ele dissesse que não iria demorar, isso serviu para deixar meu sátiro ansioso e preocupado.

O Underwood não parava de olhar para os lados a cada dois minutos e também estava roendo as próprias unhas.

— Grover... Calma! Já faz uma hora que nenhuma criatura apareceu do além e tá indo tudo bem desde que pisamos nos Estados Unidos.

Meu sátiro me encarou seriamente.

— É por isso mesmo que estou preocupado.

Revirei os olhos.

— Está indo tudo bem... — Repeti segurando sua mão com força.

Grover deu um leve sorriso.

— Você é muito positiva sabia?

— Bom... Entrei nessa vida de semideusa em menos de quarenta e oito horas, ou eu tento ficar calma e ser positiva, ou surto igual ontem... Acho que chorei demais, está na hora de encarar a verdade: eu faço parte desse mundo grego e louco.

— Você vai se sair bem... — Grover disse e eu sorri com o que ele disse.

— É o que espero... — Suspiro e meu olhar vaga para através da janela do carro, observando George abastecer o carro, tranquilamente do lado de fora e atrás dele tinha uma loja de conveniência. E senti uma vontade absurda de comer chocolate. — Eu acho que vou... — Antes de terminar minha frase algo me chama a atenção bem no fim da rodovia atrás de nós. Olho através do vidro de trás da SUV e espremo meus olhos um pouquinho mais tentando enxergar o que poderia ser, mas meu astigmatismo não estava ajudando muito. — Grover... Aquilo é uma águia...? — Perguntei não tendo muita certeza do que eu realmente estava vendo, podendo ser a minha visão desfocada graças a ausência dos meus óculos.

Grover imediatamente se virou para trás, olhando exatamente na direção onde eu estava olhando. E então, subitamente o sátiro arregala os olhos e sua respiração começa a ficar pesada, ao ponto de quase perguntar estupidamente ao meu sátiro o que poderia ter acontecido para ele ficar daquele jeito, mas então... O Underwood soltou um palavrão em grego antigo que meu cérebro traduziu para: "vá para as estranhas do Tártaro", mas não tenho certeza se essa era tradução certa.

— Grover... O que...

Antes que pudesse terminar o que eu ia dizer, o Underwood saltou para o banco da frente, exatamente no banco do motorista, rapidamente tirou seus pés falsos, antes de girar a chave na ignição e pisar com força no acelerador com de seus cascos fendidos, ao ponto do impulso repentino me jogou brutalmente para trás e só consegui ouvir o som irritante do catando pneu pelo forte atrito com o asfalto e George ficando para trás no posto de gasolina soltando uma exclamação e provavelmente um palavrão em inglês. E a pior parte foi que sequer George tinha fechado o tanque ou terminado de abastecer o carro e o cheiro forte e viciante da gasolina foi inalado por mim, pois o liquido estava escorrendo para fora do veículo em movimento.

Tento me recuperar do repentino susto e do impulso forte que a arrancada do carro fez com que minhas costas batessem violentamente contra o banco traseiro. Meu coração estava acelerado e minha língua doendo, pois sem querer eu havia a mordido devido o susto repentino e tinha um forte gosto de sangue na minha boca.

Fiz uma careta tentando me ajeitar sob o banco com dificuldade e digo:

— Merda! — Gritei em inglês, sim quando estou nervosa misturo o inglês com o português facilmente, criando um novo idioma o portglês. — GROVER! — Berrei. — Que merda está acontecendo?! Decidiu virar o Dom Toretto por acaso?! — Comecei a misturar as palavras em inglês e português, não tendo absoluta certeza se Grover Realmente tinha entendido tudo.

Mas então ele disse em inglês:

— Olhe realmente para trás, Octavia! — Manda em um tom rígido e severo.

Me ajoelho sobre o banco de trás, ficando sobre uma altura razoável para que eu possa ver melhor, o motivo repentino para meu sátiro buscador agir daquela forma. E eu olho para através do vidro de trás da BMW e ouço grasnar alto de uma águia, antes de piscar repetidas vezes e deixar meu queixo cair. Olhando atentamente para trás e espremendo meus olhos, porque meu astigmatismo estava atacando novamente, no entanto, aquilo que anteriormente eu pensei ser apenas uma águia de longe era na verdade uma outra coisa... Um outro ser híbrido, assim como Grover era.

A cuja águia tinha um corpo de um leão, com o rosto e os pés de uma águia nas patas dianteiras, olhos vermelhos redondos e um bico longo e afiado. Também tinham um par de asas grandes nas costas que lhe permitia voar. Ele era colorido de preto.

Aquilo era certamente um dos monstros que perseguiam e matavam semideuses. Não consigo acreditar!

Como Grover havia dito anteriormente, estava tudo tão calmo demais!

Quero dizer aquilo sobre minha mãe e o Underwood dizerem que meu cheiro era forte para atrair muito monstros, eu pensei que apenas um exagero exacerbado do que eles queriam dizer, mas vejo que estava errada... Eu realmente tenho um cheiro forte.

Será... Que esse tal cheiro que Grover e minha mãe falavam seriam os feromônios que o corpo de um semideus seria capaz de produzir? Mas isso não poderia fazer sentido, uma vez que os feromônios são substâncias que funcionam como mensageiros entre seres da mesma espécie, desencadeando respostas fisiológicas e comportamentais previsíveis. Precisa ser da mesma espécie para os feromônios fazerem efeitos... Olho atentamente para a criatura que nos perseguia, procurando alguma semelhança entre nós, mas não conseguia encontrar absolutamente nada...

Então arregalo os olhos e minha respiração fica descompensada quando meu raciocínio lógico é interrompido rapidamente quando me dou conta de uma coisa:

— Oh não! — Soltei automaticamente, me virando para Grover, alarmada. — A gente deixou o George para trás!

Grover suspira e num movimento brusco desvia de um carro, já que ele tinha entrado na contramão na rodovia, me jogando brutalmente contra a janela e a porta do carro, sentindo meu rosto ser amassado completamente por isso e obviamente perdendo meu BV com o vidro do carro. Maravilha, desde que conheci Grover, minha reputação está indo de mal a pior. Será que tem como processar sátiros por danos morais?

— Você está mesmo mais preocupada com George do que com Grifo sanguinário que está prestes a nos matar ali atrás?

Descolo meu rosto e meus lábios do vidro e dou de ombros.

— Sim. Eu me preocupo com as pessoas! — E principalmente pelo fato que minha mãe tinha dito que George nos levaria em segurança até Long Island, porque... Vai que George é na verdade um super guarda-costas para semideuses?! Ou um ninja? Vai saber... Apenas sei que talvez fosse melhor ouvir minha mãe e não deixar George para trás.

Além do mais ele parecia ser um cara legal... Até me deu algumas balinhas quando sai do jatinho, contou piadas engraçadas e até é fã da Beyoncé, viemos de Newark até aqui cantando Crazy In Love e Run The World até nossas gargantas doerem. Ele é um cara legal. Então deixar ele para trás assim é horrível. Me sinto mal por isso.

— Pela flauta de Pã! Octavia! George é um mortal, ele vai ficar bem! Você é uma semideusa! É claro que aquele grifo quer matar você, uma descendente de Hércules é um buffet completo para monstros.

Lembrete: Chutar os países baixos do meu ancestral estúpido quando o encontrar. Afinal Hércules se tornou um Deus quando morreu, não foi? Quando o encontrar vou lançar meu melhor golpe contra ele: havaianas shurikens e depois usar meu jutsu correr para salvar minha vida. Sim, eu sou imprudente, mas não sou corajosa. Como disse, estupidez é uma coisa, coragem é outra bem diferente.

Um grifo estava nos perseguindo e tentando nos devorar... Quero dizer me devorar... Porque sou uma semideusa e... Estou tentando pensar de forma racional e não surtar como surtei quando vi Equidna e Roberto pela primeira vez, acreditando que eles eram aliens, qual é, eu sei que vocês pensariam no mesmo, se estivessem no meu lugar.

Sinceramente, pensei que os Grifos se parecessem com animais nobres, como leões de asas, mas assim que vi um (o que está nos perseguindo), decidi que me eles lembravam mais de hienas voadoras. Que estão perseguindo uma carniça como eu. Er... Autoestima não é o meu forte, acho que já perceberam, certo? Tentem ter minha altura e os meus dentes tortos e encavalados e vocês vão sentir rapidinho como eu realmente me sinto. O verdadeiro patinho feio.

Estava tão distraída nos meus pensamentos, que levei o segundo susto naquele dia, quando ouvi o som de vidros sendo estraçalhados e repentinamente algo puxou com força a minha blusa para trás, quase me levando para fora do carro através da janela, isso se Grover não tivesse segurado um dos meus tornozelos com uma das mãos, enquanto a outra estava segurando o volante com força. Sentia o forte vento se chocar contra meu rosto e a parte detrás da minha nuca.

Instintivamente olhei para trás e esse foi meu grande erro, arregalei os olhos e gritei, quando constatei que o que estava me puxando pela blusa era nada menos que o próprio grifo, que agarrou o tecido com seu bico gigante e tentava me puxar para fora do carro, enquanto Grover ainda me puxava para dentro do veículo, me fazendo me sentir como se fosse a corda de um cabo de guerra estúpido qualquer. Puxam de um lado, puxando de outro.

Eu nem sei como conseguia ser sarcástica num momento desses, mas sem saber o que fazer, comecei a gritar desesperada.

— Octavia! — Grover me chamou, alternando seu olhar entre a estrada e entre a minha situação, mas mantendo sua mão esquerda firme no volante e a direita segurando meu calcanhar.

As asas do grifo batiam com força sobre o ar causando um certo tipo de vento forte, ao ponto de bagunçar completamente meu cabelo, realmente eu sentia a força da tração ao ser puxada de um lado e ao mesmo tempo de outro, como se fosse ser partida completamente ao meio. E, obviamente, essa era uma das últimas coisas que queria. Mal tinha entrado nessa vida de semideusa e a morte já tinha aparecido cerca de quatro vezes para mim. E, não, isso não era nenhum pouco legal.

Escutava os gritos do monstro que se assemelhavam facilmente com de uma águia impiedosa e completamente faminta atrás de mim. E comecei a me amaldiçoar pelo tecido da minha blusa ser tão resistente ao ponto de sequer rasgar por estar sendo puxado pelo bico de um grifo, parte das minhas panturrilhas estavam dentro do carro, enquanto a outra metade do meu corpo estava para fora, sentia até mesmo os caquinhos de vidro rasparem lentamente minhas pernas através do tecido do jeans — que acredito que não estivesse o usando, teria me cortado severamente. Os carros passavam ao nosso lado buzinando alto e me perguntava se eles realmente estavam vendo aquilo, ou só a névoa estava disfarçando o que realmente estava acontecendo.

Eu não sabia o que fazer. O grifo que me puxava para fora da janela do carro, estava voando e quando olhei para baixo vi um desfiladeiro imenso à beira da estrada com apenas uma mureta de metal fixa na beirada no objetivo de impedir que os carros que batessem ali, caíssem no desfiladeiro infinito e o grifo estava me puxando exatamente para essa direção. Sabia claramente que se me debatesse demais e o Grifo me soltasse eu poderia morrer por causa da queda, mas se ele não me soltasse, eu viraria seu jantar e também existia uma pequena chance remota de que nenhuma das alternativas anteriores acontecesse, mas existia a chance de que caísse no asfalto e o SUV que Grover dirigia passe por cima de mim, me esmagando como se eu fosse uma forma de vida insignificante. Ou seja, não importa o que eu fizesse, eu ia morrer de qualquer maneira, no final.

Ok, isso não era nenhum pouco motivador. Acho que indiretamente mandei toda minha positividade para a casa do caralho e comecei a gritar desesperadamente.

Eu comecei a me sentir assustada e um leve calafrio começou a tomar conta da minha barriga, me deixando completamente agitada, talvez o grifo poderia sentir o meu medo. Assistir documentários da vida animal o tempo todo e eles sempre diziam que os animais poderiam sentir seu medo facilmente. Se isso era verdade, então eu provavelmente estaria fedendo a medo puro, pois estava fazendo coisas estupidas e menos racionais como: me debater sem parar e gritar como uma verdadeira descontrolada.

Ao mesmo tempo que Grover gritava meu nome, segurando meu tornozelo e olhando para a estrada, não sabendo se me salvava ou evitava um provável acidente de trânsito. O que me fez pensar futuramente se sátiros podiam dirigir... Mas isso não pareceu tão importante quando o grito do grifo atravessou meus tímpanos quase os estourando de uma só vez. Parecia que estávamos em uma competição para ver quem grita mais: Grover, o Grifo ou eu. E não querendo parecer arrogante, mas já aparecendo... EU ESTAVA GANHANDO ESSA DISPUTA.

Foi inevitável não lembrar do que tinha acontecido no consultório odontológico com Equidna e o meu professor, Roberto, tentando me devorar. Me questionei sobre o fato que talvez fosse tão fraca assim para que os monstros quisessem me devorar ou me perseguir.

Bom ao que tudo indicava, eu era descendente de Hércules e Perseu, os 2 famosos e destemidos semideuses da mitologia grega, mas eu não era como eles. Eu era magricela, baixa, tinha dentes tortos e porra só tinha apenas 7 anos! O que uma criança de 7 anos poderia fazer?

Bom, o que eu poderia fazer, eu não sei, mas... Fiz algo completamente idiota e imprudente.

De alguma forma louca e bizarra, eu ainda estava segurando a alça da minha mochila com a mão esquerda e o punho de Messorem — a espada de ouro imperial de minha mãe, reluzia para fora de um dos bolsos. Eu não sei bem o que aconteceu, talvez fosse meu TDAH e minha estupidez agindo em conjunto, ou coisa do tipo. Com um único movimento balancei a alça da minha mochila com força o suficiente para fazer com que ela batesse de uma só vez na cara do Grifo, que apenas gritou, mas ainda continuou me segurando, então comecei a repetir o processo de mochiladas na fuça daquela galinha de meia tigela, sem hesitar, até que a galinha se manteve firme e então com minha mão direita livre segurei o punho de Messorem firmemente e a puxei de uma só vez de dentro da mochila.

Eu juro que não sei como fiz aquilo. Você tem que acreditar nisso, quando digo essas palavras, porque é a verdade.

A lâmina de ouro imperial brilhou, refletindo o brilho dourado da luz do sol e me deixando guiar pelos meus instintos de sobrevivência, eu girei o punho da espada de uma só vez entre meus dedos da mão direita, virando a ponta da lâmina para trás sem medo. Era como se eu soubesse exatamente o que fazer com ela, mesmo sem nunca ter tocado numa espada ou lâmina antes e então cortei de uma só vez uma das patas dianteiras do grifo, que fez jogar uma espécie de ichor negro da ferida e devido a dor do monstro por ter um membro amputado, o Grifo imediatamente me soltou, mas diferente do que esperava ao cair de um desfiladeiro, Grover foi esperto e forte o suficiente para me puxar de volta para dentro do carro.

Só quando cai de bunda sob o estofado do assento do carro em meios aos cacos de vidro, foi quando me senti um pouquinho em segurança, o que realmente me parecia ser um lugar seguro, logo parou de ser um lugar assim, quando o Grifo colocou sua cabeça para dentro do carro uma só vez, fazendo com que o veículo quase tombasse para o outro lado por muito pouco, já que as rodas do lado esquerdo do SUV foram erguidas para o alto de uma só vez, as separando dos asfalto, devido a brutalidade e força com que o grifo colocou sua cabeça para dentro do carro através da vidraça que ele tinha quebrado e me puxado para fora... O quê...? Uns cinco minutos atrás. Não importa. Quando as rodas do lado esquerdo do carro voltaram a encostar no asfalto. Estava mais concentrada em me arrastar para o outro lado da porta do carro, me espremendo completamente ali, tentando o máximo não ser bicada por aquele bico enorme do Grifo que abria e fechava repetidas vezes e também gritava alto.

— Grover! — Gritei, me espremendo sob a porta do carro, bem atrás do banco de motorista, no qual Grover se encontrava dirigindo.

Meu sátiro buscador apareceu segurando um pé de cabra — que Deuses sabem onde ele arrumou aquilo — e acertou com força o metal na cabeça do grifo, repetidas vezes, que o fez gritar e tentar "bicar" Grover, mas o Underwood foi mais rápido ao se esquivar da bicada mortal, ao mesmo tempo em que tentava não bater o carro. Tentei perfurar o olho do Grifo com a ponta de Messorem, mas o Grifo estava furioso demais por eu ter amputado uma das suas patas dianteiras, ao ponto de quase bicar e arrancar minha mão e a espada entre meus dedos.

Outra ideia estupida surgiu em minha mente.

— Grover! Puxa o botão debaixo do assento! — Gritei.

— O quê? Mas...

— FAÇA LOGO! — Berrei furiosa e então Grover apertou o botão e a única coisa que vi, foi o porta-malas abrir e minha mala de rodinhas rosa saltar para fora do carro em meio a estrada e atingindo a cabeça daquela coisa.



Bom gente esse foi o capitulo!

Espero que tenham gostado <3

Não se esqueçam de votar e comentar, isso me motiva a continuar a fic, pois mostra se vocês estão gostando ou não :)

Bjs 💋

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