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Capítulo Extra: Onde tudo começou, part.1




Capítulo Extra: Onde tudo começou, part.1


Eu sei o que você está se perguntando.

" Octávia Stone, porque você e o Grover estão em todos outdoor da Times Square, sendo acusados de roubar um pônei azul? "

Acredite; você não vai querer saber.

Mas boa pergunta por sinal. Você pode culpar exclusivamente meu sátiro buscador por ser um desastre e ter o péssimo hábito de desmaiar e gritar por comida, ou você pode culpar meu parente divino, Ares, o Deus da Guerra e da Violência ou mais conhecido por mim como: paizinho. Acho que isso pode explicar facilmente meu temperamento difícil e volátil. Quero dizer... É estranho seu pai ser um Deus? É. Mas acho que você se acostuma com isso, com o passar do tempo. Porém, a única coisa que não consigo me acostumar é com diversos monstros me perseguindo e querendo me fazer de aperitivo, prato principal e sobremesa.

Um pouco confuso? Espere, eu vou explicar.

Talvez esteja me esquecendo de mencionar que... Eu sou uma semideusa. Eu sei, é chocante descobri isso aos sete anos, principalmente quando você tem um cheiro diferenciado que atrai uma horda de monstros querendo fazer picadinho de você. Grover disse que quando mais forte o semideus, mais monstros ele irá atrair... E vejam só, você tem que agir com isso como se fosse algo normal, o que definitivamente não é.

E correr. Você tem que correr muito para não virar picadinho de monstro.

Qual é, eu sou péssima em educação física. Sou sedentária.

Já viu algum nerd fazendo exercícios físicos? Claro que não! Porque nosso único tipo de exercícios são os vídeos games e vícios na cultura pop. É, tenho plena consciência que vou ser a responsável pelo meu suicídio social no futuro. Mas fazer o quê? Faz parte.

Até porque é muito bizarro uma criança de sete anos sozinha — acho que sequer posso chamar o Grover de meu responsável —, num país estrangeiro e ainda acompanhada por um homem metade asno. Mas não tão bizarro quanto você aparecer em todos os telões da Times Square sequestrando um pônei azul de uma criança mimada que tem meleca escorrendo pelo nariz e que faz um gigantesco escândalo colocando Nova York inteira atrás de você.

É, acho que meu lugar no Tártaro tá muito bem reservado...

No Brasil temos uma expressão que vou usar nesse momento: onde é que fui amarrar meu burrinho?

Ah é, talvez foi quando meu professor favorito tentou me comer? Ou foi quando ajudei Grover a escapar de levar uma surra dos valentões do nono ano, o ajudando a pular o muro da escola? Ou foi quando joguei meu pote de tinta vermelha na minha professora de artes, porque de repente ela apareceu com dentes pontiagudos e tentou me devorar?

Enfim, foram muitas roubadas que me meti sendo apenas uma criança de sete anos. Eu poderia culpar meu TDAH por ser tão inquieta e agitada como se tivesse bebido todos os energéticos do mundo com café, mas a verdade é que tenho o dom de me meter em situações complicadas sem sequer saber como foi que me meti nisso.

Eu, sei, sou sábia demais para usar realmente as melhores palavras para contar minha vida sendo que tenho apenas sete anos. A verdade é que sou superdotada, sim, eu sou uma completamente nerd que tem um cérebro tão grande que mal cabe na minha cabeça. E sou viciada em café e resolver problemas matemáticos do terceiro ano.

Ah e eu estou no sexto ano do fundamental, isso graças ao meu gigantesco cérebro.

Todos na minha sala têm entre onze e doze anos, mas, eu tenho sete. Os professores ficaram tão impressionados com o meu cérebro super desenvolvido e anos luz a frente da minha turma do primário, que decidiram me fazer "avançar" de turma. O que resultou na minha entrada no fundamental.

Enquanto a maioria das crianças da minha idade se contentava em brincar com brinquedos idiotas — exceto minhas bonecas Barbie, Barbie nunca é idiota —, eu me contentava em brincar com minhas bonecas Barbie, ao mesmo tempo em que era viciada em caça-palavras, cálculos, livros, entre outros. E eu também falo com fluência inglês, latim e espanhol. Eu sei, sou a próxima: Stephen Hawking.

Minha meta era simples, entrar no ensino médio com apenas 12 anos. Talvez ganhar um prêmio Nobel e obviamente fazer uma pesquisa científica que mudaria a vida dos seres humanos. Mas então... Grover entrou na minha vida com uma voadora estilo Bode Kong Fu, Full Pistola e depois disso, minha vida só foi ladeira a baixo.

Estou indo um pouco rápido demais? Bom... Desculpa, acho que antes de contar como virei à garota de sete anos mais procurada de Nova York e Grover meu possível sequestrador ou traficante de pobres crianças indefesas, segundo a mídia americana, preciso contar a história desde o início...

Então senta seu traseiro aí e presta muita atenção.



















Meu nome é Octávia Lucrécia Fonseca Whittemore Stone, da casa dos Marqueses de Whittemore e por ter um pouco de sangue nobre, tenho esse nome gigante. Sou 1/4 latina americana — é sou mestiça. Tenho sete anos. Sou baixinha, extremamente fresca, nerd, superdotada e uma incrível habilidade para me meter em furadas que nem sequer faço ideia de como isso acontece.

Minha bisavó, Sophie Whittemore, é a atual Marquesa de Whittemore e ela não gosta muito de mim, talvez porque não tenha o cabelo loiro, olhos azuis ou muito menos a pele leitosa dos Whittemore. E acredito que isso incomoda bastante ela e seu visível preconceito.

Meu avô — que era inglês —, se casou com minha avó brasileira, deficiente auditiva e com autismo. (o que diga-se de passagem não agradou nenhum pouco minha bisavó que fazia um pequeno inferno na vida da minha pobre avó).

Meu avô se chama Richard, ele era arqueólogo e estudou história em Oxford, mas ele teve que desistir da profissão para fazer uma faculdade voltada para negócios da família que ele assumiu, logo quando meu bisavô morreu. E sim, eu nunca o conheci, mas pelas histórias da família, ele, pelo visto, era tão horrível quanto Sophie.

Já a minha avó, Lucrécia, é totalmente brasileira. Ser autista e deficiente auditiva, não a impediu de se tornar uma médica muito renomada e conhecida, mesmo sendo de uma origem extremamente humilde e sendo julgada pelo fato que a mãe dela — minha outra bisavó, chamada Amanda — se casou por interesse com o padrasto dela. (um cara chamado Felipe Castro).

Minha mãe, Helena, já é uma renomada artista. Sim, ela pinta muitos quadros, mas por algum motivo, eles nunca foram para alguma galeria ou fizeram algum tipo de sucesso, mesmo minha mãe sendo extremamente talentosa. E por isso, ela se contenta em ser uma estilista, tirando a própria renda e desenhando vários tipos de modelitos, por mais que sua verdadeira paixão fosse à arte. Ah e minha mãe também é uma ativista que luta pelos direitos indígenas e quilombolas no Brasil, que aliás é onde atualmente moro; depois de espalhar o caos na Inglaterra — que é uma história que contarei mais para frente.

Em relação a meu pai, eu não sei muito sobre ele. É um pouco triste e incomodo isso, mas tento não me apegar muito a isso. Posso dizer que ele é tipo o Batman, aparece e some do nada. Ás vezes ele está muito presente na minha vida, mas ás vezes, ele não está. Isso sempre me pareceu estranho, no entanto nunca cheguei a perguntar minha mãe. Mas uma coisa é certa em relação a ele: sempre que aparece nas suas sutis visitas, eu sempre ganho algum irmão novo.

Ah e eu sou a primogênita e a filha mais velha.

Minha família — principalmente minha mãe e meu avô — são nerds em história, acho que isso explica meu cérebro superdotado. Meu nome é Octávia, em homenagem ao primeiro Imperador de Roma: Octaviano Augustos. E o resto dos meus irmãos seguem a mesma linha de homenagem aos Imperadores Romanos.

Minha irmã e segunda filha se chama Victória, em homenagem ao Imperador Romano Usurpador: Flavius Victor.

Agora os trigêmeos também possuem os mesmos ideais de nomes.

O trigêmeo mais velho se chamava: Julius, em homenagem ao pai da minha prima Sadie Kane e também o único que não possui o nome em homenagem a um Imperador, mas sim, ao cônsul da Antiga República Romana e o responsável pela transição de Roma para Império, o famoso: Julius César. O trigêmeo do meio se chamava Augustus, em homenagem ao Imperador Romano: Tito Flávio Vespasiano Augustus. O último e caçula trigêmeo, se chamava Marcus, em homenagem à: Marcus Úlpio Nerva Trajano.

E o último recém-nascido da família — por enquanto —, César, em homenagem ao Imperador Romano: César Domitianus Augustus.

Bom, por enquanto esses eram meus irmãos, mas algo me dizia que minha mãe estava prestes a ter mais... Posso ter crescido sabendo claramente que meus pais se reproduzem como coelhos? Posso. E, decido ressaltar que é traumatizante saber disso e saber como é que os bebês vêm ao mundo... Como sei disso? Assisto muito documentário da vida animal, então é bastante comum ver os animais se "acasalando", por favor, vi meus pinschers se acasalando e depois uma ninhada inteira de filhotes nascerem... Às vezes ser um gênio é completamente perturbador e o principal motivo para os índices de depressão aumentarem.

Enfim.

Nasci em 31 de Outubro. É, eu sei, nasci justamente no dia das Bruxas, que por acaso é um presságio ruim e também um feriado Celta Mitológico. Minha mãe não fala muito sobre como eu nasci, ela só disse que estava viajando com meu pai e puff, a bolsa dela estourou e eu nasci prematura de seis meses. Todos dizem que é um milagre eu ter sobrevivido, já que eu era bem pequena, muito mesmo.

Tive dificuldades em falar pela primeira vez, o que fez minha família acreditar que era autista, mas não era bem isso. Eu tinha a língua presa e só comecei a falar com quatro anos. E foi um palavrão. É... Digamos que minha mãe falava bastante palavrões, assim como meu pai, o que consequentemente me fez aprender a falar também. Uma vez meu pai estava um pouco diferente do habitual quando vinha visitar a mim ou a minha mãe, ele enfiou na cabeça que tinha que ensinar latim a qualquer custo para Victória e para mim. O que explica como aprendi falar fluente latim com tão pouca idade. E como o latim era muito próximo do Português e Espanhol; acabei aprendendo a falar fluente espanhol também.

Crescer numa família miscigenada era um pouco confuso e ao mesmo tempo sempre existiam conflitos entre as duas culturas, tanto inglesa quanto brasileira. Como por exemplo, falar português e inglês tudo junto e misturado, ou estranhar o fato que ingleses almoçam no café da manhã ou invés de comer um pão com manteiga e café, entre outras coisas estranhas.

Eu cresci ouvindo minha mãe sempre dizer: não faça isso ou aquilo. Seja normal. Se adeque aos padrões. Tente não chamar a atenção. Não se destaque. Não fale ou confie em estranhos, principalmente aqueles que tem apenas um olho. Seja discreta. Nunca entendi o que minha mãe queria dizer com isso. Eu deveria ser uma boa filha e não me destacar ou chamar a atenção, mas isso sempre foi impossível para mim.

Uma vez quando tinha três anos e estava em uma creche na Inglaterra, algo aconteceu. Duas serpentes se aproximaram de mim na hora da minha soneca e não me lembro muito bem o que aconteceu, só lembro da minha professora chegando e gritando acordando as outras crianças, ao me ver arrancando a cabeça de cada uma daquelas serpentes com a própria boca e eu estava sorrindo, talvez porque eu não conseguia entender a gravidade da situação. Depois desse episódio, a creche deixou bem claro para minha mãe que eu não poderia voltar mais. Que tanto as crianças quanto os pais estavam com medo de mim.

Depois disso, minha creche foi em casa, até eu completar seis anos e minha mãe me mandar para uma escola particular muito famosa em Londres. Eu tentei não me destacar ou muito menos não chamar a atenção, mas isso foi impossível. Eu era muito inteligente para alguém da minha idade e sempre que chegava da escola, me trancava na biblioteca gigante da mansão Whittemore e começava a estudar. Eu gostava mesmo de estudar com apenas seis anos. Por aí, você já pode perceber que realmente eu não era muito normal.

Uma vez na aula de natação, eu realmente caí dentro da piscina sem sequer saber como nadar ou sem uma boia ou coisa parecida. Era para ter me afogado! Mas de alguma forma eu conseguia respirar de baixo da água.

Outra vez, em uma excursão ao zoológico, não conseguia entender como, mas eu tinha caído dentro da jaula dos leões, que quase fizeram picadinho de mim, se não fosse um soco que dei em cada um dos felinos fazendo com que eles choramingassem e se afastassem de mim.

Brigas e mais brigas. Eu sempre estava me metendo em alguma briga para proteger os mais fracos dos valentões. O que me fez sempre ficar de castigo depois da aula, fazendo cópias gigantes, que faziam os dedos doerem e falavam sobre: "como ser uma boa e comportada aluna", acho que perceberam que não era nenhum pouco assim.. Respondia bastante os professores e fazia questão de corrigi-los quando estavam errados sobre algum assunto.

No entanto, no final, eu tinha tantas manchas no meu registro escolar, que quando o diretor chamou minha mãe na escola, foi para me expulsar. E com a minha fática expulsão de um dos maiores e melhores colégios da Inglaterra, minha mãe decidiu se mudar comigo e meus irmãos para o Brasil.

Decidimos nos mudar para o Rio de Janeiro no começo do próximo ano, embora minha avó fosse do interior de Minas Gerais, minha mãe achou melhor irmos para uma cidade como o Rio, pois assim ela conseguiria dar continuidade ao seu trabalho como estilista em uma cidade grande e populosa como o Rio.

No começo do ano, prometi que esse ano seria diferente. Que não iria dar mais problemas para minha mãe e que, pela primeira vez na minha vida, eu iria seguir a risca os conselhos dela: "fique longe de problemas". Não chame a atenção. Seja discreta. Siga os padrões. E toda a baboseira que vocês já sabem.

Esse ano iria ser diferente. Ou pelo menos era o que meu cérebro de apenas sete anos gostaria de acreditar.

Comecei num colégio particular muito famoso na cidade. Estudava em tempo integral, de manhã e tarde. Era um pouco exaustivo, mas para quem como eu gostava de estudar, não via muito problema. Logo os professores começaram a ficar impressionados com meu gigantesco cérebro. Até mesmo ficaram em choque quando souberam que falava latim fluentemente — graças as horas de estudo pesado que meu pai sujeitou a mim e Victória —, por isso decidiram me adiantar de turma, após eu fazer um teste que mostrou minha capacidade de estar junto aos alunos do sexto ano, enquanto tinha apenas sete anos.

Tudo estava indo bem na minha vida. Estudava em um colégio particular no Rio de Janeiro, o motorista sempre me levava e me buscava. Tirava excelentes notas, exceto em educação física, qual é, isso sequer pode ser chamado de "matéria". Era a garota prodígio da turma, não tinha amigos, era antissocial, principalmente porque considerava meus colegas de classe inferiores a meu gigante cérebro de conhecimento e também eles não me levavam a sério. Uma garota de sete anos numa sala onde só existem pessoas entre 11 e 12 anos? Eu era praticamente a aberração de circo.

Não me envolvi em brigas. Era quase invisível. Meus únicos amigos eram os livros e minha pelúcia gigante do Stitch. Meio depressivo, não é? Mas não me sentia assim. Eu estava fazendo o que minha mãe me pediu. Ser invisível e não chamar a atenção.

Até que bem no último mês do primeiro semestre... Um aluno novo chegou. Algo que achei bem estranho. O colégio não costumava aceitar alunos novos bem no fim do semestre, mas decidi ignorar isso. Até que os resmungos começaram: "ouvi dizer que o aluno novo é manco", "ele é estranho", "ele parece um pobretão que ganhou bolsa", "não sabia que a escola estava fazendo caridade ao aceitar esse tipinho" e outros comentários mais cruéis e preconceituosos.

Se enganam quem pensa que crianças são puras e inocentes. Não. Na verdade eles são os seres mais cruéis e perversos do mundo. Posso ser uma criança? Posso. Mas meu cérebro era de uma pessoa de trinta e dois anos.

Como disse, sou um prodígio. Talvez minha grande musa, Marie Curie, a primeira mulher ganhar um prêmio Nobel em ciência, estivesse orgulhosa de mim.

Infelizmente só iria conhecer o tal aluno no dia seguinte.

O que era uma tortura para mim, pois eu não sabia "esperar". Era totalmente impaciente e cabeça quente. E talvez devo dizer que era curiosa também.

No dia seguinte, estava sentada no meu habitual lugar de frente para a mesa do professor, organizando minhas canetinhas coloridas com glitter e com cheiro de frutas. Eu era obcecada por essas canetinhas. Talvez porque eu era do tipo que aprendia mais facilmente se tivesse alguma cor ou coisa do tipo. Cores sempre me ajudavam a estudar e a entender a matéria melhor do que qualquer um. E era sempre a primeira aluna a chegar à escola, enquanto via os outros alunos chegarem desesperados para fazerem os deveres dos professores, cinco minutos antes da aula começar.

Então foi quando vi um rosto novo passar pela porta da sala.

Ele era alto. Tinha cabelos castanhos cacheados, olhos castanhos, espinhas e o que mais me chamou a atenção foi o fato dele ter já uma barbicha bem abaixo do queixo. Quem era ele? Quero dizer óbvio que era o aluno novo. Mas apesar de aparentar ter onze anos, era estranho ver que ele já tinha barbicha. Nenhum dos garotos da sala tinham algo do tipo, talvez ele tivesse repetido de ano muitas vezes. Ele era magricela e andava de uma forma engraçada. Todos ficaram encarando ele, não muito diferente do que aconteceu comigo quando me adiantaram para o sexto ano e cheguei na sala. Agora a aberração de circo não era mais eu ou meu cérebro gigante, mas sim o novato.

As bochechas dele ficaram coradas e ele abaixou a cabeça antes de começar a andar cabisbaixo, olhando para os próprios pés, se sentando no lugar vago atrás de mim. Alguns resmungos começaram em relação à ele, enquanto muitos o olhavam e olhavam especificamente para seus pés, para verem se o boato dele ser "manco", fosse mesmo verdade. Até mesmo eu olhei disfarçadamente para seus pés, que me pareceram normais. Mas ele até mesmo andava um pouco engraçado, como se cada passo doesse. Então acredito que o boato dele ser manco não foi tão fantasioso, assim como o boato sobre mim que eu tinha um cérebro gigante que deixava minha cabeça maior, quando anunciaram que uma pirralha de sete anos entraria para aquela turma.

Eu disse que crianças eram cruéis e perversas.

Me perguntei internamente se o novato não tinha a Síndrome de Toulouse-Lautrec, uma doença degenerativa que torna suas pernas imóveis às vezes, e enche seus dias com grande dor física, que tinha lido em um dos livros de medicina da minha avó. Pois a maneira que ele andava se assimilava bastante a essa síndrome.

Senti alguém cutucar meu ombro. O que me fez fazer uma careta, antes de me virar para trás, dando de cara com o garoto novo.

— O que foi? — Perguntei o analisando profundamente. Ele parecia um animal assustado e indefeso em meio a vários predadores. Bom, essa é mesmo a sensação que qualquer um teria se fosse um aluno novo. Até mesmo eu me senti assim quando me adiantaram de turma.

Ser a pessoa nova sempre era uma droga.

— Você pode me emprestar uma caneta? — Ele perguntou engolindo o seco e percebi que ele tinha um sotaque carregado em seu português, denunciando claramente que ele não era nativo dali. O que me fez unir as sobrancelhas, curiosa e ao mesmo tempo confusa.

Os garotos e as garotas da minha turma me ignoravam. Nunca falavam comigo e eu obviamente os subestimava demais para considerar ter algum tipo de conversa frutífera com algumas dessas crianças. Então digamos que esse tipo de relação passiva com meus colegas funcionava muito bem. Eu não entrava no caminho deles e eles não entravam no meu. Por isso realmente achei esquisito o novato dirigir a palavra a mim. Algo que geralmente ninguém naquela turma fazia.

No entanto, ele era um novato. Provavelmente não tinha muita noção do seu grande futuro suicídio social que estaria a sua espera naquela sala por falar comigo. Acreditem, ninguém daqueles fedelhos gostam de pessoas que tem amizade com crianças como eu.

O novato provavelmente tinha visto minha coleção de canetinhas sob a mesa e por isso estava pedindo uma emprestada. Já tinha recusado emprestar algumas das minhas canetinhas para muitas pessoas daquela sala — que por mais que não falassem comigo normalmente, só me dirigia a palavra para pegar alguma canetinha ou para obter a resposta de alguma prova —, até mesmo recusei emprestar minhas canetinhas para Victória, minha própria irmã, pois tinha muito ciúmes delas, mas eu não entendia o porquê daquela vez, eu não senti vontade de dizer não para o garoto. Ao invés disso peguei uma com tinta verde de glitter e entreguei para ele.

— Me devolva no final da aula. — Avisei, num tom rígido e leve ameaçador.

Se ele não me devolvesse minha caneta, ele iria comprar uma briga feia comigo. Sempre fui um pouco possessiva demais com minhas coisas. Porque são MINHAS, oras!

— Obrigado. — Ele deu um leve sorriso. — Meu nome é Grover. Grover Underwood.

Nome estrangeiro. Pensei. Então obviamente ele não era daqui.

Dei de ombros, completamente indiferente.

— Octavia. Octavia Stone. — Disse me virando para frente e começar a focar minha atenção exclusivamente no professor de história, que havia acabado de entrar na sala colocando sua bolsa sobre a mesa.

Roberto Costa era nosso professor de história. Ele era alto, pele morena, óculos fundo de garrafa, cabelo escuro e um sorriso alegre no rosto. E, ah, eu era a aula preferida dele, acho que não preciso dizer isso, não é? Acho que fazia parte da genética maluca da minha família sermos praticamente nerds em história. E o professor Roberto, era um dos meus favoritos.

Ele deixou suas coisas sobre a mesa e seu olhar vagou por toda sala, que aos poucos iam se calando e quando os olhos do professor recaiu sob Grover atrás de mim, seu sorriso aos poucos foi desaparecendo e vi um brilho sério e rígido em seu olhar, algo que era raro de se ver em um professor tão carismático e excêntrico como ele. Sempre fui o tipo de pessoa muito observadora, a que conseguia ler as pessoas apenas pela sua linguagem corporal, e a linguagem que Roberto transmitiu foi de pura tensão ao ponto dele trincar o maxilar e seus ombros ficarem tensos.

De alguma forma, sentia que ele não havia gostado nenhum pouco de Grover.

Rapidamente o professor recuperou sua postura e após um longo suspiro, ele voltou a assumir sua expressão tranquila e calma, com um sorriso gigante nos lábios, o que eu não sabia se era verdadeiro o falso, mas de qualquer forma, Roberto pareceu se recuperar rapidamente ao balançar a cabeça para ambos os lados e bater as palmas, atraindo a atenção de todos os alunos ali.

— Bom dia, turma! — Disse alegremente. — Vejo que temos um aluno novo. — Ele olhou diretamente para Grover atrás de mim, que pareceu se encolher mais. — Espero que todos o tratem bem e que você... — Roberto parou de falar olhando para a lista de chamada sob sua mesa, antes de voltar seu olhar no Underwood. — Grover... — O professor disse com certo desdém em sua voz. — Não nos traga problemas ou muito menos atrapalhe os planos alheios! — Ouvi Grover engolir o seco atrás de mim, ao mesmo tempo em que ele respirava fundo, como se estivesse sentindo um aroma estranho.

— Claro que não, senhor. — Grover disse e a voz dele pareceu trêmula.

Roberto sorriu de uma maneira que fez calafrios percorrer todo meu minúsculo corpo. Ao mesmo tempo em que meus pelos corporais se arrepiaram por completo, ao mesmo tempo em que uma carga alta de adrenalina começou a ser secretada rapidamente pela minha corrente sanguínea. Como se algo dentro de mim revirasse ou despertasse completamente. E posso dizer que a sensação não foi boa.

E também não entendia o porquê o professor estava sendo tão malvado e cruel assim com Grover, algo que Roberto não era frequentemente. Na verdade ele era gentil e bondoso, por isso a atitude dele com Grover, me pareceu estranha e nenhum pouco legal.

— Ótimo. — Roberto pegou o pincel de dentro de sua bolsa e se virou para a turma. — Sei que já estudamos essa matéria, mas quero fazer uma revisão com vocês a respeito da Grécia Antiga...

Uma onda vaias tomou conta da sala. Ninguém ali gostava de estudar a antiguidade, exceto eu.

Bom, meu avô já foi um grande arqueólogo, por isso sabia muitas coisas sobre história. Sem falar no meu pai, que contava histórias de Guerras violentas e sangrentas para mim e Victória, enquanto minha mãe ameaçava o acertar com um rolo de macarrão se ele continuasse contando essas histórias que certamente provocaria pesadelos assustadores em nós duas.

— Eu sei que grande parte da sala não gosta disso, mas... — Ele voltou seu olhar para Grover. — Hoje estou inspirado.





***





No intervalo daquele dia, me sentei sozinha comendo um pacote de bolacha recheada e com um toddynho, meu habitual lanche de sempre. Sempre estava acostumada a me sentar sozinha no intervalo, mas naquele dia foi diferente. Pois, Grover tinha decidido se sentar ao meu lado na arquibancada, enquanto outras crianças do fundamental II corriam pela quadra jogando futebol ou só fofocando sobre qual garoto gostavam ou só desperdiçando tempo mesmo ao usarem seus celulares de última geração.

Nunca entendi o porque minha mãe nunca me deixou ter um celular. Embora ela permitisse que eu usasse meu tablet, notebook, apenas em casa. Ou seja, nada de levar aparelhos eletrônicos para fora de casa ou você estará muito encrencada, mocinha. Era o que ela dizia. E outras coisas desconexas como: apenas em casa é seguro usar esse tipo coisa por causa da barreira. Embora não fizesse a mínima ideia sobre o que ela estava falando.

Talvez minha família fosse composta apenas por malucos, isso explicaria muita coisa.

Grover poderia estar com qualquer um daqueles grupinhos, fazendo novas amizades e se enturmando, mas ele preferiu se sentar perto de mim.

Isso me fez unir as sobrancelhas.

Eu estava acostumada a sempre me sentar sozinha. E eu sempre queria ficar sozinha. Mas acho que Grover não entendeu o recado e se achou no direito de vir se sentar perto de mim. Talvez precisasse desenhar na minha testa para ele entender.

— Porque está sozinha? — Ele perguntou se sentando ao meu lado cruzando as pernas, olhando curioso para mim.

— Porque eu não quero me meter em problemas. — Respondo sem olhar diretamente para ele, vendo os garotos jogando futebol na quadra. Ouvia os gritos e as risadas de longe. Mas de qualquer forma era estranho para mim, uma criança de sete anos em meio a outros pré-adolescentes que já tinham espinhas nascendo em seus rostos, usavam óculos de grau ou tinham aparelhos com aquelas gominhas coloridas extravagantes.

Eu tinha problema para enxergar de longe. Não. Eu não tinha miopia. Tinha apenas astigmatismo. A famosa visão turva com traços de objetos duplicados a certa distância e borrões. Mas usava óculos apenas para descanso, não necessariamente precisava usar o tempo todo. Mas meus dentes... Bom... Eu tinha os dentes completamente deformados e tortos. Sabia que no futuro precisaria usar aparelho. Mas por enquanto me contentava em ser alvo de bullying por ter dentes tortos.

Já havia chorado muito por isso ou me envolvido em brigas na minha antiga escola em Londres por causa disso e sempre quando levava esse assusto para uma autoridade superior, como a diretoria ou a supervisora, elas apenas diziam: ignore. E não faziam absolutamente nada. Então eu meio que aprendi a tentar não me importar com isso. Ignorar as pessoas, mesmo que fosse extremamente difícil, mas depois que todos souberam que eu era e que poderia ser no futuro: a Marquesa de Whittemore, todos pararam de me atormentar.

Precisou de um título nobre besta para todos pararem de fazer minha vida um mini-inferno.

— Problemas?

Suspirei.

— Prometi para minha mãe que não me meteria em problemas esse ano e tentaria o máximo ficar na escola sem ser expulsa, ou ela ser chamada todo santo dia na diretoria.

Não sabia o porquê estava contando aquilo para Grover, um alguém que tinha acabado de conhecer. Mas de alguma forma, ele me fazia me sentir confortável em sua presença. Mesmo que ainda tivesse a vozinha irritante da minha mãe na minha cabeça dizendo: não fale ou confie em estranhos. No entanto, Grover não me parecia ser do tipo que faria mal a alguma mosca ou coisa do tipo. Na verdade, parecia ser o contrário. As pessoas que certamente fariam mal a ele, por ser um alvo fácil. Diferente de muitos que já ficariam assustados por uma nanica de sete anos já ter sido expulsa de um colégio, ele permaneceu neutro e bem tranquilo. Na verdade ele reagiu muito bem. Como se já estivesse acostumado a lidar com crianças problemáticas o tempo todo.

— Acho que consigo compreender... — Ele diz. — De onde eu venho às crianças tendem a ser problemáticas...

Uni as sobrancelhas.

— De onde você vem? — Repito as palavras que ele disse, olhando para ele.

Grover desvia o olhar para o lado.

— Você sabe; minha antiga escola.

Assenti.

— Entendi.

— Você parece ser bem nova para estar naquela turma... — Ele comenta, provavelmente percebendo a criança que eu era.

— Eu sou superdotada... Tenho um cérebro muito inteligente e isso fez com que meus professores me avançassem de turma.

Grover não diz nada, apenas acena positivamente com a cabeça, antes de dizer:

— Ei... Sobre o professor Roberto... Não deveria ficar perto dele. Ele é mau.

Fiz uma careta.

— Ele é legal na maior parte do tempo. Você é novato, logo se acostuma. — Dei de ombros e estendi meu pacote de bolacha na direção dele. — Quer uma? — Ofereci e ele pegou.

— Mas é sério... — Grover insiste. — Não deveria ficar perto dele. — Diz antes de colocar a bolacha na boca.

E de alguma forma naquele dia eu sabia de duas coisas. Primeira: provavelmente tinha feito um amigo depois de sobreviver um semestre inteiro sendo apenas amiga do meu Stitch de pelúcia. Segunda: de alguma forma louca eu sentia que Grover estava certo sobre meu professor não ser um cara totalmente legal.

[...]


No período da tarde, eu costumava ter aula de artes.

Sim, a minha escola é uma escola de ricos esnobes e mimados, obrigada por me lembrar disso destino. E... Talvez eu fosse muito mimada...

Enfim, isso é um assunto para outra hora.

A questão é: coisas ruins acontecem comigo o tempo todo. Mas nunca pensei que umas dessas coisas ruins podiam acontecer justamente em uma das minhas aulas preferidas. Eu sei que aula de artes parece tortura. A maior parte das aulas naquela escola era mesmo. Mas para mim, era minha única aula favorita, depois de ciências humanas e da natureza.

Como hoje era o último dia de aula do semestre, eu esperaria que tudo desse certo. Pelo menos tinha esperança de não me meter em encrencas dessa vez.

Mas como o destino gosta de tirar uma com a minha cara, foi exatamente na aula de artes que praticamente assinei minha expulsão.

Porque tudo tem que dar errado para mim?

Eu até gostava de pintar, afinal, minha mãe tinha me ensinado. Enquanto muitos faziam vasos de barro, esculturas de gesso, ateliê de costura, artes visuais, dança, teatro ou marcenaria, eu fazia aula de pintura.

Adorava o cheiro forte de tinta e as infinitas possibilidades de misturar as cores e as transformarem em uma só. O cavalete estava posicionado na minha frente, enquanto molhava a ponta do pincel no copo de água antes de escolher um vermelho alaranjado igual ao pôr-do-sol. E passar a cor sob a tela branca. Tinha pensado em fazer um estilo de arte diferente, similares aos quadros de Salvador Dalí no surrealismo, que por sinal, era minha vanguarda favorita. Gostava muito da ideia de fugir do comum e ir para algo totalmente fora dos padrões.

Foi inevitável não procurar Grover pelas oficinas de artes e vi que ele estava justamente na marcenaria, fazendo alguma escultura de madeira e ele parecia ser muito bom nisso. Acho que ele estava fazendo uma escultura de algo que me pareceu familiar e era quase realista ao ponto de ter própria vida. Era um homem ou quase isso. Um híbrido, na verdade. Da cintura para cima era um homem normal com longos chifres de bode e da cintura para baixo era totalmente metade asno. Eu lembrava dessa imagem nos quadros que minha mãe pintava e nas ilustrações dos livros de mitologia do meu avô.

Sátiro. Grover havia esculpido um sátiro em um pedaço de madeira. Um sátiro que tocava uma flauta. Não. Aquele não era um simples sátiro. Era Pã. Filho de Zeus e de uma cabra, se não me enganava. Em algumas versões do mito ele era filho de Hermes com Hécate.

Grover parecia realmente concentrado no que fazia e quando sentiu o peso do meu olhar sob si próprio, ele correspondeu o meu olhar. Nossos olhares se cruzaram e demos um leve sorriso um para o outro.

Acho que realmente tinha feito um novo amigo que não importava com o fato de ter apenas sete anos de idade.

A professora de artes era Maria Gomes, ela era uma senhora bem velha, com um olhar severo por trás das lentes quadradas de seus óculos, cabelos grisalhos sempre presos em um coque, saia longa xadrez, suéter colorido extravagante. Ela tinha uma expressão rígida e de alguma forma ela parecia ter um problema sério comigo, ao ponto de sempre implicar com meus quadros e o hábito irritante de me chamar sempre de "queridinha". Eu sei que uma criança de sete anos não deveria pensar em agredir sua professora velhota com a pele flácida com um taco de beisebol, até ela sangrar muito ou pelo menos ou quebrar as pernas dela. Um pouco psicótica? Sim. Ouvir seu pai contar coisas assustadoras e detalhadas sobre a guerra, te faz ter ideias assassinas e psicóticas.

Talvez no futuro eu esteja num hospício ou numa prisão por esse instinto assassino.

Acontece com as melhores pessoas... Fazer o quê...

De longe vi Grover ficar com os ombros tensos quando viu a professora se aproximar de mim por trás, provavelmente prestes a soltar algum comentário maldoso e cruel sobre a minha pintura. Já estava pedindo por paciência para alguma entidade superior, já que minha mãe me criou como ateia. Sem acreditar em nenhum Deus ou coisa do tipo, nem ao menos fui batizada e quando mencionei essa questão para com minha mãe, ela teve um mini ataque, como se eu tivesse falado a maior blasfêmia que ela poderia ter ouvido em toda sua vida. Então praticamente eu era uma pagã — uma pessoa que não foi batizada.

Mesmo não sabendo para qual divindade orar, eu estava pedindo para qualquer uma delas me dessem paciência e força para não mandar aquela vaca que era minha professora pastar. Não poderia ser mandada novamente para a diretoria; ou muito menos, causar mais problemas para minha mãe. O diretor já me ameaçara de morte com uma suspensão na escola... Ele já tinha ciência da minha expulsão em Londres, então digamos que estava sob constate observação. Caso alguma coisa ruim, embaraçosa ou até moderadamente divertida acontecesse por minha causa naquela escola, eu estaria literalmente mortinha da silva.

Uma escorregada e eu poderia dar adeus a escola.

Embora o Diretor às vezes pegava leve comigo em relação as minhas advertências da aula de educação física sobre não participar, por eu ser a próxima Marquesa de Whittemore e ele gostaria muito de encher a boca com arrogância e orgulho dizendo que uma Marquesa já frequentou sua escola no passado.

Eu estava comprometida dessa vez em ser boazinha.

Eu prometi que dessa vez seria diferente. E precisava ser.

— Essa pintura está horrível, queridinha. — Maria diz e sua voz áspera e rouca de uma velha bruxa causa certo desconforto no meu estomago.

Seria considerado homicídio doloso se eu usasse a outra ponta rígida do meu pincel para furar os olhos daquela mocreia?

Queria manda-la para a puta que pariu. Mas ao invés disso, respirei fundo e tentei manter minha calma interna e paz de espírito. O que era bastante difícil. No entanto, respirei fundo, mais uma vez, calmamente e mordi a língua para não ser desrespeitosa.

Uma escorregadinha e eu estaria fodida.

— Tentarei melhorar, professora. — Disse, sem olha-la, tentando esconder toda minha raiva e fúria, me esforçando o máximo para fazer uma vozinha doce e meiga. E esperava que tivesse conseguido. Mas meu tom saiu um pouco debochado demais.

Até mesmo quando tento não ser debochada, eu sou.

Maria ainda estava atrás de mim e por não estar a olhando diretamente nos olhos, não sabia dizer qual era a expressão que aquela velha bruxa estava fazendo com meu suposto tom debochado. Provavelmente ela não tinha gostado nenhum pouco do meu tom, mas o que ela poderia fazer? Comer-me? Tentar me matar? Óbvio que não.

Desde meu primeiro dia naquela turma, quando me adiantaram, a professora Maria decidiu pegar no meu pé ( algo que realmente é estranho, já que tenho um chulé que mataria toda a vida na terra se não usasse talco e tomasse banho frequentemente, então vocês compreendem o drama da situação ) e concluiu que eu era a própria cria do Satanás ou algo parecido com isso.

Então certamente fiquei ofendida com essa comparação, eu era um anjo praticamente, a culpa não era minha se as pessoas eram estupidas o suficiente para me tirarem do sério.

Embora não tivesse uma religião, eu sabia uma coisa ou outra sobre cada religião.

Vovô Richard, sempre dizia que conhecimento era poder. E ele sempre me testava e dizia coisas sobre: "só aceitarei o melhor de você, Octavia". Eu não era uma criança normal e talvez nunca fosse. Meu avô sempre me pressionou demais, sempre quis que eu me esforçasse demais, talvez por consequência dessa pressão toda acabei me tornando obcecada por aprender e estudos. Ele me fazia aprender o máximo de mitos, incentivava minha mente com disputas de xadrez. Meu avô não queria que eu fosse boa, ele queria que eu fosse a melhor em tudo.

E às vezes isso me sufocava. Mas eu amava tanto meu avô, que fazia um grande esforço em agradar ele fazendo tudo o que ele me pedia. E com minha bisavó, não era muito diferente, embora ela fosse menos amorosa e carinhosa como meu avô era comigo. Cada vez que errava uma palavra em inglês, ela me batia na mão com uma longa régua. Quando errava uma tecla do piano, levava um tapa na cara. Se estava ficado acima do peso ideal da cabeça dela, ela me cobria de pasta de amendoim e soltava seus esquilos famintos atrás de mim.

Sophie não era doce ou gentil. Ela era cruel e perversa. E acreditava que o medo e a tortura era os melhores métodos para se aprender.

Claro que poderia contar para minha mãe sobre o que minha bisavó fazia comigo, mas se o fizesse só provaria para Sophie que ela estava certa sobre mim: eu era inútil e não merecia carregar o sobrenome Whittemore. E a única coisa que queria era ser aceita por minha bisavó.

Agora entendia porque a avó da Sadie e do Carter — meus primos de terceiro grau — preferiu ser deserdada e não fazer mais parte daquela família doente.

De repente os calafrios que senti na aula do professor Roberto dominaram meu corpo e ele entrou em estado de alerta automaticamente. Como se eu fosse um animal indefeso e estivesse acabado de sentir um predador próximo de mim, prestes a me fazer de prato principal.

Meu olhar rapidamente se desviou para Grover do outro lado da oficina de artes e ele parecia pálido, movendo os olhos entre mim e o martelo que ele segurava com suas mãos trêmulas, como se estivesse decidindo se ele usaria o martelo para martelar o prego da escultura de madeira de Pã ou usaria o martelo para martelar a cabeça de alguém, todos exceto Grover, estavam focados demais em seus projetos para que reparassem no que estava acontecendo.

Parecia que Grover e eu estávamos ligados de alguma forma doida, ao ponto de sentir talvez os mesmos calafrios irritantes.

Subitamente as mãos de Maria agarraram bruscamente meus ombros, os apertando com violência, eu engoli com dificuldade um grito de surpresa e fiz uma careta de dor.

Queria entender o que raios estava realmente acontecendo para minha professora de artes me agarrar daquela maneira. A respiração de Maria era mais que furiosa. Era perversa, como se ela fosse um animal enjaulado prestes a se soltar de sua prisão. Ela é uma professora, pensei, nervosa. Não é provável que vá me machucar, certo? Até porque isso seria ilegal...

— Professora... — Tentei dizer alguma coisa e olhar desesperadamente para qualquer um dos meus outros colegas, para ver se eles estavam realmente vendo aquilo acontecer, mas todos pareciam focados demais em suas atividades para olhares para mim e para a professora que segurava possessivamente e violentamente meus ombros.

— Não somos idiotas, Octavia. — A voz dela sussurrou no meu ouvido. — Sabíamos que era apenas uma questão de tempo até seu cheiro se intensificar.

Eu não sabia do que ela estava falando.

— Achou mesmo que poderia se esconder de nós, mestiça? Conseguimos sentir seu fedor de heráclida a quilômetros! — Ela diz com uma voz pesada e assustadora, como num filme de terror.

Meu cheiro? Meu fedor? Será que eu estava tão fedida assim? E olha que nem fiz exercícios de educação física porque não gosto de suar. E não estava cheirando tão ruim assim. Talvez estivesse com bafo de onça por ter comido uns salgadinhos de cebola e alho, que comprei na lanchonete da escola e dividi com Grover, mas mesmo assim não precisava me esculachar assim, poxa.

Nada que uma escova de dente e uma pasta de dente colgate não resolvam.

Quando meus olhos olharam para ambas as mãos, percebi que em cada um dos cincos dedos tinha uma gigantesca garra que fazia uma curvatura perfeita igual à de um falcão que as usa para estripar suas vitimas, mas aquelas garras tinham cerca de quinze centímetros e senti a ponta delas se apertarem em meu ombro, fazendo a dor se intensificar.

Pensei que estava alucinando ou que minha mente estava me pregando peças, mas a dor me mostrou que era real. Aquilo realmente estava acontecendo. Virei-me para trás e então eu vi os olhos de Maria brilharem de uma forma não normal, pois suas íris reluziam um vermelho intenso, como brasas de carvão e suas fileiras de dentes se transformarem em dentes pontiagudos tão afiados quanto facas e se abrirem para mim num sorriso sádico e perverso.

Eu estava em choque e apavorada. Minha professora não era humana.

Todos meus colegas de turma pareciam alheios o que estava acontecendo agora. Como se ninguém ali além de mim estivesse vendo a bruxa velha se tornar realmente numa bruxa velha! Que porcaria era essa? Meus lábios e dedos estavam tremendo sem parar, eu não sabia o que fazer. Acho que estava em choque demais para gritar ou fazer qualquer outro movimento.

As garras perfuraram minha pele nos ombros e logo senti as feridas arderem ao tempo que uma pequena cascata de sangue saia sobre eles, manchando meu uniforme branco de vermelho, o vermelho do meu sangue.

— Seu sangue cheira bom... O que me faz questionar... Qual o sabor da sua carne?! — Maria se aproximava de mim com seus dentes pontiagudos, prestes a devorar meu rosto ou comer meu nariz e eu tonta, ainda continuava parada em choque.

Meu cérebro gritava para eu fazer alguma coisa, para meu corpo se mexer, mas nada aconteceu. Meus lábios apenas tremiam e a única coisa que pensava era em chamar pela minha mãe.

Então apenas vi um martelo acertar a cabeça da professora com força.

Maria virou o rosto na direção de Grover, percebendo que foi ele que tinha jogado o martelo da marcenaria nela, então Maria rosnou como um animal feroz com muita sede de sangue e parecia fazer menção a ir até Grover.

De alguma forma, eu sentia que Grover estava vendo o mesmo que eu e por isso jogou o martelo na cabeça da bruxa velha, porque diferente dos meus outros colegas que estavam alheios ao que realmente estava acontecendo, como se não estivessem vendo o mesmo que eu. Como se tudo o que vissem era uma professora normal dando uma bronca em Grover e em mim.

Grover parecia ver o que eu estava vendo e isso me fez despertar do meu choque.

Aproveitei que Maria estava com a guarda baixa e olhando de maneira para meu amigo, prestes a ataca-lo e instintivamente peguei o meu pote de tinta vermelha, que estava ao meu lado e joguei de uma só vez na cara dela.

Maria gritou e soltou meus ombros, atraindo a atenção da turma inteira.

Ah, agora os bonitos resolveram prestar atenção em mim?

Que todos tenham uma morte dolorosa.

Não satisfeita com a tinta que joguei nela, totalmente tomada pela raiva e pela imprudência, eu me joguei sobre a minha professora, me sujando também de tinta, a derrubando no chão com o impacto do meu peso e então eu fiz a coisa que certamente me faria ser expulsa mais uma vez: eu mordi com força o braço da minha professora de artes, ao mesmo tempo que tentava furar os olhos dela com a outra ponta do meu pincel. E minhas mãos a estapeavam.

Ela gritava, juntamente com os outros alunos, que tentavam me tirar de cima dela. Enquanto outros filmavam com seus celulares e outros riam da cena. Mas eu estava furiosa demais. Eu queria briga e o mais importante: eu queria sangue fresco.




***


Geralmente quando você vê sua professora se transformar em um monstro ou em uma autentica bruxa velha, pessoas normais corriam para o mais longe e se escondiam. Mas não eu. Eu decidi enfrentar o perigo no estilo karatê kid e cobra kai. Vocês devem estar pensando que sou corajosa e valente, mas não. Só sou idiota mesmo. Não confundem coragem com estupidez.

Porque foi exatamente o que eu fiz... Eu fiz a maior estupidez da minha vida.

Logo minha mãe iria aparecer e me lembraria que precisava me esforçar mais, ainda que aquela fosse minha segunda escola em menos de um ano e que, provavelmente, eu seria chutada para fora de novo. Não conseguiria suportar o olhar triste que ela me lançaria.

Não suportaria o a decepção dela. Mesmo que possivelmente ela ficasse muito zangada comigo, eu sabia que depois ela ficaria arrasada.

Essa é uma das coisas que mais odeio em mim: minha capacidade em ser um fardo para minha mãe.

Após morder e agredir minha professora, a única coisa que estava na minha mente além da visão perturbadora dela ser uma abominação ou ter saído de um filme de terror dos anos 90, eu só conseguia pensar no quão encrencada estava.

Poderia ter sido apenas fruto da minha imaginação. Era o que pessoas como eu da ciência pensariam, mas as marcas das garras ainda estavam em meus ombros e denunciavam que aquilo havia sido real. E aquelas feridas ardiam como brasas e doíam muito. Muito mesmo. Até para mexer os ombros eu estava com dificuldade.

Talvez a escola entrasse num processo contra mim... Menores de idade poderiam ser processados no Brasil? Aí está uma coisa para pesquisar quando chegar em casa.

Grover e eu estávamos sentados na diretoria por agressão à professora. Esperando nossos responsáveis para respondermos sobre nossas ações violentas e brutas que certamente vinham com uma carta de expulsão gigante.

Ótimo. Ótimo.

Já conseguia imaginar a cara da minha mãe na minha cabeça e isso não era bom.

Mas o que eu poderia fazer? Ficar parada e deixar a bruxa velha se alimentar de mim?

E porque ela me chamou de mestiça? Seria porque sou parte inglesa e brasileira?

Heráclida... Eu me lembrava deste termo dos livros difíceis do meu avô. Heráclida era o termo utilizado para designar todos aqueles que descendem do grande semideus Hércules, o filho de Júpiter.

Hoje era oficialmente o último dia de aula e fim do semestre. O que significaria que teria julho inteiro de muitas férias, mas agora, com minha expulsão, duvido que minha mãe vá me dar um descanso de férias. Na verdade, já prevejo castigo e mais castigos infinitos e muito provavelmente uma havaiana voadora ninja em minha direção... Minha mãe era praticamente uma versão realista da Rochelle de Todo Mundo Odeia O Chris e eu estava completamente lascada.

Poderia ser um gênio? Poderia. Mas em compensação ao que tinha de inteligência, eu tinha de pavio curto e temperamento forte — algo que sempre me colocou em furadas.

Eu era uma selvagem sem solução, como praticamente minha bisavó já ressaltou diversas vezes.

Meus ombros ainda doíam e estava coberta por tinta que tinha um tom vermelho tão vivo, que parecia sangue. Ótimo, também estou fazendo cosplay de Carrie, A Estranha. Não li o livro, mas posso ter ficado acordada de madrugada uma vez escondida assistindo o filme no canal do SBT. Que minha mãe nunca descubra isso.

No entanto, a visão perturbadora de Maria, me deixa mais inquieta do que o normal. Estava batendo meu pé direito no chão repetidas vezes e mexendo com os dedos sem parar. Eu sou muito hiperativa, mamãe, sempre diz que eu sempre fui hiperativa demais para os níveis normais da hiperatividade. E quando estava ansiosa como agora, era quando ficava ainda mais hiperativa.

Eu estava acostumada a uma ou outra experiência esquisita, mas normalmente elas passavam depressa. Tenho milhares de momentos desse tipo — meu cérebro adormece ou algo assim e, quando me dou conta, vejo que perdi alguma coisa, como se uma peça do quebra-cabeça desaparecesse e me deixasse olhando para o espaço vazio atrás dela. O orientador da escola me disse que isso era parte do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, era meu cérebro que interpretava tudo errado.

Eu não tinha tanta certeza assim.

A dor das feridas em meu ombro se intensificou.

Mas de alguma forma isso não me pareceu tão relevante, quando olhei para Grover sentado ao meu lado, completamente desconfiada e com uma sobrancelha arqueada.

— Você também viu, não foi?!

Grover engasgou com saliva e arregalou os olhos.

— Como é?!

Apertei os olhos com força e fiz minha melhor expressão de malvada, com as bochechas infladas de ar.

— Você sabe do que estou falando... A professora com garras e dentes afiados... Você também a viu, por isso jogou o martelo na cabeça dela. Para me proteger.

Grover hesitou.

— Não sei do que você está falando...

Eu sabia que ele estava mentindo.

É sério?! Mal faço um novo amigo e ele já está mentindo para mim?! A que ponto nós chegamos?!

Alguma coisa estava acontecendo. Alguma coisa havia acontecido na oficina de artes.

— Acho que você sabe, sim!

— Eu... — Ele gaguejou. — Não sei o que aconteceu... O martelo escapou dos meus dedos e...

— Coincidentemente acertou a cabeça da professora que estava prestes a me fazer de comida? — Completei a frase para ele. — Eu sei que o resto da turma não a viu naquela forma monstruosa, pois se tivessem visto, eles teriam gritado ou pelo menos não me olhassem como se eu fosse uma estripadora de pelúcias, como foi que me olharam, totalmente assustados por eu estar agredindo uma professora feito uma selvagem. E você é o único que não está me encarando desse jeito. Portanto, ou você viu o que eu vi, ou você é um psicopata.

— Eu não sou um psicopata! — Rebateu tentando se defender.

— Você tem onze anos e tem barbicha! Todo psicopata tem barbicha!

— Você baseou essa teoria em que exatamente?

Fiquei calada por um tempo.

— Eu não a baseei em nada! Acabei de inventar essa teoria, que agora está fazendo muito sentido na minha cabeça. — Respondo. — Ou você é tão louco quanto eu, ou é um estripador de pelúcias super fofinhas!

A lembrança recente da monstruosidade que Maria tinha se tornado, fazia minhas mãos suarem sem parar e me deixa mais inquieta.

Grover entreabriu os lábios para me responder a altura, mas então a porta da sala do diretor foi aberta revelando o olhar rígido de Francisco sob mim e Grover. Provavelmente ele tinha ouvido nossas gritarias e troca de farpas. Ótimo. Estou o triplo de ferrada.

Francisco era o diretor da escola. Ele era rigoroso, rechonchudo e muito ranzinza. E tinha um nariz num formato estranho que o fazia parecer um tucano. Ele estava usando um terno fino italiano, usava uma gravata com uma estampa extravagante e com cores tão chamativas que incomodavam minha visão. A pele clara dele era totalmente enrugada e flácida e tinha calvície precoce no topo da cabeça. O que o fazia ser motivo de piada entre os alunos e se tornava um verdadeiro tirano para todos os alunos na escola. Era quase um ditador.

Se você fosse um dia para o colégio sem uniforme, você receberia suspensão e se você não estivesse dentro das normas de vestimenta — como meninos de calça e meninas de saia —, suspensão. Se você estiver comendo dentro de sala de aula, suspensão. Se você estivesse sem tênis apropriado para educação física, suspensão. Se você não participasse da aula de educação física, suspensão. (Nem preciso dizer que tinha levado várias, não é mesmo?) Para Francisco tudo era motivo para dar suspensão. Mas ele até que pegava um pouco leve comigo, talvez porque eu era a futura Marquesa de Whittemore e esse título nobre me dava certos privilégios como sair impune de cumprir à risca as suspensões que me davam; certo? Francisco era vaidoso o suficiente para querer uma nobre na sua escola de qualquer maneira.

Mas dessa vez, depois de agredir uma professora que me agrediu primeiro, tinha a mais pura e absoluta certeza que dessa vez meu titulo nobre não me salvaria dessa encrenca.

Entendam: eu sempre me meto em problemas, mesmo quando não queria.

— Octavia... — Ele começou. — Liguei para sua mãe avisando que no próximo semestre você não é mais bem vinda a retornar a nossa querida instituição. — Minha mãe deve estar querendo me matar. — E quanto a você Grover... — O olhar severo do diretor recaiu sob o pobre coitado do Underwood. — Seu primeiro dia em nossa instituição e já agride uma professora? Você também está expulso! — Ok, com Grover ele não usou tanto eufemismo para anunciar que estava expulsa.

Mas de alguma forma Grover não pareceu se importar muito com isso. Ele apenas deu de ombros e manteve uma expressão neutra como dissesse: eu não ia ficar por muito tempo aqui mesmo.

Fiz uma careta derrotada. Eu? Um gênio de sete anos que já foi expulsa de duas instituições?! Que tipo de faculdade aceitaria alguém como eu?!

Claro que poderia falar que ataquei Maria, porque do nada seus olhos começaram a brilhar de maneira sanguinária, seus dentes se tornaram pontudos e seus dedos tinham garras, garras tão afiadas que perfuraram minha pele em meus ombros. Mas qual seria a chance de um adulto acreditar numa criança de sete anos? Que aparentemente, só ela podia ver? Até porque acredito que se meus outros colegas de classe também tivessem visto o que eu vi, eles estariam gritando e saindo correndo feito loucos e não tentando me tirar desesperadamente de cima da mocreia velhota assassina.

E mesmo se Grover tivesse visto o que eu vi, não seria o suficiente, nós dois seriamos mandados para um reformatório ou para um hospício. Já consigo me imaginar claramente numa camisa de força e talvez... Uma focinheira? Para não morder e arrancar os narizes dos médicos e enfermeiros?

É. Eu sou realmente um animal selvagem num corpo humano.

Não gostou? Me processem!

Estava tão perdida nos meus pensamentos internos que sequer prestei a atenção no discurso de Francisco sobre disciplina ou o quanto aquela escola prezava pela boa reputação de ter formado alunos que agora são membros principais da politica brasileira, como deputados, senadores e até mesmo presidentes da republica. Ora, sério que ele está usando como referencia para a escola dele todos os políticos corruptos e ladrões?

O bom senso mandou lembranças.

— E Octavia... — Ele me encarou fixamente. — Sua mãe virá busca-la, então sugiro que a espere. — Francisco avisa antes de se virar dramaticamente e entrar na sua sala, onde eu sei que ele fica assistindo os vídeos clipes de bandas K-Pop no YouTube, batendo a porta com força, como forma de mostrar que ele era severo.

Minha mãe dá mais medo do que esse palhaço.

Ajeitei minha mochila nos meus ombros, machucados e doloridos. Fiz uma careta desgostosa, aquilo ardia mais do que um joelho ralado. Mas apesar da dor, eu a engoli com dificuldade e me virei para Grover, que me olhava curioso.

— Vamos dá o fora daqui. — Anuncio e Grover arregala os olhos.

— Mas o diretor...

— Olha... Eu realmente tentei ser boazinha, mas como isso é uma tarefa impossível para mim, vou abraçar completamente meu lado rebelde sem calça... — Dei uma pausa. — Ou seria rebelde sem causa? Ah tanto faz, eu vou dá o fora antes da minha mãe me encontrar e tentar me exterminar. Por isso vou aproveitar bastante antes da minha sentença de morte. — Digo começando a andar. — Você vem? — O olho por cima do ombro com uma sobrancelha arqueada.

Grover parecia analisar precisamente a situação. Se decidindo se deveria ou não me acompanhar. Como se isso fosse um teste de diversas alternativas que todas sempre davam no mesmo resultado: isso não acabaria nenhum pouco bem. Então Grover assentiu com a cabeça, antes de jogar sua mochila por cima do ombro e me acompanhar.

Decidi parar de pressioná-lo sobre a professora Maria, porque não me importava, o fato dela ter se transformado em algo bizarro não era nada para mim naquele momento, afinal eu tinha feito a única coisa que prometi para minha mãe que não iria fazer: fui expulsa.

Primeira vez nesse ano que faço uma amizade e ainda sou expulsa no mesmo dia.

Maravilha.


[...]



Lembra que eu disse que Grover era aleijado e cada passo que dava, ele parecia sentir muita dor? Então... Eu não sei se isso é cientificamente possível, mas Grover corria rápido, muito rápido. Tipo os carros de Dom Toretto em Velozes e Furiosos. Como descobri essa façanha? Simples, eu vou contar o que aconteceu.

Como não podíamos sair pelo portão da frente da escola, por ainda estarmos teoricamente em "horário de aula" e só poderíamos sair da escola acompanhado por um responsável, por isso, tive a ideia de pularmos o muro dos fundos da escola.

Tudo estava indo bem, até alguns valentões do nono ano decidirem dar as boas vindas a Grover, dando-o o famoso "cuecão" e tentando afundar a cara dele na privada dos banheiros, começaram a nos perseguir. E foi nesse momento que Grover começou a correr tão rápido quanto o próprio Flash e eu indo atrás dele com dificuldade, pois como disse, era péssima em educação física e em exercícios físicos. Eu sou inteligente, mas não sou a supergirl ou a mulher maravilha.

É, sou uma nerd fã da DC, me julguem.

Com muita dificuldade conseguimos chegar ao muro e Grover, conseguiu da um salto tão alto que pulou com facilidade o muro para o outro lado. E eu tive dificuldades para pular, e quando consegui segurar na borda, joguei meu peso completamente para o outro lado e cai de bunda sob o cimento duro e pior: estava com a saia azul escuro do uniforme, sem duvidas meu traseiro ficou com as marcas do cimento. Mas nem tive tempo de reclamar de dor, pois tive medo dos valentões pularem o muro também, por isso tive que sair correndo o mais rápido possível.

Ah... Eu mencionei que meu colégio ficava ao lado de um convento...? Se não... Estou mencionando agora. Pois quando eu e Grover pulamos o muro paramos do lado da divisa com o convento. Nem preciso dizer que... As freiras começaram a berrar assustadas por verem dois alunos malucos correndo entre os lençóis brancos que elas tinham lavado e ainda ter uma garota coberta de tinta vermelha que mais parecia sangue... Bem... Eu poderia ter uma expressão assassina e psicótica no rosto, enquanto corria como se tivesse acabado de sair de uma seita demoníaca, mas em minha legitima defesa, eu estava desesperada, não queria ter que lidar com valentões ou muito menos ficar mais tempo na escola que me deu um belo chute na minha bunda dolorida.

Por isso não fiquei surpresa quando algumas freiras e madres me chamaram de cria de satã e faziam o sinal da cruz quando eu passava. Se algum Deus existir, espero que ele me perdoe por meu desrespeito, se não... Acho que vou descer de tobogã flamejante para o... Inferno? É assim que eles o chamam, certo?

Ah tanto faz. Sou ateia de qualquer maneira. Ou pelo menos eu pensava ser até descobri que sou pagã. E quem meu pai realmente era.

Enfim, quando Grover e eu conseguimos atravessar o portão do convento e sair ilesos daquela merda toda.

Parei de correr quando chegamos em frente a uma sorveteria. Apoiei minhas mãos sob o joelho e tentava controlar a respiração. Diferente de Grover que nem parecia um pouco cansado. Estávamos na última semana de Junho, o que queria dizer que já estava fazendo um pouco de frio, mas como estamos no Brasil, o frio é completamente quente também. Eu estava transpirando sem parar. Acho que nunca tinha feito tanto exercício físico como naquele momento.

— Eu odeio exercícios físicos... — Resmunguei, tentando controlar minha respiração.

Qual é, eu sou triplamente sedentária.

— Nem corremos tanto assim. — Encaro Grover de forma nervosa.

— Como um aleijado como você consegue correr tanto assim?! Isso é cientificamente impossível!

Grover encarou qualquer outro lugar que não fosse meus olhos.

— Ah... Ossos fortes...?

Reviro os olhos.

— Vamos tomar um açaí antes que me arrependa de ter te convidado... — Respiro fundo, antes de entrar na sorveteria.

— O que é um açaí...? — Grover pergunta como se açaí fosse uma coisa mortal.

— Gringos... — Suspiro, levantando o olhar para cima.





***





Grover e eu tomamos um açaí, do qual ele completamente se apaixonou.

Estávamos sentados sob as mesas de fora da sorveteria. Grover estava na sua terceira tigela de açaí e eu já estava satisfeita com apenas uma. No início ele estava preocupado, porque disse que não tinha dinheiro e até mesmo perguntou se na sorveteria aceitavam dracmas. Eu ri e disse que pagaria a conta. Sei que fazia menos de vinte e quatro horas que conheci Grover, mas estava empolgada demais por ter feito uma amizade, que até mesmo esqueci da ameaça iminente de morte que receberia de minha mãe por ter sido expulsa mais uma vez e que minha professora tentou me devorar.

Mas era bom ter alguém tão estranho quanto você.

Grover e eu conversamos um pouco. Descobri que ele era vegetariano, tinha uma prima chamada Judith, um tio que virou pedra — essa parte eu não sei se realmente tinha entendido bem —, que morava em Long Island e por aí já soltei um "uau". Long Island era realmente um lugar caro para se morar.

Contei para Grover que tinha cinco irmãos. Ele se engasgou na hora, uma reação típica quando soltava essa bomba. Eu era a mais velha. Contei sobre meus avós. Sobre ser ¼ brasileira e inglesa. Contei até mesmo sobre minha mãe e sobre meu pai. Na verdade, Grover pareceu ficar muito interessado quando falei sobre meu pai desaparecer e reaparecer do nada.

— Ah... Ele é meio louco, como grande parte da minha família. Mas morre de medo da minha mãe e do rolo de macarrão dela. — Comentei. — Ele tem um estilo estranho, sabe? Uma mistura de bad boy com soldado militar e às vezes o velho surta e inventa que tenho que aprender grego antigo ou latim arcaico de qualquer maneira. E ouvir as histórias malucas dele sobre a guerra, que me causa pesadelos assustadores ao ponto de ter que ir dormir com minha mãe e ele, sabe... Impedindo eles de procriarem ainda mais...

Grover ficou sério.

— Isso é estranho... — Ele resmunga. — Eles nunca ficam tão presentes assim ou tem mais filhos com o mesmo mortal...

Faço uma careta.

— Do que você está falando?

Grover despertou de seus pensamentos, piscando várias e repetidas vezes.

— Ah nada demais... Estou apenas pensando alto...

Dei de ombros.

— Bem... — Eu começo a falar, mas minha atenção se desvia para outro canto.

Não existia muitos fregueses na sorveteria, além de mim e Grover. Mesmo ainda tendo um sol bem forte, ainda existia um vento gelado e bem frio, anunciando o frio que estava a nossa espera aquele ano e as festas de São João, que eram as minhas favoritas. Na verdade, eu amava dançar quadrilha, mas acredito que ao ser expulsa eu estaria desconvidada da festa na escola. O que era uma droga. Mas a sorveteria estava praticamente vazia.

Do outro lado da rua, vi três velhinhas, que para mim pareciam bem simpáticas. Elas estavam sentadas em um banco da praça à sombra de uma grande árvore, tricotando o maior par de meias que eu já tinha visto. Quer dizer, aquelas meias eram do tamanho de suéteres, mas eram obviamente meias. A senhora da direita tricotava uma delas. A da esquerda a outra. A do meio segurava uma enorme cesta de lã azul brilhante, que tinha um brilho muito bonito, que me deixou completamente hipnotizada, ao ponto de querer pintar aquele fio em uma das minhas telas de tão bonito que era.

As três mulheres pareciam muito velhas, com o rosto pálido e enrugado como fruta seca, cabelo prateado preso atrás com lenço branco, braços ossudos espetados para fora de vestidos de algodão pálido. A coisa mais esquisita era que elas pareciam olhar diretamente para mim. E novamente aquela sensação de presa e predador me invadiu, e mais uma vez, me sentia uma presa indefesa.

Me lembrei do meu livro favorito. "Em Busca de Watership Down" de Richard Adams. Eu li a versão inglesa quando estava na Inglaterra, em mais porque o nome do autor era idêntico ao do meu avô. O livro é uma história sobre um grupo de coelhos que começa uma jornada em busca de uma vida melhor.

Tudo começa quando pequeno coelho, Fiver, relata sua visão para seu companheiro, Hazel, afirmando que o viveiro onde vivem será destruído: em sua premonição, os humanos destruirão toda a região, matando todos os coelhos dali no processo.

Hazel, já revelando seu instinto para liderança, decide migrar para se estabelecer em algum outro lugar, e tenta convencer a maior parte da comunidade em os acompanhar. Sem sucesso, ele decide partir na companhia de um pequeno grupo, dando início a uma longa viagem em busca de construir um novo viveiro.

Seguindo a visão de Fiver, a colina paradisíaca de Watership Down é sua terra prometida: um lugar farto de alimentos e seguro contra inimigos, onde uma nova comunidade de coelhos poderá se expandir. Mas o caminho é cheio de ameaças e armadilhas. O mundo selvagem é um lugar duro para os coelhos, que precisam se superar e contar uns com os outros para permanecer vivos.

Tudo isso estava me lembrando dos desafios que Fiver, Hazel, Bigwig e outros coelhos passaram nos livros sempre sendo alvos de constantes perseguições de predadores cruéis e horríveis. E de alguma forma, eu me identifiquei com cada um dos coelhos naquele momento. Na verdade me sentia como eles. Uma presa vulnerável.

Só gostaria de ter o dom de Fiver — meu personagem favorito —, para poder prever o futuro, talvez não me meteria em tantas encrencas de uma só vez.

Continuei olhando as velhinhas, como se elas fossem às malvadas raposas do livro e eu o próprio Hazel.

Me virei para Grover para comentar isso e vi que seu rosto tinha ficado branco.

O nariz dele tremia desenfreadamente.

— Grover? — Disse eu. — Ei...

— Diga que elas não estão olhando para você. Elas estão, não é?

— Estão. Esquisito, não? Você acha que aquelas meias são para um gigante ou para o próprio Godzilla? Eu gosto do Godzilla...

— Não tem graça, Octavia. Não tem graça nenhuma.

A velha do meio pegou uma tesoura imensa — dourada e prateada, de lâminas longas, como uma tosquiadeira.

Ouvi Grover tomar fôlego.

— Vamos dar o fora daqui. — ele me disse. — Venha.

— O quê? — disse eu, sem entender quando ele agarrou meu pulso e me puxou, fazendo-me levantar da cadeira de uma só vez.

— Venha! — Ele forçou a andar, mas eu não consegui evitar me virar para trás e continuar encarando as velhinhas.

Do outro lado da rua, as velhas ainda olhavam para mim. A do meio pegou a linha de lã azul brilhante entre os dedos e depois... Foi só eu piscar uma vez que a linha azul brilhante se tornou dourada brilhante, como se fosse uma linha feita de puro ouro. De repente as três velhinhas sorriram para mim de uma maneira assustadora, que fez calafrios percorrerem todo meu corpo e a única palavra que ecoava na minha cabeça era a voz de Maria, me chamando de: heráclida.

Quando já estávamos andando sem parar, comecei a me sentir como se tivesse pego uma gripe. Grover não parecia muito melhor. Estava tremendo e batendo os dentes. Talvez tomar açaí com esse vento frio, não tenha sido uma boa ideia no final.

— Grover?

— Sim?

— O que me diz?

Ele enxugou a manga da camisa.

— Octavia, o que você viu lá atrás, na praça?

— Você quer dizer, aquelas velhas? O que há com elas? Elas não são como... A professora Maria, são?

Perguntei sentindo um calafrio atravessar meu corpo quando me lembro do que tinha acontecido duas horas atrás.

A expressão dele era difícil de interpretar, mas tive a sensação de que as velhas da praça eram algo muito, muito pior do que a professora de artes.

Grover disse:

— Só me diga o que você viu.

— Nada demais. — Começo. — Acho que vi a lã azul brilhante se transformar em uma linha dourada como o ouro e as três velhas sorriram para mim. E não foi um sorriso gentil, foi mais como: "eu estou sorrindo porque seu sofrimento me diverte".

Ele fechou os olhos e fez um gesto com os dedos parecido com o sinal-da-cruz, mas não era isso. Era outra coisa, algo um tanto... Mais antigo.

— Você viu o fio mudar de cor? — Ele parecia mais pálido.

— Sim. E daí? — Mas mesmo enquanto dizia isso, já sabia que era algo importante.

— Isso não está acontecendo — murmurou Grover. Ele começou a morder o dedão. — Não pode ser como na última vez. — Suplicou. — Hércules... Campeão... Desgraças... Quíron não vai gostar... — Ele começou a dizer palavras desconexas que não faziam nenhum sentindo para mim além de "Hércules", porque a maldita voz da professora Maria ainda ecoava pela minha mente sem parar: héraclida.

— Que última vez?

— Sempre na sexta série. Eles nunca passam da sexta. Agora faz sentido... O porquê seu cheiro é mais forte... Ele é seu ancestral!

Devo dizer que me senti um pouco ofendida por ele falar do meu cheiro? Até levantei meus dois braços e comecei a cheirar minhas axilas para ver se estava fedendo tanto assim. Mas não estava. Tudo bem que minha família tem um probleminha genético com suor excessivo na sola dos pés, o que causa um chulé horrível, mas nada que um bom banho e um talco não resolvam.

— Grover... — Disse eu, porque ele estava realmente começando a me assustar — Do que você está falando?

— Deixe que eu vá com você até sua casa. Prometa.

Aquele me pareceu um pedido estranho, mas prometi.

— É uma superstição ou coisa assim? – Perguntei.

Nenhuma resposta.

— Grover... Aquele fio que mudou de cor. Significa algo muito ruim, não é?

Ele olhou para mim com tristeza, como se já estivesse escolhendo o tipo de flores que eu gostaria de ter em meu caixão.



***



Estávamos a caminho do meu apartamento na Barra da Tijuca. Quando passamos em frente a um consultório odontológico, que estava oferecendo uma consulta gratuitamente com um anuncio gigante com letras bem extravagantes. Bem... Eu tinha dentes muito tortos e ainda não tinha trocado todos os dentes de leite. Então eu pensei... Que mal tinha fazer uma consulta gratuita? Talvez no próximo ano já colocava o aparelho.

— Espera... — Grover me chamou. — Você sabe ler?

Confesso que achei a pergunta bem idiota.

— Sei...

— Quero dizer... Você não tem dislexia...?

— Não. — Respondo e ele fica surpreso. — Tenho apenas déficit de atenção com hiperatividade... Eu sou muito hiperativa. Não consigo ficar parada ou focar em uma só coisa. — Disse.

— Estranho... Geralmente eles sempre têm TDA com dislexia... — Ouço Grover resmungar. — Mas no seu caso, acho que você é mais hiperativa do que o normal.

Ignorei o que Grover disse. Afinal, ele estava falando muitas coisas estranhas.

Empurrei a porta e entrei de uma só vez no consultório que cheirava a álcool em gel e era totalmente branco. Estava olhando sem parar para todo o lugar. Até que ouvi:

— Precisa de ajuda, minha jovem?

Dei um pulo assustada.

Logo atrás, em pé, estava ninguém menos do que uma mulher meio estranha, se quer mesmo saber. Ela era bem alta, gorda, usava um vestido jeans e por cima dele tinha um jaleco branco de dentista, tinha longos cabelos lisos e a parte mais bizarra era que seu sorriso era completamente amarelo, que me fez morder a língua e não manda-la ir escovar seus dentes imediatamente. E o bolso de cima do jaleco estava bordado em vermelho escrito: Dr. E.

Pisquei algumas vezes, acreditando que talvez tinha lido errado ou minha visão estava me pregando peças. Mas quando ele abriu a boca, percebi que não estava errada:

— Eu sou a Dr. E. — Disse com um sorriso amarelo de tanto tártaro.

Se aquela era o dentista e tinha os dentes daquele jeito, eu que não queria tratar meus dentes tortos ali.

Já estava me arrependendo de ter entrado ali.

E afinal quem em santa consciência tem o nome de "E"? Uma única letra? Será que era porque não gostava do seu verdadeiro nome? Como ela deveria se chamar? Como Eugênia? Estefânia? Elisangela? Eloísa? Eldagília? Elsa? Leri Go?

Ah tanto faz. Não é da minha conta mesmo.

Eu e minha mania de meter meu nariz onde não sou e nunca seria chamada.

— Desculpe a invasão — Falei. — Estamos só, ahn, dando uma olhada. — Olhei para Grover e para a saída, precisava dar o fora dali o mais rápido possível e salvar meus preciosos dentes tortos, completamente desesperada.

Na verdade já estava me sentindo ansiosa para desaparecer.

— Você quer dizer, que veio pela nossa consulta gratuita. — Resmungou ela. — Diga, gostaria de deixar meu colega e eu darmos uma olhada nesses dentinhos tortos?

Não. Definitivamente não vou deixar você colocar esses dedos nos meus dentinhos grandes do Pernalonga ou tão grandes como os da Mônica. Prefiro ser chamada de dentuça do que ter os dentes como daquela mulher.

Mas sabe de uma coisa que odeio? É me meter nessas situações, onde não sei não dizer um "não" sem soar grossa ou mal educada. Porque quando tento recusar educadamente, é quando a pessoa insiste mais e depois eu não sei mais o que fazer.

Literalmente entro em desespero em situações como essa.

— Ah... Sabe... Acabei de me lembrar que tenho um compromisso de ultima hora e preciso dar o fora, quem sabe um dia eu volte... Não é? — Disse dado alguns passos para trás, mas a Dr. E veio e passou o braço por cima dos meus ombros e começou a me empurrar para dentro do consultório sem que eu pudesse fazer nada.

Eu parecia uma anã perto dela. Anã? Não. Uma gnomo, talvez. Só faltou o chapéu de cone vermelho e ser assistente do papai noel.

Ela me empurrou sem nenhuma delicadeza, que me fez tropeçar nos meus próprios pés e por pouco, muito pouco mesmo, não cai de cara no chão. Quando me virei para Grover desesperada, com um olhar que claramente dizia: me salve por favor. A Dr. E, bateu a porta de uma só vez na cara do meu amigo que soltou uma exclamação e não pode fazer nada.

Novamente senti a sensação estranha de arrepios e de presa/predador, que só se intensificou quando vi a Dr. E começar a trancar a porta com trinco e com a chave. Ok. Isso não é normal. Falo porque já fui em vários consultórios odontológicos.

Aquele consultório era relativamente muito grande. Na verdade ele era gigante. Tinha aquela cadeira-cama estofada com várias bugigangas de dentista perto dela. Uma mesa com inúmeros alicates de diferentes tamanhos. Próteses realistas de dentes humanos. Uma parede cheia de certificados de inúmeras faculdades e cursos. Um armário com diversos produtos da linha Colgate. Aparelhos estranhos de dentistas e entre outras ferramentas.

As paredes eram brancas, típicas de todo consultório. Mas a diferença era que aquele consultório tinha uma gigante cúpula de vidro no teto, permitindo uma visão ampla e clara do céu no finalzinho da tarde. Era até que uma visão bonita e pelo visto um ótimo consultório, provavelmente recém inaugurado, mas ainda fiquei com a pulga atrás da orelha em relação aquilo tudo.

— Dr. Roberto, temos uma paciente. — Dr. E anuncia, voltando a me segurar com força pelos meus ombros doloridos e feridos, me virando de uma vez para meu lado oposto, sem nenhuma delicadeza sequer.

Faço uma careta pela dor e ardência que sinto na região. Mas quando me dou conta de quem também esta no consultório.

Arregalei os olhos quando vi que o outro dentista era ninguém menos do que meu próprio professor de história. Que estava com os mesmos trajes que usou na aula de manhã, só que com o jaleco branco de dentista por cima. Instintivamente me lembrei do aviso de Grover, sobre ficar longe de Roberto e isso me fez engolir o seco.

Algo de errado não está certo.

Eu não deveria me sentir assim. Quero dizer, Roberto sempre foi muito legal e gentil comigo, então era impossível ele ser tão malvado quanto Grover o fez parecer. Mas ele foi bastante cruel hoje na aula com o Underwood e algo dentro de mim já começava a se tornar inquieto por estar na presença dele.

Novamente me sentia o Hazel sendo encurralado por uma raposa.

— Professor?! — O chamei assustada.

De todos os lugares que imaginaria encontrar Roberto fora da sala de aula, um consultório odontológico era certamente o último de todos.

— Olá, Octavia. — Roberto sorriu para mim, um sorriso assustadoramente psicótico. — Poderia se sentar na cadeira?

Uni as sobrancelhas e esfreguei minhas mãos em meus braços. De repente minha mochila pareceu mais pesada e as mãos da Dr. E em meus ombros fazia me recordar que poucas horas atrás, foi naquele mesmo lugar, onde quase minha professora de artes me devorou.

— Ah... O que o senhor faz por aqui...? — Perguntei sem encara-lo, mexendo meus dedos ansiosamente.

— Digamos que esse é um segundo emprego... — Roberto diz com uma voz obscura.

— Ser dentista...? — Tentei, engolindo o seco com dificuldade.

— Não... Devorar mestiços. — Ele sorriu de maneira psicótica.

Antes que pudesse responder ou raciocinar, ouvi Grover bater desesperadamente contra a porta.

— Octavia! — O Underwood berrou. — Eles são como a Professora Maria!


...


Logo o pânico começou a tomar conta de mim e arregalei os olhos, completamente assustada olhando para meu professor favorito de história e para a Dr. E, que tinham os olhos brilhando para mim de uma forma bizarra. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, eles me empurraram violentamente contra a cadeira do consultório, me fazendo bater violentamente as costas contra a cadeira.

Roberto estalou os dedos.

— Ergo!

Cordas pularam das laterais da cama-cadeira e me envolveram como chicotes, prendendo-me ao estofado da cadeira. Elas se enroscaram nos meus pulsos, tornozelos, ombros — que doeram para caramba por causa das feridas —, meu pescoço e axilas. Me deixando totalmente imóvel e incapaz de me mexer.

— ME SOLTA! — Gritei me debatendo freneticamente, mas sem sucesso. Ao contrário, parecia que as cordas só se apertavam ainda mais em torno de mim. Sentia sendo sufocada aos poucos pela corda presa no meu pescoço e o meu fluxo de sangue diminuir lentamente pelo forte aperto em meus membros.

Gritei de dor.

Grover batia e gritava do outro lado da porta tentando a derrubá-la a qualquer custo, mas também, não muito diferente de mim, ele também não obteve sucesso.

Dr. E, se aproximou de mim e sorriu com a língua bifurcada tremulando entre os dentes. Espere um minuto. Língua bifurcada?! Antes que eu pudesse concluir se tinha realmente visto aquilo, Roberto se aproximou de mim perigosamente.

— O que está acontecendo?! — Grunhi entre dentes para meu professor de história.

— Ah... Como esperei por esse momento... — Ele cantarolou. — Finalmente vou me livrar de mais um heráclida imundo. — Quando ele ergueu sua mão direita, dei um berro assustada por notar que no lugar onde deveria ter sua mão, tinha na verdade uma pinça gigante idêntica a de um caranguejo. — Não fique assustada, querida, vamos cuidar para que você ache essa situação tão engraçada quanto nós dois achamos, não é, Equidna?

Agora entendia o porquê Grover disse que Roberto era mal. Porque de alguma forma meu professor favorito tinha a mão de um caranguejo. E era mais um maluco que estava vindo com esse papinho de heráclida e não faço ideia porque estão me chamando assim!

— Quem é Equi... Sei lá o quê?! — Perguntei continuando me debatendo sem parar, precisava sair dali e as cordas só se apertavam ainda mais. — É aquele bicho que come formigas?

— Equidna! — A Dr. E me corrigiu. Ela arregaçou as mangas do jaleco, mostrando que a pele de seus braços era escamosa e verde. Quando sorriu, vi que seus dentes eram presas. As pupilas dos olhos eram fendas verticais, como as dos répteis. Ela uivou, a cara de réptil ficou marrom e verde de raiva. — Detesto quando as pessoas dizem isso! Detesto a Austrália! Dar meu nome àquele animal ridículo! Por causa disso, Octavia Stone, você morrerá lentamente.

Dei outro berro, completamente assustada.

— MAS QUE CARALHOS ESTÁ ACONTECENDO?! — Berrei ainda mais, completamente assustada e descontrolada. E de alguma forma esse meu desespero interno pareceu divertir bastante os dois.

Ok. Talvez meu possível e frutífero encontro com a morte, não devesse ser o motivo pelo qual estou prestes a dar o maior chilique da história. Mas vocês já devem ter percebido que não sou muito normal certo?!

E meu grandioso chilique começou exatamente naquele momento.

Em que realmente achei que meu professor favorito e aquela mulherzinha ali, fossem extraterrestres e estavam prestes a colonizar o planeta.

Eu sabia! Aliens existem! E agora eles vão chupar meu cérebro com um canudinho ou me abrir para me estudar. Ok. Eu posso ser a criança mais inteligente daqui, mas isso não quer dizer que estou disposta a doar meu corpo para estudos científicos alienígenas.

ALIENS EXISTEM! PUTA QUE PARIU!

O que se faz em uma possível invasão alienígena?!

Chamo o bombeiro? Ligo para o FBI?

EU SABIA QUE A ÁREA 51 ESTAVA ESCONDENDO OS ALIENIGENAS!

Cadê os Power Rangers com o Megazord para defender a terra?!

A NASA é a culpada disso?

COM TANTOS LUGARES NO MUNDO PARA COMEÇAREM A INVASÃO ALIENIGENA ELES TINHAM MESMO QUE COMEÇAR PELO BRASIL?!

CHAMA O NEYMAR!

— EU SABIA QUE DEVERIA TER ASSISTIDO TODOS AQUELES FILMES DO PREDADOR! E TODOS OS FILMES DE STAR WARS! ALGUÉM TEM UM GUIA? COMO SOBREVEVER A UMA INVASÃO ALIENIGENA?! CADÊ O SUPERHOMEM? CADÊ OS KRYPTONIANOS?! CHAMA O BATMAN! OS CAVALEIROS JEDI! CHAMEM O YODA! EU QUERO MINHA MÃE! — Comecei a berrar e a chorar desesperadamente.

[ Ok, talvez esse não tenha sido meu melhor momento com semideusa, mas... EU TINHA SETE ANOS! E dormia abraçada com minha pelúcia do Stitch e morria de medo de olhar debaixo da minha cama, com medo do bicho papão. Eu sei, sou a vergonha dos meus antepassados, grandes Heróis Gregos. Mas vamos parar com minha auto depreciação e voltar para a história. ]

Grover empurrava a porta, tentando a derrubá-la a qualquer custo, mas sem sucesso. Ele gritava meu nome e parecia ainda mais desesperado com meus gritos.

Equidna fez uma careta.

— Tem certeza que essa garota é uma heráclida? — Ela se virou para o Roberto-Mão-De-Caranguejo. — Ela é só uma criança chorona e medrosa. Esperava bem mais de um descendente de Hércules.

Roberto rosnou.

E eu só continuava com meu berreiro chorando ainda mais.

Talvez se eu continuasse fazendo esse escândalo eles perceberiam que realmente era uma péssima ideia me devorar e talvez me libertassem.

— Eu reconheço qualquer semideus heráclida. E ela é uma. — Disse ameaçadoramente. — O cheiro dela é mais forte do que qualquer outro semideus, não vê? Passei um semestre inteiro ganhando a confiança dela sendo um professorzinho de meia tigela, até aparecer aquele maldito sátiro! Foi nesse momento que percebi que deveríamos agir.

Equidna respirou fundo.

— O cheiro dela é forte. — Admitiu. E se virou para mim. — Sinta-se honrada, Octavia Stone. O Senhor Zeus raramente me permite pôr um herói à prova comigo. Pois eu sou a Mãe de Monstros, a terrível Equidna! E vou devorar você!

Não entendi nada do que ela disse, pois estava focada demais em chorar e em gritar.

Alienígenas são reais! Eles vão me comer! A mulher reptiliana vai me devorar!

— Olha, eu não tenho um gosto muito bom não, viu? Só sou pele e osso! E tenho uma doença contagiosa! Muito contagiosa! Se me comerem vão levar o vírus para o planeta de vocês e muitas pessoas vão morrer! Eu posso apresentar a cultura humana e terráquea para vocês! Já ouviram funk? Por favor, Senhores ET's! Não me comam! — Choraminguei.

O sorriso de Equidna morreu aos poucos.

— Argh! — Rosnou. — Coloque ela sob o efeito do gás e a faça parar com esse choro!

— Talvez você a deva colocar, já que... — Roberto exibiu as duas mãos que agora não eram mais mãos, mas sim duas enormes pinças de caranguejo que se mexiam abrindo e fechando. Que faziam o som exato de "tack-tack".

— EU QUERO A MINHA MÃE! — Berrei ainda chorando.

Equidna bateu a mão reptiliana contra seu próprio rosto.

— Essa deve ser a semideusa mais covarde que já existiu.

Equidna então pegou um cilindro pesado e uma máscara respiratória, ela estava prestes a colocar a máscara em mim. E Roberto aproximou sua mão de caranguejo muito próximo da minha garganta, como se fosse cortá-la com as pinças. Eu tentava não ser beliscada por aquelas pinças que certamente arrancariam minha cabeça, com muita facilidade impressionante. Mas então algo aconteceu. A cúpula de vidro acima de mim; se estraçalhou em diferentes tamanhos de vidros, que se espalharam por toda parte e então, apenas vi Grover aparecendo sem calças e essa nem era a parte mais chocante do que ver o Underwood dando um chute — ou deveria chamar de coice? — na cara de Roberto no melhor estilo de Burro Kong Fu.

O chute de Grover foi forte o suficiente para fazer com que Roberto voasse e batesse as costas contra uma prateleira onde tinha inúmeras escovas de dente e creme dental colgate. A placa acima da prateleira caiu sobre a cabeça de Roberto, a qual dizia o seguinte: COLGATE A MARCA N°1 EM RECOMENDAÇÃO DOS DENTISTAS.

Bem acho depois disso a colgate não vai ser mais recomendada.

Deveria ser: COLGATE A MARCA N°1 EM NOCAUTEAR OS FALSOS DENTISTAS.

— O Zeu kai alloi theoi! — Gritou Grover.

Eu estava chocada demais para registrar que ele acabara de praguejar em grego antigo, e eu tinha entendido perfeitamente. Estava chocada demais para me perguntar como Grover saiu da porta da frente do consultório e subiu tão rápido para o telhado. Porque Grover não estava usando calças — e onde deveriam estar às pernas dele... Onde deveriam estar às pernas dele...

Grover saltou e se virou para Equidna, mas ele ainda estava sem calças. Estava sacudindo seu traseiro peludo, e de repente sua história sobre um distúrbio muscular nas pernas fez sentido para mim. Entendi como ele podia correr tão depressa e ainda assim mancar quando andava. Porque onde deveriam estar seus pés não havia pés. Havia cascos fendidos.

Sinceramente estava tão chocada que tinha até mesmo me esquecido de gritar e chorar e do fato que ainda estava amarrada a uma cadeira do consultório.

Fechei os olhos com força e comecei a desejar:

Que isso fosse apenas um sonho.

Que isso fosse apenas um sonho.

Que no meu açaí tinha cogumelos alucinógenos.

Mas quando abri os olhos, realmente aquilo estava acontecendo diante de mim. Grover era metade asno, a Dr. E ainda era uma alienígena e meu professor favorito de história tinha mãos — pinças — de caranguejos.

Equidna berrou e fez menção em ir até Grover, mas antes que pudesse atacar meu amigo, a porta — a mesma que atravessei e a que Grover estava tentando abrir anteriormente —, do consultório voou em direção a Equidna de uma forma tão violenta, que o cilindro de gás que ela segurava amassou completamente liberando gás pelo amassado e a mãe dos monstros alienígenas reptilianos foi esmagada pela porta como um inseto. Ou como uma barata sendo pisoteada por um chinelo.

Espero que Equidna não tenha asas. Pois ninguém é macho o suficiente quando uma barata volta.

Virei o pescoço com dificuldade na direção da porta e posso dizer claramente que todo meu sangue parou de circular, até mesmo meu coração parou de bater quando vi minha mãe atravessando a porta, usando um salto agulha de quinze centímetros e segurando uma espada dourada brilhante como o ouro na mão direita e na mão esquerda, ela segurava uma pequena faca que parecia ser feita de bronze muito bem polido, que eu mesma era capaz de ver meu reflexo na lâmina.

Isso nem me pareceu relevante quando me dei conta de que:

— Eu vou viver! — Comemorei, mas me lembrei que fui expulsa da escola. — Eu vou morrer! — Choraminguei.

Minha mãe estava com uma expressão raivosa no rosto. Uma expressão que faria qualquer pessoa tremer na base, literalmente. E isso nem era porque ela não estava com o chinelo na mão.

— Equidna... E Carcino. — A voz da minha mãe era pesada, enquanto ela alternava os olhares entre Roberto e a Dr.E. — Ousam mesmo tentar ferir a minha filha?

Grover sussurrou para mim.

— Essa é sua mãe...?

Assenti, chocada demais para falar. Na verdade, era porque estava com medo demais da minha mãe. Se ela já era assustadora segurando uma havaiana, imagina segurando duas facas? Eu que não seria doida para falar alguma besteira.

Roberto e Equidna se levantaram rapidamente. Ambos se livraram com facilidade do peso sobre eles, enquanto riam e riam mais ainda, inalando a fumaça cinza do gás que vazava do cilindro.

— Finalmente uma heráclida digna! — Equidna disse entre as risadas.

— Duas pelo preço de uma... — Roberto disse entre as risadas dele e de repente ele começou a crescer rapidamente e assustadoramente.

As roupas de Roberto se desfizeram sendo completamente rasgadas e destroçadas, gradativamente meu ex-professor-favorito de história perdia a forma humana, para assumir uma nova forma idêntica de um caranguejo, um caranguejo de três metros de altura, sua concha manchada de azul e verde. Ele tinha pinças mais longas do que o corpo da minha mãe — e olha que ela é bastante alta —, e olhos negros cheios de inteligência e ódio. E ainda tinha um cheiro horrível, parecido com o de lixo, que inundou completamente o consultório, fazendo meu estomago revirar. Ele constantemente espumava na boca, como um cão com raiva.

Equidna continuou a rir como uma bruxa velha e logo, quando Grover e eu respiramos aquele gás, começamos a rir descontroladamente. Foi nesse momento em que me dei conta que aquele gás era nada mais que o próprio gás do riso utilizado por dentistas. Então esse era o plano da dupla alienígena? Me devorar enquanto eu estava dopada e rindo? Isso é cruel demais até para o Coringa.

Minha mãe era a única ali, que não estava rindo, talvez tinha prendido a respiração para não aspirar o gás do riso.

— Fauno! — Minha mãe gritou. — Desamarre Octavia e a tire daqui!

— Na verdade, eu sou um sátiro. — Grover disse entre as risadas sem conseguir se controlar, mas ele começou a me desamarrar da cadeira, enquanto eu também ria sem parar. Quando as cordas foram tiradas de mim, me senti aliviada, meu sangue voltou a fluir normalmente e conseguia respirar tranquilamente, enquanto ria feito a doida da Alerquina.

— Não importa! Apenas tire ela daqui! — Minha mãe ordenou.

Quando foi que aquele consultório evoluiu de uma carnificina para um possível circo?

Eu não sei. Apenas sei que deveria parar de rir, mas não conseguia. Eu estava praticamente chorando de novo, enquanto ria.

Chorando e rindo. Que piada.

PARA DE RIR, OCTAVIA! Gritava comigo mesma, mas eu não conseguia, a não ser rir mais. Grover é um sátiro e porque caralhos estou rindo disso como se fosse a maior piada do século? Minha mãe está armada e vai lutar com dois extra terrestres e estou rindo feito uma lunática.

Nunca pensei que esse poderia ser o fim para mim em meio a uma invasão alienígena.

Então tudo começou a girar sem parar para mim.

Grover agarrou meu pulso mais uma vez e me puxou para fora do consultório — que faria questão de soltar alguns comentários horríveis no Google e ainda não dar nenhuma estrela. Eu acho que estava dopada demais para pensar com clareza, sobre o fato de que tinha acabado de abandonar minha mãe sozinha com dois monstrengos.

Me sentia muito cansada e tudo girava para mim sem parar. Mal conseguia acompanhar Grover na sua corrida, por isso eu não sei como, mas Grover simplesmente me pegou em seus braços e voltou a correr comigo em seu colo. Correr, não. Trotar feito um cavalo em uma corrida. O sol estava se pondo e eu ainda ria descontroladamente junto a Grover, de alguma forma as pessoas que viam Grover me carregando em seu colo gritavam assustadas dizendo que tinha um garoto louco correndo só de cueca pelas ruas da Barra da Tijuca.

E então meu olhar foi pesando lentamente e tudo o que vi depois foi apenas escuridão.

Bom gente esse foi o capitulo!

Espero que tenham gostado <3

Não se esqueçam de votar e comentar, isso me motiva a continuar a fic, pois mostra se vocês estão gostando ou não :)

Bjs 💋

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