Prólogo ── 𝐏𝐀𝐑𝐓𝐄 𝐈
PRÓLOGO ── 𝐏𝐀𝐑𝐓𝐄 𝐈
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"Ao leste deverão ir.
Para que a ilha perdida possa surgir.
Em seus caminhos, monstros e inimigos estarão.
E só os heráclidas os salvarão.
Quando o leviatã lutar.
Uma escuridão terrível há de despertar."
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Agora estou aqui.
Afogando-me lentamente, tento lutar contra a água salgada que invade meus pulmões em vão. Minha mente grita para usar minha força bruta de heráclida para me livrar das pedras que estavam presas em meu calcanhar e pé direito, mas não consigo pela falta de oxigênio, que me deixa ainda mais desesperada, incapaz de pensar com clareza e me faz debater-me contra aquela imensidão de água salgada. No entanto, chega uma hora que paro de me debater contra a água e canso de lutar, aceitando então todas as partículas de água que entram em meus pulmões. Permito-me afogar, pois estou cansada de tanto lutar.
É o meu fim? Questiono-me internamente enquanto sinto o peso da água sob meus pulmões. Talvez seja.
Dizem que quando você está para morrer, você vê toda sua vida passar diante de seus olhos e acho que isso é verdade, pois estou me lembrando como as coisas eram sete anos atrás e me pergunto se fiz as escolhas certas, se meus irmãos ficaram bem sem mim ou se Clarisse e Will me perdoariam por todas as minhas mentiras.
Mas isso não importa. Talvez seja esse meu fim e por isso irei contar minha história do começo, porque todo fim tem um começo e o meu foi há dezessete anos quando nasci em Novembro. Meu nome é Octavia Lucrécia Fonseca Whittemore Stone, filha de Ares, um legado de Júpiter e descendente direto do grande semideus bundão chamado Hércules. Apesar desses fatos, poderia contar como foi minha infância e outros momentos da minha curta vida de semideusa, porém, preferi escolher um momento peculiar e certo da minha vida e ele foi sete anos atrás no Acampamento Meio Sangue.
Grover Underwood foi meu sátiro buscador quando tinha sete anos e nesse tempo minha mãe havia me dito que meu pai não parecia ser um cara normal, mas nunca desconfiei que pudesse ser um Deus, até descobrir a verdade. Depois de Annabeth Chase, me tornei a segunda semideusa mais nova chegar ao Acampamento e isso não alterou muita coisa em minha vida. Demorou duas longas semanas de estadia no barulhento com certo cheiro duvidoso, chalé 11, para meu pai pudesse me reclamar como sua filha. Tudo aí estava certo, meu lar temporário seria o chalé 5, tinha uma frota de meio irmãos parasitas e nada mais poderia ser perfeito. A não ser o fato de que estava presente quando ele chegou.
Vocês sabem quem estou falando. O queridíssimo cara de sardinha que vocês chamam de Percy Jackson. Eu estava lá quando ele chegou ao Acampamento com aquele nariz amassado empinado dele, estava quando Clarisse e minhas outras irmãs quiseram enfiar a cara dele na privada do banheiro feminino, estava quando na captura a bandeira o idiota destruiu o penacho do meu elmo e inclusive estava quando ele foi reclamado um filho dos três grandes.
Poseidon.
Mas diferente dos meus irmãos arregoes, não dobrei o joelho para o Jackson. Porque era e ainda sou orgulhosa. Ele não era um rei, era só um idiota. Não vou nem mencionar o quanto meu estomago estava embrulhando pelo Chalé 5 apoiar Poseidon naqueles tremores de uma próxima guerra.
E quando Percy voltou com aquela pose de superior depois de devolver o raio de Zeus e impedir uma guerra entre os três grandes, foi quando senti vontade de socá-lo muito e o declarei como meu grande rival. Meu inimigo. O Yang do meu Yin. Fala sério! Como meu pai que parecia um rinoceronte de tantos músculos perdeu para aquele Zé Mané magricela de olho verde azeitona?
Confesso — sim eu admito —, que senti um pouco de inveja dele, todos estavam naquele Acampamento há mais tempo que ele e, de repente, o alecrim dourado chegou do nada e já ganha tanto reconhecimento que muitos semideuses quase se mataram a vida toda para conseguir isso. Luke era um deles. Um cara super legal, mas com um pai babaca que nunca lhe deu o devido valor. Para mim, o filho de Hermes estava mais do que certo ao querer se revoltar, mas foi descuidado ao confiar em Cronos.
Não podem me culpar por desejar uma guerra, eu sou uma filha de Ares! Gosto do caos e da discórdia.
Na minha cabeça de dez anos, eu deveria ser melhor do que Percy a qualquer custo. Tinha que vencê-lo em tudo.
Quando Clarisse foi convocada para ir para a missão de busca do Velocino de Ouro, fiquei feliz pela minha irmã, mas triste por mim. Como queria saber correr em bigas. No entanto, acreditava que aquele não era meu momento, não ainda. Tinha apenas dez anos de idade e Percy tinha 12 e tinha acabado de impedir uma guerra, porém quem está contanto?
Como odeio o Santo Jackson. Até mesmo quando estou prestes a morrer, eu o odeio.
Meu avô era inglês e minha avó brasileira, o que de certa forma explicava o porquê tinha dupla cidadania e falava com fluidez os dois idiomas nativos de cada país. Já Helena, minha mãe, era uma artista incrível e por mais que parecia ser impossível um Deus se apaixonar por um mortal, eu acreditava que Ares amava minha mãe por um simples motivo: além de mim, possuía mais seis irmãos, todos os filhos do mesmo pai que tinha um peculiar estilo de um motoqueiro militar. Ele sempre que podia nos visitava. Não, ele não ficava conosco, na verdade, apenas o via no máximo duas vezes por ano e na minha cabeça de sete anos nunca pensei que o motivo dele ser um pai ausente de merda fosse porque era um Deus Olimpiano.
De alguma forma doentia sentia que ele me amava e amava meus irmãos, mesmo que ele me forçasse a aprender latim contra minha vontade ou tentasse me ensinar como deveria agredir alguém. Ter Ares como pai, um pouco mais presente do que o normal dos Deuses; poderia ser muito traumatizante, porque no almoço de domingo ele te obrigaria a caçar seu próprio almoço como os Espartanos faziam, para te tornar astuto e forte. Porém, como nesse dia estávamos no Brasil, à única coisa que conseguir caçar e levar para o almoço foi uma galinha do quintal do vizinho.
Achei que a ferocidade da guerra não era para mim, mas com os anos seguintes descobri que estava errada.
No meu terceiro verão no Acampamento, um novo campista tinha chegado, sendo resgatado de um reformatório sinistro. Nico Di Ângelo. Ninguém sabia nada sobre ele, apenas que a irmã o deixou para se tornar uma Caçadora de Ártemis, naquela época estava curiosa sobre ele, queria falar com ele, ser amiga dele. Mas acredito que por ser muito nova, acabei confundindo as coisas, o fato de querer ser amiga confundi com uma leve e inocente paixão.
Houve momentos hilariantes durante essa cisma minha com o novato, como na aula de esgrima quando meu meio irmão, Frederic, assumiu o lugar de Luke Castellan como instrutor de esgrima e como castigo do destino ou das parcas, minha dupla naquele momento foi o próprio Nico Di Ângelo. Eu literalmente desmaiei por vergonha. E quando o próprio Nico — que estava no chalé 11 e ainda não tinha sido reclamado — veio ao meu encontro perguntar como estava, apenas sai correndo feito uma maluca até o meu chalé, me jogando para dentro e fechando a porta com força.
Deuses, ele certamente nunca mais falaria comigo.
Porque hoje posso dizer que o que achava que sentia por Nico, não era paixão, era algo relacionado à empatia. Eu queria ser próxima a ele por sentir que ele era uma boa pessoa. Pois eu amei sim, uma vez, anos após esses acontecimentos. O nome dela era Jessie Jones e ela partiu meu coração, mas isso é uma história para outro momento. Agora estou lembrando as coisas simples da minha vida antes dela ser destruída.
Quando Nico soube que a irmã dele, Bianca tinha morrido, ele ficou furioso e culpou Percy por isso, por este quebrar a promessa de proteger sua irmã, após abrir uma cratera no chão e fugir, todos descobriram que o Di Ângelo era na verdade um filho de Hades. Eu me senti péssima quando Nico fugiu, na verdade eu só queria abraçar ele e dizer coisas gentis para fazê-lo se sentir bem. Queria apenas aliviar um pouco sua dor, por pura gentileza, porque sim, nessa época eu era uma pessoa gentil e com um bom coração. Resolvi escrever cartas para ele, não cartas românticas, mas cartas com palavras de apoio e gentis. Posso ter meio que falado alguma besteira sobre gostar dele, mas não sei ao certo.
Já fazia tanto tempo...
No mesmo dia em que Nico foi embora, conheci um novo amigo. Ele chamava Will Solace e era um filho de Apolo.
Will sempre foi muito gentil, bondoso e até era muito paciente para saber lidar com minha personalidade complicada de filha de Ares. Ele sempre foi um amigo e tanto. Sempre disposto a me ajudar e me apoiar. O filho de Apolo era mesmo incrível. Mas assim como tudo que acontece comigo, eu machuquei o Solace juntamente com meus meio irmãos do chalé 5. Pois isso é uma coisa que sou muito boa: machucar as pessoas que são importantes para mim.
Mas depois do meu quarto verão no Acampamento, quando vi Grover ser maltratado no conselho dos anciões e antes da batalha do labirinto acontecesse. Minha vida mudou. Depois desse quarto verão, nunca mais retornei ao Acampamento, pois uma tragédia horrível tinha acabado comigo. Eu tinha morrido e tinha que sustentar essa mentira até o momento certo.
É estranho me lembrar dessa época, quando tudo parecia bem e era estável e ainda não reconhecer a garotinha alegre e bondosa que eu era. Da pessoa que um dia fui e não sou mais, as pessoas geralmente chamam isso de amadurecimento, mas eu chamo de perdição, pois eu me perdi por um tempo. Deixei-me ser engolida pela a escuridão e nunca mais consegui sair.
Meu passado se resume a duas palavras: uma vez.
Uma vez, quis ser diferente. Sabe?! Fazer a diferença. Quando se é um semideus, são infinitas as possibilidades do que pode ou não acontecer com você, inclusive se uma delas for à morte. Uma vez tive inveja de Annabeth, Percy e até mesmo Grover. Eles sempre saiam em missões importantes e quando voltavam todo Acampamento celebrava. Uma vez, quis ser como eles. Não. Não como eles, mas sim, melhor do que qualquer outro semideus que pisou nessa mesma terra.
Mas... O tempo passa. Coisas horríveis acontecem e você tem que crescer não de uma forma saudável. Tem que ser forjada em meio ao caos, o sangue e o medo. Um dia você deixa de sonhar e a realidade lhe acerta com um soco no rosto. No final você descobre que é apenas uma sombra do que um dia já foi. Tornou-se uma pessoa amarga, desiludida e cheia de raiva.
Todo momento em qualquer na linha tempo da história sempre tem um divisor. Algo que é renovador ou surpreendente e separa um período do outro. Na escola estudamos que a Antiguidade teve fim com a queda do Império Romano e com isso, surgiu a Idade Média. A queda de Roma foi o divisor de água entre os dois períodos. E assim como as linhas do tempo que estudamos em história, minha vida se divide em dois momentos, o primeiro com eles ainda comigo e o segundo apenas nós, com o divisor que lembro: véspera do meu aniversário de onze anos.
Foi exatamente nessa época, sete anos atrás, que minha vida mudou e não foi para melhor. Confesso que quando se é apenas uma criança que perdeu algo importante é fácil você ficar revoltado e cheio de ódio, pela forma como facilmente as coisas que mais amamos são tomadas de nós. Quando finalmente temos consciência disso, é o momento em que o ódio te cega.
Nada é mais perigoso do que um amor que se transformou em ódio e melhor do que ninguém, eu sabia disso. Sabia, porque era o que sempre sentia e o que continuo sentindo. Uma vez, Atena me disse que eu era muito emotiva, cheia de ódio e por isso nunca poderia pensar com clareza ou racionalidade. Para a Deusa, eu não passava de um animal selvagem que nunca poderia se adequar aos padrões que ela requisitava em todos os heróis que eram seus protegidos.
Ela estava certa. Claro que estava. Mas abandonar meu ódio seria abandonar quem eu sou de verdade e o ódio sempre me fortaleceu. Senti satisfação ao mostrar para a própria Deusa da sabedoria que poderia unir inteligência e selvageria. A mostrei que poderia ser capaz de coisas imagináveis sendo guiada por dois elementos distintos.
Não irei mentir, sempre fui arrogante e gostava da ideia de poder manipular os Deuses, a ideia de ser tão astuta quanto Sísifo foi ao enganar a morte e alguns Deuses, me seduzia de uma forma que me esforcei para ser a melhor entre todos os semideuses que tinham pisado nesse mundo. Treinava todos os dias, tanto o corpo quanto a mente. Ao mesmo tempo em que aprendia usar espadas, me esforçava para aprender tudo sobre estratégias e obter conhecimento.
Tornei-me tão boa em mentir e manipular que por isso decepcionei pessoas importantes para meus planos funcionarem enganei os Deuses, fiz acordos profanos com eles, joguei com cada um deles para fazerem o que eu precisava. Absolutamente tudo para garantir minha sobrevivência e de meus irmãos para longe da perseguição constante de Afrodite e outras pessoas que queriam nos matar.
E no final, eu estou aqui. Afogando lentamente e pensando se essa é mesmo minha hora ou se ainda consigo enganar as Parcas para que não cortem o fio do meu destino. Passei e enfrentei muita coisa para ter uma simples morte por afogamento. Barba Negra estava certo; no final. Não sou uma guerreira, sou uma sobrevivente e hoje não será o dia que vou morrer. É só apenas mais um dia para sobreviver e provar mais uma vez aos Deuses, o quão errados eles sempre estarão sobre mim.
Meu nome é Octavia Stone e a luta apenas acaba quando digo que acabou.
Oi, oi, oi! Como vão? :3
Sim, eu decidi reescrever o prólogo, porque o anterior não me agradava nenhum pouco. O que acharam? Gostaram desse novo?
Não se esqueçam de votar e comentar <3
Tentarei postar o capítulo 8 o mais rápido possível, viu?
Beijos e até a próxima. ^^
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